quarta-feira, 11 de novembro de 2009

FHC: Um liberal impopular

Leio o artigo de FHC no Estadão e comento aqui. Já li vários livros dele. Diferente de discos antigos de Caetano, livros antigos de FHC não são lidos com prazer: é um tudo um linguajar soporífero, irritante, ora acadêmico, ora bacharelesco. Não é estudado mais na área de Ciências Humanas. A campanha de Geraldo Alckmin não contou com sua pessoinha impopular: conselho de marqueteiros...

Já esse artigo ("Para Onde Vamos") não é sociologia propriamente; é um panfleto de agitação e propaganda a favor de seu partido, o PSDB. Lula não pode escrever artigos assim; os que ele escrevia no Zero Hora me pareciam ser escritos com ajuda de um ghost writer.

FHC fica, então, numa posição de superioridade. O artigo enfeixa inúmeras críticas e palpites, sempre dizendo como "deveria ser", sempre professoral. FHC foi o professor de Lula, e não Brizola. No entanto, o artigo não tem uma teoria geral sobre o governo Lula tal como FHC apresentara em 2002, dizendo que seria parcialmente a volta do "nacional-estatismo", conceito que ele usou e abusou nos anos 70. Ele não acusa Lula de nacional-estatismo, talvez porque tema maus fluidos geiselistas. Para ele, o imperialismo é um tigre de papel: piratas, só na Somália.

Nas queixas dele, genéricas, me espanta a queixa a respeito das compras de aviões para o exército. Todo mundo que eu encontro e que é do exército queixa-se do armamento sucateado, ultrapassado, dos riscos grandes, etc. FHC irritou-se especialmente com isso, por questões freudianas, quem sabe: o pai dele era o general Lêonidas e era ligado a Getúlio Vargas. Esse artigo gorduroso só pode ser entendido à luz de informações de bastidores encontráveis na web: a IV frota americana voltou à ativa, por isso a compra de armamentos no Brasil, fora as bases e a tensão entre Colômbia, Equador e Venezuela, que já valeu a invasão do Equador; isso pode perfeitamente ocorrer na nossa fronteira, por que não?

O autoritarismo, em si, estaria ligado à excessiva proximidade entre governo e Vale do Rio do Doce, governo e MST, e por aí vai. Ele elenca vários exemplos sem nexo.
Quando fala em Dilma, sempre sem citar seu nome, aí é que se sente a alma tinhosa, invejosa e venenosa desse artigo: Dilma é chamada de "claudicante". Só faltou chamar de "câncer no palanque". Impopular, FHC odeia a ideia de ter de negociar com o PT uma nova derrota. FHC teve apoio da máquina em 94, em 98, em seu governo também ocorreu promiscuidade entre o público e privado, corrupção, etc. Vide Daniel Dantas e Eduardo Azeredo. Esse é um artigo que se perde em um narcisismo de pequenas diferenças. FFHH tem uma obsessão com o dedo faltante de Lula. Ele fez campanha com cinco dedos e agora chamou a indicação de Dilma de "dedaço".

FFHH quer uma competição fálica com Lula, quem sabe na suposição de que, assim como não tem um dedo, Lula talvez não tenha pênis...

Existe uma questão de estilo dele que me irrita sobremaneira. Fora imaginar, ao ler esse texto, ele falando essas coisas com aquela boca mole, "de gamela", como dizem seus adversários. Ele usa aspas a torto e a direito: "entreguista", "privatizadas", como se isso não existisse.

A maior preocupação, obsessão mesmo, nesse artigo, é a possível reversão das privatizações via fundos de pensão, sindicatos e governo, a reestatização; no fundo, ele não se preocupa tanto com a sucessão e sim com seu "legado", sua "herança maldita", que é uma possibilidade que, felizmente, surge no horizonte, vide governo Obama.

O pior é quando chega o final do artigo e essa qualificação neoboba de "subperonismo". Perón foi um estadista destacado entre os únicos dessa estirpe da América Latina e ombreia com Bolívar, Vargas, Fidel Castro e outros. Historicamente será sempre mais importante do que Fernando Henrique Cardoso, que desaparecerá e comerá poeira da História. Se Lula é subperonista, Cristina Kirchner, então, é super-peronista, hiper-peronista, Nestor Kirchner, super-hiper-peronista?

Isso me faz lembrar a frase que finaliza a monografia (péssima de se ler) dele em 1964, que contava com o pai do Xyco Buark na banca: subcapitalismo ou socialismo?

Subcapitalismo, né, FHC, subcapitalismo...

E o pior é ele cobrar prévias no PT, sendo que no PSDB elas também não existem e a indicação é, também, através do bico de alguns tucanos da cúpula.

Fica a cobrança: FHC, aqui em Minas queremos prévias no PSDB entre Aécio e Serra!

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