domingo, 20 de setembro de 2020

Os Méritos de Stálin

 

Os Méritos de Stálin

 

                                                                                  Ludo Martens

 

Essa palestra busca falar algumas ideias sobre Stalin e seu período na União Soviética. O texto servirá de debate nas organizações. Começaremos com um dissidente bem conhecido na Alemanha, Alexander Zinoviev, que, embora fosse jovem, nos anos 30, preparou um atentado contra Stálin. E, depois de ver, em 91 a restauração capitalista na URSS, ele escreveu que Stálin foi o grande gênio político do século XX. Isso vindo de alguém que fez carreira como anticomunista.

A primeira questão que vemos é, observando a luta de classes internacional, Stálin representa a classe trabalhadora. A atitude contra Stálin é sempre uma posição de classe. Somos educados, quando jovens, para falar que Stálin é criminoso, é ditador. Tudo é permitido dizer sobre esse período.

O que é fato que o tratamento de Stálin é o mesmo dado a outros revolucionários, historicamente. Isso começa com a revolução francesa, isso acontece na Comuna de Paris. Isso começa com Marx. Vejamos uma ilustração anticomunista: vemos alguém com um machado, cortando cabeças, vê-se uma casa queimando. É um desenho antissocialista belga. Não se vê Stálin aqui, é Marx. O primeiro a ser chamado de Tzar Vermelho foi Lenine. O mesmo dito sobre Stálin foi dito sobre Lenin e Marx.

Na Bélgica, como é um país muito católico, foi a guerra espanhola que causou sensação na direita. Num desenho dos anos 30, é Stálin que é visto botando fogo nas casas, matando mulheres. É o mesmo discurso antissocialista. É Stálin que é visto interferindo na Espanha, não a Alemanha nazista.

Os nazistas mobilizaram, como se pode ver nesse desenho nazi, com o anticomunismo, principalmente. Então se vê o bolchevismo pondo fogo nas cidades, matando. O bolchevismo foi combatido nesses termos até 1944, depois o termo stalinismo veio substituir o termo bolchevismo.

Então Brzezinski, um polonês que trabalha para os norte-americanos, fala ainda em 1989 de trinta milhões de mortos. Os trinta milhões de mortos massacrados pelo bolchevismo estão aqui (mostra Minha Luta, de Hitler). Isso em 1925. Nessa época ainda não tinha acontecido nada, só a guerra civil, que levou uns 8 ou 9 milhões de mortes. Sendo assim, os nazis estiveram na vanguarda das correntes oportunistas e anticomunistas.

De lá para cá, a guerra da burguesia tem se sofisticado mais e mais. A guerra prepara-se nos períodos de paz, através da guerra psicológica. A guerra se faz através do controle da informação, da espionagem, da expulsão dos revolucionários. A guerra da burguesia sofisticou-se com os nazistas, como se pode ver nesse quadro que data da II Guerra Mundial, já é a guerra psicológica: Hitler mobiliza sobre dois temas durante a invasão (ele mostra outro desenho da época da invasão de Hitler na Bélgica): anticomunismo e terrorismo. Os partisans (resistentes) eram chamados terroristas. Note que há sempre um judeu intelectual ao lado de Stálin na propaganda nazista. Eles agitavam falando em judeu-bolchevismo.

Em 1989, houve um episódio interessante. Votaram uma moção anticomunista no parlamento. Ela foi aprovada por todos, mas um deputado fascista do VlaamsBlok falou: “há trinta anos,ninguém nos apoiaria nessa moção”. Os fascistas estavam na vanguarda da reação mais uma vez.

Então, teve a história da revolução antiburocrática que supostamente estaria acontecendo no Leste Europeu, segundo os trotsquistas. Para eles, se caíssem aqueles regimes, a social-democracia se desenvolveria. Mas mesmo para um cego, um imbecil, ficou bem claro que é, na prática, a revolução antiburocrática dos trotsquistas, existe um sentido de classe, é restauração burguesa, capitalista. Eles experimentaram a tal revolução antiburocrática e nós vimos o que era.

Resumindo: Lênin e Stálin construíram, Kruschev começou a destruir, Brejnev deu continuidade e Gorbachev completou o serviço.

Então, gritavam que a URSS estava em crise no tempo de Gorbachev porque a economia crescia apenas um por cento. Mas depois da queda do regime em 91, a produção caiu cinquenta por cento. Mas agora não, agora tá valendo, pois estamos respeitando a democracia, os direitos humanos. Isso tudo foi dito na cara dura, na BBC inglesa, por um repórter que foi à URSS. E o repórter disse que as empresas que funcionam estão dominada pela máfia. E isso se diz na cara dura! E isso na BBC, que sempre esteve na vanguarda da propaganda anticomunista.

Podemos dizer, então, existe agora onde antes havia a URSS uma nova ditadura de uma nova burguesia que é absolutamente bárbara! Uma burguesia mafiosa!

Então todos os oportunistas e anticomunistas sempre formam uma grande conjuração contra Stálin. Stálin foi o grande organizador que permaneceu na Rússia, na clandestinidade, antes e durante a I Guerra Mundial. A experiência muito lhe valeu durante as batalhas posteriores.

Depois que o czarismo mostrou-se frágil e caiu, começou a guerra civil, que só foi sangrenta devido à intervenção de vários países, devido ao fato de que os czaristas e social-democratas foram pedir ajuda ao império britânico. E aí vieram os japoneses, tchecos, vieram várias nações invadindo o país, mas eles perderam, pois ainda havia um clima revolucionário em seus países. Eles tiveram, então, que voltar.

Se os bolcheviques não tivessem mobilizado os camponeses, se eles não tivessem visto que na prática quem queria dar a terra a eles eram os comunistas, os bolcheviques teriam sido derrotados. Isso foi decisivo na guerra civil.

No período que se sucedeu à guerra civil, foi Stálin quem defendeu que a Rússia podia construir a teoria de que era possível construir o socialismo em um só país. Trotsky defendeu outra tese: uma revolução sozinha degeneraria, a revolução tinha que ser exportada pela Europa para países mais modernos.

Então, para Trotsky, era aventureirismo ou derrotismo. Para ele, eles estavam sós, então era hora de dizer aos operários e camponeses que lutaram e deram sangue: estamos sós, fica para outra.

Foi graças à capacidade organizativa de Stálin que o partido foi organizado, numa situação extremamente complexa. Stálin era um grande teórico, ao contrário do que dizem os burgueses. Os textos de Lenin são para os dirigentes, há discussões sofisticadas. Mas Stálin está noutro momento histórico e precisava educar milhões de camponeses e operários.

Fundamentos do Leninismo é um curso de Stálin na universidade Sverdlov. Esse livro brilhante, pois sintetiza as ideias de Lenin. Mesmo um operário pode lê-lo hoje em dia. É uma forma clara de sintetizar as discussões entre Lênin e os oportunistas. Um operário deve ler, como iniciação: O Manifesto Comunista, O Estado e a Revolução de Lenin e Os Fundamentos do Leninismo, de Stálin. São livros que o iniciante deve ler.

A URSS lançou a economia planejada para o mundo e foi muito bem sucedida.

Igualmente, a industrialização da URSS também devido aos méritos de Stálin enquanto líder. Foi também, claro, graças ao espírito de sacrifício da classe operária e camponesa. A industrialização foi realizada graças à eletrificação. Lenin previa a eletrificação em 15 anos, até 1935. E ela foi um sucesso, sucesso absoluto: chegou a 230 por cento.

Outra grande conquista foi a coletivização. A Nova Política Econômica criou pequenas e médias empresas. Havia fazendeiros ricos, por um lado e por outro camponeses sem terra, sem um arado. E por isso existia polarização espontânea, uma polarização entre ricos e pobres, como em qualquer economia de mercado. Os ricos acumulavam muito, podia-se comprar e vender terras. Então, surgiu uma burguesia agrária que muito bem poderia desafiar e derrotar o poder soviético. Por isso o partido desenvolveu a coletivização, em 1927 ainda havia muito poucos. A coletivização foi decidida pelo partido e a ideia foi eliminar os camponeses ricos, os burgueses agrários (kulaks), pois eram uma ameaça, pois uma vez sendo ricos, poderiam dirigir as massas agrárias contra o poder soviético. O país ainda era rural, havia massas no campo.

Pode-se dizer que foi preciso colocar todo mundo alfabetizado e que estava no campo dentro do partido. Era fácil entrar. O partido teve que aceitar até guardas brancos, ex-czaristas. Foi necessário, diante das dificuldades, trazer gente da cidade para o campo, trazer quadros mais preparados. Pois o partido não era fraco no campo só em termos numéricos, mas também em termos de consciência.

A classe kulak podia facilmente mobilizar as tradições reacionárias que ainda eram fortes no campo. Ao saberem que começava a coletivização, lançaram praticamente uma guerra civil. A grande diferença entre ser camponês pobre ou camponês médio era ter um cavalo. Os camponeses médios foram iludidos pelos kulaks e mataram os cavalos. Foi uma luta selvagem, a ideologia reacionária era muito enraizada. Os kulaks lutaram como se fosse uma luta de extermínio.

O apoio dos camponeses pobres foi decisivo para derrotar a classe kulak. Durante muito tempo, os camponeses sem terra e que viviam na pobreza tinham se revoltado, mas agora eles tinham a seu lado o exército, o estado, o partido.

A comparação realizada pela CIA é que o extermínio dos kulaks é como o extermínio dos judeus pelos nazis. Uma parte dos kulaksforam deportados. Podemos discutir sobre os números. Robert Conquest era o grande especialista na URSS. Em 1989, Conquest e Soljenitsinforam citados como os dois autores que era preciso ler para entender o stalinismo. Então, os números são de 3 milhões de mortos na deskulakização. No entanto, uma outra análise alternativa acadêmica calculou que foram por volta de 200 mil ou no máximo 300 mil mortos, no máximo, durante todo o período.

Outro ponto a ressaltar são os expurgos dos anos 30. Stálin leu Minha Luta muito bem e sabia que a Alemanha queria espaço vital a Leste. Então, a guerra viria mais cedo ou tarde. Quando a URSS ficou ameaçada, todos os oportunistas se uniram contra Stálin, esperando tomar o poder. Daí a necessidade dos expurgos, dos processos de Moscou. A burguesia ainda estava lá, havia alguns kulaks que sobreviveram, havia a igreja, tudo isso influenciava decisivamente. A influência da social-democracia era grande no partido. Mencheviques e bolcheviques coexistiram durante muito tempo no mesmo partido. Zinoviev e Kamenev, em 17, líderes bolcheviques, entregaram para a imprensa menchevique a informação de que havia uma insurreição em curso. Houve mesmo nos anos 20 um líder que se chamava George Salomon que era vice-ministro da indústria e disse, no início dos anos 20, que Lenin exagerava e que era preciso uma fase capitalista, que o capitalismo ainda tinha um papel a jogar. Ele continuou sendo vice-ministro com essas ideias. Esse líder passou para o outro lado nos anos 50. Então a influência social-democrata era muito grande, muito além de Trotsky.

Trotsky, depois de sair do partido, degenerou rapidamente. Em 1934 ele já começou a dizer que foi Stálin o grande culpado da vitória de Hitler. Para tirar Hitler, era preciso acabar com a Internacional Comunista. Dois anos depois, a guerra se aproxima. E ele fala que a burocracia stalinista sabe mais do que ninguém que a guerra representará sua queda. Berlim sabe, dizia Trotsky, que o pais estava solapando moralmente o país. Ele faz propaganda para dizer que o país estava desmoralizado, ou seja, estimulou os alemães a invadir a URSS. Trotsky diz que Stálin, um carreirista, chamava para si o terror individual, segundo as leis da história. Aqui está na verdade fazendo propaganda do terror individual contra o partido bolchevique. Ele fala que só uma revolta política poderia derrubar a nova casta burocrática, apelando ao exército. Na prática, ele age como um provocador a serviço dos nazis.

Então, houve o caso de um anticomunista, Boris Bojanov, que entrou no partido para destruí-lo, ele chegou a escrever isso. Ele entendeu aos 19 anos que não havia como combater o comunismo a não ser entrando no partido e destruindo-o poder dentro. E que em quatro anos estava no comitê político de sua cidade. Há também um caso citado no livro de um norte-americano. Era o caso de Chevchenko (citado como modelo por Zizek) que posteriormente fugiu para o Ocidente e explicou seu papel de infiltração contrarrevolucionário em um livro. Ele foi branco e depois virou operário, entrou na universidade e virou diretor de empresa socialista. Havia o caso de Tokaev, havia uma organização agindo dentro do partido. Há também o caso de um militar que chegou a um alto posto, sempre organizando complôs. Boa parte dessas pessoas foram fuziladas. Então, não se deve dizer que Stálin exagerou ao fazer o expurgo.

Bukharin foi parte dos oportunistas dentro do partido. Ele divergia da coletivização, mas continuou no centro do partido. Stálin não se opunha a qualquer um que o contrariava, isso é besteira. Ele se ligou aos conspiradores nos anos 30. Então era uma coalizão de forças, estavam no exército, nas empresas, no partido, no campo, nas universidades. Se essa quinta-coluna não tivesse sido exterminada, o poder soviético poderia ser derrotado numa situação de ataque externo.

Um outro ponto importante é o papel militar de Stálin durante a guerra, o papel diplomático. Para isso temos o debate de Kruschov. Nessas memórias de um antistalinista, pois Zukov deu um golpe de estado a favor de Kruschov, ele afirma que Stálin fez opossível.Zukov afirma que, quando a Alemanha invadiu a Austria, em 34, França e Inglaterra foram coniventes. Em 38, o mesmo aconteceu, a ideia era dirigir o expansionismo alemão contra a URSS, para o leste. Elas deixaram de lado todos os acordos do pré-guerra que garantiam esses dois países. A URSS tentou ao máximo um acordo, mas a ideia era um complô para destruir, antes de mais nada, a URSS. Só depois que Hitler as atacasse era possível um acordo anti-hitlerista. O pacto com os nazistas foi para isso, para que fosse quebrada essa jogada de França e Inglaterra, pois o Japão estava ameaçando a URSS e uma guerra de duas frentes a URSS não aguentaria.

Quando estourou uma guerra da Finlândia contra a URSS, franceses e ingleses, que quase nada tinham feito para combater a Alemanha, embora existisse uma guerra, ficaram novamente estimulados a combater conjuntamente ao lado da Alemanha contra a URSS. Enviaram apoio militar para a Finlândia. A URSS tentou negociar com a Finlândia, pois sabia que sem conseguir alguns territórios que estavam na mão desse país, Leningrado não era defensável. Então o objetivo da guerra foi defender-se.

Sem a direção de Stalin, não seria possível vencer a guerra, isso foi escrito por Zukov. Stálin, segundo esse inimigo, era mais realista que Churchill, era mais bem informado que Roosevelt.

Stalin também teve um papel fundamental para estimular novas revoluções socialistas: ele deu grande impulso para a revolução na Tchecoslováquia, ajudou decisivamente Mao TséTung na China, na Coreia, no Vietnã. Levou adiante uma luta anti-imperialista contra o imperialismo norte-americano. Os norte-americanos continuavam o trabalho dos nazistas, explicou ele. Muitos fascistas croatas e ucranianos foram reaproveitados pelos norte-americanos. Reinhard Gelen era um agente secreto que dirigiu atividade alemãs na URSS e fugiu para o lado deles e levado a Washington. Gelen, que deveria ser entregue e fuzilado, voltou à Alemanha e trabalhou para os norte-americanos. Então, quando os americanos falam que desnazificaram a Alemanha, é uma piada. A lista é infinita, há muitos nazistas que foram reaproveitados e treinados para a luta anticomunista após a guerra. Há os lutadores do terceiro-mundo que lutam hoje contra um imperialismo tão feroz quanto o nazismo. O imperialismo norte-americano tem que ser combatido. Para combater esse imperialismo, há uma só saída: Stálin.

Para Martens, Kruschev reabilitouBukharin, pois Kruschev reaproveitou todas as teses de Bukharin. Essa é a razão da reabilitação, ele é bukhariniano.

 

 

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