quarta-feira, 15 de abril de 2009

Se eu fosse você, um e dois...

Outro dia revi o filme Se eu fosse você I na TV. O II foi um dos maiores sucessos do chamado cinema da retomada. Eu não gosto do cinema da retomada, mas gostei do Ônibus 174 de Bruno Barreto. Júlio Daio Borges encontrou luta de classe no filme Linha de Passe. Nem os textos mais delirantes e os autores com divergências e ciúmes infinitivamente pessoais em relação a esse filme e ao diretor disseram algo assim. Já pensaram Waltinho com bandeiras do PC do B na rua gritando: "socializem meu banco! Luta de classe contra os Salles agora!" Eu pagava para ver. O Tempestuoso, meu deep throat econômico, me disse que o Unibanco se uniu com o Itaú porque Os Herdeiros são artistas e tem outro filho que é diabético e eles não queriam gerenciar, daí a fusão. Itaú e Unibanco avisam: estão fundidos!

Eu sempre critiquei a retomada e quando a web começou eu conversava com os cineastas numa lista de cinema brasil e assumi o papel de "Glauber" lá, o que era bizarro. Mas tive alguns méritos. Eu gritei em 2002: "Chávez é o novo gênio da raça" e a professora Ivana Bentes comentou: "é preciso fazer isso, precisamos de novos profetas". Foi divertido. Meu hobby era achar significados políticos em obras apolíticas.

Nós não podemos fazer aquilo que os personagens fazem porque nossa "essência" não existe. Não é possível que eu troque de corpo com Gerald Thomas e que eu vá escrever a peça Hot Shoulder, adaptando para o Brasil, pois no Brasil é mais atual escrever Costas Quentes. Porque não existe essa essência intercambiável. Nós somos seres que nos construímos, através da linguagem, no relacionamento social.

Em Se eu fosse você, curiosamente, vejo o drama do PT, de parte esquerda brasileira mainstream, que também mudou de corpo, assumiu o poder, trocou de posição com a direita. A direita virou oposição e o PT, que para Reinaldo Azevedo é a "esquerda viável", está de corpo de alma num projeto de poder de um pequeno grupo onde deveria ser feito um concurso para escolher o nosso Hamlet que vai matar o rei usurpador. O Lula seria o tio de Hamlet e Getúlio Vargas seria o fantasma no meu Ham-let particular. Mas ficou assim uma aura meio travesti nesse governo, tudo é meio gauche, meio awkward, daí as gags, algumas manjadas, que povoam o governo e o filme.

Targino seria o bobo da corte do meu Hamlet. Gerald seria o diretor de uma peça de vanguarda interna à peça. Sandra seria Ofélia. Rosencratz e Guildenstern seriam Heloísa Helena e Babá, dois cabeludos...kkk

O Vampiro de Curitiba seria...que tal Fortimbrás? Contrera seria Polônio. Contrera é um ser trágico e sensível. Um amigo que estava conosco naquele dia em que conversamos na cafeteria na Estação Tietê, ficou esperando comigo agora na fila do banco e não conversou comigo, o Otacílio Rodrigo. O problema está em mim, admito. Eu ofendo as pessoas na paixão de me comunicar com elas e transformar o mundo ao meu redor.


Ele me pediu para fazer um trabalho para ele (agora ele é PM) sobre drogas e algemas e eu cobrei, ele não gostou. Contrera me contou, no Tietê, que o pai dele não se adaptou ao Brasil e se suicidou...Adorei. Adoro tragédia. A vida é uma tragédia e por isso precisamos fazer tragicomedyorgya, como disse o maravilhoso Zé Celso. As fotos da ida de Zé Celso a New York encontrando-se com Gerald Thomas foram lindas, Zé Celso é um Dionísio leve, flutuante e Gerald é um Apolo que ri um riso sapeca de menino...

Dilma Rousseff, filha de um búlgaro, também ilustrou isso na matéria da Piauí sobre ela esse mês. Ao se lembrar de como dormia junto de Maria Celeste com fuzis automáticos, ela sente...como se tivesse trocado de corpo! Como se não fosse ela. É muito curiosa a desconfiança com que os entrevistados, todos ex-guerrilheiros da luta armada, tratam Luiz Maklouf Carvalho. No Estadual Central, em BH, negaram a ele o Histórico Escola de Dilma, disseram que só se ela autorizasse e ela não autorizou.

Será que Dilma ia bem em História? Tirava boas notas? Foi -- e será reprovada pela História? O governo Lula é bom para o presente, resolve-se bem no presente, mas será "absorvido" no tribunal no História. Aposta desse profeta aqui, profeta profetinha camarada... Lula e FHC serão o Arthur Bernardes e o Washington Luís do futuro, desaparecerão na poeira da História. Washigton Luís é mais lembrado hoje por sido o padrinho de casamento de Oswald de Andrade e Pagu do que por ter governado o Brazyl...


Eu tenho um livro de ensaios do Celso Amorim aqui e em breve irei postar alguns trechos...Ele diz da Globo, num determinado momento: "os padrões estéticos (?) da Globo..." kkkk

A única vez que vi a Globo deixar falar de um blog foi da Yoani, a cubana! Globos e blogs, nada a ver! E foi na excelente coluna de Nélson Mota no jornal da Globo.

Jô voltou e entrevistou Dráuzio Varella que disse que o nossos SUS é bem melhor do que o sistema de saúde comunista de Cuba, China, etc. Bom demais! Vou até parar de pagar meu plano de saúde da UNIMED e vou passar a usar SUS depois de ouvir isso...

Um comentário:

Henrique Hemidio disse...

Não seria 174?

a propósito, já viu o doc do José Padilha?