Saga
de um combatente machadiano
Lúcio
Emílio do Espírito Santo (texto de meu pai)
Poucas pessoas fazem ideia do que é a vida na linha de
frente do policiamento, em todas as suas modalidades. O amplo espectro da
segurança pública vai desde o socorro e salvamento de pessoas em grandes
catástrofes até a repressão ao crime organizado. Muitas vezes, essas graves
anormalidades ultrapassam as forças e os meios dos Estados federados. Até 2004,
essas demandas eram atendidas pelas Forças Armadas, com muitas críticas, porque
significava um desvio de finalidade, com sérios riscos para o cidadão. Para
evitar que o Exército fosse empregado na segurança pública, criou-se a Força
Nacional de Segurança Pública, capaz de atuar prontamente em qualquer ponto do
território brasileiro, nos casos de graves perturbações da ordem ou na
prevenção, sem necessidade de mobilizar as Forças Armadas.
De Bom Despacho saíram vários combatentes voluntários da
Força Nacional, como 1º Sgt PM José Antônio Diniz, 3º Sgt PM Clécio de Paulo da
Silva, 2º Sgt PM Frederico Roger Couto, Cabo PMTiago Geraldo de Oliveira e o
Major PM João Eudes dos Santos. Este último resolveu relatar no livro Sentinelas de Upatakon e Pau da Fome, sua
experiência como integrante da Força Nacional. O Major Eudes, torcedor do
Verdão, o Famorine Esporte Clube, é formado em Letras e Direito, com vários
cursos de pós-graduação nessas áreas, professor de Direitos Humanos, Língua
Portuguesa, Operações de Choque, em várias instituições, inclusive Força
Nacional.
Seu livro é quase um documentário. Ali está o cotidiano
de dois anos de trabalho operacional nas mais diversase conturbadas linhas de
frente. A primeira delas é o cenário sempre conflagrado da cidade do Rio de
Janeiro, recobrindo vulnerabilidades do policiamento local durante os Jogos Pan-Americanos,
Campeonato Mundial de Judô e outras localidades, onde se presumia a eclosão da
violência, naquele Estado. Nosso conterrâneo teve o seu batismo de fogo nas
verdadeiras guerras que ocorrem permanentemente no afamado Morro do Alemão,
infestado, como se sabe, de traficantes, que abrem caminho para outras
modalidades criminosas altamente rentáveis, como o roubo de carga, achaques a
moradores e comerciantes.
Nosso herói saiu dali ileso dos tiroteios, emboscadas e
muitas balas perdidas. Por essa participação na batalha em prol da preservação
da ordem no Morro do Alemão mereceu, com honra, o diploma de “FN Destaque
Operacional”. Como política de movimentação da própria Força Nacional, foi
parar no outro lado do Brasil, no longínquo Estado de Roraima, para participar
da operação ali em andamento, denominada Upatakon
III, que, na língua indígena, significa “minha terra, nossa terra”. Estava
em disputa a imensa área da Raposa do Sol,
ocupada pelos chamados arrozeiros,
fazendeiros não-índios plantadores desse cereal. Por decisão judicial, os
invasores da área indígena teriam que ser retirados. O clima era de vida ou
morte, prenunciando-se derramamento de sangue, o que deveria ser evitado.
João Eudes ilustra o seu trabalho com fotografias,
notícias e documentos.Valendo-se de uma linguagem comedida, sóbria e verdadeira,
nos dá uma clara descrição da precariedade dos alojamentos da Força Nacional,
todos improvisados, como o 2º Batalhão “Pau da Fome”, localizado na periferia
do Rio de Janeiro. Uma enchente invadiu as dependências da unidade, levando
pertences e destruindo as suas já acanhadas instalações. Cada um se virou do
jeito que pôde, valendo até dormir sobre mesas de sinuca.
Todas essas situações são descritas com uma boa dose de
humor. A leitura se torna leve e agradável, além do clima eletrizante de filme de ação. Sentinela
de Upatakon e Pau da Fome é um livro machadiano no sentido literário e
também pela origem do seu criador, saído das fileiras do 7º BPM, conhecido como
“Machado de Prata", um dos ícones históricos e culturais da nossa terra.
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