quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Violetas de Aleluia (poemas)

Violetas de Aleluia
Poemas






























-Mariposas de Plástico-

Formosas senhoritas sinto informar
Mas na cama fria é que será o nosso affair
São as mariposas de plástico
Aprendendo a voar.
Seus saltos altos deságuam na parede
& você com seu sorriso de pele nos lábios
Ossos cheios de curvas, mãos de rosa a me rasgar.
Nos teus cabelos uma selva oculta a toca
Onde dorme a língua-fera.
Folhas de avenca irão fazer manta para seu corpo vazio
& uma linda peruca para uma mente confusa.
***





















-Gravata e Borboleta-

Vamos entrar numa sala
Começar do início, se isso existisse
Mandando a sombra embora
Vou ver a foto de Dylan Thomas
Ele ajeita a gravata e borboleta
& escreve um templo tailandês.
Entram dançarinas de can-can
Depois um canto religioso entoado pelos punks japoneses
Na santa época do natal budista.
Enfim uma chinesa bota duas azaléias num copo de àgua
E dorme suada encostada no meu cadáver.

***






























-O Crisântemo-

Manchas na pele --solares
Algas vermelhas, peixes em transe
Guarda-chuvas rodopiam, fantasias na caixa
Uma aranha tece a teia, tirei as sandálias
Um sol amarelo surgiu na fumaça para os ávidos carnívoros
Naquela tarde em que em que eu sentia nas mãos meu crisântemo.
***





















-Uma Carta Para Elizabeth-


Então você caiu de cama
Naquele dia em que o rei sanguinário
Exibia seu pálido sorriso.
Vieram avalanches luminosas
Dominar a cidade...

Meu aniversário foi estranho,
Música e musgo
Na noite.
Mais cadáver do que nunca, não vejo novidade em viver nem em morrer
O natal foi frio.
Você já esteve apaixonada em outros tempos.
Agora quando sente a leveza insustentável da pluma
Sabe que somos personagens da peça.
Tigres de papel sorrindo o tempo todo
Todos estamos só ensaiando para quando cair o pano
Mas por que só você não sai do palco e ri?
As lágrimas emudecem o sofá?
Sombras furtivas no eclipse
Procuram seu nome...
***












-Memórias Emersas em Boa Hora-

Boa hora esta para escavar respostas
Nos postais da parede
Nos dias de um eterno ontem

As tulipas da Holanda a agradaram tanto

Boa hora para reler o diário do cativeiro
ou explodir a pele das ondas.

***




















-Domingo Empalhado-

Entre a Coca-Cola e o frango-xadrez
Um jogo de perguntar e responder.
Parede caiada, vasos em flor
Um rosto devastado.
Remédios para dormir...se agora é minha vez...
Eu me calo.
***































-Galeria Brilhante-

Ó querida, vamos subir...
Explodiu!
Estamos levitando. Agora nossos pés flutuam
Sopra o vendaval e vamos lá.
Estou vendo o planeta negro circundado de anéis
Toque a nota musical certa e faça da água cristal
Ouça a voz sussurar para o tapete: “Da fruta que tu comes o caroço é o caroço que eu quero”;
Mas é só o piano de asas de bronze.
Luzes verdes definham no escuro da noite
Nascem sombras de renda no teto.
No mar uma pequena onda, trêmula e fria
Molha a palma das mãos do mármore.
Do outro lado do planeta, um lago sereno, cheio de cisnes
Imita o céu risonho, bailam silentes as libélulas na superfície.
No fundo o olho do relógio transborda de verde úmido.
Lá na cidade as abelhas oram contra os pratos
& afogam os ferrões
nos dedos de quartzo.
A mariposa de veludo nem bem suspira no relâmpago
& o pescoço já entrou no cio.
Enfim as bananas perguntam às violetas:
“Mas é inútil a verdade absoluta?”
***










-Eu Sei-
Eu sei do cinza, existe uma tempestade
Eu sei do medo, do fim do mundo, daquele cheque não ter fundo
Andorinhas riscam o ar, existe o mar distante
Eu sei que meus olhos estão cheios de sangue
E meus braços nem te alcançam, há gelo ao redor
Eu sei da lua que não vai surgir.

***
























-Balada Crua-

Flor majestosa, taça do vinho mais fino
Tens pistilos dourados, tuas pétalas giram no cálice alvo
Ouço os silvos dos grilos, este é um canto cortês
Queria também ter um violino nos joelhos
Ah, eu tocaria as baladas mais cruas
Como neste entardecer, com o brejo em flor.

***






























-Ulysséia-

Tinhas olhos de azul leve como o ar, nuca diáfana e cabelos de seda
Agora és pedaços de nuvem ancestral
& libelicópteros
sobrevoam o mar
te procurando
A língua de vento era plena de veneno
E derrubou teu metálico abrigo, caíste enfeitiçado.
Se o teu nariz não sangrava em Brasília
Sangra agora na gruta submarina, entre o cérebro de netuno e os corais de marfim
Então o Eremita Paguro busca tua boca para concha
Anêmonas devoram tuas carnes tenras, teu braço é envolvido por um invertebrado
Teus olhos azuis já cerrados servem de almoço para peixes venenosos.
Na praia de areia alva eu piso medusas, choro as lágrimas que as areias devoram ávidas
Se me lembro de ti, me viro pras dunas, sei que tua alma está entre as ondas,
Misturada nos mares.
***














-Existência-

Existem no céu astros em chamas, pode olhá-los agora
Existem cinzas quentes ainda em mim, pode pisá-las
Existem gritos lancinantes na floresta, você sabe, lá estou
Existe uma moça vestida de negro, entre os círculos de fogo, sabemos quem é.
Existe uma jovem que voa com pele de loba, deixem-na só.
Existe uma lua truculenta que comanda marés, ela está em você esta noite
Mas solte-me, já morri mesmo, minha cabeça cai e está roída de cupins, no ar voam morcegos com unhas de mulher, eu quis sangrar e não fugir...
Meu amor, volta aqui e bica minha carne
Nasceste da espuma das ondas feito Afrodite
Fecundaste a areia sensual
Então senta-te hoje entre os bêbados de vida
Coma conosco de um certo fruto-envenenado-é claro...
E exista!
***





















-Cine Regina-


Este cinema, encaixado nas duas lojas.
Uma de tecidos, Cine Regina, uma barbearia.
Este cinema
Flutuando com seu branco letreiro,
Pisca na madrugada,
No abismo,
Sempre piscando.
Na grade, círculos verdes tecem quadrados intrincados.
Na verdade
A entrada é franca.
Entrada tá fechada, vidro fosco.
O vidro fosco abraça as grades.
O Cine se esconde em frágeis andares
De um prédio de ruivas nas janelas.
Quadrados minúsculos seguem feito facetas
Da asa multicor de uma borboleta.
Sentados no meio-fio
Garotos estão vendendo cigarros de menta.
Quisera eu entrelaçar tal cenário
Numa foto em pretos e branco retintos.
Para esfregar a imagem nos narizes metálicos
Da metrópole surda-muda& nua.






-Universo em Desencanto-


Budas de nylon, duendes de isopor
Se o terceiro olho você abrir, terá sucesso, é só comprar...
E faça rezas para os santos surdos
Alegria a 3 prestações, sem juros.
Ao seu lado um rosto turvo
leva a tranqüilidade em frasco.
Cristais energizantes vão te mostrar
Cósmicas imagens do nosso azar.
E os anos farão a Nova Ordem Mundial em cinzas
Virá eufórica Nova Era, travada de sonífero, levantando do sepulcro,
Olhando as horas...
Para encontrar os querubins, não vou de mago
Quero escrever árvores, adiar milagres.
Farei flores num armário,
No lugar de cama, deserto lunar.
Onde em paz vão me deixar, enfim.












-A Estatueta-

Eu achava que um botão de sua roupa tinha um brilho de cem sóis.
Mas chegou a maré e fiquei te imaginando
Entre cisnes do além, cismada.
Eu sou estatueta
Você pomba
Minha boca é cimento
Tuas asas...
Portanto não deixe passar o vento
A brisa bruta arranca a janela...
E suma nas nuvens de fumaça
Ou num desastre morra, quem sabe naufrágio.
Ah, onde iríamos eu e você, se tivéssemos outros mundos?

















-A Moça-

A moça estava a se mirar num espelho
Seu cabelo a faiscar
Quem dera deitada no azulejo glacial
Boca de esmalte, noite emplumada,
Posição fetal.
A vida escorrendo pelos canos,
Saliva sabendo a cisne do esgoto
Olhar de dejeto industrial me fincando
Meus pés são barbatanas, ouço ruflar de asas
Descubro moças no muro com caramujos
Damas que servem veneno em jarras de jade.




















- Juramento-

Peguei o trem sibilante, Cérbero de guia turístico
Um cicerone dos infernos!
Lá uns adolescentes tremem em nuvens de doce fumaça
E há lua crescente nas selvas, uma ou outra estrela opaca.
Sacerdotes em desespero buscam saída duma vida insossa
E eu perdido no labirinto, sobre abismos
Flutuo
























-Galeria Praça 7-



O luminoso de verde olhar faz ressoar as espirais
São escadas subido ao céu de Novembro
E é céu denso, fúnebre
Nuvens são destroços flutuantes
Se ao menos o sol me queimasse...
Entre globos reluzindo, um natal é de alumínio
E brilha no espelho da ótica evangélica.
Mas não é permitido sentar no mundo, tudo tem que girar, fazer trapos de angústia.
A lei é dura, lura dex led sex.



















-Feliz Natal-

Feliz natal para todos--e para ninguém
Feliz natal, sinos badalam canções, badalos gemem para a lua
Feliz natal, os corpos dos enforcados pendem maduros na árvore
Então feliz natal para vocês todos.
Para aqueles que perambulam drogados aguardando os dentes do cliente feroz
E para aqueles que espetam veias à meia-luz.
Natal! Nesta época do ano os xópins se enchem de seres bizarros
Que não são humanos.
Só para que o Cristo se encha de amor espetado no poste frio do subúrbio.





















-Anjo Exterminador-

Madrugada_ sombras solitárias, rua morta
Não era mórbido o sorriso púrpura do menino
Mas o gavião cravou unhas de foice na pomba de seda
& o ar ficou pesado, choveu outra vez
Vai chover de novo
O espectro flutuou transido nas colinas de mármore
E da própria garganta saiu o grito do assassino de si
Foi o deleite final do Anjo Exterminador.
Das trevas surgem gêmeas siamesas dizendo, blasfemando:
“Dorme, dorme pálida criança, calma e vasta repousa a cidade
Cerra teus olhos enquanto o céu se abre
Em estertores vermelhos”.














-O Crepúsculo do Anjo-

Eu andava na praia, mar pedregoso.
Achei a concha brilhante, posta na àgua ela o revelou:
Um habitante de pele avermelhada, olhos de antenas.
Ao vê-lo sair de seu abrigo, um peixe de cabeça negra
Olhou de sua caverna, girou olhos discóides, atacou o caracol
Fisguei? Puxando vi o peixe fora d’água.
Eu o embrulhei num lençol. Quando ele enfim se aquietou
Eu o pus na boca, que ficou cheia de penas cinzentas
Pois o peixe virou ave, andorinha aquática
Terminei mastigando uma asa que ficou me pendendo do lábio sujo de sangue
Parei para pensar, fui refletindo
Mas aí era tarde demais, engoli o que restava entre dentes.


















-Um Fim de Ano-

Num fim de ano
Uma lágrima no meu rosto carrancudo
Empapa o papel. Folhas roídas, brotos amarelos.

























-Motz El Son-

Música e palavras, rosto visto através de vidro fumê.
Música, rosas multiplicadas ao infinito, espelhos dentro do espelho.
Palavras, física quântica das cerejas, nariz aspira gás hilariante
& inala o perfume vermelho, a boca exsuda uma gota da baba de dadá.

























-Um leque e o Arco-

A tempestade está vindo, rapaz. Você pode entregar para ela
Se for capaz, uma manhã de céu cinzento, um leque, o arco, telegrama e lamento.
Gemendo o nome para o ar, no seu tenso falar, todo mundo saberá deste último dia,
Das luas nascendo em agonia.

























-Caligo-

Borboleta Caligo que esvoaça nos bosques, nuvens, calçadas
Pouse no canto da janela, à direita da estante:
Fique como musa por uns instantes-acho que vejo a coruja
que formam os desenhos cubistas
Das suas asas.
























-Rock Shelter-

O sol cai por terra,
Sua luz se espatifa
E é quando sobem negras cortinas em júbilo.
Surgem então luzes postiças, inventadas pelos homens.
& uma névoa mortífera.
Nós queremos é a tulipa negra.
Pois a vida é gruta imensa
Nela estamos sem lanternas.
Nesta vida é noite agora.
Nesta noite faremos um abrigo de pedras
Sobre a caverna.


















-Petúnia-

Singela é a história de Petúnia
Ela era uma boca banguela
Nem fria nem bonita, classe média mediana.
Dava duro numa fábrica de dentaduras,
Um dia se casou com um tronco dum rapaz
Chamado Elmo e foi feliz.
Seu para sempre durou até que ele_ator_topou fazer pornô.
Neste dia o amor de Petúnia se acabou, sem dores
Então chorou um rio que foi batizado pelo fogo
E recebeu o nome de Danilo.
Mas um dia um sádico geógrafo
Decidiu pegar a fita métrica e sair por aí, perigas ver
Cruel loucura, matou Danilo de desgosto
Fazendo saber a todos que o rio Amazonas é mais caudaloso.
Depois que Danilo secou, Petúnia trancou as pétalas
E dizem que vive até hoje arisca, comendo doces da Cica.



















-Entre Guarânias & Boleros-



Eu te pedia para meu corpo acostumado
E amarrava meu jegue numa coluna grega.
Fomos juntos ver se o vento voltou...
Você dizia que as ovelhas gritavam quebrando o silêncio dos inocentes
Mas eu já estava longe
Eu só via cult-movies.
O fim da picada e de um amor delicado.
Meu cotovelo doía, sentávamos na praça
Observando caírem as folhas secas
Eu me sentava com os cabelos entre dedos
Você só queria ajudar &
Esmagar minha carcaça.































-Aneurisma-



Aneurisma é uma bolha
que quando estoura em vermelho
Afoga em sangue sereno
Todos os nossos sonhos mais simples.







































-Este Nome-



Teu nome saltou em um fluxo de consciência
Brilhando em letras lúbricas
Azuis como veias num corpo macio
Eram letras escritas em fúria
E por isso mesmo
Talhadas com fogo
Com olhos chispantes
Este nome eu escondi
Nas corolas esmaecidas de umas margaridas de rua
Este nome
Guardei na gaveta que um girassol ofereceu
Depois este nome
Se fez pólen de lírios
Que deixei o vento
Salpicar pelas vitrines.


















-...E as Papoulas Vermelhas do Campo-



E as papoulas vermelhas do campo
Como sinos repicam
Após a chuva
Do alvorecer
Dissimuladas cortesãs do rei narcótico
Sutis sonâmbulas tecendo
Delicados véus orientais
Heroínas da dança
Dos sete ventres.









-Um Satã em Botão-

Eu queria ser amável
Para ter um amigo falador
Que me perseguisse
Com seus cabelos ruivos.
Como dor & espanto. Meu camaradinha faria minhas namoradas se perderem em seus braços.
Encheria meu rosto de lágrimas leprosas
As gotas cresceriam marcando
Um gelado caminho
Seria neve na geladeira.











-O Sol de Oito de Abril-

Eu me lembro de dias de sol.
Nunca se pode olhar direto para Abril.
Sempre distante, nunca estou nos lugares certos
Mas sei que o diabo e o bom Deus brincam com nossas almas.
Se o riso da madrugada é doído,
Lembre que as pessoas fazem coisas.
E é difícil perdoá-las, pois nem sabem que vivem.
Elas vão ficar por aí, apodrecendo com seus cérebros de espantalhos.
Quando provo o sabor amargo do tempo, ouço o relógio canibal
Conspirando com a ampulheta e a areia eu grito:
“Acorda, acorda que está na hora da escola”
E a dor me fere feito faca cortando a fruta.
















-Flores-



Violentas violetas esvoaçam sobre meus pés
Rosas ameaçam meu corpo
Trepadeiras me aprisionam
Galhos cruéis amordaçam meu pescoço
Espinhos impiedosos sangram meus braços
Folhas amargas silenciam minha boca
Frutos ácidos cobrem meus olhos
Sementes brotam-me nos cabelos
Raízes aveludadas se espalham
Estão sedentas do meu sangue
Pelas minhas entranhas crescem plantas estranhas
E surge a flor amarelada
Ela emerge na boca
Vem subindo da minha garganta sangrenta.



























-Rosas de Pedra-



As rosas são de pedra
As pedras de azul profundo
Mas você sente a dor
As pessoas olham e fogem
Mas vou ficar
É bem possível que meus lábios sorridentes
Digam palavras loucas.
É possível, é possível.

































-O Pastiche é um Pastel Quente-



Ei, John, eu não esqueço
O pastiche é um pastel quente
E aquela garota tinha círculos subindo pela cuca
Indo até a raiz
E rasgando a auréola.
Eu tenho injeções de anilina espetadas nas pupilas
Ela tem um canteiro de violetas plantado na esquina.
Arranquei das suas unhas
Uma jazida de prata.
Ela até que se acostumava
Com os vestidos de seda cósmica.
Eu sou máquina e só ando em frente.
A saudade no meu peito ainda mora.

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