domingo, 1 de novembro de 2009

Do blog do Atila Roque

As nossas tristezas

Ontem conversando com uma grande amiga, especialista em segurança pública, entrei em contato com uma enorme tristeza. Uma tristeza que já tinha de certa forma sido expressa no comentário do meu amigo, irmão, escritor e poeta, Alexandre Brandão, o Xandão, no post abaixo. Ela passou os últimos dias vendo e revendo as fitas com as cenas que flagraram a chocante indiferença dos policias diante da vítima ainda agonizante, mais preocupados em predar os predadores que tinham acabado de ferir mortalmente o coordenador social do Afroreggae, Evandro João da Silva. O que ela viu e a deixou ainda mais chocada não foi apenas a frieza abjeta dos policiais diante de mais uma morte inútil. Assistindo ao registro visual dos muitos minutos, quase uma hora, em que Evandro fica ali estendido na calçada, ela se deu conta da indiferença coletiva, patológica, que nos adormece os sentidos diante da tragédia humana. As pessoas passam, olham e seguem, sem que ninguém se aproxime daquele ser humano no chão para verificar se ainda vive. Ninguém usa o celular para chamar imeditamente uma ambulância que, sabemos, chegou quase uma hora depois do acontecido. Ninguém derrama uma lágrima pela tragédia do Evandro, a tragédia de todos nós, no momento em que ela acontece. As circunstâncias que a cercam são um testemundo eloquente da nossa miséria existencial. Estamos nos tornando piores a cada dia se continuamos a acordar e dormir com essas tragédias como se fossem apenas um fato como outro qualquer, capaz de gerar, no máximo, mais uma tocante e necessária manifestação do Movimento Rio da Paz. Enquanto isso a polícia parece seguir o padrão de combater o terror com mais terror, levando vidas inocentes pelo caminho, a mãe de apenas 24 anos com o bebê no colo ou o menino de 15 anos que mal merece manchete nos jornais. A minha amiga, acostumada a dureza do seu ofício, contou que chorou muitas vezes diante daquelas imagens. Chorou por todos nós.

(Atila Roque, 28/10/2009)
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2 comentários:

Atila Roque disse...

Obrigado pela citação Lúcio!

Seria legal inserir o endereço do Opinativas < www.opinativas.wordpress.com >, caso alguém tenha curiosidade de conhecer o blog. Continuamos a conversar.

Um grande abraço.

Atila

Tene Cheba. disse...

Estamos reduzidos a parâmetros.E quais são?
Quantos morreram ano passado, quantos homicídios, quantos assaltos? Aumentou? Reduziu?
O Estado não se importa comigo, partícula, entre milhões de partículas, minha trajetória, se feliz, ou, trágica, não deramarão nenhuma lágrima por mim. Até que a brisa passe, outras brisas virão, e, nenhuma tristeza irá se acumular.
Não chore Baby.