PASSIONALISMO BUFÃO – A ESQUERDA QUE É DIREITA
Laerte Braga
Não sei porque, quando li as explicações do senhor Carlos Alberto Lungarzo e do jornalista Celso Lungaretti sobre as críticas feitas à ANISTIA INTERNACIONAL, particularmente às posições daquela ONG a propósito de decisões do presidente da Venezuela e a cândida proposta de negociar com Porfírio Lobo, presidente que legitimou o golpe em Honduras, as ditas me trouxeram à lembrança o George, personagem de uma das melhores séries da tevê, SEINFELD.
“Como é que você se agüenta?” A pergunta foi feita por um bombeiro, num dos episódios da série, em seguida a uma frigideira que pegou fogo e fez com George saísse em desabalada carreira buscando salvar-se a dane o resto. Senhoras em cadeira de rodas, crianças, o que à sua frente lhe impedisse de buscar a sobrevivência longe do fogo.
A resposta de George foi simples – “nem eu sei, mas é difícil” –.
Experiência, vivência e história podem trazer sabedoria, mas também presunção, arrogância e podem servir para ocultar exatamente a realidade das experiências, das vivências e principalmente, das páginas não escritas dessa ou daquela história pessoal.
Uma vez perguntaram ao escritor Pedro Nava que conselho ele daria aos jovens com sua experiência de vida. A pergunta foi desferida por uma jovem e bela jornalista. A resposta de Nava refletiu sua melancolia – “nenhum conselho minha filha, experiência é como um farol voltado para trás, ilumina o passado e nada mais”.
Era só melancolia. Pode ser a arma dos espertos também.
Que Rosa de Luxemburgo tenha dito “não passarão” é uma coisa. Na afirmação de Lungaretti é uma heresia. Aquele negócio de Tarzã sair de galho em galho através de cipós e com Chita nos ombros, enquanto Jane esperava para o jantar, só em cinema.
As detalhadas explicações do senhor Lungarzo, já bem dissecadas por Marcos Rebello, o sentido da excomunhão, só fazem reforçar ou a ingenuidade do referido senhor Lungarzo, ou a confissão explícita de seta ligada à esquerda enquanto o carro vira à direita.
Está lá que o “bolivarianismo” é uma tragédia e pior, invoca Marx. Como se pronuncia o nome de Marx em vão. Mas, serve a afirmação, para deixar claro de que lado está a ANISTIA INTERNACIONAL, ou pelo menos o senhor Lungarzo.
A questão não está necessariamente nos Direitos Humanos, mas na denúncia contra o bolivarianismo. Estende-se ao peronismo, mas isso é outra história, lá para trás, não convém mexer agora.
A forma frontal, digamos assim, simplista e matemática, como o senhor Celso Lungaretti refere-se aos acontecimentos de 1964 para justificar alguma coisa com a saída de João Goulart do País é um estarrecedor exemplo de “meu Deus, onde Lamarca estava com a cabeça?” Claro que na sua integridade e na absoluta crença nos seus ideais. Permanecem e passarão. Lungaretti não.
Busca prolongar apenas os quinze minutos de triste glória. No mínimo de confusa glória, ou glória não bem esclarecida. Ou glória desesperadamente perseguida.
Justificar a necessidade de compelir o presidente golpista de Honduras a tomar atitudes contra a tortura e a boçalidade de militares e elites golpistas que tiveram seus interesses contrariados, soa como o George tentando dizer que no “incêndio” as pessoas precisavam de um líder para guiá-las. Aí derruba as velhinhas, as crianças, mas sai impávido.. Lógico, não sabem mesmo com se agüenta.
Encerrar a História num vaso, ou num jarro em cima de uma experiência e vivência que se transforma no “eu”, “eu”, “eu”, putz, deixem Rosa de Luxemburgo em paz, não tem nada a ver com isso.
Pretender dizer aos jovens me lembra aqueles diretores de escola nos EUA falando de quantos banqueiros saíram daqueles bancos, quantos senadores, um ou dois presidentes, até que um maluco entra pelas salas a dentro disparando rajadas de metralhadora porque recebeu um aviso divino ou foi reprovado em determinada matéria.
Há que se ter mais seriedade numa discussão e menos pretensão.
Emitir um ponto de vista não significa escorar-se numa tábua de dez mandamentos definitivos. É só um direito. Afirmar que a ANISTIA INTERNACIONAL se presta a jogadas do imperialismo é uma realidade. Dois milhões e poucos membros e daí?
Edir Macedo é um bandido que em qualquer lugar do mundo onde existisse o mínimo de seriedade estaria na cadeia por charlatanismo, estelionato, um monte de coisas. Mas e o fiel de sua “igreja”? Que culpa tem?
A ANISTIA INTERNACIONAL recebe doações de empresas e fundações comprometidas com o capital internacional, com o imperialismo norte-americano, a nota a propósito da decisão de Chávez de suprimir o sinal da RCTV faz esse jogo, desconhece a realidade, isso soa mais ou menos como de dez mil ações negativas, por favor me dê uma chance, um dia eu ajudei um cego a atravessar a rua. Mas com a GLOBO transmitindo ao vivo e mostrando o bom mocismo. O outro lado, a sombra, é omitido.
“Uma campanha de satanização” e vai por aí afora para terminar em “implicitamente contra mim e contra Carlos Lungarzo”.
Um altar pelo amor de Deus. Um altar!
Zelaya fez um “acordo” com o governo golpista para sair do país, Honduras? Onde? Delírio puro. Manuel Zelaya estava na embaixada do Brasil e retirou-se de lá com garantias do direito internacional, salvo conduto, que serviu, à época do golpe, para que vários asilados aqui, pudessem viajar ao exílio. Não é o caso de quem renegou a luta e fez acordo público com o governo militar. Só pode ser por isso a visão distorcida e equivocada.
Nem todos os dedos das mãos são iguais.Ou melhor, são todos desiguais.
Insisto, um altar! Tem o dom de pitonisa. Contém em si toda a verdade, que na verdade é aquele perfume uma grama que distribuem à porta das lojas da rede. Disfarça o mau cheiro. Só isso, mais nada. Muitas gramas serão necessárias.
As gramas do fato consumado. O cair de quatro. Se o golpe se consolidou em Honduras paciência, vamos negociar com o golpe. Tem prática disso.
E pasme-se, está contido ali no texto que Goulart buscou salvar a própria pele. O profeta proclama sugerindo lucidez a previsão do que viria a ser a realidade. Salvar a própria pele. A dele, Goulart tinha em si a dignidade de um homem exemplar.
Quanto mais mexem pior fica.
O falecido Jô Soares, quando humorista, tinha um personagem que acordava depois de uma longa noite de inverno, hibernado num hospital após golpe e ao saber que determinados fantasmas continuavam proliferando e deitando sabedoria à esquerda, pedia desesperadamente que botassem de novo os tubos e voltava ao coma.
A ANISTIA INTERNACIONAL é uma aparência de direitos humanos e uma realidade de imperialismo. E Celso Lungaretti não sabe distinguir fanáticos religiosos de espertos religiosos, ou sabe e continua esperto.
E tem mais. Tenho um medo incrível que esse tipo de “revelação” chegue ao conhecimento dos arianos sionistas de Israel e cismem de justiçar iranianos num ataque libertador como costumam fazer com os palestinos.
O “náufrago da utopia” se pergunta se devemos, fala do Irã, deixar que os “bárbaros se trucidem”. Que bárbaros? Está sugerindo que os mariners corram lá para abençoar e levar civilização? Transformem tudo numa Guantánamo?
Como estão fazendo no Haiti?
Senhoras e senhores há um novo salvador. Ajoelhemo-nos. O pagamento vem em bananas.