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terça-feira, 20 de abril de 2010

O Homem e o Cavalo



Quadro do neopop mineiro Hogenério


O Homem e o Cavalo (Tentativa de atualização e reescrita do texto da peça de Oswald e Andrade)

O Interior do Ícaro I


A cena representa o interior da estratonave. Vasta janela ao fundo, aberta para os espaços interplanetários. Uma figa monstruosa pende do teto.


Cena I


Etelvina: Arre! Que deixamos aquela pasmaceira. Devemos o nosso regresso à Terra a esse maníaco que conseguiu atravessar a estratosfera...

Malvina: E cair no céu!

Querubina (para o Poeta-Soldado): Por que é que você quis dar porrada nele, querido?

O Poeta-Soldado: Ele estava me plagiando! Suas messalinas pós-modernas, não me questionem!

Etelvina: Mas, plagiando em meio a uma peça de Oswald de Andrade que está sendo reescrita? Só me interessa o que não é meu! Cem anos de perdão.

O Poeta-Soldado: Virou caso de polícia! Tenho mais gente para analisar minhas poesias. Foi o último problema que tive com ele. Não sofro de delicadezas! Vou matando logo. Oswald de Andrade não, ele plagiava a mim, me copiava, fazia se passar por mim, enganando as pessoas. Agora compreende. Já falamos sobre civilização, cultura, imperialismo, capital, raça e outros temas. Mas fora com os nordestinos, fora com os imigrantes latino-americanos que avacalham a Flórida!

Malvina: Pau nele! Coitado!

O Poeta-Soldado: Coitado por quê? Eu por mim dava cabo dele! Ah, as teatralidades contemporâneas!

Malvina: Não faça isso! Deus castiga!

O Poeta-Soldado: Deus? Eu tenho um plano diabólico, terrível, de apoio à invasão do Irã e do Afeganistão. Vocês sabem que agora qualquer palestino pode ser deportado da Cisjordânia para Gaza, não é?

Todos se aproximam.

As Quatro: Diga! Fale!

O Poeta-Soldado: Vocês não denunciam? Posso contar com a alvura dos vossos sentimentos pró-Israel, pró-USA, não é?

terça-feira, 7 de julho de 2009

O Homem e o Cavalo (Cena IV)

Cena IV

(Os mesmos e o São Pedro)


São Peter Lessman: que bagunça é essa? Querubina, Etelvina, Malvina, Balduína, as minhas quatro garças, não vos transformeis em latejantes fúrias do céu, os aviões estão caindo, mas respeitai a quarta dimensão do paraíso! Sou São Pedro, almirante São Pedro Lessman.


As Quatro: viva o Céu!


São Pedro: Obrigado! Outro dia outro avião caiu em Comores, mas sem comoção! Só porque eram todos pretos? Um francês de Paris vale mais que um francês de Comores? O Divo não cantou, nem Sarkozy se comoveu da mesma maneira com a morte dos pretos! Pretos não são bem vindos na França? Quando Sarkozy foi a Israel, negou-se a ir ao lado palestino.


As Quatro: mas a queda do Airbus France esquentou o céu, aumentou nosso cast de artistas. Depois do festivelório na Terra, em breve turnê de Máico Jeca, o dançarino e cantor, no céu!


O Divo: Que negócio é esse de Máico Jeca? Dupla caipira? Eu vi o MICHAEL JACKSON cantar em Zurique! (espirrando): aaatchim! Eu vos trago a peste! A gripe suína!

São Peter Lessman (enternecido): Mas nesse último acidente sobreviveu uma pessoa!

O Divo: Sabe, eu estou com uma peça, Body Parts e um filme, Ghost Writer...

São Peter Lessman: Aquecimento celestial! Poluição! Efeito estufa! Fim da camada de hormônio...

Etelvina: É ozônio!


Poeta-Soldado (em transe): Prisão eterna para o terrorista Battisti no Brasil! Fora com os imigrantes, farras com putas para o Berlusconi! Sarney, nomeie Incitatus para senador! Lula, nomeie um cavalo para presidente do senado! Incitatus! Incitatus! A felicidade do homem é ver o último show de Máico Jeca, o fantástico show da morte. A morte é show! A morte é um dom! A morte é uma gostosura, a morte é demais! Viva a morte! O festivelório de Jackson é o primeiro grande show que um popstar faz deitado e calado! É um bed-in! Um death-in de Máico Jeca! E você, Divo, cante a bomba H, cante a ópera H!

O Divo: esse poeta morreu! Esse Divo morreu! Essa ópera morreu! Quero encontrar Calígula e morrer, é o meu projeto para o futuro.

O Poeta-Soldado: Como? Você não sabe The Sound of Music, a obra-prima do belcanto? Incitatus não, eu fui mordido em criança por esse senador-cavalo indicado pelo Sarney! Precisamos vencer a Operação Khanjar! Precisamos derrotar os afegãos em Helmand! Defender Islama-Hades e desarmar os coreanos!

As Quatro: muito bem!

Etelvina: Eu queria casar e formar família.

Balduína: Eu queria casar na família Sarney e formar uma quadrilha!

(A cadelinha Bárbara late).

São Pedro: Cale-se, Bárbara Heliodora!

Querubina: eu quero casar na família Sarney e formar uma quadrilha!

O Poeta-Soldado: Quem és tu, senador, espectador, senão um espermatozóide de colarinho! Hey, hey, Sarney! (Bate na bolsa que traz a tiracolo).

As quatro: Hey, hey, Sarney!

O Poeta-Soldado: Ahmadinejad, let me help Iran, Help me Iran.

Querubina: um balão!

Etelvina: para festejar São Peter Lessman!

Querubina: é meu!

Malvina: é meu!

Rodrigo Contrera: esse blog não tá no script! Esse blog é uma armadilha, como as conversas de blog, que saem abrindo janelas (subitamente ele ergue um cartaz onde se lê SEM ASSUNTO).

(O balão desce, pousa. É um grupo de balões coloridos com uma cadeirinha, de onde ergue-se o Padre Adelir).

Padre Adelir (com sotaque paranaense): Alguém aí sabe operar GPS?

Surpresa. Silêncio.

O Padre Adelir: Deus do Céu!

Pano.

terça-feira, 30 de junho de 2009

O Homem e o Cavalo (Cena III)

Cena III


(Os mesmos e o Divo).


O Divo (entra cantando La Donna è Mobille, seminu, atirando seios e pênis de plástico na platéia, ouvem-se vaias). Ele para a opera e canta, com a melodia de My Way:

I did it my way
Hemingway
And so I face
The final leming


(Aparece depois de fazer um bundalelê para as Garças e para o Poeta-soldado).

O Poeta-soldado: Mas que mania que você tem de me confundir com D´Annunzio e Oscar Wilde! Não quero ver bunda, não sou decadentista! Volta pro canto! Cada um no seu quadrado!

O Divo: É tudo culpa do Arrabal, aquele anão, que desceu pela privada e entupiu!

Balduína: Sujeito cafajeste!

O Poeta-soldado: Você perdeu o senso moral no palco!

O Divo: Mas isto aqui é céu ou é as Fronteiras do Pensamento? Que tribo mais estranha!

O Poeta-Soldado: É céu, mas céu racional! A razão não é invenção do Ocidente, é preciso razão para criticar a moral, isto aqui é céu moralizado, racionalizado! Céu sem burca nem chador!

Etelvina: Sei disso! Nós estávamos ontem lendo um livro proibido pelo Sarkozy.

As três: Credo! O Alcorão?

Etelvina: Não, senhor! Era El Guionista del Díos...o del Diablo?

Balduína: quem foi que trouxe isso para cá?

O Divo: Vão dizer que fui eu!

O Poeta-soldado: Livros excomungados neste ambiente de elevação! Vou denunciar ao vice-almirante Pedro! Vou abrir um inquérito policial!

Etelvina: Faça o favor! Não fique alucinado senão nós também ficamos!

Balduína: Estamos fartas desses argentinos!

Malvina: conversas de céu são que nem conversas de blog, são inocentes, mas sempre acabam em sururu!

O Divo: conversa de blog! Ah! Ah! Ah!

Malvina: Cale a boca, bundinha seca!

O Divo: Cala a boca, ô maçaneta de porta de banheiro público!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Cena II de O Homem e o Cavalo

Cena II

Os mesmos e o poeta-soldado-garanhão.

(Imagens ao fundo mostram a guerra do Iraque, atentados no Afeganistão, golpe em Honduras, etc.)

O Poeta-Soldado (entrando inesperadamente, com um microfone e terno de apresentador de auditório): --Meu, eu quero regenerar a humanidade! Quero restaurar a guerra e o sentido da guerra. Única higiene do mundo. (Para as 4 garças). Vocês estão apoiando Moshavi no Irã? Esperando marido aqui no céu! Quero que vocês trabalhem sob o signo sangrento dos generais da Guiné Bissau, de Myammar, de Honduras! Façam pomadas mercuriais para meus heróis e deixem dessa de ONU!


As quatro: Nós temos mais que fazer!

Malvina: Deus nos livre! Mulher não deve trabalhar!

Etelvina: só na horizontal, em horas cômodas!

O Poeta-soldado: Quero vocês na cama grande, vadias! Vivem tomando chá e lendo Proust! Desempregadas do Obama! Vão fazer trancinha na Michelle Obama, desempregadas! Venham se preparar para lutar no Iraque, no Afeganistão! No jogo perigoso das bombas nucleares! Jurar bandeira diante da Star Spangled Banner em Woodstock! Lembrai-vos de vossas tias, as Amazonas de Mattogrosso! Lembrai-vos de Philip Glass! (Toca Wagner ao fundo). Da vossa avó, Sandra D´Arc! De Pacheco, do Vampiro de Curitiba, de George Bush e suas armas químicas falsas! Amamentem os Osamas, os Saddam Husseins! Amamentem uns quinze terroristas em Guantánamo!

sábado, 27 de junho de 2009

Um Estudo para O Homem e o Cavalo, de Oswald de Andrade

(Reescrevo alguns trechos O Homem e o Cavalo, de Oswald. Penso que essa peça, hoje desatualizada em seu aspecto político, precisa ser repensada. Sugiro algumas alterações para atualizar o texto, quando for montado. Poderia ficar assim, mas com o tempo deveria mudar, afinal é uma peça engajada):


1º quadro, O Céu de Sarkozy (Cena I)


(O cenário representa, com papel pintado, um parque de diversões interiorano e mambembe, com roda gigante, carrossel, carrinhos de bate-bate e outros brinquedos). No centro do cenário está a inscrição: Deus-Pátria-De Gaulle-igualdade-fraternidade-liberdade. Em um extremo do cenário está desenhado um elevador, no outro um pensador de Rodin pensando sentado numa privada. Toca, bem ao fundo, A Marselhesa).


Cena I


Etelvina Bruni: (entrando em cena com uma vela na mão e apagando-a, grita rispidamente): a burca não é bem-vinda na França!

Malvina: Eu é que sou a verdadeira mulher de Sarkozy, sou a ex-mulher. Eu estava tecendo uns panos de chão para os árabes vestirem, umas toalhinhas, mas o fio de nuvem acabou.

Balduína: não se esqueça de escrever que o véu é proibido em colégios públicos.

Etelvina Bruni: Ih, o céu é tão chato! Que pena o Arafat ter ido para o inferno!

Balduína: é que sou a mulher de Sarkozy, eu sou a amante! É tudo culpa dos palestinos, que não deram tempo dele se confessar.

Querubina: você queriam aquele árabe sujo aqui? Imigrantes não são bem vindos na França!

Malvina: Vamos estudar italiano para conversar com Berlusconi, o poeta-soldado-garanhão!

Malvina (entra a música ribombando): senzo una forza indômita! (Malvina ensaia uns passos de dança ao som de O Guarani, de Carlos Gomes).

Etelvina: Sarkozy já me ensinou o francês: casser ta gorge! Foudre le cul, con! Culé!

(Ouve-se uma descarga e um ator caracterizado como Berlusconi aparece falando ao celular)


Malvina (tapando as orelhas): Que fracasso!

Querubina: para quê Sarkozy, se temos De Gaulle, para quê Berlusconi, se aqui no céu tem Mussolini?

Balduína: Sarkozy nem Berlusconi não estão nem desencarnados ainda....

Etelvina: em breve teremos uma turnê animada aqui no céu.

Malvina: aqui no céu?

Etelvina: ela ia começar na Terra, mas de fato vai ser no céu.

Malvina: de quem?

Etelvina: de um grande dançarino e cantor negro.

Malvina: que fim levou ele?

Etelvina: segredo.

Balduína: ele tomou demerol? Morfina? Cocaína? Malvina? Etelvina?

Querubina: eu sei...mas não posso dizer...

Malvina e Etelvina: Querubina!

Querubina: ele me pediu segredo.

As duas: segredo no céu! Que piada!

Querubina: me fez jurar por Deus que não contava.

Malvina: empregando o nome de Deus em vão!

Etelvina: que pecado! Daqui a pouco São Pedro expulsa ele daqui.

Querubina: Ele tem um passo que tem tudo a ver com céu e lua: moonwalking.

Malvina: ele anda na lua?

Balduína: Eu achava que aqui no céu ia ser como a mansão de Berlusconi! Ceias! Cardeais!

Malvina: Mas temos Mussolini...

Querubina: prefiro o dançarino.

Balduína: o dançarino, só com inseminação artificial.

Etelvina: Eu gosto do Divo Gerald Thomas, ele pelo menos canta!

Balduína: Canta! Canta, toca guitarra e ainda encena!

Etelvina: Vocês estão ficando histéricas, precisam consultar um psicopata!

Balduína: as festas do Berlusconi na Terra são muito mais animadas. E esse dançarino que veio parar no céu, que tal? Vocês sabem cantar as músicas dele?

Malvina: Eu sei.

Balduína: então diga!

Malvina (recintando): Yes, we have no bananas...Esqueci...espera!

Tava jogando sinuca
Uma nega maluca
Me apareceu
Tava com um filho no colo
Dizendo para o povo que o filho era meu



Balduína: Que foxtrote ranzinza! Ele morreu como Carmen Miranda, de overdose? Arre que achamos um brinquedo de sociedade.


Etelvina: Eu sei outra música dele. É uma canção linda sobre a paternidade.

As duas: Ah! Que bonito! Diga! Diga!

Etelvina (recitando): Ela se chama Biliejean


She say I´m the one
But the kid is not my son


As outras (rindo): Ah! Ah! Ah! Que estupendo!


Etelvina: não sei o resto! Só sei o refrão!

As outras: ora!

Malvina: Como é que acaba?

Balduína: É! Diga o fim!

Etelvina: Ele virá fazer moonwalking aqui no céu! Ele tá ao lado de Carmen Miranda e Elvis Presley! O pai, o filho e Dona Sílvia do Espírito Santo.

Malvina: Ora essa! Todos in memorian!