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sábado, 27 de junho de 2009

Um Estudo para O Homem e o Cavalo, de Oswald de Andrade

(Reescrevo alguns trechos O Homem e o Cavalo, de Oswald. Penso que essa peça, hoje desatualizada em seu aspecto político, precisa ser repensada. Sugiro algumas alterações para atualizar o texto, quando for montado. Poderia ficar assim, mas com o tempo deveria mudar, afinal é uma peça engajada):


1º quadro, O Céu de Sarkozy (Cena I)


(O cenário representa, com papel pintado, um parque de diversões interiorano e mambembe, com roda gigante, carrossel, carrinhos de bate-bate e outros brinquedos). No centro do cenário está a inscrição: Deus-Pátria-De Gaulle-igualdade-fraternidade-liberdade. Em um extremo do cenário está desenhado um elevador, no outro um pensador de Rodin pensando sentado numa privada. Toca, bem ao fundo, A Marselhesa).


Cena I


Etelvina Bruni: (entrando em cena com uma vela na mão e apagando-a, grita rispidamente): a burca não é bem-vinda na França!

Malvina: Eu é que sou a verdadeira mulher de Sarkozy, sou a ex-mulher. Eu estava tecendo uns panos de chão para os árabes vestirem, umas toalhinhas, mas o fio de nuvem acabou.

Balduína: não se esqueça de escrever que o véu é proibido em colégios públicos.

Etelvina Bruni: Ih, o céu é tão chato! Que pena o Arafat ter ido para o inferno!

Balduína: é que sou a mulher de Sarkozy, eu sou a amante! É tudo culpa dos palestinos, que não deram tempo dele se confessar.

Querubina: você queriam aquele árabe sujo aqui? Imigrantes não são bem vindos na França!

Malvina: Vamos estudar italiano para conversar com Berlusconi, o poeta-soldado-garanhão!

Malvina (entra a música ribombando): senzo una forza indômita! (Malvina ensaia uns passos de dança ao som de O Guarani, de Carlos Gomes).

Etelvina: Sarkozy já me ensinou o francês: casser ta gorge! Foudre le cul, con! Culé!

(Ouve-se uma descarga e um ator caracterizado como Berlusconi aparece falando ao celular)


Malvina (tapando as orelhas): Que fracasso!

Querubina: para quê Sarkozy, se temos De Gaulle, para quê Berlusconi, se aqui no céu tem Mussolini?

Balduína: Sarkozy nem Berlusconi não estão nem desencarnados ainda....

Etelvina: em breve teremos uma turnê animada aqui no céu.

Malvina: aqui no céu?

Etelvina: ela ia começar na Terra, mas de fato vai ser no céu.

Malvina: de quem?

Etelvina: de um grande dançarino e cantor negro.

Malvina: que fim levou ele?

Etelvina: segredo.

Balduína: ele tomou demerol? Morfina? Cocaína? Malvina? Etelvina?

Querubina: eu sei...mas não posso dizer...

Malvina e Etelvina: Querubina!

Querubina: ele me pediu segredo.

As duas: segredo no céu! Que piada!

Querubina: me fez jurar por Deus que não contava.

Malvina: empregando o nome de Deus em vão!

Etelvina: que pecado! Daqui a pouco São Pedro expulsa ele daqui.

Querubina: Ele tem um passo que tem tudo a ver com céu e lua: moonwalking.

Malvina: ele anda na lua?

Balduína: Eu achava que aqui no céu ia ser como a mansão de Berlusconi! Ceias! Cardeais!

Malvina: Mas temos Mussolini...

Querubina: prefiro o dançarino.

Balduína: o dançarino, só com inseminação artificial.

Etelvina: Eu gosto do Divo Gerald Thomas, ele pelo menos canta!

Balduína: Canta! Canta, toca guitarra e ainda encena!

Etelvina: Vocês estão ficando histéricas, precisam consultar um psicopata!

Balduína: as festas do Berlusconi na Terra são muito mais animadas. E esse dançarino que veio parar no céu, que tal? Vocês sabem cantar as músicas dele?

Malvina: Eu sei.

Balduína: então diga!

Malvina (recintando): Yes, we have no bananas...Esqueci...espera!

Tava jogando sinuca
Uma nega maluca
Me apareceu
Tava com um filho no colo
Dizendo para o povo que o filho era meu



Balduína: Que foxtrote ranzinza! Ele morreu como Carmen Miranda, de overdose? Arre que achamos um brinquedo de sociedade.


Etelvina: Eu sei outra música dele. É uma canção linda sobre a paternidade.

As duas: Ah! Que bonito! Diga! Diga!

Etelvina (recitando): Ela se chama Biliejean


She say I´m the one
But the kid is not my son


As outras (rindo): Ah! Ah! Ah! Que estupendo!


Etelvina: não sei o resto! Só sei o refrão!

As outras: ora!

Malvina: Como é que acaba?

Balduína: É! Diga o fim!

Etelvina: Ele virá fazer moonwalking aqui no céu! Ele tá ao lado de Carmen Miranda e Elvis Presley! O pai, o filho e Dona Sílvia do Espírito Santo.

Malvina: Ora essa! Todos in memorian!

sábado, 13 de setembro de 2008

Chegada de Dercy Gonçalves ao Céu



- Porra tá frio aqui em cima;

- O céu não tem temperatura - pondera um porteiro celestial de plantão.

- Não tem é o cacete. Tá frio sim senhor -insiste Dercy.

- Prefere o inferno? Lá é mais quentinho.

- Manda tua mãe pra lá.

- Cadê o Pedro?

- Pedro só atende aos purificados.

- E eu tô suja por acaso: Tô cagada?

- Você primeiro tem que passar pelo purgatório, ajustar umas continhas?

- Não devo nada a Puto nenhum.

- Você foi muito sapeca lá por baixo.

- Como é que você sabe. Andava escondido debaixo das minhas saias?

- Dercy, daqui de cima a gente vê tudo.

- Vê porra nenhuma. Vê a pobreza, a violência, meninas de 4 anos sendo estupradas pelos pais, político metendo a mão no dinheiro dos pobres, cara cheirando até cocô pra ficar doidão? O que vocês vêem? Só me viam?

- Você fala muito palavrão.

- Eu sempre disse que o palavrão estava na cabeça de quem escutava.

- Palavrão é a fome, a falta de moral destes caras que pensam que o mundo é deles. Esses goelas grandes e seus assessores laranjas,tangerinas e o cacete?

- Está vendo? Outro palavrão.

- Cacete é palavrão seu porteiro de meia tigela? Palavrão é PQP! (silêncio de alguns segundos).

- Seja bem vinda Dercy. Sou Pedro. Pode entrar.

- Porra, não é que eu morri mesmo!

- E o purgatório?

- Você já passou 101 anos por ele, lá em baixo. Venha descansar.



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Alice: Podes me dizer, por favor, por que caminho devo ir?
Gato: Isto tem muito a ver com o lugar onde queres chegar.
Alice: Qualquer lugar.
Gato: Neste caso qualquer caminho serve.
(Alice no País das Maravilhas - Lewis Carroll