FICÇÃO E HISTÓRIA EM 1984 DE GEORGE ORWELL
Frank Bruno Cardoso Silva [1]
RA: 2738813
Elaine Cristina da Cruz [2]
RA: 2730031
RESUMO
Esse
artigo analisa o romance 1984 de
George Orwell e investiga a narrativa histórica do debate entre Trotsky e
Stálin que foi base para a estruturação do romance entre os polos Grande Irmão
e Goldstein. Ao investigar a narrativa histórica, nota-se o pano de fundo
histórico do romance e pode-se notar o quanto George Orwell devia ao
trotsquismo que inspirou a sua juventude. Esse texto foi ao mesmo tempo uma
ficção científica futurista, uma alegoria política e um drama de horror. A recepção crítica do romance notou, na época,
os elementos que referiam-se à União Soviética, mas esse texto agregou, a
alguns fatos e elementos históricos como o texto A Revolução Traída e os
grandes expurgos, toda uma crítica das sociedades ocidentais, antecipando o
papel de dominação das massas que teriam a televisão e a pornografia. Orwell,
pode-se dizer, captou alguns elementos da Inglaterra do tempo em que vivia e
projetou junto a uma fantasia sombria do que seria a vida na União Soviética de
Stálin, localizando a narrativa em Pista de Pouso Número 1, lugar que seria a
coisificada Inglaterra do futuro.
Palavras-chave: ficção científica, horror, romance,
1984, George Orwell, socialismo, Stálin
1 INTRODUÇÃO
A influência do romance 1984 é tão grande na cultura popular que
o programa de verão de grande audiência na TV brasileira chama-se Big Brother, em clara homenagem ao
personagem do grande líder que, na narrativa de Orwell, pode facilmente ser
associado a Josef Stálin, assim como o personagem de Goldstein, o dissidente a
quem eram dedicados “dois minutos de ódio” pode ser associado ao líder político
dissidente Leon Trotsky.
O texto 1984
de Orwell passa a ser lido como um romance cuja terminologia e simbolismos
podem ser utilizados para qualquer situação política do mundo moderno, sem
preocupação alguma com o contexto político a que se referia originalmente.
Sua grande popularidade foi
aumentada recentemente graças aos escândalos internacionais de espionagem e que
fazem aumentar o temor de ser espionado e monitorado na internet, dando ideia de que o “Grande Irmão” existe hoje em dia e
que estamos todos sendo controlados o tempo todo.
Nossa hipótese é que o
romance 1984 referia-se a uma
determinada narrativa histórica: a União Soviética ao tempo em que era dirigida
pelo partido comunista soviético. Essa narrativa histórica é projetada para
outro momento histórico e outro país, a Inglaterra. Assim, a narrativa
refere-se à narrativa da União Soviética repetindo-se na Inglaterra dos anos
80, então transformada num país onde o estado domina totalmente a sociedade e
que planeja até mesmo os mínimos gestos dos cidadãos. A ideia de planejamento
estatal da economia é estendida, pela narrativa, à vida privada dos cidadãos,
trazendo uma sensação enorme de opressão. A narrativa pontua aqui e ali eventos
históricos que realmente existiram: os grandes expurgos, o texto A Revolução Traída, de Leon Trotsky que
é citado indiretamente. O texto serve, então, de alerta para o que pode gerar
uma revolução socialista: uma opressão ainda maior do que a opressão vivida no
sistema imperialista. Trata-se de uma forma singular de romance distópico: é o
contrário das utopias fundamentais do pensamento ocidental, que falavam da fé
no progresso humano e na capacidade do homem de criar um mundo de justiça e
paz. O livro de Orwell é importante justamente porque exprimiu o novo
sentimento de desesperança que agora é característico de nossa época, mas foi
pioneiro ao apresentá-lo. Há outros romances distópicos, tais como Nós, de Eugene Zamiátin e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley.
Nesse artigo, serão feitas algumas ponderações a respeito da narrativa
histórica que permeia 1984, transformada
pelo autor em ficção.
1
TROTSKY X STÁLIN EM 1984
A estrutura de 1984 é
composta em torno de dois personagens: os líderes políticos Grande Irmão e
Goldstein, cuja oposição estrutura o grande conflito da narrativa entre
liberdade e opressão que até o fim tensiona o romance. O Grande Irmão é o
oponente, Goldstein é aliado indireto de Winston: ele, como Winston, combate a
opressão reinante no país. Sentindo a opressão vigente, Winston passa a
escrever um diário e a bradar, num gesto de rebeldia individual: “abaixo o
grande irmão!” Winston Smith é um habitante do que no passado era a Inglaterra.
A descrição do Grande Irmão coincide com a de Stálin, que também usava bigode e
cuja imagem era reproduzida em muitos lugares na União Soviética:
O vestíbulo cheirava
a repolho cozido e a velhos capachos de pano trançado. Numa das extremidades,
um pôster colorido, grande demais para ambientes fechados, estava pregado na
parede. Mostrava simplesmente um rosto enorme, com mais de um metro de largura:
o rosto de um homem de uns quarenta e cinco anos, de bigodão preto e feições
rudemente agradáveis (ORWELL,
2009, p. 12).
Aparentemente, o cenário
em que vive Winston é o cenário opressivo da Inglaterra onde triunfou o
socialismo à moda de Stálin, quarenta anos depois da Segunda Guerra Mundial.
Não se trata tanto de um país invadido pela União Soviética quanto um país onde
venceu uma versão do socialismo de Stálin, chamado então de socialismo inglês
(aparece no romance sob a sigla “Socing”). No romance, a Inglaterra mudou de
nome para “Pista de Pouso Um”, um nome estranhamente coisificado.
Se fosse outra versão de
socialismo, Orwell talvez não tivesse escrito narrativa tão sombria projetando
conteúdos negativos a respeito, pois se dizia a favor do socialismo. O conteúdo
de 1984 parece ser de uma projeção de
um futuro sombrio onde o socialismo de Stálin triunfou na Inglaterra, fato
político que teve consequências extremamente opressivas. A narrativa mostra
que, depois de divergir do pensamento do Grande Irmão em seu diário pessoal e
viver um romance clandestino com Júlia, Winston aderiu ao sistema: aprendeu a
amar o Grande Irmão. O romance não afirma o gesto libertário como importante.
Ele cai no vazio. Ele funciona mais como um alerta: “se vocês não agirem no
presente para combater Stálin enquanto é tempo, este será o futuro”.
Hoje em dia a crítica
comenta que George Orwell era simpatizante do pensamento de Leon Trotsky e até
mesmo participou da guerra civil espanhola ao lado de um pequeno grupo de
trotsquistas, o POUM, o que gerou seu livro Lutando
na Espanha (“Homenagem à Catalunha”). A teoria de Trotsky sobre a revolução
russa ajuda a estruturar seus textos – e devemos recorrer a ela para entendê-los.
A descrição do dissidente Goldstein em 1984 faz lembrar Trostky:
O diafragma de
Winston estava contraído. Ele era incapaz de olhar para o rosto de Goldstein
sem ser invadido por uma dolorosa combinação de emoções. Era um rosto judaico
chupado, envolto por uma vasta lanugem de cabelo branco e munido de um pequeno
cavanhaque –um rosto inteligente e apesar disso, por alguma razão,
inerentemente desprezível, onde se equilibrava um par de óculos já perto da
ponta. Parecia a cara de uma ovelha, e a voz, também, tinha uma qualidade algo
ovina. Goldstein bradava seu discurso envenenado de sempre sobre as doutrinas
do Partido –um discurso tão exagerado e perverso que não servia nem para
enganar uma criança, e ao mesmo tempo suficientemente plausível para fazer com
que o ouvinte fosse tomado pela sensação alarmada de que outras pessoas menos
equilibradas do que ele próprio poderiam ser iludidas pelo que estava sendo
afirmado. Goldstein atacava o Grande Irmão, denunciava a ditadura do partido,
exigia a imediata celebração da paz com a Eurásia, defendia a liberdade de
expressão, a liberdade de imprensa, a liberdade de reunião, a liberdade de
pensamento, gritava histericamente que a revolução fora traída (ORWELL, 2009, p. 23).
Essas informações procedem
a respeito da imagem de Trotsky: ele de fato era de origem judaica, usava
cavanhaque, óculos, era reconhecidamente inteligente. Observe-se a descrição de
Trotsky que foi feita por Michael Sayers e Albert E. Kahn:
Em 1919-1920, a
imprensa mundial apelidou Trotsky de "Napoleão Vermelho" Trotsky era
comissário de Guerra. Trajado num longo sobretudo espalhafatosamente militar;
de altas botas luzentes, pistola automática à cintura, percorria as frentes de
batalha fazendo inflamadas alocuções aos soldados do Exército Vermelho.
Converteu um trem blindado em seu Q. G. privado e protegeu-se pessoalmente com
uma guarda armada especialmente uniformizada. Ele possuía a sua própria facção
no comando do Exército, no Partido Bolchevique e no governo soviético. O trem
de Trotsky, a guarda de Trotsky, os discursos de Trotsky, as atitudes de
Trotsky — seu vasto cabelo preto e sua barbicha em ponta, seus olhos
penetrantes atrás do pince-nez fulgurante — ficaram mundialmente famosos. Na
Europa e nos E.U.A. as vitórias do Exército Vermelho eram todas creditadas ao
"comando de Trotsky
(SAYERS, KAHN, 2013).
Trotsky, inclusive,
escreveu um livro chamado A Revolução
Traída, ou seja, também “gritava histericamente que a revolução tinha sido
traída”. Trotsky não deixou de ser
parte da história da União Soviética. Ele não foi apagado da história, mas
passou a ser apresentado, a partir de 1929, como alguém que quis liquidar o
país. Nessa passagem há uma questão importante: então Goldstein tinha suas
críticas apresentadas às massas num momento em que todos estão assistindo, ou
seja, o regime apresentava publicamente críticas a ele mesmo, ainda que para
promover o ódio? Então, isso não deixaria de ser liberdade de expressão: se as
críticas fossem reais e fundamentadas, então alguns cidadãos as reconheceriam
como verdadeiras. Essa passagem depõe contra a construção de um estado que,
além do planejamento econômico, extrapola planejando também a vida privada dos
cidadãos, ponto fundamental que permeia a narrativa de 1984. De fato, a crítica de Trotsky a partir de sua saída da União
Soviética passou a ser exagerada: ele passou a comparar Stálin a Hitler, ao
Rei-Sol, etc. Será que um regime totalitário resistiria a críticas feitas em
pleno horário nobre, no horário em que todos estão vendo televisão? Harpal Bar
cita algumas das críticas que fazia Trotsky à União Soviética:
'A política da
direção atual, o pequeno grupo de Stalin, está levando o país a toda a
velocidade a crises perigosas e ao colapso' (Letter to Members of the Communist
Party of the Soviet Union, Março de 1930). 'A crise iminente da economia
soviética virá inevitavelmente no futuro muito próximo, fará ruir a lenda
açucarada [de que o socialismo pode ser construído em um único país], e não
temos nenhuma razão para duvidar de que ela deixará muitos mortos... A economia
[soviética] funciona sem reservas materiais e sem cálculo. A burocracia
descontrolada vinculou seu prestígio com a acumulação subsequente de erros ...
é iminente uma crise [na União Soviética] com seu cortejo de conseqüências tais
como a falência de empresas e o desemprego' - Soviet Economy in Danger, 1932.
'Os operários famintos [na União Soviética] estão insatisfeitos com as
políticas do Partido. O Partido está insatisfeito com a direção. O camponês
está insatisfeito com a industrialização, com a coletivização, com a cidade.' -
artigo em 'Militant(EUA), 4 de fevereiro de 1933. 'O primeiro choque social,
externo ou interno, levará a sociedade soviética atomizada à guerra civil' (The
Soviet Union and the Fourth International, 1933. 'Seria infantilidade pensar
que a burocracia de Stalin pode ser removida por meio de um Partido ou
Congresso Soviético. Os meios normais, constitucionais, não são capazes de
remover a elite dirigente... Eles só podem ser compelidos a ceder o poder à
vanguarda proletária pela FORÇA' (Bulletin of Opposition, outubro de 1933). 'A
crise política converge para a crise geral que está avançando gradualmente'
(The Kirov Assassination, 1935) (BRAR,
2013).
Assim, sendo, se Stálin
era o Grande Irmão, imagine uma crítica pública ao Grande Irmão, na voz de
Goldstein, pregando abertamente o assassinato e remoção violenta do grande
líder da Oceânia. Seria viável que um estado totalitário transmitisse mensagens
como a abaixo às massas? Leia-se o teor violento das críticas:
'Dentro do Partido,
Stalin tem se colocado acima de toda a crítica e do Estado. É impossível
removê-lo exceto pelo assassinato. Todo oposicionista se torna ipso facto um
terrorista' (Declaração na entrevista ao 'New York Evening Journal', de William
Randolph Hearst, 26 de janeiro de 1937). 'Podemos esperar que a União Soviética
saia da grande guerra vindoura sem derrota? A esta questão, colocada
francamente, responderemos com a mesma franqueza: se a guerra continuasse sendo
apenas uma guerra, a derrota da União Soviética seria inevitável. No sentido
técnico, econômico e militar, o imperialismo é incomparavelmente mais forte. Se
ele não for paralisado por uma revolução no Ocidente, o imperialismo liquidará
o regime atual' (Artigo no 'American Mercury', Março, 1937). 'A derrota da
União Soviética é inevitável caso a nova guerra não provoque uma revolução ...
Se nós teoricamente admitimos guerra sem revolução, então a derrota da União
Soviética é inevitável" (Testemunho em Depoimentos no México, abril de
1937." (pp. 224-227, Red Star Press)
(BRAR, 2013).
Sendo as críticas de
Trotsky semelhantes a essas, é bem difícil supor que pudessem ser apresentadas
em circunstâncias tais como os “dois minutos de ódio” citados em 1984, pois um
estado totalitário não as toleraria. Mas de onde falaria Goldstein até o país
onde vive Winston? O narrador onisciente dessa narrativa faz o mesmo que o
aparato estatal que combate Winston: investiga seus pensamentos, vigia-o,
descreve suas atividades, por isso o texto transmite essa forte sensação de
opressão. O leitor da época deve ter saído da leitura decidido a combater o
comunismo para evitar algo assim no futuro da própria Inglaterra. O próprio
narrador onisciente assume, também, esse papel de invadir a intimidade do
personagem e devassá-la para o leitor. Como se pode ler a respeito de George
Orwell:
Como de costume, o
rosto de Emmanuel Goldstein, o Inimigo do Povo, surgira na tela. Ouviram-se
assobios em vários pontos da plateia. A mulher ruiva e franzina soltou um
guincho em que medo e repugnância se fundiam. Goldstein era o renegado e
apóstata que um dia, muito tempo antes (quanto tempo, exatamente, era coisa de
que ninguém se lembrava), fora uma das figuras destacadas do Partido, quase tão
importante quanto o próprio Grande Irmão, e que depois se entregara a
atividades contrarrevolucionárias, fora condenado à morte e em seguida fugira
misteriosamente e sumira do mapa. A programação de Dois Minutos de Ódio variava
todos os dias, mas o principal personagem era sempre Goldstein. Ele era o
traidor original, o primeiro conspurcador da pureza do partido. Todos os crimes
subsequentes contra o Partido, todas as perfídias, sabotagens, heresias, todos
os desvios eram resultado direto de sua pregação. Desta ou daquela maneira ele
continuava vivo e maquinando seus conluios: talvez em algum lugar do outro lado
do mar, talvez até sob proteção de seus benfeitores estrangeiros –era o que se
dizia ocasionalmente –em algum esconderijo na própria Oceânia (ORWELL, 2009, p. 22).
Assim, a narrativa sobre
Goldstein coincide com a de Trotsky: ele foi uma figura destacada no partido
bolchevique, mas tinha origem em outro partido, o partido menchevique. Ele
rompeu com os bolcheviques em 1905, ficando junto aos mencheviques e só uniu-se
ao partido bolchevique em julho de 1917, quando a revolução já era iminente.
Trotsky participou da revolução de outubro com reservas: ele não acreditava na
revolução em um só país. Quando a revolução alemã fracassou, Trotsky insistiu
nessas reservas. Passou a formar uma fração (um grupo organizado dentro do
partido, com regras próprias) e entrou em choque cada vez mais intenso com o
poder soviético no decorrer dos anos 20. Trotsky apresentou nos seguintes
termos a suas reservas quanto à revolução de outubro de 17:
Sem esperar os
outros, começamos a luta e prosseguimo-la no nosso país, convencidos de que a
nossa iniciativa sacudirá outros países. Mas se isto não acontecer, seria
insensato acreditar— a experiência histórica e as considerações teóricas
provam-no — que a Rússia revolucionária, por exemplo, possa resistir à Europa
conservadora... Considerar as perspectivas da revolução social nos quadros
nacionais significaria tornar-se vítima da mesma estreiteza nacional que é a
própria essência do social-patriotismo
(TROTSKY, apud: BRAR, 2013)
Trotsky, aí acima,
polemizou com o próprio Lênin a respeito da possibilidade de construir o
socialismo em um só país: Lênin não foi representado em 1984, como também já
foi notado que ele foi omitido em A
Revolução dos Bichos. A posição do narrador de 1984 a respeito de alguns episódios têm ressonância em episódios
reais que também envolveram Trotsky, tais com os grandes expurgos:
Os grandes expurgos,
que envolveram milhares de pessoas com julgamentos públicos dos traidores, e
criminosos do pensamento que faziam confissões abjetas e em seguida eram
executados, serviam como punições excepcionalmente exemplares e só aconteciam a
cada dois ou três anos
(ORWELL, 2012, p. 59).
Os grandes expurgos
históricos são uma passagem muito controversa da história da União Soviética. A
hipótese dos partidos comunistas da época referia-se aos Processos de Moscou
como parte de uma série de expulsões, prisões e julgamentos públicos onde
algumas altas autoridades da União Soviética foram acusadas de colaboração com
a Alemanha e o Japão, tendo formado um bloco zinovievista e trotsquista,
cometendo sabotagens, atentados e espionagem. Na opinião de boa parte da
imprensa oficial, assim como na opinião de Trotsky, que negou envolvimento e
montou a Comissão Dewey para fazer um julgamento paralelo, eram expurgos
injustos e processos encenados, montados por Stálin para fortalecer sua
ditadura e sua posição pessoal em um mundo em que a agressão da Alemanha e do
Japão à União Soviética era cada vez mais iminente. A hipótese trotsquista,
portanto, assemelha-se mais à descrição apresentada no texto de Orwell. Harpal
Brar comentou a respeito dos grandes expurgos:
Numa grosseira
violação da verdade histórica, falseando e distorcendo esta verdade, estas
pessoas afirmam que os Julgamentos de Moscou foram um expurgo conduzido pela
'burocracia stalinista' contra os 'verdadeiros bolcheviques', os acusados nos
Julgamentos. A burguesia e seus lacaios no movimento proletário, ao repetirem
incessantemente essas categóricas mentiras, são assim capazes de induzir
ceticismo nas mentes dos operários a respeito da prática do socialismo. Seria
de fato fútil lutar pela vitória do socialismo, se tal vitória significasse
apenas a eliminação dos revolucionários verdadeiros. A verdade, entretanto, é
justamente o oposto. Os Julgamentos de Moscou foram de fato um expurgo - um
expurgo revolucionário - pelo qual o movimento da classe operária
revolucionária na União Soviética, sob a direção do PCUS(B), dirigido por
Stalin, adotou ação contra os desertores do campo do comunismo que, incapazes
de enfrentar os problemas da construção do socialismo em um país atrasado,
adotaram a linha da rendição ao capitalismo internacional e nacional, fizeram
alianças com os poderes imperialistas (BRAR,
2013).
Sendo assim, o ponto de
vista de Trotsky parece ter sido considerado pela narrativa do romance de
Orwell. A hipótese dos partidos comunistas foi silenciada. Na narrativa de 1984, o paradeiro de Goldstein não era
conhecido. Ele poderia estar até mesmo dentro da própria Oceânia ou apoiado por
estrangeiros. De fato, o fato de que o inimigo do estado tivesse apoio de
benfeitores estrangeiros ou estivesse dentro do próprio estado talvez explique
a sensação de paranoia presente no estado. Com um inimigo declarado conspirando
internamente ou em algum lugar no exterior, com apoio de estrangeiros, a tendência
natural era a tensão interna na Oceânia aumentar. Algo semelhante ocorreu na
União Soviética: a acusação e o julgamento de altas autoridades envolvidas em
conspirações não deixou, inclusive, de aumentar a tensão interna. Alguns
intelectuais ocidentais romperam com o partido comunista nessa época, em função
da péssima repercussão dos julgamentos, supondo ser uma repressão
especificamente contra os intelectuais em geral.
2
A RECEPÇÃO CRÍTICA DO ROMANCE 1984 DE GEORGE ORWELL
O romance 1984 não é lido constantemente, na
atualidade, como uma referência à União Soviética de Stálin. Ele é, em geral,
visto como profecia pessimista sobre o futuro, assim como crítica às políticas
tanto das democracias ocidentais quanto do “totalitarismo” nazista e soviético.
Ele serve, então, a variadas interpretações, desde a ficção científica quanto a
abordagens políticas. Ben Pinlott comentou a respeito em um posfácio:
Há aspectos do
romance que certamente levam o crítico moderno a ser condescendente. Não apenas
a suposta advertência contida no livro estava completamente equivocada no seu
intervalo de tempo (não houve, até aqui, uma terceira guerra mundial ou uma
revolução ocidental e os sistemas totalitaristas são hoje menos, e não mais,
comuns do que há quarenta anos), mas as fraquezas literárias do romance podem
ser vistas com mais clareza agora. Se 1984 é um romance acessível, isso se deve
em parte à lucidez da escrita de Orwell. Mas isso também se deve à falta de
sutileza de sua caracterização e a uma trama muito simples (ORWELL, 2009, P. 382).
Pode-se, além disso,
aludir a uma outra questão: o uso de 1984
e da outra obra de Orwell, Revolução dos
Bichos, como propaganda anticomunista durante a Guerra Fria. Ou seja: os
textos foram recebidos efetivamente como propaganda ficcional anticomunista. E 1984 tinha semelhanças com o romance Nós, do escritor Eugene Zamiatin,
exilado em Paris depois da revolução de outubro. Tudo indica que 1984 tem bem mais do que relações
intertextuais com Nós. Parece que
Orwell fez um plágio consciente, já que Orwell mesmo admitiu essa semelhança em
outro de seus trabalhos. A trama dos argumentos, os principais personagens, os
símbolos e o clima de sua narração, pertenciam ao romance esquecido de
Zamiatin. O russo, desiludido com o fracasso da revolução de 1905, dedicou seus
esforços a atacar o partido social-democrata operário criado por Plekanov. Ele
escreveu sua obra anticomunista depois da revolução de outubro, quando se
exilou em Paris. Mesmo Isaac Deutscher, em seu livro O Misticismo da Crueldade, afirmou que Orwell tomou emprestada a
ideia de 1984, o argumento, os principais personagens, os símbolos e toda a
situação do argumento da obra Nós, de
Eugene Zamiatin. No entanto, se o estilo de Zamiátin era prosa poética, em
Orwell predominam descrições naturalistas (PIMLOTT, 2009, p. 396).
Vemos, então, que por trás
da imagem do grande escritor, há alguém que copia histórias. E o mais curioso é
a recepção dos textos de Orwell, que serviram para elaborar modelos teóricos
para o funcionamento da União Soviética, com ampla aceitação acadêmica no mundo
ocidental. O que o romance 1984
postula é muito bem ajustado àquilo que precisava o imperialismo na Guerra Fria
contra o comunismo. O impacto de 1984
foi enorme em sua época. A população de fato acreditou que viver na União
Soviética era daquele jeito. O romance ajudou a criar um ambiente de paranoia
anticomunista e antissoviética muito palpável entre as massas. O depoimento de
Isaac Deutscher (biógrafo de Trotsky) é claro a respeito:
Você leu esse livro?
Você precisa lê-lo, senhor. Então saberá porque temos que jogar a bomba atômica
nos bolcheviques! Com essas palavras, um miserável cego e vendedor de
periódicos recomendou-me em New York [a novela] 1984, poucas semanas antes da
morte de Orwell (ESCUSA,
2012).
O romance funciona, então,
como entretenimento, ao mesmo tempo em que efetivamente pode ser usado – e foi —como
propaganda anticomunista. O texto tem limitações enquanto arte. A narrativa e
os diálogos poderiam ser melhor desenvolvidos. Talvez o repúdio ao
“duplipensar”, ao pensamento que lida com a luta dos contrários, ou seja, a
dialética, parece fazer com que os personagens não sejam, também,
contraditórios. Cada personagem tende a caricaturar uma posição política.
Assim, Parsons é um bobo alegre, Syme é um fanático, características que são
atribuídas aos ativistas políticos. Os proletas parecem tirados de revistas de
humor britânicas e Sr. Charrington, antiquário que aluga um quarto para o ninho
de amor de Winston, e que se revela um Policial do Pensamento disfarçado,
parece ter sido extraído de um romance de suspense barato.
Outro personagem que é
totalmente caricatural é O´Brien. Não é alguém humano, é apenas a imagem
sombria e definitiva do totalitarismo. Mesmo Winston, personagem com quem o leitor
é levado a se identificar, não é um personagem totalmente simpático. É
apresentado, desde o princípio, como um perdedor. Não é fácil para o leitor
sentir a queda de Winston como uma tragédia.
O romance 1984
foi um sucesso instantâneo
ao ser publicado em junho de 1949, apenas sete meses antes da morte do autor
por tuberculose, o que levou à hipótese de que o texto fosse um delírio
provocado pela doença. A narrativa é em alguns momentos lembra uma fantasia
adolescente: reúne elementos de sexo furtivo, rebeldia solitária e terror
implacável, levando todos esses elementos a um extremo. O romance foi
interpretado como comentário social ou mesmo como profecia. Thomas Pynchon
escreveu a respeito do fato de 1984
ter sido escrito na esteira do sucesso de A
Revolução dos Bichos, utilizando-se de um fundo político e alegorias
semelhantes, utilizando mais ou menos a mesma fórmula:
De certa forma, esse
romance foi uma vítima do sucesso de A revolução dos bichos, lido por muitas
pessoas como uma franca alegoria do destino melancólico da Revolução Russa.
Desde o minuto em que o bigode do Grande Irmão surge no segundo parágrafo de
1984, muitos leitores, lembrando imediatamente de Stálin, mantiveram o hábito
de tecer analogias ponto a ponto, como haviam feito na obra anterior. Embora o
rosto do Grande Irmão certamente seja o de Stálin, do mesmo modo que o rosto de
Emannuel Goldstein, o desprezado herege do Partido, é o de Trotski, os dois não
se alinham a seus modelos de maneira tão elegante quanto Napoleão e Bola de Neve
em A revolução dos bichos. Isso não impediu que o livro fosse vendido nos
Estados Unidos como uma espécie de tratado anticomunista. O romance foi
publicado no auge da era McCarthy, quando o “comunismo” era oficialmente
condenado como uma ameaça mundial, monolítica, e não havia motivo até mesmo
para distinguir Stalin de Trotski, assim como não haveria motivo para que
pastores ensinassem as ovelhas sobre as nuances do reconhecimento de lobos (PYNCHON, 2009, p. 396).
Orwell parece, em 1984,
desenvolvido as alegorias no sentido de ser crítico, também, ao mundo ocidental
e aos métodos de controle que, num futuro próximo, ele via que as democracias
capitalistas desenvolveriam. Ele passou a não desejar associar tão diretamente
seu texto à revolução russa, colocando várias referências mais especificamente
inglesas. Ele parece ter intuído formas de dominação ainda pouco aceitas ou
desenvolvidas em seu tempo, como a televisão e a pornografia, jogariam um
importante papel nas sociedades do futuro. Nesse sentido é que seu texto foi
admirável e profético. Esses elementos estão ausentes de A Revolução dos Bichos, que parece uma fábula anticomunista
utilizável desde o ensino fundamental para doutrinar contra o anticomunismo de
uma forma indireta e facilmente compreensível. Assim, Orwell casou o argumento
de A Revolução Traída de Trotsky ao
estilo das fábulas de La Fontaine, transmitindo ao final um notável antídoto
contra o comunismo: todo esforço de lutar contra a opressão produzirá
fatalmente uma opressão ainda mais violenta, daí que todo esforço utópico é
inútil, pois toda revolução degenera.
Em 1984, a referência à revolução russa e seus desdobramentos
permanece, mas o romance funciona como um quebra-cabeça intelectual, onde todas
as respostas e objeções fáceis são bloqueadas de uma forma esperta. Não se pode
objetar que o texto é simples propaganda anticomunista, pois tal não é tão
óbvio.
Ao mesmo tempo, algumas
descrições do futuro foram associadas ao presente, ao momento em que Orwell
escreveu o seu texto: a Grã-Bretanha do pós-guerra, onde havia monotonia,
escassez material e burocracia governamental, é a base da inspiração do país no
futuro. Uma personagem que dá mais alento é Júlia, mais agradável e simpática
do que Winston. Em meio ao atoleiro de desalento de Oceânia, a política se
mostra totalmente entediante para Júlia. Ela tem como objetivos na vida a
despreocupação e um ideal adolescente de liberdade, não estando preocupada com
a próxima geração, ao ponto de ser chamada por Winston de “rebelde da cintura
para baixo”. Como um ideal como esse de Julia poderia sobreviver ao domínio do
partido? Winston resiste à nova era como uma relíquia, lembrando-se de
incoerências e desvendando o processo através do qual o partido reescrevia o
passado. Julia parece indicar que os métodos novos de dominação do partido
falharam. Contraditoriamente, um dos temas da narrativa é que os métodos
totalitários do estado são inevitavelmente ineficazes, embora ele não aponte
esperanças ao final.
Atualmente, muitas
palavras e conceitos utilizados em 1984
passaram a ser usadas comumente por pessoas que nunca leram o livro. A maior
parte desses termos é direcionada contra o poder do estado e, em especial sobre
a capacidade do estado de distorcer a realidade. Pode-se objetar que atualmente
a dominação não é realizada somente pelo estado, mas também pelas grandes
corporações, ou seja, as grandes empresas e monopólios. Embora 1984 seja lido como uma crítica ao
trabalhismo inglês e às democracias ocidentais, esse elemento fundamental das
democracias capitalistas (sua economia é composta de grandes monopólios que
efetivamente buscam vigiar o que seus trabalhadores fazem fora e dentro do
serviço) há esse ponto cego, pois as corporações estão totalmente ausentes. O
foco é no estado, o que dá argumentos aos privatistas e neoliberais que querem
combater o estado.
A atitude do estado quanto
ao sexo também é ambivalente. Ao mesmo tempo em que há “liga juvenil
antissexo”, ou seja, o sexo é proibido pelo estado, há uma produção estatal de
pornografia, o que é sinal de que ela é tolerada e consumida. Ora, a
pornografia instiga ao sexo, ou pelo menos desperta os desejos sexuais. É pelo
menos contraproducente por parte do estado instigar algo oficialmente com
produtos para serem consumidos e ao mesmo tempo proibi-lo. Com certeza, esse
método de controle seria ineficaz. Ben Pimlott define a respeito:
A provação da
sociedade de Oceânia, na qual tudo é feito coletivamente e na qual, no entanto,
todos permanecem sós, é a negação do erótico. É isso que conflagra os sentimentos
dominantes de “medo, ódio, adução e triunfo orgiástico”. A histeria sexual é
deliberadamente usada para fermentar uma aversão sádica aos inimigos imaginados
e para estimular um amor masoquista e despersonalizado em relação ao Grande
Irmão (PIMLOTT, 2009, p.
387).
A pornografia mostra-se
uma forma de controle eficaz nas democracias capitalistas, uma vez que
oficialmente, o poder permite alguma liberdade sexual. No entanto, a
pornografia é uma produção artística de baixo nível, é degradação estética. Ela
reproduz clichês e estereótipos. Ora, no estereótipo é que está a ideologia
dominante. Quem consome pornografia estaria, ao mesmo tempo em que sentindo uma
liberação imaginária, reforçando em sua mente os estereótipos desejados pelo
poder dominante: o machismo, a coisificação das pessoas no sistema capitalista,
em especial a situação submissa da mulher, assim como a homossexualidade
masculina encontra-se segregada em filmes onde há somente esse tipo de
homossexualidade. A homossexualidade feminina está presente na pornografia
através de um olhar masculino que é tolerante com ela, mas mostra-se
intolerante com a homossexualidade masculina. Outro ponto é que a pornografia
sempre permaneceu proibida na sociedade soviética, mas passou a ser permitida
nas democracias ocidentais, principalmente a partir de 1968. No entanto, não
ocorre a produção estatal de pornografia como no romance de Orwell.
Sendo assim, a estratégia
de Orwell parece ser a de projetar os mecanismos de opressão sofisticados que
pressente e observa na Inglaterra de seu tempo, já um capitalismo desenvolvido:
televisão, pornografia, etc, e projetá-los para uma sociedade dominada pelo
estado, inspirada na União Soviética dos anos 30, então presidida por Stálin.
Julia, embora mais jovem
que Winston, parece ser também fora do tempo: o caso de amor que ela tem com
Winston parece uma narrativa de um país invadido, não de um país onde há
controle total da vida privada e individual.
O romance sustenta-se,
ainda hoje em dia, não devido à profundidade psicológica, mas devido à textura
extraordinária do pano de fundo. O texto é um ensaio de não ficção sobre o
poder maligno, disfarçado de uma ficção de horror cômica. É difícil, no
entanto, ver nesse romance uma sátira. Ele oscila entre uma ficção científica,
uma alegoria política e um romance de horror.
Em relação à fábula
anterior, Revolução dos Bichos, esse
romance de Orwell elabora melhor alguns elementos do mundo ocidental, tais como
a indústria da cultura presente no mundo do futuro, ao falar da televisão e da
pornografia. Na realidade, a televisão e a pornografia nunca foram utilizadas
como meios de controle na União Soviética. A pornografia nunca foi permitida
oficialmente, embora possivelmente tenha circulado clandestina. Já a televisão
dos países socialistas nunca buscou abertamente o lucro promovendo programas
falando de sangue, de crimes e de escândalos sexuais como no caso dos países do
Ocidente, concentrando-se no aspecto educativo.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
O romance 1984 foi o último texto publicado de
George Orwell e, como Revolução dos
Bichos, é um grande sucesso, sendo esses dois seus livros mais conhecidos.
Ambos foram marcados pela posição trotsquista de Orwell em política e de sua
decisão de que era preciso demolir o mito soviético para fazer nascer um
verdadeiro socialismo. O que observou-se, em nossa época, com o fim da União
Soviética, foi um período que não se mostrou promissor como o esperado –e nem
nasceu o tal novo socialismo.
O romance 1984 apresentou, como Revolução dos Bichos, uma estrutura
amparada na analogia entre o Grande Irmão (Stálin) e o dissidente político (Lev
Davidovich Bronstein, ou Trotsky). A narrativa de 1984 se faz com base nessa
oposição. Menciona-se A Revolução Traída,
assim como são citados os grandes expurgos. A divergência entre Trotsky e
Stálin, no entanto, não fica jamais clara. Comparou-se, então, nesse artigo, as
posições históricas dos dois líderes e o desenrolar do conflito entre eles como
uma reflexão que pode esclarecer a narrativa histórica que serve de fundo para
1984.
O romance é bastante
simples enquanto arte, com descrições naturalistas e personagens que
representam diferentes posições políticas. Os personagens não têm
aprofundamento psicológico, o que de certa forma torna o pano de fundo da
narrativa histórica propriamente dita bastante importante para entender o que
se passa. Nessa narrativa, quem sabe para evitar aproximações demasiado
explícitas com a revolução russa como Revolução
dos Bichos permitia, Orwell introduziu elementos presentes nas sociedades
ocidentais, mas que pouco haviam sido utilizados como formas de manipulação de
massas, tais como a pornografia e a televisão. Ele descreveu o presente
opressivo da Inglaterra depois da guerra em suas descrições de escassez,
aproveitou alguns fatos históricos da União Soviética durante o período Stálin
e projetou o conjunto como uma sociedade imaginária, a Oceânia, onde o estado
oprimia a todos e até a vida íntima dos cidadãos era vigiada.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BRAR, HARPAL. Leninismo X Trotsquismo.
<http://comunidadestalin.blogspot.com/2011/03/trotskismo-x-leninismo-indice.html>>.
ESCUSA,
Alberto. Quien fué realmente George Orwell? ¿Quién fue realmente George Orwell?
Los mitos orwellianos: de la Guerra Civil española al holocausto soviético.
Comunidadestalin.blogspot.com. <<acesso em 16 de outubro de 2012>>.
ORWELL,
George. 1984. São Paulo: Companhia
das Letras, 2009.
PYNCHON,
Thomas. Posfácio. In: 1984. São
Paulo: Companhia das Letras, 2009.
PIMLOTT,
Ben. Posfácio. In: 1984. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009.
SAYERS Michel.
KAHN, Albert E. A Grande Conspiração contra a União
Soviética. <http://comunidadestalin.blogspot.com.br/2011/12/grande-conspiracao-guerra-secreta_28.html>>.
Um comentário:
Excelente indicação. Muito obrigado.
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