Não sei que pulsão ou recalque me leva a escrever sobre o psicanalista ítalo-franco-yankee-brasileiro Contardo Calligaris. Eu o leio sempre na Folha e na imprensa em geral, é como se estivesse numa espécie de divã de celulóide. Calligaris nasceu italiano, mas em sua época não era fácil ser italiano, diz ele. Ele viu as comédias italianas dos anos 60, com pobreza, dentes cariados e cantoria, e concluiu que não queria ser um personagem de Lina Wertmüller, essa... Será diretora? Que retratou os habitantes da "bota" em seu tempo de juventude.
Depois Calligaris passou uns tempos na França e virou psicanalista lacaniano (com esse significante, quem sabe, substituindo o problema em ser italiano). Após encontrar uma gaúcha chamada Eliana, foi ganchado para Porto Alegre e virou líder dos lacanianos lá, pelo menos pelo que pude entender. Assim que pode pegou uma canoa e montou sua oca em Manhatã, onde ele agora vive, e o filho estuda em Columbia Pictures.
Em 1991, um pouco antes de sair dos igarapés do Guaíba para os States, escreveu um livro criticando a nós, brasileiros, por não nos organizarmos em torno de um pai, de uma filiação, de UM: Hello Brasil, Notas de um Psicanalista Italiano em Viagem ao Brasil. Esse "hello" já dava uma idéia de que, de repente, o buraco onde queria entrar era mais em cima...
Em 1997, num artigo sobre as verdades e inverdades tropicaetânykas, disse que não escreveria mais algo assim. Porém, para Calligaris, qualquer manifestação de auto-estima dos brasileiros prossegue parecendo, a ele, mero resto da festa da tropicália. Eu, como 27 anos, seria filho dos restos da festa.
Em Verdade Tropical, Caetano comentou um texto do livro de Calligaris em que ele reduzia a antropofagia ao mero ato orgânico, enquanto em Oswald ela era uma metáfora.
Só que agora, quando Calligaris escreve na Folha de Sumpaulo, ele escreve "nós", ele está no meio de nós. Embora tenha dito na Istoé que ele se parece mais com um brasileiro imigrado para os EUA do que qualquer outra coisa. Ich! Se tirarmos a base pelo Manhattan Connection, pelo Paulo Francis (que Deus o tenha!) o Calligaris tá fudido.
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