4 de novembro de 2009
Samuel Beckett
Imagem interessante postada no blog
http://imagesvisions.blogspot.com/ de hoje.
A foto é de Vik Muniz.
“Abro a porta da cela e vou. Estou tão curvado que só vejo meus pés, se abro os olhos, e entre minhas pernas um punhado de poeira escura. Me digo que a terra está apagada, ainda que nunca a tenha visto acesa. (pausa) É assim mesmo (pausa) Quando eu cair, chorarei de felicidade”, disse Clov.
O trecho acima é do livro Fim de Partida, escrito pelo genial Samuel Beckett (1906-1989). Nascido na Irlanda, Samuel Beckett foi dos mais influentes escritores do século 20, com uma obra que inclui contos, poesia, romances como Malone Morre e peças como Esperando Godot. Recebeu o Nobel de literatura em 1969.
Os pais de Samuel Barclay Beckett eram protestantes. Ele estudou na escola real em Enniskillen (onde Oscar Wilde também havia freqüentado). Foi lá que começou a aprender o francês, uma das suas línguas preferidas.
Excelente atleta, Beckett foi jogador de tênis e boxeador. Embora gostasse de esportes, sua atenção estava voltada aos estudos acadêmicos. Aos 17 anos entrou para a faculdade, e se aprofundou nos textos literários.
Outro assunto que influenciou o escritor, nos seus tempos de estudante, foi o cinema de comédia de Buster Keaton e Charlie Chaplin. Depois que se formou, Beckett viajou a Paris onde se encontrou com James Joyce, que se tornaria a sua maior referência literária.
Além de ter sido um dos assistentes favoritos de Joyce, Beckett construiu uma sólida amizade com o autor de Ulisses. Inspirado pelo círculo literário, de uma Paris repleta de novidades culturais, Beckett tinha encontrado nele a sua falange, que orientaria toda a sua obra.
Forçado a voltar a Irlanda, para resolver problemas pessoais, Beckett retorna a Paris em 1932, e por lá fica um bom tempo escrevendo novelas, contos e poesias. Nessa época, o escritor desenvolve uma voz própria e saí das sombras de Joyce para dar o seu próprio salto.
Por um bom período o escritor chegou a residir em Londres, com a intenção de fazer dinheiro, mas foi em Paris que ele se estabeleceu. Quando a cidade foi invadida em 1941, Beckett e Suzanne (sua esposa) juntaram a resistência e foram obrigados a refugiar-se no sul da França.
Com o fim da guerra Beckett se estabelece com Suzanne em Paris. A partir daí foram centenas de trabalhos realizados. Em 1977 começou a ter problemas de saúde, prejudicando sua produção literária.
No dia 17 de julho de 1989, ele perde Suzanne. O baque foi grande. No mesmo ano, 22 de dezembro, Beckett morre, deixando uma obra de inigualável valor artístico.
O livro Fim de Partida (Cosac & Naify; 176 páginas, R$30,00) peça em um ato, tem quatro personagens. Eles “giram em falso” entre a vida e a morte, numa decadência cinzenta que se arrasta sem chegar ao fim.
O livro é elegante, com capa dura e sobrecapa. A tradução é de Fábio de Souza Andrade. O interessante do Fim de Partida é a habilidade do texto que, ao estabelecer um jogo que contempla um desfecho “fácil”, com vitoriosos ou derrotados, se apóia em repetições e diálogos fragmentados.
Comungo com o escritor Bernardo Carvalho quando diz que gosta de literatura, e não de escritores. Abro uma exceção apenas para a figura de Beckett. Todas as suas fotos me dão a impressão de que ele era cauteloso na legitimidade humana. Me parecia extremamente honesto e franco, sem as afetações que sujam as auras de muitos escritores por aí.
Postado por Luiz Penna às 08:15
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