Debate
com o PCB: ‘neo-stalinismo’ doença senil da pequena-burguesia semi-intelectual
FERROADAS
SEM FERRAO DE UM TROTSQUISTA ASSOMBRADO PELO FANTASMA DE STALIN
[Por Santiago Marimbondo]
“Na verdade, esse tipo de
‘sofística’ sabe melhor que Protágoras como fazer do branco preto e do preto
branco, e melhor que os eleatas sabe demonstrar ‘ad oculos’ [aos olhos] a mera
aparência de todo real.”
K. Marx; ‘O Capital’
Fenômeno particularmente
relevante da realidade social contemporânea é o fenômeno da pós-verdade. Com o
desenvolvimento de novos meios técnicos de difusão de ideologia de massas (como
a internet) e o bombardeamento de informação a que é submetido o indivíduo em
seu isolamento e atomização – impostos pela reprodução potencialmente ampliada
da sociedade capitalista – parece se construir, cada vez mais, um labirinto
entre o sujeito e a realidade efetiva; o real parece se dissolver, a própria
ideia de que pode existir um discurso verdadeiro, que reflita a realidade em
sua efetividade, se diluir.
A partir disso todo tipo de
“teoria”, das mais estapafúrdias e inacreditáveis, pode encontrar espaço para
se difundir, pois construindo uma certa coerência lógica interna (apesar de seu
afastamento e incoerência em relação a realidade efetiva) ela consegue
apresentar, para o indivíduo pego em seu isolamento, um aparente caminho pra
fora do labirinto caótico das informações desencontradas.
Da “teoria” da terra-plana
ao negacionismo histórico em relação aos crimes nazistas, da negação do
aquecimento global à afirmação de que Hillary Clinton ou Joe Biden (políticos
do partido democrata estadunidense) são comunistas, todo tipo de ideologia, por
mais amalucada que seja, consegue encontrar espaço de difusão e adeptos.
A mais nova moda ideológica
da pós-verdade, a mais nova expressão do terra-planismo (pelo menos nos meios
culturais de “esquerda”), é o chamado ‘neo-stalinismo’. A busca por
reabilitar o ditador contra-revolucionário Joseph Stálin – que dirigiu a
perseguição e o assassinato de toda uma geração de revolucionários bolcheviques
(Bukharin, Zinoviev, Kamenev, Radek, Trotsky, só pra ficarmos nos nomes de
alguns dos mais conhecidos dirigentes da revolução de outubro, revolucionários
que efetivamente dirigiram aquele processo, diferente do papel secundário
ocupado por Koba); que comandou a repressão, perseguição e assassinato de toda
uma geração de grandes intelectuais que se formou nos primeiros anos de
florescimento do regime soviético (pensemos que uma série de importantes
pensadores, em diferentes campos do conhecimento, foram mortos ou levados ao
suicídio pela perseguição stalinista, como o economista Isaak Ilich Rubin, o
filólogo David Riazanov, o psicólogo Lev Vigotsky, o poeta Vladimir Maiakovsky,
e uma longa lista de etc); que comandou os abomináveis ‘processos de Moscou’
(onde “confissões” públicas eram extraídas por meio de bárbaras torturas)
– seria cômica, se não fosse por demais
asquerosa.
MARIMBONDO,
VOCÊ ASSOCIA ALGO QUE NADA TEM A VER. STÁLIN É DEBATIDO NA RÚSSIA TAMBÉM. É
NATURAL QUE O DEBATE CHEGUE AQUI E, PRINCIPALMENTE, AO PCB. ISSO TE DEIXA
INDIGNADO, MAS É UM PARTIDO COMUNISTA, ENTÃO TEM QUE DEBATER AS EXPERIENCIAS
SOCIALISTAS REAIS. NADA MAIS NATURAL QUE DEBATA STALIN. NUNCA DEVERIA É TER
DEIXADO DE ESTUDA-LO E DEBATÊ-LO.
SE A
HIPÓTESE DE QUE TROTSKY, ZINOVIEV E KAMENEV SÃO CULPADOS DE TRAIÇÃO, VOCÊ
DEVERÁ AO MENOS ASSIM QUE: 1) TROTSKY DEPÔS NUM COMITÊ DE ATIVIDADES
ANTIAMERICANAS, DENUNCIANDO COMUNISTAS, OBVIAMENTE. O TEXTO É DE TROTSKY, ELE
MESMO ADMITE QUE OS STALINISTAS ESTÃO COLHENDO O QUE PLANTARAM. 2) ZINOVIEV E
KAMENEV TRAIRAM EM 1917 E FORAM PERDOADOS, MAS ISSO PESA NOS ANOS 30, POIS ERAM
REINCIDENTES.
Um dos centros articuladores
dessa busca de reabilitação do “organizador de derrotas” Stálin é o PCB; um
partido hoje formado predominantemente por setores pequeno-burgueses
semi-intelectualizados, oriundos dos espaços acadêmicos e sem militância
efetiva, sem praticamente nenhuma inserção no movimento operário real, o PCB
busca mostrar uma face “radical”, de suposto combate ao liberalismo, por meio
dessa reabilitação do ditador que afogou em sangue a revolução de outubro.
Voltaremos no final desse
artigo a crítica a essa contradição da postura pública do PCB, que busca posar
de radical no “combate” ao liberalismo por meio da reabilitação (algo
envergonhada, por enquanto) de Stálin, mas que em sua prática política apoia a
liberal “revolução solidária” do Psol em sua campanha eleitoral para prefeitura
de São Paulo.
MARIMBONDO, “PÓSAR
DE RADICAL”??? SE O SEU PONTO É QUE O STALIN É REACIONÁRIO, COVEIRO DA
REVOLUCAO. POR QUE STALIN TE PARECE MUITO RADICAL, POR QUE O PCB FALARIA NELE
PARA POSAR DE RADICAL??? ORGANIZE AO MENOS SUAS MENTIRAS.
Por hora, contudo, vamos nos
centrar em artigo publicado recentemente no blog teórico ligado ao partido, o
‘Lavrapalavra’¹. No artigo, o ‘digital influencer’ Diogo Fagundes (bastante
conhecido pelo menos em um setor estendido dos filiados e simpatizantes do
partido “comunista” brasileiro) utiliza a estratégia argumentativa típica
através da qual o ‘neo-stalinismo’ busca reabilitar a figura do
contra-revolucionário. Parto deste artigo para o debate não porque ele seja
particularmente profundo ou de qualidade, mas por dois outros motivos,
interligados: porque a forma como ali se defende Stálin é a forma que tem se
tornado corriqueira entre os stalinistas “cults” de defender o ditador; porque
o artigo foi bastante compartilhado e comemorado entre os simpatizantes e
filiados ao PCB, o que mostra que ali se expressa a forma típica da estratégia
argumentativa dessa busca de reabilitação da memória do contra-revolucionário
georgiano.
A estratégia argumentativa
típica utilizada pelos defensores “intelectualizados” da memória do georgiano é
a seguinte: se afastar de uma defesa declarada e direta dos seus crimes mais
nefastos (“Se a apologia de todas as ações de Stalin é algo absurda, se podemos
— e devemos — repudiar várias ações e tecer críticas”, como diz Fagundes), mas
ao mesmo tempo justificar esses crimes, pois “temos que entender as condições
históricas” (ou “também é errado desconsiderar os fatores históricos concretos”
nas palavras de nosso pobre “intelectual”). Dessa forma, como “Stalin não foi a
reencarnação de Lúcifer”² (como no argumento algo surrealista de outro
“intelectual” ligado ao PCB) e como ninguém é santo, o ditador georgiano também
deve ser levado em consideração e legitimado, quando se busca construir uma perspectiva
teórico-estratégica para a esquerda.
AQUI
VOCÊ JÁ DEVERIA TER PARADO DE FALAR EM STÁLIN E SIM DISCUTIDO OS RUMOS DO
PARTIDO E DO PODER SOVIÉTICO NO PERÍODO. VC ESTÁ FAZENDO HISTÓRIA BURGUESA,
CENTRADA NUM PERSONAGEM. VOCÊ É ULTRAPASSADO E NÃO ESTÁ SENDO MARXISTA EM SUA
CRÍTICA.
Apesar da fragilidade do
texto, no entanto, o debate e resposta a ele é importante por dois motivos: 1-
o stalinismo tenta (e tem conseguido, na verdade) se relegitimar dentro da
esquerda, como mínimo como alternativa a ser levada em consideração (hoje, seus
defensores, numa estratégia defensiva de argumentação, não dizem que o
stalinismo deve hegemonizar a perspectiva teórico-estratégica da esquerda, mas
apenas ser considerado como algo a ser levado em consideração e legitimado); se
enganam aqueles que pensam que combater os erros teóricos e estratégicos do
stalinismo não tem sentido atualmente, pois esse seria um debate do passado, na
medida em que a URSS não existe mais. É por demais evidente que um balanço
histórico da principal experiência de luta das classes e setores subalternos na
história (que foi o processo revolucionário que começou em outubro de 1917) tem
relevância central pra pensarmos a construção das lutas presentes e futuras
(voltaremos a esse ponto ao longo do artigo);
2- Essa concepção metafísica
da história que propagam os stalinistas “intelectualizados” pra justificar os
crimes do contra-revolucionário, ou seja, a ideia de que aquelas ações “foram
fruto das condições históricas e portanto não existia alternativa” permite, a
partir de sua crítica, buscar aprofundar e disseminar uma efetiva concepção
materialista e dialética da história, onde as condições objetivas não são
hipostasiadas como um sujeito autônomo, um demiurgo, existente de forma
exterior e independente dos seres humanos concretos, os efetivos construtores e
realizadores da história.
SUA
LEITURA DA HISTÓRIA CENTRADA NO INDIVÍDUO STALIN É QUE É METAFÍSICA E
ANTIMARXISTA. VOCE É QUE FALA DE STALIN COMO UM DEMIURGO.
A concepção materialista e
dialética da história nada tem a ver com uma ‘filosofia da história’ de tintura
idealista e metafísica, onde os seres humanos reais e concretos são meros
joguetes manipuláveis de uma força exterior, algum ‘deus ex-machina’. Para nós
marxistas revolucionários a história é fruto da ação humana, de seres humanos
concretos e reais. Os seres humanos fazem a história; em condições e
circunstâncias não escolhidas, legadas por condições e estruturas determinadas
pelas gerações passadas, mas nós a fazemos. As escolhas, pulsões, perspectivas
estratégicas e programáticas, dos seres humanos que atuam historicamente,
assim, não são o reflexo passivo (como no mais vulgar economicismo propagado
pelos stalinistas “intelectuais”) das condições objetivas, mas a busca
consciente sobre como atuar pra transformar essas condições. Na história a
objetividade nunca é algo puramente exterior, mas também, de forma insuperável,
fruto da sistematização e cristalização da ação dos sujeitos.
VOCÊ NÃO É OBJETIVO AO TRATAR DA
QUESTÃO STALIN E SIM OBJETIVAMENTE RELIGIOSO, DOGMÁTICO, VOCÊ TEM UM OBSTÁCULO
MENTAL, É PRECONCEITO. E VOCÊ O COLOCA NUM STATUS DE DEMIURGO, SUPER-HOMEM,
LÚCIFER OU ALGUMA ENTIDADE DEMONÍACA, CAPAZ DE CORROMPER UM PARTIDO, UM PAÍS, A
HUMANIDADE.
Essa ideologia em que as
condições objetivas aparecem como algo exterior e impossível de serem
modificadas pelo sujeito pode ser interessante para os burocratas acomodados,
mas não para a classe revolucionária, o proletariado, que buscando compreender
a realidade objetiva onde está inserida visa atuar pra explodir essa
objetividade (capitalista) e transformá-la em algo novo e estruturalmente
distinto, algo só possível com uma atuação consciente e volitiva, e não pela
espera passiva do desenvolvimento das “condições objetivas”. Estruturas sociais
e atuação dos sujeitos na história (concepção metafísica x concepção
materialista e dialética da história)
Nesse sentido, o segredo do
artigo de nosso “intelectual” se encontra em seu último parágrafo; se “a
apologia de todas as ações de Stalin é algo absurda” a crítica radical à
política contra-revolucionária do ditador georgiano, que levou a morte de
praticamente toda a direção bolchevique com a qual ele conviveu, deve ser
afastada como um psicologismo pré-iluminista, pois não entende que ela foi
fruto da racionalidade histórica em que ele estava inserido:
“Nossos ideólogos não querem
balanço algum, apenas condenação moral e total. Querem a regressão a uma visão
histórica baseada no psicologismo e no moralismo, algo anterior até mesmo a
Hegel — que lia o Terror jacobino sob uma lente conceitual, tentando desbravar
a racionalidade histórica por trás das ações, no lugar da condenação moral aos
personagens históricos considerados individualmente. Isto já é esperado por
parte de liberais, conservadores e todos os apologistas da ordem. Que
socialistas caiam nisto só demonstra a atual barafunda ideológica em que estamos.”
Esse pretenso “hegelianismo”
mal digerido (pois o grande filósofo prussiano não deve ser responsabilizado
pelas estultices de seus vulgarizadores), que busca “desbravar a racionalidade
histórica” como forma de justificar com uma tintura de “esquerda” uma política
que foi objetivamente contra-revolucionária sempre foi marcante nas estratégias
argumentativas da intelectualidade ligada ao stalinismo.
ISSO
QUE ELE TIPIFICOU É VOCÊ, VOCÊ VAI FALAR NO STALIN, CAI NUM PSICOLOGISMO
VULGAR. VOCÊ PEGA UM PERSONAGEM HISTÓRICO COMO INDIVÍDUO E O CONDENA DE
ANTEMÃO.
Como em geral esses
intelectuais são acadêmicos, “militantes” de gabinete, burocratas afastados das
lutas reais entre as classes, a compreensão das estruturas históricas que
permitiram a emergência de certos fenômenos significa pra eles a JUSTIFICAÇÃO
desses fenômenos. Na medida em que esses fenômenos são racionalizáveis,
passíveis de serem entendidos racionalmente, eles são entendidos, por esses
tipos, como racionais, como fruto de uma razão existente fora e exterior em
relação à história concreta. Assim, uma leitura vulgar do aforismo do velho
Hegel “o real é racional e o racional é real” transforma esses fenômenos que
ocorreram objetivamente e que podem ser entendidos por meio da razão, em
fenômenos racionais, expressões “da razão na história”.
Evidente que uma tarefa
fundamental dos militantes revolucionários, dos trabalhadores conscientes, é
compreender as condições objetivas que permitiram que uma burocracia
contra-revolucionária tomasse o poder na URSS e pudesse, a partir disso,
comandar a perseguição e o assassinato de toda a velha guarda bolchevique e o
desvio da maré revolucionária que se desenvolvia no mundo capitalista após a
revolução de outubro (os exemplos são muitos: a política do stalinismo na
revolução chinesa entre 1925-27, na grande greve geral na Inglaterra no final
da década de 20, no processo de ascensão da luta de classes na Alemanha que
culminou com a tomada do poder pelos nazistas – o que em nada era um desenlace
dado de antemão – na revolução espanhola, e uma longa série de etc, onde Stalin
foi efetivamente um “grande organizador de derrotas”), mas compreender as
condições objetivas que permitiram que a burocracia contra-revolucionária
tomasse o poder em nada quer dizer justificar sua política.
VOCÊ
ATÉ AGORA NÃO SE COLOCOU COMO TROTSKISTA, MAS VOCÊ CITOU AGORA UM LIVRO DE
TROTSKY. EM TUDO O QUE VOCÊ ESCREVE, VIVE O ESPECTRO DO BONAPARTE VERMELHO.
VOCÊ CULPA UM INDIVÍDUO DE VÁRIAS DERROTAS HISTÓRICAS. ISSO É RIDÍCULO. É DEMONIZAR
ALGUÉM, É INVERTER O CULTO DA PERSONALIDADE QUE VOCE TANTO ODEIA!
Uma concepção materialista e
dialética da história não vê uma contradição intransponível entre as condições
objetivas e estruturais que determinam as possibilidades e potencialidades da
ação histórica concreta, e a subjetividade, as pulsões e volições dos
indivíduos inseridos dentro dessas determinações (inclusive psicológicas). As
condições objetivas, as estruturas sociais, não são algo exterior e autônomo em
relação aos sujeitos, os efetivos atores da história, mas síntese e
sistematização de suas ações. Já em sua primeira tese contra Feuerbach (um
documento fundante da nova ‘weltanschung’ [visão de mundo] materialista
formulada por Marx) o revolucionário alemão combate uma perspectiva
pretensamente materialista onde a materialidade, a objetividade, é vista como
algo exterior e independente dos sujeitos. A práxis, a ação subjetiva, volitiva
e consciente, é também uma realidade material.
As ações dos sujeitos
inseridos nos processos históricos, assim, sua subjetividade, o programa e
estratégia que defenderam, não são algo exterior à objetividade do fenômeno,
nem mero reflexo passivo das condições objetivas; muito pelo contrário, as
ações dos sujeitos, sua subjetividade, são parte central, fundamental, da
própria objetividade. Isso se potencializa quando pensamos em alguém que
ocupava uma posição dirigente no processo, como era o caso de Stálin. Suas
decisões, a política que ele defendeu, sua estratégia e programa (que
representavam os interesses de uma burocracia contra-revolucionária) não foram
mero reflexo passivo de condições objetivas exteriores a sua ação (como no mais
vulgar economicismo propagado pelos “intelectuais” stalinistas) mas foram parte
fundamental da constituição da objetividade. A história não é algo exterior a
atividade dos seres humanos, mas fruto e expressão de suas ações.
VOCÊ
FALA EM ECONOMICISMO, MAS O QUE MARX DIZ É QUE A PRODUÇÃO É DETERMINANTE
SOCIALMENTE. NOTE O QUANTO A ESCRAVIDÃO, QUE É UMA FORMA DE PRODUÇÃO, INFLUENCIOU
A SOCIEDADE BRASILEIRA. DETERMINA ATÉ QUEM O SEGURANÇA VAI BARRAR NO SHOPPING. ISSO
TEM A VER COM ECONOMIA, NÃO É MESMO?
O mais divertido, contudo, é
a tentativa de dar um ar de novidade conceitual a uma velha concepção metafísica
da história, como tenta fazer nosso “intelectual” neo-stalinista. Essa
compreensão da história onde essa categoria, de reflexo das ações concretas dos
seres humanos reais e ativos, é transformada numa pessoa separada (“a
racionalidade histórica”) que com suas astúcias e razões se move por si mesma é
tão antiga que inclusive já foi satirizada há muito na história da literatura.
Do doutor Pangloss, o sábio
de Westphalia, no ‘Cândido’ de Voltaire, ao ‘humanitismo’ de Quincas Borba, no
‘Brás Cubas’ de nosso Bruxo do Cosme Velho (onde ‘os vencedores ficavam com as
batatas’) essa concepção já mereceu mais que o merecido desprezo intelectual; a
tentativa de resgatá-la, de novo e mais uma vez, por parte de nossos novos
“sábios” de internet apenas mostra como a pequena-burguesia
semi-intelectualizada do partido “comunista” brasileiro ainda tem um longo
espaço de formação pela frente.
AQUI
VOCÊ INTRODUZ O TERMO NEOSTALINISMO. O TERMO STALINISMO JÁ E´INVENTADO POR TROTSKY,
JÁ É TOMADO DE PARTIDO. QUAIS AS DIFERENÇAS ENTRE O VELHO STALINISMO E NOVO???
Os revolucionários
“penteamos a história a contra-pelo” (a análise das lutas passadas como base
para as lutas presentes)
A partir do expresso acima
nosso “intelectual” de internet (e seus seguidores simpatizantes do partido
“comunista” brasileiro) poderia nos indagar, se tiver alguma sagacidade: “mas,
por mais que a objetividade das estruturas históricas, das condições sociais
objetivas, pressuponha, evidentemente, as ações, conscientes e volitivas, dos
sujeitos históricos concretos, a realidade passada, a objetividade do passado,
é um dado material e objetivo não modificável, não passível de transformação
pela ação dos sujeitos sociais”.
Contudo, se é óbvio que a
realidade objetiva e concreta do passado é um dado não passível de modificação
pela ação histórica presente, sua interpretação no presente está sempre, de
forma inerente e insuperável, mediada pela perspectiva estratégica e teórica
daqueles que buscam fazer um resgate do passado como forma de basear a
construção das lutas presentes e futuras das classes e setores subalternos
(como bem entendiam os marxistas que criticavam o objetivismo histórico
economicista, como o revolucionário italiano Antônio Gramsci em seu 25- caderno
carcerário ‘A margem da história. História dos grupos sociais subalternos’, ou
o intelectual alemão Walter Benjamin em suas ‘Teses sobre o conceito de
história’).
GRAMSCI
FOI A FAVOR DE DESTRONCAR O GRUPO DE TROTSKY E CHAMOU O DE BONAPARTISTA.
Quando Benjamin formula, em
suas ‘Teses sobre o conceito de história’ que “devemos pentear a história a
contra-pelo”, apesar da força imagética da imagem construída pela alemão, aqui
não se faz apenas uma colocação literária, que busca dar um verniz estético
para um texto teórico, mas uma afirmação que tem profundas consequências
epistemológicas para uma compreensão militante e revolucionária do estudo da
história das lutas passadas.
BENJAMIN
E GRAMSCI FORAM VALORIZADOS A PARTIR DO FINAL DOS ANOS 50, SÃO BONS, MAS
GANHARAM DIVULGACAO E RELEVANCIA COMO ALTERNATIVAS AO MARXISMO-LENINISMO, POIS
EM ALGUNS PONTOS SÃO AUTORES HETERODOXOS.
O estudo das lutas passadas,
de seus conflitos, limites, paixões, vitórias e derrotas, não é o estudo de uma
realidade morta, que existe numa dimensão distinta e inacessível, pelo
contrário, as lutas passadas existem e vivem nas lutas presentes; o estudo da
história de luta das classes subalternas, da luta do proletariado na
modernidade, não é um decorar insosso de fatos e datas, menos ainda uma
justificação dos erros e ações contra-revolucionárias que possam ter ocorrido
em nome das revoluções (como é o caso do stalinismo, onde uma política
efetivamente contra-revolucionária foi levada a frente portando a bandeira da revolução)
mas um auto-esclarecimento necessário e fundamental para aqueles que buscam se
preparar para organizar e dirigir novas lutas, para que os mesmo erros não se
repitam e os acertos possam ser afirmados.
Os militantes
revolucionários, os trabalhadores conscientes, que se preparam para grandes
lutas que podem emancipar nossa classe, não estudam a história como acadêmicos,
confortáveis em seus gabinetes e distantes das lutas reais, que buscam
descobrir a “razão na história”, como se “a história” fosse um sujeito com
razões próprias. Estudamos a história como forma de auto-esclarecimento para
que no caos do campo de batalha da luta entre as classes, da guerra de classes,
possamos ver com clareza as múltiplas possibilidades táticas que permitem a
realização de nossos objetivos estratégicos.
VOCE
COBRA O STALINISMO POR NÃO TER FEITO REVOLUCOES E DEPOIS DIZ QUE O STALINISMO
JÁ NASCEU QUERENDO CONTRARREVOLUCAO. JÁ DISSE: VOCE NÃO É MARXISTA, VOCÊ É
TROTSQUISTA FANÁTICO, REVISIONISTA DO MARXISMO LENINISMO.
O general prussiano Carl von
Clausewitz, o mais clássico teórico contemporâneo sobre estratégia, tido em
altíssima conta por revolucionários do calibre de Marx, Engels, Lenine,
Trotsky, Gramsci, tinha como uma de suas máximas centrais que “a guerra é um
camaleão”. Frente a mutabilidade e transformação constante inerente à guerra
uma qualidade fundamental para o grande estrategista, assim, seria sua
capacidade de ver com clareza frente a esse caos. Uma das formas fundamentais
de manter a presença de si frente ao caos que significa o conflito, segundo o
prussiano, era o estudo da história militar e das batalhas passadas. A história
nunca se repete, é evidente, mas o estudo das grandes batalhas do passado e da
história militar treinava o general para que esse tivesse a capacidade de
responder às transformações constantes e conflitantes no campo de batalha de
forma a agir com a velocidade e clareza necessária para impor seus objetivos
estratégicos ao inimigo.
Nós revolucionários, nós
trabalhadores conscientes, nós marxistas, estudamos a história como
estrategistas, como sujeitos que se preparam para atuar nas grandes lutas do
proletariado e demais setores subalternos, e não como “intelectuais” de
gabinete, confortáveis em seus escritórios e distantes das lutas e embates
reais entre as classes. Nesse sentido, a história das lutas passadas de nossa
classe vive em nossas lutas presentes.
SUA
ESTRATÉGIA DE DIFAMAR E DETONAR DE ANTEMÃO STALIN NÃO AJUDA EM NADA, É UMA
PESSIMA ESTRATÉGIA, EMOCIONAL, METAFÍSICA...MUITO RUIM. VOCE NÃO AJUDA EM NADA.
E disso em nada decorre que
não se deva estudar a história em sua objetividade, que o estudo da história
deva ser manipulado e deformado para se adaptar a determinadas perspectivas
políticas. Quem entende essa relação dessa maneira são os setores burocráticos,
que defendendo uma política que foi objetivamente contra-revolucionária (como a
stalinista), que objetivamente utilizou a bandeira da revolução para perseguir
e assassinar os revolucionários (e essa perseguição é empiricamente verificável
e documentada, como nos processos de Moscou, onde a direção do partido
bolchevique que esteve à frente da revolução de outubro, como nos casos já
citados de Bukharin, Zinoviev, Kamenev, foi executada com base em “confissões”
públicas feitas sob base de intensa tortura) busca deformar a história para que
essa política contra-revolucionária possa aparecer como algo justificável.
Os revolucionários
marxistas, na medida em que entendem que a emancipação do proletariado é obra
do próprio proletariado, e não de uma burocracia que se põe no papel de sua
consciência atribuída, pensam que é necessário que o próprio proletariado tenha
claro um balanço do que foram seus processos de luta. E pra isso a classe
operária deve conhecer toda a verdade, com seus muitos elementos heroicos e
engrandecedores, mas também com seus limites, degenerações e deformações.
O
QUE TE INCOMODA É QUE MILITANTES COMO JONES MANOEL DO PCB NÃO SÃO BUNDA MOLES,
NÃO SÃO BUROCRATAS, TEM PAIXÃO, CONVICCÃO, TESAO.
A correlação de forças e a
política do stalinismo durante as décadas de 20 e 30
Outro dos argumentos
preferidos dos stalinistas “cults” é que aqueles que criticam a política
contra-revolucionária do ditador georgiano não levam em consideração a
correlação de forças que existia naquele momento. As perseguições e
assassinatos dos revolucionários e intelectuais teriam como justificativa
histórica assim o isolamento da URSS, a ameaça nazi-fascista, a possibilidade
de restauração do capitalismo. Também nosso “intelectual” de internet utiliza
esse argumento:
“Se a apologia de todas as
ações de Stalin é algo absurda, se podemos — e devemos — repudiar várias ações
e tecer críticas duras à coletivização forçada no campo (cujo melhor crítico é
Mao Tsé-Tung, o que deve causar enorme confusão na mente dos nossos teóricos do
“totalitarismo”), aos expurgos violentos, às farsas judiciais contra
adversários em 1937-38, no auge do Grande Terror, também é errado desconsiderar
os fatores históricos concretos, como a ameaça do nazi-fascismo, abertamente
voltado a destruir e escravizar o mundo eslavo,…”
NÃO
TRAGA MAO TSE TUNG, VOCÊ É QUE MOSTRA CONFUSÃO MENTAL. MAO TESE DENUNCIAVA QUE
OS TROTSQUISTAS COLABORARAM COM OS JAPONESES. ELE FAZ CRÍTICAS A ESQUERDA, VOCE
TRAZ MENTIRAS DE DIREITA.
Esse argumento é
particularmente risível pois mostra a ignorância histórica de nossos “sábios”
stalinistas. Tomemos o caso da ameaça nazi-fascista a que estava efetivamente
submetida a URSS e que nosso caro Fagundes toma como exemplo das justificativas
históricas para os contra-revolucionários processos de Moscou (pois, apesar de
não podermos concordar com todas as ações de Stalin temos que entender as
condições históricas onde elas se deram, nos diz o “sábio”). Tomar a ameaça
nazi-fascista à existência da URSS (que certamente existia) como um dado
exterior a política da burocracia dirigida por Stálin é demonstrar a falta do
mais superficial conhecimento sobre as condições históricas que permitiram o
ascenso do nazismo na Alemanha no final da década de 20 e começo de 30 do
século passado.
Em nada a tomada do poder
por Hitler se deu como um processo objetivo impossível de ser combatido e que
devia ser tomado como um dado autônomo e exterior pela burocracia stalinista. A
política que impôs Stálin ao partido comunista alemão naquele momento,
conhecida por qualquer um estudou pelo menos um pouco o período como a política
do “terceiro período”, que se negava a qualquer frente única com o partido
social democrata alemão (que tinha uma influência de massas sobre a classe
operária do país) tratando os social-democratas como “irmãos gêmeos” dos
nazistas, teve responsabilidade direta e profunda na derrota do proletariado do
país, então o mais organizado e um dos mais combativos da Europa. Tratar,
portanto, a ameaça nazista à URSS como algo sobre o qual Stálin não tinha
qualquer responsabilidade é demonstrar um total desconhecimento dos fatos
históricos objetivos, o que mostra o nível dos “intelectuais” que defendem o
stalinismo pela internet³.
VOCÊ
DEFENDE FRENTE ÚNICA? MAS FRENTE ÚNICA NÃO É ABRIR MÃO DA REVOLUÇÃO, NÃO É
FAZER PACTO COM A BURGUESIA, COM OS LIBERAIS?? NÃO É FAZER A FRENTE POPULAR QUE
VOCÊS CONDENAM NA ESPANHA???
O mesmo se pode dizer sobre
o isolamento da URSS; esse isolamento, que certamente deve ser pensado quando
se estuda o período, não era simplesmente um dado exterior para a burocracia
que dirigia o país e que atuava, agia efetivamente sobre a história, naquele
período. Ele foi produzido e reproduzido pelos dirigentes do Kremlin, cujo
representante máximo era o próprio Stálin.
PARA
ROMPER O ISOLAMENTO, BASTAVA EXPORTAR A REVOLUÇAO E IR SOVIETIZANDO TUDO, COMO
QUERIA O SEU ÍDOLO TROTSKY?? NÃO SEJA LUNÁTICO.
A política errada do
georgiano quando da revolução chinesa de 1925-27, quando ele ordena que o
partido comunista chinês, que começava a ganhar influência de massas, entre e
se submeta a disciplina interna do Kuomitang (o que permitiu que posteriormente
a direção do partido nacionalista chinês reprimisse com facilidade e
brutalidade os comunistas)[4]; a repetição da mesma lógica de submissão as
direções não revolucionárias quando da greve geral na Inglaterra no final da
década de 20, que abriu uma situação revolucionária no país, em que Stálin
novamente impõe ao jovem partido comunista britânico que se submeta a direção
reformista das trade-unions[5]; a política stalinista na revolução espanhola,
quando pra agradar seus aliados ocidentais, Inglaterra e França, Stálin comanda
o partido comunista espanhol pra que esse reprima duramente todos os setores
revolucionários no país (anarquistas, trotskystas, poumistas)[6], pra ficarmos
em exemplos por demais conhecidos por quem estuda minimamente a história do
período, foram elementos centrais para que a realidade objetiva do isolamento
da URSS viesse a se reproduzir.
AGORA
VOCÊ É CONTRA FRENTE POPULAR, O QUE VOCE DEFENDE NA ALEMANHA EM 33, VOCE RECUSA
NA ESPANHA E NA CHINA.
O isolamento da URSS, assim,
não foi um dado puramente exterior, com o qual a burocracia stalinista, e o
ditador georgiano em primeiro lugar, teve que lidar como uma força exterior e
autônoma, impossível de ser modificada. A política contra-revolucionária
dirigida por Stálin foi parte central da construção desse isolamento. Que os
“intelectuais” neo-stalinistas, que buscam defender o ditador na internet,
sequer levem isso em consideração mostra o grau de conhecimento histórico dos
nossos “sábios”
A relação entre ciência e
política, entre conhecimento e estratégia, no marxismo (é moralismo
caracterizar a burocracia stalinista como traidora e criminosa?)
Outro argumento que, por
incrível que possa parecer, os neo-stalinistas acham particularmente
inteligente, que quando usam pensam estar efetivamente “lacrando” na internet,
é o de que a caracterização que fazem os críticos do stalinismo de que o
ditador georgiano traiu a revolução de outubro, cometeu crimes contra a
revolução, seria um moralismo anti-científico e mostraria a incapacidade de uma
análise supostamente objetiva do fenômeno, pois as ideias de crime e traição
não teriam qualquer espaço num discurso científico.
Isso, no entanto, mostra
apenas a concepção positivista e acadêmica, ligada a intelectuais presos a seus
gabinetes e que nunca se envolvem com as lutas reais entre as classes, que tem
nossos “sábios” sobre o conhecimento dos fenômenos sociais e históricos. A
relação entre análise científica dos fenômenos e sua caracterização política e
estratégica no marxismo, teoria revolucionária e militante da classe operária,
é bastante mais complexa.
Qualquer um que já
participou de uma luta qualquer dos trabalhadores, de uma greve, de uma
mobilização, já acordou cedo para participar de piquetes e já se enfrentou com
a polícia e com os bate-paus ligados à burocracia sindical sabe que
caracterizar essa burocracia (que dirige grande parte dos sindicatos no Brasil,
por exemplo) como traidora das lutas, como pelega, nada tem de moralismo, mas é
uma caracterização política fundamental e necessária como auto-esclarecimento
para os trabalhadores que organizam suas lutas por suas condições de vida.
ESSA
BUROCRACIA DEVE SER MAIS TROTSQUISTA LIGADA AO PT DO QUE DO PCB, NÃO É MESMO??
VOCE SE PERDE TOTALMENTE AQUI, AO IMAGINAR QUE O PCB TEM BUROCRACIA SINDICAL.
VOCE MESMO INSULTOU O PARTIDO CHAMANDO DE ACADEMICO E ISOLADO DAS MASSAS E NÃO SEI
QUE.
As burocracias encasteladas
nos sindicatos não são pura e simplesmente expressão de condições objetivas
exteriores a sua ação, mas antes utilizam seus privilégios materiais e
subjetivos para produzir e reproduzir essa sua posição social. A condição de
despolitização da classe trabalhadora que permite aos burocratas ocupar essas
posições não é apenas um dado objetivo exterior a ação dos burocratas, mas
expressão de uma política ativa para a reprodução de sua despolitização, para
que seja possível que sejam reproduzidos os privilégios dos burocratas.
Aqui novamente é preciso
romper com uma concepção metafísica e vulgarmente economicista da história em
prol de uma concepção materialista e dialética. Entre os elementos que formam a
objetividade das relações sociais está, de forma insuperável, a ação subjetiva
dos sujeitos que vivem essa realidade. A história não é uma realidade objetiva
exterior a ação dos seres humanos, mas expressão e sistematização de sua
atividade consciente e volitiva. Mesmo que sempre em condições determinadas são
os seres humanos que fazem história.
PARA
FALAR DE STALIN VOCE DEIXA QUALQUER OBJETIVIDADE E PARTE PARA UMA CONCEPÇAO
ULTRAPASSADA DE HISTORIA, CENTRADA NO INDIVÍDUO.
Para qualquer trabalhador
que se prepara para uma luta, para uma greve, e que tem o sindicato de sua
categoria dirigido por uma burocracia sindical (como CUT, Força Sindical, UGT,
CTB, no Brasil, por exemplo) é central, fundamental, ter claro que para
construir efetivamente essa luta ele terá que superar essa burocracia que
dirige o sindicato, ter uma política consciente para isso, pois mesmo que essa
burocracia tenha se submetido a uma assembleia massiva de trabalhadores que
votou por uma greve, por exemplo, só o fez para não perder o controle da
categoria e com o claro objetivo estratégico de trair a luta assim que possível
e o mais rápido possível. Sem essa clareza estratégica, sem essa clara
caracterização política, os trabalhadores combativos que se preparam para lutar
só poderiam esperar a derrota e a desmoralização, que é com o que conta a
burocracia sindical para reproduzir sua condição de privilégio (pois a
desmoralização da derrota leva a despolitização, e a despolitização é base para
a reprodução dos privilégios da burocracia, num processo que se retroalimenta
constantemente).
CITE
SINDICATOS IMPORTANTES QUE O PCB CONTROLA.
Num outro grau de dimensão
histórica, algo análogo ocorreu na URSS; uma análise científica, com base em
documentos históricos e empiricamente verificável, mostra que após os esforços
para a revolução e para garantir a vitória frente aos exércitos brancos
apoiados pelas potências imperialistas, num país já pobre e que já tinha sido
uma das principais vítimas da I guerra mundial, se formou uma burocracia
contra-revolucionária, cujos interesses sociais estavam em contradição com os
interesses do proletariado[7].
Essa análise científica e
objetiva, baseada em fatos e documentos, que mostra a degeneração da revolução
por fruto das condições históricas em que ela se deu, dá base para a
caracterização política e estratégica da burocracia stalinista como uma
burocracia que traiu a revolução de outubro (assim como uma direção burocrática
de sindicatos traí, objetivamente, greves), e que de forma criminosa perseguiu
e assassinou a maior parte da velha guarda do partido bolchevique que dirigiu a
revolução, toda uma camada de intelectuais que se formou sob o influxo de
outubro, uma massa de trabalhadores que de forma instintiva lutava por seus
direitos (assim como uma burocracia sindical entrega por vezes, de forma
criminosa, militantes, piqueteiros, lutadores, combativos pra polícia).
Ver na caracterização
política e estratégica da burocracia stalinista, e do próprio ditador
georgiano, como traidora e criminosa um elemento moralista mostra apenas como
os “militantes” ligados aos partido “comunista” brasileiro nunca sequer
chegaram perto de uma luta real e efetiva da classe trabalhadora.
Para concluir: PCB “radical”
na defesa do stalinismo e social-liberal na defesa da “revolução solidária” no
processo eleitoral (o maniqueísmo como ideologia dos medíocres)
POR
QUE VOCE ACHA STALIN SIGNO DE RADICALIDADE? POR QUE TROTSKY NÃO SERIA UMA
MELHOR ESCOLHA, SE SÃO REFORMISTAS MODERADOS, POR QUE FINGEM COM STALIN E NÃO COM
TROTSKY?
Um dos fatores centrais que
parece legitimar, entre os simpatizantes e “militantes” do PCB sua reabilitação
da figura de Stálin é que eles estariam se colocando, supostamente, na linha de
frente da luta contra o liberalismo e da defesa da memória da revolução russa. Se
baseando numa lógica maniqueísta tão rasteira que chega a assustar que pessoas
que parecem se reivindicar intelectualizadas possam defendê-la os pecebistas
partem do pressuposto que “ou você defende o stalinismo ou você é liberal” ou
“se você critica os crimes e traições do stalinismo você critica a memória da
revolução russa, logo você é um liberal”.
SIM,
VOCE TEM UMA VISAO DE HISTORIA CENTRADA NO INDIVÍDUO QUE É LIBERAL, POR ISSO
ULTRAPASSADA. VOCE APENAS USA UMA FRASEOLOGIA MARXISTA, UMA RETORICA ABUNDANTE,
VAZIA, IRADA, PARA ESCONDER SUA FRAQUEZA.
Outro primor do vulgar
reducionismo maniqueísta que baseia a argumentação dos neo-stalinistas atuais é
que criticar a perseguição brutal e os assassinatos contra os revolucionários
levados a frente pelo stalinismo seria reivindicar o pacifismo. Nosso caro
Fagundes também apela para esse argumento:
“Quem acha, na esquerda, que
obterá dividendos com o combate a um suposto “neo-stalinismo” quebrará a cara.
Para a narrativa predominante nos meios liberais não há espaço sequer para
Lenin. Possuem uma certa coerência nossos direitistas: a violência política não
começou apenas com Stalin, apesar da sua intensificação a partir dele. A defesa
de um humanitarismo pacifista e abstrato certamente não depõe a favor do
comandante implacável — terror dos anarquistas — do Exército Vermelho, Leon
Trotsky, nem sequer ajuda a ver com bons olhos alguns processos amados pelos
progressistas, como a primeira revolução de negros anti-escravidão bem sucedida
na história (a revolução haitiana, famosa pela violência) ou a luta de
republicanos na Espanha contra as tropas de Franco — quem já leu algo sobre a
Guerra Civil Espanhola fica espantado com episódios de brutalidade cometidos
pelo “lado certo” da guerra, principalmente contra o clero católico.”
AQUI
O SEU ADVERSÁRIO ESTÁ DIZENDO JUSTAMENTE QUE ELE NÃO SE ESCANDALIZA COM A
DEFESA DE STALIN, MAS ESSE ARTIGO É JUSTAMENTE VOCE ESCANDALIZADO, IGUAL A UM
LIBERAL ESCANDALIZADO. E ISSO NÃO É COINCIDENCIA, POIS VOCE NÃO CONSEGUE SE
AFASTAR DAS IDEIAS LIBERAIS.
Não nos aprofundaremos aqui
na questão dos tais “dividendos” que nosso Fagundes almeja conseguir junto aos
“meios liberais”. Respondemos apenas que para os que buscam construir uma
perspectiva revolucionária ligada aos interesses do proletariado em sua luta
por emancipação, a opinião ou aceitação pelos “meios liberais” é algo por
demais desimportante. Quanto a nosso Fagundes inclusive o fato de ele ventilar
essa ideia mostra pra quais interesses se voltam suas construções “teóricas”.
ELE
ESTÁ FALANDO É QUE VOCE NÃO VAI TIRAR DIVIDENDOS ATACANDO STALIN DESSA MANEIRA
ENSANDECIDA.
Em relação ao pacifismo, o
maniqueísmo rasteiro que busca igualar a crítica aos crimes do stalinismo à
reivindicação de uma ação transformadora pacífica é por demais vulgar e está
ligada a outro elemento de uma lógica reducionista e maniqueísta, a de que como
a violência revolucionária na luta por emancipação dos subalternos é legítima,
qualquer tipo de ação criminosa e traidora (como as levadas a frente pelo
stalinismo) seria também legítima.
Contudo, pra quem busca
pensar dialeticamente e não através da ótica do mais vulgar e rasteiro
maniqueísmo a diferença entre a violência legítima dos subalternos em sua luta
por emancipação, em meio a uma guerra civil, com um país invadido pelos
exércitos brancos apoiados pelas potências imperialistas, que deveria ser algo
contingente e limitado no tempo (como no exemplo do caso russo) e a violência
sistemática perpetrada por uma burocracia contra revolucionária contra os
militantes e dirigentes do partido que esteve à frente da revolução (o partido
bolchevique) é por demais evidente.
Entender as condições
históricas objetivas que permitiram a formação dentro do processo
revolucionário de uma burocracia que passou a negar a possibilidade de
desenvolvimento da revolução, buscando reprimir e perseguir os setores que continuavam
lutando pelo avanço de seu potencial não significa:
“Descrever toda a história
de lutas revolucionárias como uma sequência bárbara de derramamento de sangue
sem sentido é o procedimento padrão de qualquer Restauração, como atestam as
visões sobre os jacobinos presentes na França após 1815 — o que durou até que
historiadores comunistas do século XX “restaurassem” Robespierre — ou as
reações das oligarquias latino-americanas contra o levante dos negros
haitianos, sempre dando ênfase aos relatos de violência, algo que ajuda a
explicar até mesmo a independência meia-bomba no Brasil.”
Como pensa o autor do texto
com o qual debatemos; significa ter uma visão objetiva, e daí sim não
romantizada e idealizada, do processo revolucionário, onde não há de forma
alguma uma garantia de que ele vá avançar e ser vitorioso de antemão. Muito
pelo contrário, como atestam todas as revoluções (os grandes exemplos sendo a
própria revolução russa e a revolução francesa) as possibilidades de desvios,
de retrocessos, da formação de burocracias thermidorianas, que se colocam à
frente da revolução para traí-la e reprimir suas potencialidades, é algo sempre
presente. Ter claro essa possibilidade, fazer uma análise objetiva do porque
esses retrocessos se produziram, é chave para que nas novas lutas em que se
colocará o proletariado (e certamente se colocará) os mesmo erros e desvios não
se reproduzam, ou que possamos, nós trabalhadores, combatê-los com maior
prontidão e clareza.
Criticar essas deformações e
degenerações também em nada significa negar a grandiosa memória da revolução de
outubro e da URSS, o principal fenômeno de luta da história das classes
subalternas, que tem um significado universal incontornável. Só o mais adaptado
e pusilânime burocrata poderia fazer essa relação. Honramos a memória dos
trabalhadores revolucionários que deram a vida por essa grande revolução
buscando fazer um balanço efetivo e sem preconceitos de seus importantes ganhos
e também de seus descaminhos e degenerações.
O
QUE VOCE ESTÁ FAZENDO É TRANSFORMAR A REVOLUCAO RUSSA NUMA EPICA SEM HEROIS. DE
UM LADO ESTAO OS TORTURADORES E BUROCRATAS E DE OUTRO AS VÍTIMAS QUE SE DEIXAM
MATAR E TORTURAR PACIFICAMENTE, SEM DAR UM TIRO. ISSO QUE VOCE FAZ NÃO É
BALANÇO EFETIVO, É HISTERICA CONDENACAO DE UM INDIVIDUO NO QUAL VC INVESTE A
CULPA DE TODAS AS DERROTAS.
Que mesmo traída por uma burocracia
contra-revolucionária, thermidoriana, a revolução de outubro tenha tirado a
Rússia de uma condição de atraso semi-feudal para colocar a URSS como a segunda
potência do mundo é algo que mostra a força e a grandeza do proletariado
daquele país, que nem toda a perseguição e brutalidade stalinista conseguiu
reprimir.
VOCÊ
ATRIBUI A STALIN O PODER DE CENTRALIZAR TUDO COMO DITADOR E DEPOIS DIZ QUE O
PROLETARIADO É QUE VENCER A GUERRA. SE É DITADOR E MANDA EM TUDO, ENTAO NÃO QUEIRA
TIRAR O MERITO DELE DE VENCER A GUERRA. OU ENTAO ADMITA QUE NÃO MANDAVA EM TUDO
E QUE A GUERRA FOI GANHA APESAR DA BUROCRACIA, APESAR DO LIDER SER BUNDA MOLE.
ORGANIZE SUAS MENTIRAS!!! SE SÃO BUROCRATAS BUNDA MOLES, COMO VENCERAM A
GUERRA? COMO O POVO LUTOU SEM LÍDER? NOTARAM COMO GORBACHEV, O LÍDER, FEZ TUDO
DESABAR SEM LUTA??
Assim, fica por demais
evidente, para quem busque mesmo que inicialmente pensar de forma dialética,
que o maniqueísmo “stalinismo ou liberalismo” em nada encerra as possibilidades
de compreensão do riquíssimo fenômeno que foi a revolução russa. Os
revolucionários e trabalhadores conscientes bradamos alto NEM O STALINISMO QUE
AFOGOU EM SANGUE E TRAIU A REVOLUÇÃO, NEM O LIBERALISMO CAPITALISTA QUE
REPRODUZ NOSSA EXPLORAÇÃO, por um resgate efetivamente revolucionário da
revolução de outubro, para que em nossas lutas presentes e futuras possamos
efetivamente construir uma sociedade socialista, que prime pela democracia
operária e pela liberdade e iniciativa independente dos trabalhadores na escolha
dos rumos da revolução.
ORGANIZE
SUAS ASNEIRAS: COMO LEVOU A POTENCIA MUNDIAL E AFOGOU EM SANGUE E TRAIU A
REVOLUCAO AO MESMO TEMPO???
Quanto ao suposto
radicalismo dos “militantes” do PCB, por defenderem o stalinismo e se pensarem
estar na linha de frente da luta contra o liberalismo; bom, o critério, como já
dizia o nosso velho mestre, é a prática. A primeira questão a se notar aqui é
que o PCB, que já tem quase 30 anos desde sua “refundação” no começo da década
de 90 do século passado, não tem nenhuma inserção significativa na classe
operária brasileira e não deu, nos últimos muitos anos, sequer um exemplo que
possa ser lembrado de luta efetiva. Um pequeno grupo que se constrói apenas
entre um setor da pequena-burguesia acadêmica progressista parece pouco apto a
se reivindicar radical.
COMO
RADICALISMO, POR QUE STALIN APARECE COMO SÍGNO DE RADICALISMO E NÃO TROTSKY, SE
TROTSKY É TÃO RADICAL? POR QUE NÃO FINGEM RADICALISMO COM TROTSKY?
Além disso, a “luta contra o
liberalismo dentro da esquerda” que parecem reivindicar os pecebistas é
totalmente contraditória com sua aliança sistemática com o partido que é a
própria representação do “esquerda” liberal no Brasil, o Psol. O apoio a
“revolução solidária” do Psol na campanha eleitoral para prefeitura da cidade de
São Paulo por parte do PCB mostra que seu radicalismo se restringe a defesa dos
crimes e traições do stalinismo, mas na prática política o partido “comunista”
brasileiro defende o mais rasteiro e adaptado eleitoralismo liberal que marca a
prática política da “esquerda” brasileira há já algumas décadas.
VOCE
DEVERIA É EXPLICAR QUE STALIN É CONTRARREVOLCUIONÁRIO E O PCB, AO FAZER
ELEITORALISMO LIBERAL, TAMBÉM É. MAS VC, AO FALAR DE STALIN, ACABA SEMPRE
FALANDO EM RADICALISMO. TROTSKY FICA COMO SENDO MODERADO. E DE FATO TROTSKY,
BOA PARTE DA VIDA, COMBATEU LENINISMO E CZARISMO AO MESMO TEMPO. VOCE TRAI, A
TODO TEMPO, SEU PROPRIO DISCURSO.
Esse texto é endereçado aos
jovens sinceros e que buscam uma militância efetiva e ligada à classe
trabalhadora e demais setores subalternos e que hoje tem referência no PCB;
companheiros, nós trabalhadores, jovens, mulheres, negros, lgbts, devemos nos
preparar para grandes enfrentamentos da luta de classes em nosso país, assim
como os que aconteceram e acontecem hoje na França, no Chile, nos EUA. Pra
isso, contudo, é preciso que nos libertemos dos espectros do passado e façamos
um balanço efetivo e revolucionário do grande processo de luta dos
trabalhadores que foi a revolução russa. E isso só é possível enterrando de vez
e sem subterfúgios o fantasma de Stálin, o coveiro de revoluções, o grande
organizador de derrotas.
VOCE
NÃO FEZ NADA NESSE ARTIGO, A NÃO SER RETÓRICA. VOCE ESCONDE QUE SEU EMBASAMENTO
É TROTSKY. POR VERGONHA, TALVEZ. VOCE ATACA O PCB COM PSICOLOGISMO VULGAR, COM
INVEJA DO TESAO DOS MILITANTES COMO JONES, NÃO POR ELES SEREM BUROCRATAS OU
BUNDA MOLES. SUA CONCEPCAO DE HISTORIA É FOCADA NUM INDIVIDUO, UM SUPER-LUCIFER
QUE VOCE DEMONIZA DE FORMA RIDÍCULA.VC APENAS INVERTE O CULTO DA PERSONALIDADE.
ISSO É METAFÍSICA, VOCÊ ESTÁ MERGULHADO EM LIBERALISMO. VOCE CHAMA DE DITADOR,
MAS A SEGUIR ADMITE QUE O PROLETARIADO GANHOU A GUERRA, OU SEJA, AS PESSOAS
TINHAM LIBERDADE, ENTAO. VOCÊ CHAMA DE BUNDA MOLE, BUROCRATA, MAS É OBRIGADO A
ADMITIR QUE TRANSFORMOU O PAÍS EM POTENCIA. VOCE SUPOE QUE O LÍDER NÃO IMPORTA,
ESQUECE O EXEMPLO DE GORBACHEV.
INCLUSIVE,
STALIN É SIGNO DE RADICALIDADE PARA ELES DO PCB E PARA VC MESMO. ATÉ MAIS DO
QUE TROTSKY. VOCE TRAI SEU PROPRIO DISCURSO.
1-
https://lavrapalavra.com/2020/09/16/15005/?fbclid=IwAR2GsISS5hsTXdVeU3jEVFAtIoDgpfu9EtPBwnn59dq7Hdd8rkAsGFEQMTo
2-
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/09/stalin-nao-foi-a-reencarnacao-de-lucifer-diz-influenciador-de-caetano-veloso.shtml
3-
https://www.expressaopopular.com.br/loja/produto/revolucao-e-contrarrevolucao-na-alemanha/
4-
https://www.marxists.org/archive/trotsky/china/index.htm
5-
https://www.marxists.org/archive/trotsky/works/britain/index.htm
6-
https://www.marxists.org/archive/broue/1961/spain/rev-spain.html
7- Entre as muitas análises
históricas científicas desse processo podemos citar: ‘A Revolução Traída’ de
Leon Trotsky; a ‘História do partido bolchevique’ de Pierre Broué; as
biografias escritas por Isaak Deutscher de Trotsky e de Stálin; o livro ‘O ano
1 da revolução’ de Victor Serge, todos livros facilmente encontráveis pela
internet.
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Publicado por Santiago
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21 de setembro de 2020
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