Capítulo 1: O Cisma Sarapatético
BH, ano 2008. Os Sarapatetas encontram-se para atualização do calendário oswaldiano, decidindo se o marco continuará a ser a devoração do Bispo Sardinha.
Abro os trabalhos recitando Vinícius de Moraes:
Lúcio: Não comerei da alface a verde pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem maior aprouver fazer dieta.
Cajus hei de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.
Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro: dêem-me feijão com arroz
E um bife, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.
Andrei Golemsky (caprichando no sotaque russo): A morte é uma festinsky! Só não me telefonem.
Rodrigo Rock Blue (sempre cantando tudo em ritmo de rock): Yeah, em breve os hippies de Istambul me acompanharão. Why, bicho, não te telefonar?
Andrei: Uai, why, não gosto de retornar ligações perigosas. Liasons dangereuses, sacumé?
Andréa Beluga: Andrei, és assombrado pelo fantasma do Magno Pai de Hamlet.
Andrei: Sangue de Jesus tem poder, belugette!
Andréa Beluga (mau humorada): beluguette não, é meio bicha.
Lúcio (vou citar mais um poeta, Juraci Siqueira): Papai Noel comunista...
Êta, mentira indecente!
O velho é capitalista
fodendo a vida da gente!
A noite logo retorna,
e o Sol, cansado, desmaia
e o mar passa a língua morna
na vulva branca da praia...
Santo André (o duplo de André): almas perdidas, quero salvá-las, sou soldado de Deus, vocacionado jesuíta!
Érico(vestido como nero, encara com hostilidade do duplo de André): Nós estamos aqui para quê, sua horda? Não somos ateus?
Rodrigo Rock Blue: o nome da minha banda é HORTA, HORTA, Érico.
Marcos Xavier (entra vestido e com barba como Tiradentes): estamos aqui para resolver o cisma do Sarapatel dos Estetas, a questão do bispo Sardinha....
Andrei: em nome de um materialismo anárquico, uni-vos!
Santo André: em nome de um misticismo maluco, de um Cristo que vi sair andando da parede quando criança, separai-vos!
Andréa Beluga: assim não dá. SALVEM AS BALEIAS! (sai de cena).
Larisse (quando ela entra em cena, Andrei e seu duplo se retiram): Deus, afasta de mim os versos sacânicos, afasta de mim esse cálice!
Marcos Xavier: é preciso afastar os fantasmas Sergei, Elisângela, Johnny, Magno. Viemos aqui para oficializar o cisma?
Érico (monologa baixinho, enquanto ninguém o escuta, acendendo um cigarro): cisma é comigo mesmo. Sou ateu, graças a Deus. Vim para criar uma igreja atéia entre os sarapatetas.
Rodrigo Rock Blue (histérico, imitando Caetano em 68): Vocês são a juventude que quer tomar o poder? Vão sempre enterrar HOJE o velhote inimigo que morreu ONTEM!
Marcos Xavier (com voz paciente de bom católico): bom, para celebrar a abertura desse congresso tratando do cisma sarapatético. O primeiro passo é a partilha do espólio sarapatético.
Lúcio: NÃAAAAO! Beleléu.
Andrei Golemsky: Os hippies de Istambul detonaram todos os caretas!
Santo André, o duplo de Andrei: Eu não queria fazer amor
Lúcio: I am the world, I am the children, I am Bruce Springsteen...
Érico: Isso aí! “Eu também sei ser careta. De perto ninguém é normal”, racional.
Larisse: O real de perto é quase imaginário, é irracional...
Marcos Xavier: U-te-rê-rê, U-te-rê-rê! OOOga BOOOga-tenho dito!
Larisse: E eu queria fazer amor.
Santo André, o duplo de Andrei: Mais um, mais um...Por que parou? Parou por que?
Rodrigo Rock Blue: Eu queria te matar! Vaza-te, rato de éter!!!
Lúcio: Devassos, pervertidos, chafurdem na pornéia desvairada, crapulitos & crapuletes!
Andréa Beluga: Carpe Diem, seus putos! Agricolei, agricolae, agricolis, agricolam...
Érico: Nós somos os novos bárbaros-temos que ser-ou isso ou os bobos da corte.
Santo André, o duplo de Andrei: Anjo Azul, Greta Garbo, leave me alone, cambada!
Andrei Golemsky (cantando narcisicamente a si mesmo): Não deixo! Você é a geléia que eu gosto mais de comer. Humm!!!
Rodrigo Rock blue: Eu vou te matar, ROMANOV!!!
Larisse: As renobraças vão te POSSUIR!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Lúcio: Je me gustaria de retalhé le professeur. Yo yrya pendureux ekle dan le cabeza per baix, pour las orejas -- me gustaria mucho! Osgarmo!Vira! Virou! Ah!
Érico: Ah! A vida é como uma prova de colégio: não importa se você cola ou não, desde que a resposta esperada esteja no papel.
Santo André, O duplo de Andrei: OH Zeus. Chuva de ouro, eu só quero, só penso em namorar.
Andrei Golemsky (apaixonado por seu duplo): Namoro não pede Zeus ou Deus, só os seus e os meus, ou melhor, o meu e a sua:
Rodrigo Rock Blue: a morte expõe a bílis gangrênica no seu rabo.
Lúcio: A perversão tomou conta do meu e da tua, seus comunistas, seus trotsquistas, vocês deviam parar de recitar os Poemas para Rezar de Michel Quiost e não deviam deixar os Poemas para Rezar de Michel Quiost fazerem este estrago todo nos humanóides que habitam este planetinha defecante e fazer algo para que os Poemas nunca mais fossem rezados e quem sabe eles fossem desintegrados numa câmara ardente, seria uma ploscalafobéticarexospiração em meio aos vietcongs, maoístas e ativistas exaltados do Partido Armado Universitário (PAU), sigam o Sendero Luminoso e leiam as Teses filosóficas de Enver Hoxha, seus agentes de Tirana, vocês já passaram o verão no litoral albanês?
Érico: Não é anotação da aula, mas parece. Que zona!
Lúcio: Isso a gente não aprende na escola.
Andréa Beluga: Issi o gene não apreende na école.;
Santo André, o duplo de Andrei: EU TÔ DENTRO DE VOCÊ, CARA.
Andrei Golesmky: Fala, minha cruz!
Santo André, o duplo de Andrei: Cruz é o caralho!
Marcos Xavier (fala com a voz do Papa Bento XVI, em off): Acabo com isso ao som de descargas celestiais e do berro de um Deus que criou este mundo e não conferiu se tinha papel higiênico.
(Continua...)