Poemas Sobre o Amor (ou Não)
O livro Poemas Sobre o Amor (Ou Não), de Saulo Mazagão, com ilustrações de
Ideraldo (Literatura em Cena, 2019) desperta muitíssimo meu interesse. Penso
que é muito importante fazer o que ele faz nesse livro, retomar os poemas como
rimas e com métrica. Ele é um poeta que mais diz sim à vida, do que veleja os
mares do não.
Nesse livro, de certa forma, Saulo
passa naquilo que sua grande admiração mineira, Carlos Drummond de Andrade,
chamou “serviço militar da métrica”, algo indispensável. É preciso resgatar a
dicção parnasiana, como dizia Paulo Leminski. Afinal, os parnasianos dominavam a forma. Isso
só não basta, mas é muito importante.
Para falar do amor, foi preciso que
ele falasse do corpo, é há um bom poema e bem representativo de sua produção
com esse nome. Tomemos uma sequência de frases que tomo das estrofes: “O corpo
é um ambiente sagrado (...). O corpo é minha morada (...). E com ele, abraço
minha amada”. É muito boa essa sonoridade, essa musicalidade que Saulo
conseguiu atingir. Os poemas rimam, mas o ritmo é bastante singular, é um ritmo
pessoal que Saulo busca para conquistar a própria voz.
Ele também faz o elogio da
escultura, dos quadros, da arte em geral. O poema Quadros diz: “São molduras de
madeira de pinheiro, feitas para enfeitar a vida, com fotografias do momento
que é passageiro, que retrata, relembra e me agrada esse vivenciar, encanto de
sentimentos contido em um papel” (MAZAGÃO, 2019, p. 74).
É
um diálogo muito necessário entre as artes. O escultor é apresentado como
escritor: “Hoje é o dia do escultor! Escultor? Sim! Escultor de significados.
Ele pega a palavra bruta, e transforma em obra prima, nas curvas e nas linhas,
ressignifica palavras, faz o que for, transforma o pecado em alegria, ódio em
amor, sentimentos em poesia, descreve o conto, a crônica e a poesia, diz de
teoremas, sobre os sentimentos, diz de ciência, política e magia, ilustra os
momentos. A caneta ou lápis, seus instrumentos são. Mas não posso ser careta e
esquecer o principal: o coração. Da entonação ao pensamento, faz comédia do
morrer, e descreve sobre seu descontentamento, faz tragédia do ato de existir
ou viver” (MAZAGÃO, 2019, p. 54).
Saulo
bem reflete sobre seu fazer poético em Tarde
da Noite: “Tarde da noite/são quando as pessoas dormem,/É, eu escrevo
cansado,/E meus olhos e dedos já sofrem/Mas meu cérebro respira aliviado. Mais
letras, vomito para fora, cansado de transmutar, coisas que não sei se são de
agora”. A transmutação ocorre com mais freqüência quando ele está em solidão. Para
ele, como para Glauber Rocha, a morte é invenção da direita: “É inútil, Sr.
Satã, sou ateu./E só vou morrer depois do fim”.
Ele finaliza cantando tanto o aconchego da
velha cabana quanto o vestido da amada. São ambos lugares do aconchego, do
acolhimento, lugares que ele não deixa de desejar.
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