sábado, 31 de janeiro de 2009

Brasil é isso: uma chuva de mentiras

No blog do Caetano, o obra em progresso, estamos discutindo Linguística. Caetano julgou que eu e o Luedy somos militantes político-linguísticos de esquerda. O último grupo político do qual estive participante era o DCE da UFMG nos anos de 1995 e 96, há muito tempo, portanto. Eu me formei em Filosofia em 1995 e desde então não participei mais de nenhum grupo.

Ontem deixei a TV na Rede Vida num programa chamado Brasil é isso. Eu já tinha visto lá um tal de Hélio Póvoa, que escreveu um livro chamado O Eixo do Mal Latino-Americano. Eu li também um artigo dele atacando Gerald Thomas quando da polêmica com o Azevedo a respeito de Fidel. O tal Póvoa nem sabia do que estava falando direito.

E ontem a conversa entre o Aristóteles Drummond e o João Ricardo Moreno foi uma campanha de mentiras, uma festa de inverdades. Ricardo começou falando que a ABF existe há vinte anos e luta contra o totalitarismo. Tá, então deveria falar em Hannah Arendt...que Arendt que nada. Aristóteles falou: até o marxismo, os filósofos sempre foram democratas...o quê? Se Sócrates e Platão eram aristocratas que criticavam duramente a democracia, para não falar em outros críticos da democracia, tais como Nietzsche. Imaginei que o papo fosse ser em torno de pensadores católicos conservadores tais como Otávio de Faria, Jackson de Figueiredo, Gustavo Corção. Pensei que o papo fosse ser conservador, mas honesto. Mas que nada! Era pura propaganda. E o que dizer do próprio Aristóteles, que era ligado a Alexandre O Grande, que no final da vida introduziu na Europa o direito divino dos reis?

Em primeiro, contra Chávez. Ele foi associado ao comunismo russo, está com o projeto de tirar as crianças aos três anos para serem criadas pelo estado, daí o fato de uma amiga de Aristóteles estar em Miami contando isso. A coisa evoluiu, mudei de canal e voltei, eles já estavam no Hezbollah. Daí o tal Ricardo dizia que o povo palestino se diz um povo superior, ai que saudades daquele Líbano francês, daquela Beirute parisiense (o que não impediu que milícias cristãs cometeram o massacre de Sabra e Chatila contra os palestinos e com a cumplicidade de Israel), o Hezbollah está organizado na América Latina, em breve teremos crianças-bomba e índios-bomba. Até o Demétrio Magnolli, supostamente um articulista de centro, decepcionava esses dois senhores de extrema direita, o que me deixou pasmo devido ao fato da Rede Vida ser uma televisão católica. Não deveria ter uma visão tão parcial. Mas há mais, há mais.

Magnolli foi vítima de protestos da comunidade judaica, disse Moreno. Ao que Aristóteles redarguiu, sabiamente, que não se poderia comparar a Fatah com o marechal Pétain na França, pois o marechal tinha criado uma zona ali muito benéfica e que protegeu os franceses...heeein? E Aristóteles mostrou saber que a Igreja Católica apoiou Pétain, pois o defendeu, dizendo que ele era "tido" como colaboracionista, como se houvesse alguma dúvida e se ele não tivesse até adiantado as atitudes dos nazistas naquele território em que ele mandava. Do centro passou-se a discutir o anti-semitismo da esquerda, que teria começado com A Questão Judaica do judeu Marx (!). Mas se nessa polêmica Marx justamente escreveu que os judeus não poderiam deixar de ser judeus e sim lutar por direitos...Não há possibilidade de boa fé numa conversa assim, é tudo com base na mentira e na inversão.


Eles só engasgaram no momento em que Moreno quis atacar o governo e Aristóteles cortou, com medo. Na televisão, os vampiros têm medo...Casoy também gaguejou ontem ao comentar a carta de Battisti onde ele denunciou ter sido julgado à revelia. Casoy, fazendo biquinho, inventou um novo direito, pois que eu saiba julgamento à revelia ser altamente democrático é novidade. Mas, como eu dizia, o Brasil é isso, né? Só não dá para se conformar.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Do Lenny Bruce

Frase do Lenny Bruce num filme ontem:

"Jim Morrison? Um palhaço bêbado querendo ser poeta. Prefiro os Stooges, Lou Reed e Iggy Pop, David Bowie. São palhaços bêbados e daí podem realmente ser poéticos..."

Vi Aventuras de Molière. Gostei. Foi como se Molière fosse Tartufo, numa idéia mais ou menos como a de Shakespeare apaixonado, mas um pouco mais sofisticada. Em Shakespeare em Love, ele duelava com o duque de Essex. Ora, estudiosos avaliam que ele escreveu sonetos tão carinhosos para esse duque que talvez fosse por ele que ele estivesse...in love. É cômico pensar nisso vendo esse filminho pipoca que o Tom Stoppard roteirizou para garantir o caviar nosso de cada dia...

Estou lendo Alô, Chics, de Glorinha Kalil. Danuza Leão é melhor escritora. Glorinha é mais jovem, empresária, nova geração. Talvez o zeitgeist esteja ali. Ou não.

Battisti, o homem isca

Impressionante como um ex-guerrilheiro, escritor de romances policiais, polarizou toda uma sociedade e toda a imprensa. Trata-se da personalização da política: Berlusconi e a Itália neofacista de consumo e mafiosa querem sua isca. Afinal, o que pode um militante pobre e derrotado contra o governo de um país com tropas no Iraque e Afeganistão?

Eu apoiaria a extradição de Battisti se fosse para uma democracia não-viciada (os canais de TV são de Berlusconi) para um julgamento com direito à defesa e que levasse em conta o tempo passado e as agressões e prisão sofridas no Brasil.


Já o texto do nickname Vamp no blog do Gerald merece algumas considerações: 1) como Vamp se aproxima do estilo de Thomas (que é muito bom por sinal), fazendo pastiche, o texto, pela web, será atribuído ao GT. Cabe ao Vamp ser um moderador um pouco mais moderado do blog. Sinceramente, acho tosco alguém se liberar para atacar Deus e o mundo atrás de um nickname no blog de um artista famoso por sua genialidade, mas que aposta arriscando muito em política. Não é aconselhavel radicalizar no conservadorismo agora, justamente quando o estado de bem-estar social e as políticas de esquerda entrarão em pauta no mundo inteiro.

A aproximação do caso Dilma é pura provocação e acusações como "asssassina", "assaltante" podem render processos. Lembre da lição do Paulo Francis, Vamp! Não coloque o grande artista que é o Gerald numa fria.

E 2) para quê tentar repor, ao estilo Pacheco, a versão da direita sobre a ditadura militar? A reprodução da foto de Dilma é provocação pura e inócua. O efeito será o contrário do que ele espera, dando argumentos para a esquerda e para quem acha que Gerald Thomas é "chato de galochas" e "artista de direita". Por que? Por que?

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Encontrei Mariana na Web, Reinaldo Azevedo X Marcelo Coelho: ÚLTIMO ROUND?

Eu encontrei, como uma concha no mar, a Mariana na web:

http://portfoliodamari.blogspot.com/

E gostei. Ela tb tava no blog do Emídio perguntando: "e aí, agora o blog do GT vai acabar?" kkkkkkk

No mais, Gerais. O último "round" da briga Reinaldo Azevedo X Marcelo Coelho acabou numa postagem "irada" do Azevedo, com letras maiúsculas e tal, protestando contra o Coelho.

Coelho destacou a tendência ao destempero e a imoderação das críticas a ele mesmo, pintado como petralha, subversivo, Montaigne da Grampolândia, Milosevich, etc. Não é muita gente, ele pergunta? No último post, Azevedo mostra como Coelho é subversivo e "fofucho" ao comentar um desenho animado. No desenho um dinossauro roxo dizia: "policiais são maravilhosos". Na verdade, Azevedo, como ideólogo, opera por inversão: o catolicismo é uma religião acossada, a direita é estigmatizada e os poetas não a cantam mais (chuif!),o aborto vem aí com Obama, Diogo Mainardi e Olavo de Carvalho são dois exemplares de espécies em extinção (ornitorrincos? Brontossauros?)O Brasil está afastado de Deus, nas mãos dos irmãos Petralhas e por aí vai, numa lógica de histórias em quadrinhos. É divertido? Até certo ponto.

Gianotti lia Heidegger para passar raiva; petista lê Azevedo para passar raiva. No entanto, boa parte dos comentários dos post dele são anônimos. Quem será o nick do Azevedo no blog do GT, será o "Garganta"? Esse sim, tinha me falado que era um cristão conservador. Aliás, adorei quando GT me homenageou no Kepler, the dog, foi uma honra. E foi um pouco surreal ser citado em meio a pilhas de nicknames e pseudônimos. O diálogo no blog, como dissse Mau, é te-a-tral.

O blog do GT deu origem até a um apêndice, o blog anti-gt do Jorge Schweitzer (www.taxiemmovimento.com.br). Taxista, quando dá para ser fofoqueiro, é fogo. Azevedo atacou o que ele chama de subjornalismo e usou a imagem: o subjornalismo é um fiacre, é um táxi, vc paga e vai onde quiser. No entanto, André Sant´Annna me disse (a carta está no www.emiliojunior.zip.net) que na Veja existe quem serve de "cavalo" de seu editor e citou como exemplo Jerônimo Teixeira/Mário Sabino na literatura.

Diferente do que Azevedo pensa, Marcelo Coelho não é tãaaao de esquerda assim: veja-se, no blog dele, o comentário a Tropa de Elite, chamado de "fascista" pela esquerda. Esse foi o recado que o Marcelo quis passar, mas o Azevedo não pegou.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Caetano escreveu sobre linguística; análise de Possenti

Ele, Caetano, falou de lingüística

Sírio Possenti
De Campinas

Há algumas semanas, em seu blog, Caetano Veloso falou de lingüística. O título do texto do dia era "lingüistas" (o tom parecia com os associados usualmente a expressões negativas, como quem diz "mulheres" ou "petistas" para ressaltar características que um homem ou um tucano acham típicas, e que lhes soam negativas).

É difícil discutir todos os aspectos do texto. E sei que destacar algumas passagens de certa forma descaracteriza o pronunciamento. Mas vou fazer isso, apesar dos riscos, porque há aspectos claramente destacáveis (pelo menos do ponto de vista de um lingüista; de um tipo de lingüista, pelo menos).

Primeiro, registre-se que as opiniões de Caetano têm algum lustro: leu certos textos e freqüentou certos meios (os concretistas, que liam Jakobson, que citava e era citado etc.). E, obviamente, ele não é bobo. Nem totalmente preconceituoso... Mas esse tipo lustro nem sempre favorece.

Vamos, pois, aos comentários de algumas passagens do post dele.

Quanto à lingüística propriamente dita, li Saussure (aquelas aulas) no início dos anos 70. Li somente porque os poetas concretos falavam dele... todos falavam de Jakobson, que falava dele.

Aquelas aulas? Pois é. Aulas sobre Saussure têm sido pequenos desastres. Em geral, ele passou para a história (em cursos de letras e de comunicação) como o cara da dupla face do signo, o significante e o significado. Mas, de fato, isso não é próprio do Saussure. Nem a arbitrariedade dessa relação. Saussure é o pensador do sistema, dos valores, da diferença (ler sobre as entidades lingüísticas, por favor). E foi assim que ele passou para a história da lingüística.

O que disse sobre o significante ser a imagem acústica é certamente relevante, porque põe o fonema, por exemplo, num espaço psicológico específico (se tivesse sido compreendido nesse particular, não leríamos os Sacconi da vida dizendo que fonemas são os sons da língua, nem haveria ditados fonêmicos em escolas de medicina ou de fonoaudiologia). É mais ou menos como achar que a relatividade é o relativismo. Pessoalmente, prefiro os "erros" da tradição às achegas parciais a propostas novas. Um bom Newton é melhor que um Planck mal digerido.

Fiquei maravilhado com a afirmação de que a língua é viva e mutante na práxis dos falantes: a língua é falada, a escrita seria apenas uma notação convencionada a posteriori, como as pautas musicais.

"Práxis dos falantes", obviamente, não é Saussure. O tempo é, para ele, a categoria fundamental para explicar a mudança. Vago? Acho que sim, mas esse é Saussure. Práxis é marxismo ("sério" ou de boteco, pouco importa). Importante: se essa tese de Saussure chamou tanto a atenção de Caetano, aposto que foi porque tinha sido levado a pensar, ou porque talvez estivesse pensando, que as línguas são mais ou menos imutáveis (o que, de fato, de vez em quando, volta com força no post dele, não à toa, eu achei. Gostou da idéia, mas não "conseguiu" incorporar).

Nunca vou esquecer sua observação de que o francês é a única língua ocidental que tem uma palavra cuja grafia não guarda nem um só dos valores fonéticos originais das letras que a compõem: "oiseaux".

A afirmação acima fecha seus comentários sobre o que Saussure teria dito sobre a escrita. Ficou a anedota, como freqüentemente ocorre. E o exagero (a única língua ocidental: ou o professor "acrescentou", ou foi no bar; sempre um bom lugar, aliás). As poucas páginas de Saussure sobre a escrita são extremamente lúcidas e seriam revolucionárias ainda hoje (se fossem lidas). Continua válida inclusive sua reclamação de que os lingüistas "não têm vez em capítulo" - quando as questões de escrita são discutidas - e por isso, ele acha, "a forma escrita tem, quase sempre, superioridade" (Curso, pg. 36). "Oiseau" (singular, no Curso) é um excelente exemplo, claro (como a pronúncia é wazô, nenhum dos sons é representado na escrita), mas é do tipo que fica na memória por seu caráter anedótico, não pelo efeito que deveria produzir como exemplo crucial das teses de Saussure sobre o tema.

Caetano conta que, quando veio a Campinas para um show, ganhou um livro de uma professora sobre diferenças entre português do Brasil e de Portugal. Comentários postados garantem que se trata de um livro de Charlotte Galves. Se for, quase todos os comentários de Caetano estão errados. Ele deve ter esquecido também de algum outro livro que leu. Mas, mesmo que tenha lido outro, duvido (mas essa é uma aposta) que alguém tenha escrito o que ele diz que recorda - sobre tu/você etc. Ah, acrescenta que o livro "era escrito num português excelente". O que ele esperava?

Depois ele discute uma entrevista de Marcos Bagno à revista Caros amigos. O que escreve sobre isso exigiria longas considerações, porque tanto há mal-entendidos, se, de fato, o que Saussure teria dito o impressionou, quanto discordâncias ideológicas a serem discutidas em detalhe.

Na semana seguinte, comentando mensagens de leitores, acrescentou, por exemplo, que "as pessoas que dizem 'grobo' são as mesmas que têm vocabulário menor, menos acesso aos conhecimentos, menos poder". Menos poder, sim. Vocabulário menor é coisa que se pode discutir. Já que citou Lévi-Strauss, ouso sugerir que leia O pensamento selvagem. Talvez mude de opinião. Pensando bem, acho que não mudaria, porque a questão é fortemente atravessada por ideologia, que argumentos "objetivos" dificilmente afetam.

Mais: diz, por exemplo, a propósito de conjugações como "tu vai":

... a resposta racional é que se conjugo o verbo sempre na terceira perco o direito de prescindir do pronome sujeito (é verdade: se a conjugação se "simplifica", isso afeta a sintaxe; o inglês funciona assim: algum problema? Mas por que essa é uma resposta racional?); ouço com prazer os "tu é" dos cariocas e os "tu vai" dos gaúchos, mas sei que há um empobrecimento de possibilidades do uso da língua (empobrecimento? É difícil de demonstrar: perde-se aqui, ganha-se lá, como se verifica se não houvesse possibilidades como as mencionadas, que são enriquecedoras, porque novas, diferentes das outras); de todo modo, não há porque não ensinar às pessoas como funcionam as conjugações, tendo em vista o pronome pessoal escolhido (mas as conjugações funcionam assim, exatamente como funcionam; ou ele quer dizer "como funcionavam", com "vós" e tudo? Nada contra, se fossem assim, mas por que não as de hoje?).

Aliás, amei ler no texto "medieval" de Maira "aa" em lugar de "à". Isso porque há anos digo que seria legal se escrevêssemos "aa", como feminino de "ao": ficaria bonito e não teríamos esse rolo da crase (que adoro mas vejo que é um sofrimento para muitos).

Sei que é uma bobagem, que pode parecer picuinha, mas duvido que Caetano cometa em música um erro tão banal quanto dizer que aa é o feminino de ao. Ou que, em espanhol, al é o masculino de a la. Puxa! O Pasquale lhe diria o que é isso!

Depois de discutir - a meu ver com alguns equívocos, a partir da entrevista de Bagno à Caros amigos - questões de norma culta versus variedades menos valorizadas, e de comentar criticamente a tradução de um título de Proust (no que concordo com ele), dispara:

O que isso tem a ver com os lingüistas, a língua falada, a norma culta, a norma oculta, a demagogia e a mania de pensar que o melhor modo de resolver o problema das favelas é destruir o sistema de esgoto de que desfrutam as "elites"? Tudo.

Bem, se ele entendeu que "defender" variedades lingüísticas populares, mesmo que sejam aceitas como "corretas", por serem empregadas em textos "cultos", determinadas construções ainda condenadas (como vende-se flores etc.) equivale a defender que não se leiam textos "clássicos" ou que se critiquem formas em franco desuso, então, de fato ele não entendeu nada (ou não pode entender). E não se trata de deficiência mental, que disso ninguém pode acusar Caetano. Trata-se mesmo de ideologia. Da qual, aliás, não é difícil descobrir traços em outros domínios sobre os quais Caetano opina como cidadão e também como artista ou homem-show.

Também acho que ele podia ter se poupado de gravar "Ou você me ama, ou não está madura", mas e daí? Dizendo isso, acho que estou elogiando Caetano. Mas concedo que não entendo nada de música, nem do circuito empresarial.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O Homem Elefante, Caetas, etc

Uma dica de blog:

http://ohomemelefante.blogspot.com/


Gostei muito desse blog do Henrique. Recomendo.

Hoje vi uma polêmica do Reinaldo Azevedo com o Marcelo Coelho. Ou melhor, o Reinaldo querendo briga com o mineiro Coelho.


Quem nao brigar com o Reinaldo, nao o conheceu. Se até mesmo o brigao Mirisola achouo com cara de abutre da web! E, se Marcelo estiver mesmo pedindo a cabeça de Joao pedro Coutinho e Pondé, acho até que tem razão. Os dois sao fraquinhos, fraquinhos. Coutinho entrou numa de Bush, velha europa, antiga europa, aquele papo chato e furado. Marcelo gozou um pouquinho a cara dos bushitas Reinaldo, Pondé, Coitinho, etc. No fundo foi isso. Com Obama, os neocons e neolibs falcoes passam a ficar mais na deles, ou deveriam. Os juros caíram hoje. Evoé.

Acho que vou mandar currículo para o Marcelo Coelho. As cabezas de Pondé e Coutinho, unglauber...Será que GT fechará o blog desta vez? Não FECHE, GERALD, NAO FECHE!


Escreva para quem te ama e azar para os trolls! blog é para o artista interagir com o seu público. Ninguém gosta muito de polêmica em blog, exceto os sacanas e chatos e malucos da web. E quanto mais vc polemiza, Gerald, mais eles chegam esculhambando! Essa de Israel e do Brasil, então...Ainda bem que tudo foi amenizado com a carta para a Mileny.


Viva Obama! Reinaldo Azevedo nao quer o fim de Guantánamo, pois diz que os terroristas são do mundo. E não poder ir ao mundo, logo devem ficar em Cuba, Guantánamo. Mas os terroristas têm pátria, sim. O motorista de Bin Laden está lá, por exemplo, mais por ser o motorista do homem do que por qualquer outra coisa.

Enquanto isso, no blog de Caetano Veloso, continua a briga com os linguistas. Caetano chama quem diverge dele de demagogo e me associou a Giba, o adorniano Gilberto Vasconcellos. Ele continua colocando os gramáticos como coitadinhos e vítimas e o Luedy é o único interlocutor que ele respeita e responde. Ao mandar uma carta para a Folha apoiando os críticos dele e citando Bagno, a coisa começou. A carta tá nesse blog. Ele chamou Bagno de um crítico de nome italiano que me agrediu.Realmente ele levou uma lavada do Bagno e agora dialoga com o Possenti, arriscando-se a levar outra. Vejamos as cenas dos próximos capítulos dessa novela. Entendo porque acham Caetano chato. Ele tem mania de professor de gramática que fica corrigindo a fala toda a hora, obcecado com seu poder. Ele tá certo de criticar o Alexei e abrir uma polemica, mas poderia fazer isso menos vagamente. A imprensa carioca dar atenção à poesia é uma boa. O texto aí em cima, Moreira, não é meu, é de um tal de Leandro Jardim.


Eu estou mais para concretista do que romântico à la Alexei.

Por falar em novela, ela nos faz pensar em nosso sistema de castas, né? O Caminho das Indias...Nietzsche numa onda errada apoiou esse sistema, conforme li em Safranski. O mito é interessante e bonito, mas aplicado para explicar a ordem social fica danoso.

Caetano Veloso X Alexei Bueno - notas sobre a polêmica da vez

Caetano Veloso X Alexei Bueno - notas sobre a polêmica da vez

1
Leandro Jardim, Rio de Janeiro (RJ) · 13/1/2009 · 76 votos · 4
montagem a partir de fotos da web
Duas ou três notas preliminares: é muito bom ver que ainda pode haver polêmica¹ no mundo da poesia, em especial quando pode questionar os cânones. Melhor ainda que ela possa ser estampada na contracapa do caderno de cultura de um dos jornais mais importantes do país. Apesar de algum conteúdo jornalístico, este texto se pretende mais pessoal e opinativo.

Para quem está conhecendo o assunto agora, primeiro aos fatos:

Fato 1
O livro "Uma história da poesia brasileira" (G. Emarkoff, 2007) de Alexei Bueno dá um tratamento claramente crítico e irônico ao movimento concretista brasileiro. Essa semana, conforme relatou a coluna Gente Boa d'O Globo de terça-feira, tal passagem foi atacada pelo compositor tropicalista. "Caetano Veloso, em seu blog 'Obra em progresso', saiu em defesa dos poetas concretistas criticados por Alexei Bueno no livro 'A² história de poesia brasileira'. 'É simplesmente abominável', diz Caetano. 'Já na introdução embirrei com o português desse poeta respeitado e erudito. Parece coisa ruim.'"

Fato 2
A mesma nota do jornal dá direito de resposta a Alexei, que diz "O Caetano sempre foi uma espécie de aliado desses concretistas num esquema uma-mão-lava-a-outra. Eles lhe davam certa aura erudita - da qual ele nunca precisou - e recebiam em troca certa aura popular. Crítica não se faz embirrando com tal ou tal coisa, mas com acuidade e análise. O que não entendi mesmo é o 'Parece coisa ruim'. Será alguma coisa de Candomblé?". Estabelecida a divergência, uma interessante reportagem de Leonardo Lichote na contracapa de sexta-feira do mesmo caderno do jornal prova que a polêmica reverberou. Além de nova voz aos envolvidos, a matéria traz a opinião de outros integrantes da classe, como os poetas Ferreira Gullar, Eucanaã Ferraz e Décio Pignatari (um dos fundadores do movimento concretista), além do também Editor Sérgio Cohn, só gente de primeiríssima.

***

Tendo em vista que eu li (e recomendo³) todas as 433 páginas do referido livro do Alexei com muito gosto, e que sou fã de Caetano Veloso (seguramente uma das pessoas mais importantes - e incríveis - da música popular brasileira de todos os tempos, e meu cantor favorito), não é de admirar que a polêmica tenha me causado enorme excitação e a necessidade de me manifestar.

À ela: minha opinião é que ambos tem parcela de razão e são astutos polemistas. A passagem que comenta os concretistas no livro "Uma história..." realmente comete um daqueles deliciosos pecados. Ao criticar (com fundamentos) o movimento concretista abusando do sarcasmo, Alexei oferece ótimo entretenimento ao leitor, mas não reconhece o devido respeito conquistado pelos concretistas tanto na academia nacional quanto internacionalmente (uma das principais marcas que o Brasil deixou na arte mundial). Caetano percebeu isso e, como se sente diretamente envolvido (o que não deveria), não gostou da ofensa e quis defender o movimento que apoiou (e apóia). Isso sobre o tal fato 1. A réplica do Alexei, porém, também foi alvo de comentários na matéria de sexta-feira. Como ficou claro, é bem notória a diferença de princípios entre a tropicália e os concretos, convergindo apenas na postura de vanguarda. Mas é natural que artistas contemporâneos, mesmo que de estéticas distintas, se apóiem mutuamente na promoção de suas obras e idéias. Normalmente nesses casos (embora nem sempre, é preciso frisar) há verdade (é possível - e louvável - admirar algo diferente do que se faz) e há igualmente troca de interesses (artistas unem-se para auto-promoção conjunta desde sempre). Isso só é problema se feito com falsidade, por puro oportunismo. O que não é o caso dos concretos, dada a importância que o próprio Augusto de Campos tem no estudo da canção brasileira, em que pese o basilar Balanço da Bossa, de sua autoria.

Do embrólio, ficam a necessidade e o sabor das provocaçãoes e pensamentos críticos.

_______________________________________________________________
1 - Em tempo: Ainda que de forma indireta - prática e intesionalmente - é possível interpretar a atitude do Alexei por uma lado positivo: ela ataca uma certa bandeira branca intelectual existente no mundo atual da poesia e - de certa forma - no âmbito artístico geral. Claro que ele não é o primeiro, nem o único, arrisco dizer que (felizmente) já é um movimento crescente, mas o fato (que acredito) é que tanto a evolução quanto a divulgação da nossa literatura ficam prejudicadas quando os autores adotam uma posutra de relativismo total, onde tudo é válido e pertinente: "sempre haverá um nicho específico, quem sou eu pra criticar". A partir de agora corro o risco de confunfir o leitor, mas prossigo. E isso até é verdade, o mundo atual comporta espaço pra qualquer vertente que exista ou venha a surgir. Mas, se perdemos a capacidade de dizer o que não gostamos, o que nos parece ruim, fraco ou falso, se não apontarmos a roupa do rei nu, estamos cometendo a omissão. E aí qualquer praga (para usar um termo do meu blog) se desenvolve.

2 - O erro no título do livro descrito na reportagem tem seu peso. Ao escrever "A história" (e não "Uma história", como é o título correto) omite-se a postura autoconsciente a respeito da parcialidade do conteúdo do livro, que Alexei deixa bem clara.

3 - O poeta Eucanaã Ferraz, que admiro e respeito, discorda de mim, opinando que o livro "não tem importância alguma".


tags: Rio de Janeiro RJ literatura caetano-veloso alexei-bueno polemica poesia poesia-concreta concretismo


enviar enviar versão para impressão versão para impressão chamar para votar chamar para votar

comentários
+ adicionar comentário
"artistas unem-se para auto-promoção conjunta desde sempre"

desde sempre milhares de profissionais em diversas áreas se unem para auto-promoção. há problemas nesse caso? se houver, no caso dos artistas também há.

há sempre a idéia de que a uma ética diferente para os artistas, eles tem que ser os limpos e honestos da sociedade. nada.

gostei do seu texto, mas polêmicas da vez e um X grandee vermelho separando os dois joga pra bem baixo o seu texto, pois esta capa também faz parte do texto, imagens fazem parte do texto.

abraços.

Carlos Gomes · Recife (PE) · 14/1/2009 01:07
olá Carlos,

Concordo que não deve haver uma ética diferente para artistas. Espero que minhas palavras não tenham remetido a isso. Caso o tenham, repito, não é minha idéia.

Quanto às críticas construtivas ligadas à imagem e ao "X", muito obrigado. Levarei-as em consideração em um próximo artigo. Mas imagem não é meu forte, mesmo. Eu gostaria era de ter postado só o texto. Mas, para os artigos, acho que não pode. Já o título eu defendo, porém, como preguei no texto também, acho as discordâncias saudáveis.

grande abraço,
Jardineiro

Leandro Jardim · Rio de Janeiro (RJ) · 14/1/2009 11:32
Leandro,

Acho saudável demais que haja polêmica. Sem conflito (no bom sentido) o mundo, definitivamente, não gira. Como dizem uns: 'toda unanimidade é burra' e outros: 'A maioria sempre está errada'.

Abs

Abs

Spírito Santo · Rio de Janeiro (RJ) · 14/1/2009 12:54
Amém! hehe :)

Leandro Jardim · Rio de Janeiro (RJ) · 14/1/2009 20:16
Adicione seu comentário: para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Portal Literal, e adicione seus comentários em seguida.



Artigos
Crônica do desejo

Banco
O que vai dentro da caixa

Banco
Sinais de Vida no Planeta Minas - Fernando Gabeira

Artigos
Escritora catarinense surpreende em seu primeiro livro

Banco
O Dono do Casarão


visite nossa seção de perguntas mais freqüentes
KarmoLiterais - Manoel de Barros inédito, Lobo Antunes no Brasil e o baú de Agrippino
Manoel de Barros inédito

O autor de Livro sobre nada, Compêndio...
O trema fica!!!
Getz/Gilberto por Marcelino Freire @ Mojo Books
Edgar Allan Poe, 200 anos
+ mais posts

Termos de uso | Expediente | Privacidade | Alerta
Salvo indicação em contrário, todo o conteúdo (c) 2008 Portal Literal e seus autores

domingo, 11 de janeiro de 2009

Por que somos nietzschianos

Reencontro, a propósito das discussões sobre Nietzsche no blog do Gerald Thomas, o livro Porque Não Somos Nietzscheanos, da finada editora Ensaio. O livro é de 1992. É um apanhado de marteladas eclético-liberais no Nietzsche, mas destaca algumas frases que contribuem para o debate no blog do Gerald. O aforismo 46, segundo Comte-Sponville, está no Anticristo:

"O que segue daí? Fazemos bem em vestir luvas quando lemos o Novo Testamento. A proximidade de tanta sujeira torna-o quase obrigatório. Frequentaríamos os ´primeiros cristãos´ tão pouco quanto os judeus polacos: não que tenhamos de lhes censurar a mínima coisa...Ambos cheiram mal (...). Será ainda preciso que eu diga que em todo o Novo Testamento só aparece uma única figura que se deva honrar? Pilatos, o governador romano. Ele não conseguia levar a sério uma briga de judeus. Um judeu a mais ou a menos -- que importa?"

Para Comte-Sponville, o antijudaísmo e o anticristianismo se mesclam a uma admiração sincera.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Maysa & Bôscoli, Padre Fábio, Big Bode, etc.

A minissérie da Globo Maysa está evoluindo agora, com ela devorando Ronaldo Bôscoli. Bôscoli já chamou Gerald Thomas de mau caráter. Mas na minissérie ele aparece usando Maysa para que ela cante as músicas dele. Num dado momento, ele não se segura e diz: isso parece com seus samba-canções cafonas! Ao que ela reage apelando e jogando as partituras dele para o alto, usando Maysa para turbinar a carreira enquanto namora uma atriz do teatro rebolado.

Recomeça o BBB9. Os vídeos do público são bem mais honestos do que o programa em si, cuja seleção, ao meu ver, é duvidosa (marmelada?) Rodízio de beringela. A cada intervalo, padre Fábio mistura a seda e o péssimo. Mas ele é carismático, sim, ao contrário do aeróbico Marcelo.

Sobre Brokeback Moutain na Globo

Eu não vi o Brokeback todo na Globo, mas teve gente que viu, como vcs podem ver aí embaixo. Teve a cena do beijo gay (e eles não estavam numa padaria!, como diria o cristão conservador Garganta no blog do Gerald, mas estavam em frente à casa do Heath Ledger e a esposa dele viu) e que eu saiba não cortaram o sexo dos caubóis (não vi essa cena). Muito interessante o que ele comentou. Gostei muito de Aline, baseado na tirinha do Adão, especialmente das cenas em que eles dançavam ao som de Amy Winehouse e adorei Felicidade, do Todd Solondz...

No DVD, esse filme foi dublado com sotaque caipira que me fez rir à beça, pois quase todo mundo nessa cidade do interior onde vivo fala assim. A Globo deve ter achado que já era provocação demais isso e cortou a dublagem com sotaque, fazendo uma mais neutra, camuflando o sotaque carioca que a emissora tem e do qual faz apostolado.


Sobre "Brokeback Mountain" na Globo
clock janeiro 5, 2009 12:41 by author Vitor

No último sábado, estava folheando um jornal quando li que a Globo iria passar o excelente O Segredo de Brokeback Mountain à noite. Fiquei surpreso, afinal, não foi essa a emissora que cortou uma cena de beijo gay em uma novela das oito? Tudo bem que o filme iria ser exibido depois das 23 horas, mas mesmo assim, acredito que o Super Cine tenha um público tão ou mais tradicional do que os espectadores de A Favorita. Antes de concluir que seria um avanço da emissora, já imaginei que as cenas homossexuais deveriam ser cortadas pela trupe de Roberto Marinho, o que foi negado pela minha mãe, que o assistiu no sábado (eu não consegui ver).

Em uma televisão antiquada para alguns aspectos sociais como é a brasileira, achei a exibição de Brokeback Mountain uma certa evolução. Mas ainda está distante, neste aspecto, da TV norte-americana, por exemplo. Outro dia aluguei o box da primeira temporada de Brothers and Sisters, seriado que passa na ABC, canal aberto dos Estados Unidos, e tem uma audiência bem expressiva. Na série, previsível mas divertida, Sally Field é a mãe de cinco filhos. Um deles é gay e seus relacionamentos com outros homens é tratado de uma forma natural, com direito a beijos, expressões de carinho, etc. A audiência continua forte e até hoje ninguém morreu nos Estados Unidos por causa disso. Porque será que no Brasil parece ser ainda tão espinhoso tocar no assunto?

Ás vezes eu acho que é porque o público brasileiro tem os programas que merece. Outro dia, lendo jornais e sites por aí, vi uma pessoa indignada com a Globo por ter exibido Aline, especial de fim de ano baseado nas tirinhas de Adão Iturrusgarai. A reclamação era devido ao fato da protagonista ter dois namorados e os três viverem sob o mesmo teto. Ele ainda afirmou que mesmo não tendo cenas de sexo, um programas desses seria uma afronta para as crianças brasileiras.

Claro que não posso generalizar e não sei se Aline foi bom ou ruim porque não assisti, mas não exibir coisas de qualidade porque seriam exemplos ruins para as crianças é um retrocesso. Obviamente que não estou falando em passar um filme do Todd Sollondz na Sessão da Tarde. Mas, em horários apropriados, o público não deveria ser privado de coisas bem feitas e que não sejam gratuitas. O engraçado é que a exploração da violência e do corpo pela televisão e pelos jornais (principalmente os de 25 centavos que pipocam por aí), estes sim, gratuitos e de qualidade discutível, está aí, o dia inteiro.

3.0 ponto(s). Avaliado por 2 pessoas

O Segredo da Montanha do Quebra Costas, por Marcelo Hessel

O Segredo de Brokeback Mountain

02/02/2006Marcelo Hessel



O Segredo de Brokeback Mountain
Brokeback Mountain
EUA, 2005
Drama - 134 min

Direção: Ang Lee
Roteiro: Larry McMurtry e Diana Ossana, baseado em estória de Annie Proulx

Elenco: Jake Gyllenhaal, Heath Ledger, Michelle Williams, Anne Hathaway, Randy Quaid, Linda Cardellini, Anna Faris, Scott Michael Campbell, Kate Mara

Globo de Ouro de melhor drama, oito indicações ao Oscar, apologia da homossexualidade, provocação contra conservadores... O barulho ao redor de O segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, 2005) já ficou muito maior do que o filme. Isso pede um texto desmistificador - a começar pela derrubada do rótulo, que o próprio diretor taiwanês Ang Lee refuta, de western gay.

Não é um western

Não são vaqueiros que fazem um faroeste, mas o momento histórico (conquista do Oeste, Guerra da Secessão, corrida do ouro na Califórnia), político (estabelecimento de Estados no Centro-Oeste, delimitações de fronteiras com o México) e social (colonização, cultura indígena e latina versus cultura anglo-americana) dos Estados Unidos, que vai do final do século 19 ao início do 20. Brokeback Mountain, nesse ponto, é muito mais parecido com Tempestade de gelo (1997), o primeiro filme estadunidense de Lee, que faz a ácida crônica dos anos 1970 no país.

As duas décadas que marcam a relação de Ennis Del Mar (Heath Ledger) e Jack Twist (Jake Gyllenhaal) vão dos anos 60 aos 70. Figurinos, costumes, cabelos, cenários; tudo faz lembrar a cada minuto que aquele é o tempo do american way, do empreendedorismo, do self-made man - e o retrato é igualmente mordaz, um pouco mais amargo talvez, ao de Tempestade de gelo. Não há saloons, diligências ou cidades desertas. Há, sim, empregos em supermercados, botecos escuros de bilhar, salões de festa com gente desinteressante ao som do country, a trilha sonora sulista oficial. É dessa realidade, para começo de conversa, que Ennis e Jack fogem simbolicamente sempre que marcam de se encontrar na isolada montanha Brokeback.

Foi lá que eles se conheceram, contratados para arrebanhar e vigiar as ovelhas de um grande fazendeiro. No primeiro contato, os meses, o frio e a solidão logo fortaleceram a amizade dos dois homens que, a princípio, têm em comum a condição de outsiders. Ennis perdeu os pais, foi criado pelos irmãos, não é exatamente um cowboy de sucesso. Jack tenta a vida como montador de bois, profissão desdenhada por muitos, e seu futuro nas arenas não é dos melhores. Que a atração sexual desponte sob a tenda, numa noite gelada na montanha, é menos uma sacanagem pós-bebedeira e mais um reflexo da urgência que ambos têm por cuidado, atenção.

Não é (tão) gay

A humanidade dos personagens é o que nos leva à segunda desmistificação. Brokeback Mountain não é um western e também não é tão gay - pelo menos segundo a imagem que a cultura de massa faz do que é ser gay. Não há botas rosas, gente desmunhecando, dando piti ou falando fino. Não há corpos malhados nus enxugando o suor da testa em câmera lenta. Não vá ao filme (ou não evite o filme) se você imagina um Os Assumidos, um Gaiola das loucas ou uma tirinha de Rock & Hudson. Não tem nada a ver.

Muito pelo contrário, Ennis e Jack, mesmo apaixonados, não deixam de ser homens de seu tempo - machistas, egoístas, infantilizados. Moram longe, um no Wyoming e outro no Texas, mas reproduzem os mesmos preconceitos de uma geração inteira, como o desprezo reservado às mulheres (especialmente às esposas que dão à luz meninas, e não garotos, futuros herdeiros, repare nisso). Cena emblemática: a mulher de Ennis, Alma (Michelle Williams, a Jen de Dawsons Creek, em desempenho acima do resto do elenco), não quer transar porque falta proteção; o marido reclama, mesmo que ele não pare em casa nem ajude a criar a prole, se você não quer mais filhos meus, que nos separemos.

O que é então?

Rótulos derrubados, resiste de pé um ponto, citado lá em cima, na primeira frase. De fato, Brokeback Mountain é um filme de provocação - e não apenas contra conservadores, mas contra padrões sociais. Não vamos entrar na referência religiosa do pastor e do rebanho de ovelhas; seria mexer com vespas mais raivosas. O que o filme não apenas sugere como adota, daí sim, é a visão da natureza como sinônimo de amor puro, existência preenchida. É quase um elogio da regressão, do primitivismo. E, como tal, uma negação da convivência em sociedade.

Quando Ennis e Jack não estão na montanha, suas rotinas são miseráveis: cuidar da família, comparecer ao emprego, fazer média com amigos. Tudo bem, um não se completa sem o outro, todo o resto representa um zero, um nada. Mas o registro anedótico que Ang Lee faz desse nada dá a entender que não há futuro digno ali, seja para gays, seja para heteros.

É um tipo de ironia às vezes suave, às vezes grossa: o jeito como a câmera fecha o close no penteado cheio de permanente de Lureen (Anne Hathaway) quando ela atende o telefone, o constrangimento de Alma (mais um) quando ela fala da caixa de pesca, a cara de eterno gerente de supermercado de Monroe (Scott Michael Campbell) quando ele acha que virou o dono da casa... Brokeback Mountain é um drama, daqueles em que as pessoas saem inchadas de choro, mas se alguém ao seu lado no cinema começar a rir timidamente, não estranhe. É a atitude desdenhosa que o diretor Lee toma diante de certos personagens e de certas situações que legitima esse comportamento.

Cria-se um paradoxo, portanto. Porque no fundo a aspiração de Ennis e Jack é constituir uma união civil estável, e o que o filme faz é justamente criticar o caráter estanque da rotina - pagar contas, prestar contas, buscar emprego, envelhecer, etc. A pergunta é impertinente, mas não custa ser feita: os cowboys seriam felizes se pudessem se casar?

O filme não diz, mas dá a entender que não - e isso até o último fotograma. Na enigmática tomada final, a câmera pega simultaneamente a janela de um trailer e um cartão-postal da montanha pregado numa porta. A analogia é sutil. Na fotografia, mesmo pequena, a montanha Brokeback parece mais grandiosa, mais plácida, mais atraente, do que o mundo de fora da janela, enquadrado, óbvio, o mundo da mesmice. Talvez por isso o irregular filme de Ang Lee esteja conquistando corações (e prêmios): ele fala de um amor idealizado, não de um amor de realidade.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Maysa, Cash, Brokeback, etc

A Globo passou recentemente um filme sobre o Johnny Cash e sua amada June Carter. Interessante, mas uma biografia de astro de música popular tem papos sobre drogas, um clichê. Mas quem iniciou Cash nas bolinhas foi Elvis, segundo o filme. Ring of Fire, tenho essa música aqui. Mas gosto mais de If I were a Carpenter. Ele cantou com a June? No cedê, Cash é um pouco monocórdico, fico nostálgico da balada The Wanderer do U2. Foi lá que conheci Cash.

No sábado seguinte o Supercine revelou O Segredo de Brokeback Moutain, o "filme do caubói viado", como dizem os detratores. Eles pescavam baiacu, dizem. Anyway, esse filme já está na história do cinema. Vi Ghiraldelli falar sobre esse filme. Ele repetia a palavra gay especulando sobre epistemologia gay, pragmatismo gay, filosofia gay, algo assim. E terminava tudo sendo anti-gay. Ele curte é a ontologia dos Bee Gees e sexualmente e politicamente ele é Nabokov, Nabokov, Nakobov. Como Caio Túlio Costa, que dizia que a Madonna emite tantos sinais hiper-sexuais que ela é broxante. Mas o filme Brokeback é sobre ser autêntico na vida, afastar a má fé. Carpe diem.

Maysa começou bem, vejo na web. Maysa foi citada no Deus da Chuva de Mautner. Maysa e seu uísque existencial. Escuto Maysa e o mundo está cada vez mais caindo, cada vez mais na fossa, cada vez mais Maysa. Chutei o balde, o móvel: ne me quitte pas. Brel com Maysa, Bélgica triste com saudade bossanovística. Fissura ôntica, como dizia Caio Fernando Abreu. Gerald versus Zeca, aliado de John que é Direto da Redação onde Rui Martins indiretamente eu acho que critica Laerte que critica Reinaldo e a web balcaniza-se. War for Territory, dizia o Sepultura. Warfare state, dizem em Manhattan e aí rola a Connection.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Site sobre os Ataques em Gaza

Fotos do sofrimento dos civis em Jabalia, faixa de Gaza.

http://www.ccun.org/Documents/The%20Gaza%20Holocaust%20Israeli%20Attacks%20on%20Jabalia%20February%2027-March%203,%202008.htm

Fotos muito fortes e que não aparecem nos jornais, mostrando principalmente o sofrimento das crianças...

E a frase que ficou na minha cabeça: "seu silêncio é cumplicidade".