Um observatório da imprensa para a cidade de Bom Despacho e os arquivos do blog Penetrália
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Blognovela Penetrália: Os canibais estão na sala de jantar
Blognovela Penetrália, número...the torture never stops!
Episódio de réveillon: Os canibais estão na sala de jantar
(Sala de jantar. Os convidados estão a postos: Calígula está na cabeceira, de bata e coroa de louros; Vampiro Brasileiro é o garçon, enquanto Coffin Joe, Cintia Lennon Claude Diet Fábio Pipipi, Joseph Waltcheco, Divo da Eira são os convidados).
Coffin Joe: não são os mesmos velhos procedimentos, não. Hoje vamos comer algo unglauber.
Calígula: comer, fazer uma grande orgia e morrer?
Vampiro Brasileiro: o Serra, Vampiro Brasileiro, reich, putsch (faz sons ameaçando uma cuspida com desprezo).
Coffin Joe: vai passar uma minissérie sobre Dalva de Oliveira e Herivelto Martins de Maria Adelaide Amaral, sabe Calígula? Eu comprei a trilha sonora daquela da Maysa. Mautner e Maysa transaram? Eu vi uma minissérie da Maria Adelaide onde o personagem ia à Semana de Arte Moderna, era sobre um sopro no coração sabe, mas não tinha nada a ver com Clarice Lispector não, sabe, dizem que a mãe dela foi estuprada num pogrom na Ucrânia. Mas, falando da minissérie. O personagem via quadros da Semana e dizia que tinha visto, em Paris, exposições bem mais avançadas. Isso em 1922. Achei que foi como se Gerald Thomas tive saído num túnel do tempo e falasse pela boca daquele personagem. Aliás, hoje vamos comer torresmo, feijoada, tutu com torresmo, comida mineirinha, tá...
Calígula: Cocô não, já te disse Joe, porco come cocô.
Coffin Joe: Pois é. Pois é. Mas vamos agora para algo totalmente diferente, né? Você quer comer as receitas do Joseph Waltcheco?
Joseph Waltcheco: eu tive de engolir meus personagens, quero comer o crítico de teatro, o doido varrido, o Pato Donald no tucupi, sabe? Rabada, rabada com Lula e creme de limão, misturas instigantes, nouvelle cuisine.
Divo da Eira: eu li O Sexo do Crepúsculo do Jorge Mautner e ao ler aqueles dois soldados fazendo sexo no crepúsculo, eu me lembrei do meu pai na Wehrmacht e no partido comunista alemão e ao mesmo tempo eu quis assar um polvo imbecil; é como a frase de Hitler: ou é o escudo dourado dos germanos ou a escuridão do bolchevismo asiático e Mautner mostrou nesse livro que assim foi na Europa Oriental. Mautner transou com Maysa, foi mais um na multidão de amores.
Vampiro Brasileiro: assar polvo não, imbecil! Qualquer lugar para você é melhor do que o Brasil. Você tá se a-Sean-do? Isso é confusão mental! Vou pedir indenização de um milhão de dólares por propaganda desse software sempre livre nazi-stalinux aqui. Nazi-stali-heitorista-reinaldista-dilmista.
Fábio Pipipi: PI..pi...pi...agora Benazir Buto e Odete Roitman, as duas bichas, viraram Vampiro Brasileiro e Calígula! Voltem para o reduto, me enganem que eu gosto. Você viram o filme Bruno, do Sacha Baron Cohen? Aquilo é humor judeu? Vocês vieram da Áustria para serem popstars mais famosas que Hitler?
Coffin Joe: que tal uma Lula ao creme marinado? Marinado com maionese de marienne.
Cintia Lennon: isso de Lula para lá, Lula para cá, tou enjoada de Lula. Prefiro Lennon ou até mesmo Lênin.
Claude Diet: Eca! Eca com Creta! Comam pouco, mas não comam porco!
Coffin Joe: tem uma história que queria contar. Eu tinha um colega que fazia, diziam, loucuras bissexuais e ouvia Philip Glass. Ele montou Nietzsche, o Louco Poeta da Punheta. Começavam com Nietzsche se masturbando. Depois, teve um dia que um espetáculo meio maluco no Centro Cultural da UFMG e o diretor se parecia com Gerald Thomas, mas não era e...
Calígula: você já me cocô...digo, já me contou essa história. Mas nós viemos aqui para jantar nossos mortos. Somos os canibais na sala de jantar. Essa imagem de Gerald Thomas que você repete é horrível, essa imagem está morta, entendeu? É pura imagem, entendeu? UNGLAUBER?
Coffin Joe: Glauber. Ghost Writer. Suicide Notes. Beckett speaks. Einmalisch!
(Pano rápido. Trevas).
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Zabriskie Point: cena final
Cena comentadíssima e estudada, na UFMG, pelo professor César Guimarães, por exemplo. Muito poética! Adoro!
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El Topo, Jodorowsky
Encontrei essa dica de filme lendo Verdes Vales do Fim do Mundo, do Antônio Bivar, diretor de teatro que passou um ano em Londres entre 1970 e 71 e escreveu esse livrinho encantador, depois de ter convivido com Caetano Veloso, Jorge Mautner, Julinho Bressane, Sganzerla e visto shows de Grateful Dead e outros conjuntos daquele tempo. Ele não gostou desse filme. Eu adorei, é, digamos, um faroeste metafísico, farsesco e psicodélico, por essas imagens aí:
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Verdes Vales do Fim do Mundo
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Fernando Arrabal Bêbado dá Vexame
Já tinha ouvido falar nesse, mas o vídeo é engraçado mesmo...
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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Sou um Homem Morto
Muito bem: como é um homem morto?
Quem é que vê e prefere ver um homem morto?
Sou um homem morto.
Um poeta aniquilado.
Um poeta esfumado (bela conquista de Da Vinci - sfumato)
Muito bem: tenho poucas horas. Me procuram.
Sou uma espiral galáctica que se encerra e busca o núcleo, que se desfaz sobre si mesma, que se contém e logo explode.
Sou um homem morto e todos esperam a notícia. Apenas feito menor pela pobreza dos detalhes, a pobreza do obituário...me arde a pouca beleza do meu epitáfio.
Não mandarei cartas e revisarão de maneira póstuma o que agora escrevo.
Pouca profundidade deu o tempo ao fóssil e assim, os ossos foram pasto de museus, estudo para os sábios, folclore para os humanóides.
Levanto cedo e simulo ser cidadão. Mostro a todos a cicatriz dos cravos. Santo Tomás toma de novo sua lança, escava e apenas crê que a morte é o final de uma ilusão.
Sou um homem morto.
E ninguém acredita.
Fabrício Estrada (fabricioestrada.blogspot.com)
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Um Comentário do Cláudio: 3 cenas
mais uma fugida aqui pela lentox , e o domingo acabando , acabando meu tempo .
comi banana frita com chicabom derretido agora . prozac perde ...
bem só para me atualizar sobre o " 3-way on becket " :
cena 1 .
gostei de ler o texto do gerald e assistir ao video de beckett que o lucio publicou no seu site . uma opção de situação .
além da viagem artística , o video é revigorante . faz bem à saude . quer dizer , quem pode negar que jeremy irons é um verdadeiro complexo vitamínico para todos os sentidos ?
cena 2 .
do targino : " ... gorilas ... Existe um filme muito bom que trata desse assunto."
esperei alguém se manifestar sobre o filme " nas montanhas dos gorilas " , estrelado pela gigante sigorney weaver no papel da antropóloga que vai salvar os bichos das garras dos humanos malvados , e se dá mal .
" A notável aventura da primatologista Dian Fossey dentro habitat dos gorilas das montanhas de Ruanda. Em uma perfomance pela qual ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz dramática, Sigourney Weaver vive a carismática e imponente cientista, dona de uma determinação desmedida - que ao longo de sua vida foi sua força, mas que talvez tenha sido um dos elementos que culminaram em seu trágico assassinato . "
pois é : a cena mais comovente do filme é quando Dian recebe uma surpresa . ela não sabe ainda , mas foi enviado pelos traficantes de peles e etceteras de gorilas como ameaça .
é uma caixa de presente com as mãos decepadas da mamãe-gorila do bando que ela estudava . não lembro se estavam embrulhadas na " seda azul do papel que envolve a maçã " do caetano veloso .
mas da cena e da música , o GV lembrou , e eu também .
cena 3 .
" ashes to ashes , dust to dust ... "
comi banana frita com chicabom derretido agora . prozac perde ...
bem só para me atualizar sobre o " 3-way on becket " :
cena 1 .
gostei de ler o texto do gerald e assistir ao video de beckett que o lucio publicou no seu site . uma opção de situação .
além da viagem artística , o video é revigorante . faz bem à saude . quer dizer , quem pode negar que jeremy irons é um verdadeiro complexo vitamínico para todos os sentidos ?
cena 2 .
do targino : " ... gorilas ... Existe um filme muito bom que trata desse assunto."
esperei alguém se manifestar sobre o filme " nas montanhas dos gorilas " , estrelado pela gigante sigorney weaver no papel da antropóloga que vai salvar os bichos das garras dos humanos malvados , e se dá mal .
" A notável aventura da primatologista Dian Fossey dentro habitat dos gorilas das montanhas de Ruanda. Em uma perfomance pela qual ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz dramática, Sigourney Weaver vive a carismática e imponente cientista, dona de uma determinação desmedida - que ao longo de sua vida foi sua força, mas que talvez tenha sido um dos elementos que culminaram em seu trágico assassinato . "
pois é : a cena mais comovente do filme é quando Dian recebe uma surpresa . ela não sabe ainda , mas foi enviado pelos traficantes de peles e etceteras de gorilas como ameaça .
é uma caixa de presente com as mãos decepadas da mamãe-gorila do bando que ela estudava . não lembro se estavam embrulhadas na " seda azul do papel que envolve a maçã " do caetano veloso .
mas da cena e da música , o GV lembrou , e eu também .
cena 3 .
" ashes to ashes , dust to dust ... "
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domingo, 27 de dezembro de 2009
A "Mongalisa"
Mana Lisa
Por um anônimo
12" x 16"
Doado A. Schmidt, Vancouver, Canada
Uma interpretação transgêneros do clássico de Da Vinci.
O nariz de "Mongalisa" nos impacta, nebuloso, fornecendo um diálogo entre o primeiro plano e o evanescente fundo da tela.
Posteriormente, decifrando o título do trabalho, talvez possamos contribuir com um anagrama para enriquecer o corpo do trabalho do Leonardo:
MAN ALIAS,
I AM NASAL,
A SAIL MAN,
AS ANIMAL,
AM A SNAIL,
MAIL NASA...
Fonte: Museum of Bad Arts, Boston
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Uma Carta de Ezyr (II)
Meu caro AMIGO INTERLOCUTOR E COLEGA DE "CRÍTICA CONSTRUTIVA!" E "CULTUAÇÃO APAIXONADA" pela OBRA E PRESENÇA-IMAGEM de nosso MESTRE TEATRAL COSMOPOLITA Sr. GERALD THOMAS SIEVERS!!!
O SR. Gerald THOMAS , na PEÇA , faz UMA METÁFORA do CHOCOLATE com O "GELO" dos icebergs DOS PÓLOS de nosso PLANETA TERRA MAMÃE que ESTÃOOOOO DERRRETENDO...e daqui 07 ANOOOOO...07 = SETE anos segundo RELATÓRICO GLOBAL, tudo vai FICAR + CRÍTICO se OS PÁISES EMISSORES DE GÁS CARBÔNICO E GASES NOCIVOS não "entraram NUM ACORDO MÚTUO DE CONSCIÊNCIA DA PRESERVAÇÃO DE TUDO DA VIDA nesse nosso PLANETA TERRA-MAMAÃE, entende??????
p.s OKEY, entendi sUA "HIPERBOLICE---kikikikikiahaahaaaaahhh".BYEEEE AND SAUDAÇÕES my DEAR PHILOSOPHER AND TRANSLATOR AND WRITER LUCIO JR.!!! Ezir MIRIAM de PAIVA
P.S 2. VOU ESCREVER SOBRE A PEÇA LOGO LOGO. TE ENVIO, OKEY???? KINDEST GREEETINGS...MERRY X-MASSSS AND HAPPY NEW YEAR 2010, YEAH!!!!
Minha resposta: Ezyr, seu estilo original apontou CAMINHOS para mim, para essa nova forma de expressão que são os BLOGS! VC é intersemiótica E ultrasensível, admiro-te como Bridget, Astronauta de Júpiter e tudo! Abs e feliz ano novo!
Eu gostaria também de pedir: fale sobre o Ohio Impromptu. Como disse, estou ainda aprendendo sobre Beckett!
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sábado, 26 de dezembro de 2009
Vampirotheutis Infernalis
O meu ex-professor Rodrigo Duarte está lendo um livro de Vilém Flusser intitulado Vampirotheutis Infernalis, texto inspirado nessa Lula de olhos azuis aí da foto, que na natureza atinge grandes tamanhos.
Rodrigo comenta que Vilém parte da descrição taxonômica dessa espécie que habita as profundezas abissais para atribuir-lhe características semelhantes àquilo que, em sua filosofia da comunicação, aparece com o nome de "tecnoimagem". A principal diferença seria que espécie humana demorou milênios para produzir culturalmente o que Vampirotheutis tem impresso em sua própria natureza.
(Baseado na nota "o que eu estou lendo", da revista Cult número 142).
Salmo a la muerte ojos azules - Alberto Destephen, Honduras
La muerte está en su regazo,
ojos claros, cabello blanco,en cadena de televisión
entonando el nombre de dios.
Vitupera el sacrificio,los corderos están en la listadel general.
Magia negra, anticristo.
La Democracia llora lágrimas negras,
sangra en un puñal
en nombre de la rosa.
Mientras, la muerte esculpe su diadema.
Cadena nacional, loros en alambres,máquinas en las calles color verde.
Cadena nacional,
se condecora al hombre ojos azules,
cabello blanco.
Dios , Oh Dios , Oh Jehová,
Yave.
Dime tu nombre verdadero. El circo esta montado;
llora Pilatos y se lava las manos con agua tibia y jabón,
y pin pon es un muñeco de trapo y de cartón.
La muerte ojos azules
se arrodilla
al perdón del carde mal, al aplauso del rebaño;
todos los intrusos de vidrio cantan al unisonó:“Dios es ojos azules, cabello blanco”.
Es cadena nacional
Las escenas están listas, el director suena su trompeta,
el general conduce los destinos.
Indefensión, la muerte de la justicia, de la paz y la libertad.
Cadena nacional
Televisores a diez por uno…Se ofrece un canal,
todas las películas de terror,con el mismo director,
ojos azules, cabello blanco y actores consumados,
dobles y asesinos.
Y de las cinco en adelante no se moverá de su asiento,
hombres verdes vigilarán las calles y escenarios.
La Muerte en su escritorio
enumera a sus analistas,
presupuesta la planilla.
Pero es el sur que tiene mar,
Progresa la conciencia en tierra inmensa;
David vence a Goliat. Dios ven a nosotros,
Libra de todo mal a las almas puras;
líbranos de todos los que nos quieren silenciar
por amar la verdad, la justicia y la democracia.
Auxílianos;
es el juicio del fin, el círculo de los nueve y la bestia de las 128 cabezas.
Venga tu Reino Señor.
Danos a todos el pan de cada día,
aquello por lo que luchamos,
por los que resistimos;
porque ahora es la hora
Recemos , es la vigilia por Patria ,
pequeña niña….
por los siglos de los siglos. Amen.
Fonte: fabricioestrada.blogspot.com
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Vampirotheutis Infernalis
Ohio/Denmark Improptu
DENMARK IMPROMPTU
Uma peça imaginária
CENA 1
Por Gerald Thomas
(A e B, dois filósofos "verdes", irlandeses, sentados numa conferência mundial, dispostos a salvar o mundo. Líderes mundiais discursam inutilidades. O diálogo abaixo acontece enquanto Tony Blair justifica, sorrindo, sua "invasão" do Iraque, com ou sem "weapons of mass destruction".
A- A imaginação não dava quando dava, quilos de queijo, quilos de porcos, quilos de manteiga, e eu caminhava e rastejava uns bons bocejos quando....
(B bate mão na mesa, interrompe)
B- Quando uma face na multidão surgiu e deu-lhe um Berluscão na boca e no nariz.
A- Sangrou?
B- Pouco.
A- Hmm.
A- Não o quanto deveria.
B- Hmmm.
A- Deveria ter escorrido rios. Já que Lindsay Kemp, na Toscana dos céus divinos, via atentamente, sentado, meditando sobre a palavra ausente... a mente ausente e o gesto presente... Berluscar! O ato de Berluscar. Mão direita no nariz e na boca PUM, e PIM e PAM, e a "g-o-t-a" de s-a-n-g-u-e!
B- Nada sabem sobre o balé das gerações ou sobre o triste fim das interpretações do fim ou o FIM.
A- Nada sabem de mais nada. Agora só sabem de tudo.
B- O chocolate derretendo aqui em Copenhague dois centímetros a cada década.
A- Para ser preciso, dois centímetros e três milímetros de chocolate derretendo a cada década em Copenhague, digo, as barras do mundo e a supremacia dos países e a imaginação morta imaginando-se capaz de incubar icebergs, e cubos imaginando-se ao quadrado.
B- Em Fermanagh, até ainda...
A- Chocolate?
B- Sim, mas rouba-se da Páscoa até o Natal, quando nasci/ morri e me imaginei na faixa de pedestre em Hampstead, onde o Alan foi morto por um ciclista. Cinza esse dia.
A- Foxrock nada tem e nada foi, a não ser a mão de meu pai, mesmo que o...
B- ...O "socoBerlusco" faça com que Pozzo segure a corda de todos os escravos do mundo.
A- "Taramosalata" que foi só o que os gregos nos deram e foi somente isso mesmo, somente só, nesse mundo só, onde somente estamos sós, uma breve passagem só, passando pelos hema-Thomas e outras feridas e furúnculos da pus ao pós, até o fim, só.
A- Aquela alemã hoje não sabe mais distinguir o pão de um tijolo ou tijolo da areia, ou a areia de um montinho de terra. Cinza.
B- Nada como ver essa tragédia de derretimento como a camada de choco-ozônio de CO2. Caminhando como estamos, sós, rastejando como vamos, iremos para o Dante escuro, nenhuma luz, nenhuma única luz, nem em diâmetro, nem em largura, somente a espessura do soco Berlusco poderá nos dizer no futuro o quão grotesco fomos aqui neste, durante este...
A- (bate, interrompe)
CENA 2
Por Gabriel Villela
(A e B agora juntam-se a C, D, E, F, G, H, I e J. Observam a entrada do Sr. KdeKing. Ele representa a entidade CongoOng. Coloca uma caixa de ébano sobre a mesa. Os conferencistas observam. De dentro dela, da caixa preta, e embrulhadas em papel de seda, destes que embrulham maçãs, saem duas mãos de gorila, que iniciam uma percussão. Ponto de Iansã.)
Cai a luz.
A videoconferência
No telão gigante, imagens ao vivo de um gorila agonizante amarrado a uma maca da Cruz Vermelha (close em seus olhos lacrimosos, depois somente a imagem de sua boca). Nota-se que faltam-lhe alguns dentes. Ele fala muito baixo, com dificuldade respiratória. De vez em quando, ele tenta erguer os braços de onde foram decepadas suas mãos.
Gorila (sussurrando)-IKÚUUUUUUUUUUUUUU-UUUUUUUUUUUUUUUUU-UUUUUUUUUUUUUUUUUU-
urrrrrrrmahhhh,rooooouhuuuuummmurrrrrrrrr-
rrrrrrrrrrrimahhhhharrrrrrkrafuuuuurhrrrrrrhuuuuuuu-
uuAiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiqhee-doorrrrrrr!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!ahahahahaahaha-
hahaahahahahahahahah,uhrhuruhrrhurmm-
mmmmmmmOLOROGUMOGUMO GUMMMMMMMM
Tradutora cor de rosa- Ele está dizendo que dói muito e pergunta se alguém aqui tem morfina para lhe dar. (quebrando a educação e gritando com as mãos do gorila) Dá pra parar um pouco? (as mãos continuam o ponto de Iansã. Homens verdes, involuntariamente, começam uma percussão com a boca, batendo e rangendo os dentes)
A morte do gorila
Gorila (fazendo termo)-ARÚMMMMMMMMMMMM-MARÚMMMMMMMMMM-MMMARÚMMMM MMMM-MMMMM-YEWÁ!!!!!!!vmphlufannnnnnhhhhhhhhhhhhrossssss,
ahhhhahhhhhhhaaiahhhhahahahahhhohrrohoooooohhhhorrrrrrrooo
-ô-ooodooor!!!!!!!!!!!!!!.Uuuuu!
Tradutora (em voz já mais controlada)- Senhor macaco, de acordo com as regras da conferência, o senhor tem mais 28 segundos para encerrar seu discurso. (atacada do sistema nervoso, ela berra) Alguém aí da organização pode controlar estas patas?! CARRRRALHO!!!!!!!
(o gorila agora tampa os olhos com seus braços cortados, abre a boca, tenta pronunciar um nome... um silêncio de morte)
Gorila-Ikúúú.................. ...................................
Hans Christian...an-an-nder-sen! (morre)
(O par de mãos aplaude freneticamente durante os sete segundos restantes. Muita luz sobre os homens verdes.)
CENA 3
Por Rubens Rusche
(Forte explosão. Escuridão. Longuíssima pausa. Silêncio absoluto. Gradualmente, a luz retorna, mas muito fraca. Poeira e ruínas. Tudo cinza. Ninguém. Longa pausa. Voz em "off" de um homem muito velho, moribundo. Ritmo sempre lento, voz muito baixa, no limite do inaudível.)
Voz
Loucura.
(Pausa)
Tudo isso.
(Pausa)
Loucura.
(Pausa)
Tudo isso aqui.
(Pausa)
Ter visto tudo isso aqui.
(Pausa)
E ouvido.
(Pausa)
Ter ouvido tudo isso aqui.
(Pausa)
Loucura.
(Pausa)
Visto, não. Entrevisto. Toda essa loucura. Mal visto e mal ouvido.
(Longa pausa)
Tudo acabado agora.
(Pausa)
Explodido.
(Pausa)
Só restaram ruínas.
(Pausa)
Cinzas.
(Pausa)
Mas o sol -
(Pausa)
Não tendo outra alternativa, o sol brilhou sobre o nada de novo.
(Longa pausa)
Loucura.
(Aos poucos, nas ruínas e no meio da poeira, surge um crânio. Gradualmente, a luz vai se extinguindo, até restar apenas um foco no crânio. Longa pausa. Silêncio. Foco se extinguindo ao som de uma longa expiração. Cinco segundos. Escuridão e silêncio absolutos.)
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terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Beckett is Back: Reencarnando Beckett!
Board to Death, Museum of Bad Arts, Boston
(Cenário: terreiro de umbanda. Música: Cancro Molly, de Satanique Samba Trio. Personagens: Pózzon de Higgs, Cacilda Beckett e Preto Velho).
Preto Velho: É, Mizifi, vô vê se vai dá prá baixá o Samuer para você, tá? (Toma um gole de cachaça e dá um trago em um beck).
Pozzón: Metateatro.
Preto Velho (baixando o santo): Não.
Pózzon: intrateatro?
Preto Velho: sim.
Pózzon: O tempo...voraz monstro janusiano...o hábito e a rotina...coleiras que atam os sujeitos a seu vômito...o indivíduo como acúmulo de eus mortos...superpostos como as camadas de uma cebola...
Preto Velho: Nada é mais engraçado do que a felicidade.
Cacilda Beckett: Estamos sobre um platô. Me segura que vou dar um troço!
Pózzon(imitando o trapalhão Mussum): colisão de hádris, Cacilds!
Cacilda: Estou acabada. A bota. Não entra. Não sei se ela diminuiu ou se foi o pé que cresceu.
Preto Velho: a fornalha de luz infernal! A santa luz! Alguém está olhando para mim ainda. Olhos nos olhos.
Pózzon: eu quero a partícula Deus! Particularmente.
Cacilda: quem está no palco? O que está acontecendo?
Preto Velho: Então voltei para casa, e escrevi. É meia-noite. A chuva está batendo nas janelas. Não era meia noite. Não estava chovendo.
(Um som ao fundo: Ping! Surge uma TV sem imagem, desintonizada)
Pózzon: Vamos ao que interessa. Beckett, você morreu há vinte anos, tem algo a acrescentar? Por que você escreve?
Preto Velho: (Olha o outro em silêncio e responde lentamente): só sirvo para isso.
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terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Poema de Fernando Pessoa citado por César Benjamin
O artigo de César Benjamin virou um "trenzinho" repugnante: César enraba Lula que enraba o Menino do MEP que nega ter sido enrabado por Lula e que acha que é tudo uma coisa da Folha e do PSDB para enrabar o PT que enrabou Cezinha que é enrabado por Paulo Henrique Amorim onde Manoel denuncia que na Suécia fofocavam que Cezinha tinha sido enrabado na prisão e que não quer assumir que foi enrabado e por isso tenta enrabar Lula que é enrabado por Calligaris enquanto o Observatório da Imprensa de Alberto Dines enraba a Folha e por aí vai...
Ufa! Aí vai O poema citado pelo César Benjamin no polêmico artigo:
Aniversário
Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)
[473]
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
15/10/1929
Ufa! Aí vai O poema citado pelo César Benjamin no polêmico artigo:
Aniversário
Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)
[473]
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
15/10/1929
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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
A Importância do Caminho Torto de Hemingway
GERALD THOMAS
É perturbador ler Estranha Tribo de John Hemingway. Mas eu digo isso com a melhor das intenções. Muito da literatura em nossa história não é objeto confortável de contemplação. Strange Tribe é uma estranha trip, ou talvez, uma odisséia; uma mistura disfuncional de fracassos familiares de um homem contra sua imagem ao avesso. John, ao contrário de seu pai e avô, é um contador de histórias “normal”, sobrevivente e capaz de contar essa fascinante história de família num jeito simples e quase irônico, depois de ter vivido e visto dias e noites a si mesmo e ao pai através do espelho quebrado de um circo de horror.
É um forma irônica de explicar o que parece inexplicável. Esse livro pode até não ter o impacto conceitual no leitor que possui a vida e obra de Oscar Wilde, mas é provavelmente a primeira coisa que vem à mente, assim como os trocadilhos. Ernest Hemingway era o ideal de masculinidade para seu filho, e depois de muitas falhas em ser bem sucedido como o pai (obcecado como era com o paizão, um escritor famoso), fracassou no sentido lato da palavra. Kafka vem à mente. Sua famosa Carta ao Pai, quero dizer.
Mas Strange Tribe não é certamente escrita para ser interpretada como uma tragédia ou um melodrama. Existem tantas passagens engraçadas. Eu disse engraçado? Sim, engraçado, emocionante, quente, são espantosas imagens da condição humana e, é claro, instantes das vidas (são tantas) que encontraram pela frente esse touro que era Ernest Hemingway. É difícil não notar o estresse com que John faz a descrição de seu pai Greg, sua luta contra a depressão e o próprio fato de que nascera na Grande Depressão. Culpado do suicídio de Ernest em 1961, Greg acabou trocando de sexo: outro movimento que parece fictício, uma curta história curta para uma vida tão curta. Greg Hemingway morreu como mulher.
A importância de ser doidão
Tanto desentendimento aqui em sua família, tanta natureza aqui que eu às vezes me vejo imerso no mundo de outro irlandês: mundo de Samuel Beckett e seu texto “Primeiro Amor”, que é um texto sobre o momento quando uma mão de criança toca a mão do pai, mas sem qualquer outro significado que possa ser tirado. Pai e filho apertando as mãos, claro e simples. Mas não é justifável somente pelo amor. Antes de ler o livro, eu pensava em Hemingway como um lutador de boxe, um toureiro. Um homem que tinha um relação de amor e ódio com América e amava Cuba, tendo trabalhado de repórter na Guerra Civil Espanhola. Depois de Strange Tribe, eu penso que em Greg em um trocadilho com Guernica, de Picasso: Greg-nica, com sua claustrofobia e uma solitária lâmpada pendurada através das sombras, assim como é duro perder a guerra contra seu pai. Talvez eu tenha lido o livro de cabeça para baixo. Talvez o livro seja um acerto de contas com uma luta familiar, talvez eu o tenha tomado como uma obra-prima de construção/desconstrução, assim como do desconforto que as melhores obras literárias em nossa história precisam ter.
Gerald Thomas é diretor teatral
É perturbador ler Estranha Tribo de John Hemingway. Mas eu digo isso com a melhor das intenções. Muito da literatura em nossa história não é objeto confortável de contemplação. Strange Tribe é uma estranha trip, ou talvez, uma odisséia; uma mistura disfuncional de fracassos familiares de um homem contra sua imagem ao avesso. John, ao contrário de seu pai e avô, é um contador de histórias “normal”, sobrevivente e capaz de contar essa fascinante história de família num jeito simples e quase irônico, depois de ter vivido e visto dias e noites a si mesmo e ao pai através do espelho quebrado de um circo de horror.
É um forma irônica de explicar o que parece inexplicável. Esse livro pode até não ter o impacto conceitual no leitor que possui a vida e obra de Oscar Wilde, mas é provavelmente a primeira coisa que vem à mente, assim como os trocadilhos. Ernest Hemingway era o ideal de masculinidade para seu filho, e depois de muitas falhas em ser bem sucedido como o pai (obcecado como era com o paizão, um escritor famoso), fracassou no sentido lato da palavra. Kafka vem à mente. Sua famosa Carta ao Pai, quero dizer.
Mas Strange Tribe não é certamente escrita para ser interpretada como uma tragédia ou um melodrama. Existem tantas passagens engraçadas. Eu disse engraçado? Sim, engraçado, emocionante, quente, são espantosas imagens da condição humana e, é claro, instantes das vidas (são tantas) que encontraram pela frente esse touro que era Ernest Hemingway. É difícil não notar o estresse com que John faz a descrição de seu pai Greg, sua luta contra a depressão e o próprio fato de que nascera na Grande Depressão. Culpado do suicídio de Ernest em 1961, Greg acabou trocando de sexo: outro movimento que parece fictício, uma curta história curta para uma vida tão curta. Greg Hemingway morreu como mulher.
A importância de ser doidão
Tanto desentendimento aqui em sua família, tanta natureza aqui que eu às vezes me vejo imerso no mundo de outro irlandês: mundo de Samuel Beckett e seu texto “Primeiro Amor”, que é um texto sobre o momento quando uma mão de criança toca a mão do pai, mas sem qualquer outro significado que possa ser tirado. Pai e filho apertando as mãos, claro e simples. Mas não é justifável somente pelo amor. Antes de ler o livro, eu pensava em Hemingway como um lutador de boxe, um toureiro. Um homem que tinha um relação de amor e ódio com América e amava Cuba, tendo trabalhado de repórter na Guerra Civil Espanhola. Depois de Strange Tribe, eu penso que em Greg em um trocadilho com Guernica, de Picasso: Greg-nica, com sua claustrofobia e uma solitária lâmpada pendurada através das sombras, assim como é duro perder a guerra contra seu pai. Talvez eu tenha lido o livro de cabeça para baixo. Talvez o livro seja um acerto de contas com uma luta familiar, talvez eu o tenha tomado como uma obra-prima de construção/desconstrução, assim como do desconforto que as melhores obras literárias em nossa história precisam ter.
Gerald Thomas é diretor teatral
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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Fragmentos de um Discurso Horroroso: Lula, Benjamin, Calligaris, Pasolini, Gramsci
Contardo Calligaris, em artigo a respeito da sórdida polêmica César Benjamin/Lula, citou hoje Pier Paolo Pasolini em artigo na Folha de São Paulo. O artigo é para fundamentar o argumento "a boçalidade não é prerrogativa de classe", compartilhado até por um Reinaldo Azevedo, ou melhor, desculpa para um Reinaldo Azevedo rebater críticas a Lula que seriam dirigidas a toda uma classe social.
Calligaris queria dizer que não só a burguesia é boçal, mas o operário também pode ser, ou a classe operária; Lula, apesar da origem operária, pode agir como um boçal, dizendo numa piada que, em carência sexual, traçaria qualquer um, mesmo à força, esse é o argumento de Calligaris, utilizado em diálogo com os leitores. Uma tentativa rasa de psicanalisar o episódio e ajudar a Folha a não ser "enrabada" junto aos leitores. Ao tentar tirar o seu reto da reta, Calligaris faz com que a baixaria renda ainda mais; o assunto fede. Mas precisamos enfiar a mão na merda, mas depois tem recompensa, tem poesia. Vejamos.
Aliás, o que diria Pasolini de um episódio assim? Ele poderia psicanalisar Lula. Lula queria "enrabar" simbolicamente Benjamin com essa piada, pois Benjamin é bonito e Lula não é, mas acabou, agora, muitos anos depois, "enrabado" politicamente por ele, de surpresa, em seu momento mais feliz, aquele em que ele está construindo uma estátua de si.
Para mim, o escândalo não está no fato em si, na tentativa de estupro em si, que, pesquisada, não rendeu, não se confirmou, mas no episódio particular tornado arma política. Lula merece essa "enrabada" simbólica? Talvez ele sinta agora, como um personagem de Jabor em seus filmes, "um macho canalha morrendo dentro de mim". Ou não!
Pasolini talvez dissesse que a boçalidade do burguês é algo muito mais profundo, estrutural e sistêmico do que a estupidez ou a grosseria do proletário. Lula é um espetáculo repugnante aos olhos de um olhar que tome o ponto de vista da classe operária: um ex-operário que é tão irresponsável com os interesses da classe trabalhadora quanto a crítica infeliz de César Benjamin, que só tem o mérito de abrir o debate sobre O Filme Filho do Pai dos Pobres do Brasil, mais nada.
Depois de debater esses "fragmentos de um discurso horroroso", passemos para um poema do livro citado por Calligaris:
03 Novembro 2008
pier paolo pasolini / as cinzas de gramsci
IV
O escândalo de me contradizer, de estar
contigo e contra ti; contigo no coração,
à luz do dia, contra ti na noite das entranhas;
traidor da condição paterrna
- em pensamento, numa sombra de acção –
a ela me liguei no ardor
dos instintos, da paixão estética;
fascinado por uma vida proletária
muito anterior a ti, a minha religião
é a sua alegria, não a sua luta
de milénios: a sua natureza, não a sua
consciência; só a força originária
do homem, que na acção se perdeu,
lhe dá a embriaguez da nostalgia
e um halo poético e mais nada
sei dizer, a não ser o que seria
justo, mas não sincero, amor abstracto,
e não dolorida simpatia…
Pobre como os pobres, agarro-me
como eles a esperanças humilhantes,
como eles, para viver me bato
dia a dia. Mas na minha desoladora
condição de deserdado,
possuo a mais exaltante
das poses burguesas, o bem mais absoluto.
Todavia, se possuo a história,
também a história me possui e me ilumina:
mas de que serve a luz?
Calligaris queria dizer que não só a burguesia é boçal, mas o operário também pode ser, ou a classe operária; Lula, apesar da origem operária, pode agir como um boçal, dizendo numa piada que, em carência sexual, traçaria qualquer um, mesmo à força, esse é o argumento de Calligaris, utilizado em diálogo com os leitores. Uma tentativa rasa de psicanalisar o episódio e ajudar a Folha a não ser "enrabada" junto aos leitores. Ao tentar tirar o seu reto da reta, Calligaris faz com que a baixaria renda ainda mais; o assunto fede. Mas precisamos enfiar a mão na merda, mas depois tem recompensa, tem poesia. Vejamos.
Aliás, o que diria Pasolini de um episódio assim? Ele poderia psicanalisar Lula. Lula queria "enrabar" simbolicamente Benjamin com essa piada, pois Benjamin é bonito e Lula não é, mas acabou, agora, muitos anos depois, "enrabado" politicamente por ele, de surpresa, em seu momento mais feliz, aquele em que ele está construindo uma estátua de si.
Para mim, o escândalo não está no fato em si, na tentativa de estupro em si, que, pesquisada, não rendeu, não se confirmou, mas no episódio particular tornado arma política. Lula merece essa "enrabada" simbólica? Talvez ele sinta agora, como um personagem de Jabor em seus filmes, "um macho canalha morrendo dentro de mim". Ou não!
Pasolini talvez dissesse que a boçalidade do burguês é algo muito mais profundo, estrutural e sistêmico do que a estupidez ou a grosseria do proletário. Lula é um espetáculo repugnante aos olhos de um olhar que tome o ponto de vista da classe operária: um ex-operário que é tão irresponsável com os interesses da classe trabalhadora quanto a crítica infeliz de César Benjamin, que só tem o mérito de abrir o debate sobre O Filme Filho do Pai dos Pobres do Brasil, mais nada.
Depois de debater esses "fragmentos de um discurso horroroso", passemos para um poema do livro citado por Calligaris:
03 Novembro 2008
pier paolo pasolini / as cinzas de gramsci
IV
O escândalo de me contradizer, de estar
contigo e contra ti; contigo no coração,
à luz do dia, contra ti na noite das entranhas;
traidor da condição paterrna
- em pensamento, numa sombra de acção –
a ela me liguei no ardor
dos instintos, da paixão estética;
fascinado por uma vida proletária
muito anterior a ti, a minha religião
é a sua alegria, não a sua luta
de milénios: a sua natureza, não a sua
consciência; só a força originária
do homem, que na acção se perdeu,
lhe dá a embriaguez da nostalgia
e um halo poético e mais nada
sei dizer, a não ser o que seria
justo, mas não sincero, amor abstracto,
e não dolorida simpatia…
Pobre como os pobres, agarro-me
como eles a esperanças humilhantes,
como eles, para viver me bato
dia a dia. Mas na minha desoladora
condição de deserdado,
possuo a mais exaltante
das poses burguesas, o bem mais absoluto.
Todavia, se possuo a história,
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mas de que serve a luz?
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domingo, 6 de dezembro de 2009
Cesar Benjamin, Lula, Caetano, Filhos da Pátria que os Pariu
Algumas observações sobre esses assuntos recentes. A polêmica César Benjamin versus Lula: a pior posição é a esquerda independente, dizia o Glauber Rocha: apanha da esquerda oficial e da direita.
Benjamin é esquerda independente. Há muito vem criticando o governo Lula com bons argumentos, mas agora que fez uma observação pessoal na Folha, levantando a hipótese de Lula ter tentando forçar um garoto do Movimento da Esquerda Proletária na prisão em 1979, é que ele obtém repercussão. A mídia vende é com o escândalo, a baixaria é que é comentada. Triste, mas Benjamin vai continuar como importante crítico da esquerda pela esquerda. Lula já disse absurdos sobre a luta armada, dizendo que os guerrilheiros não deram conta nem de umas muriçocas. Ninguém se importou. Agora, Cezinha fez um ataque particular que pôs em polvorosa a militância petista e a base governista; ele fez despertar o fantasma da ex-mulher de Míriam em 1989, que com seu ataque pessoal devastou a campanha de Lula, assim como arrasou Lula psicologicamente, a olhos vistos.
Pena que ele não criticou a estética do filme do Lula, totalmente devedora da Globo e de suas telenovelas. Fora o anacronismo de colocar Zezé Di Camargo e Luciano como trilha sonora de acontecimentos dos anos 70. E isso, por sugestão política de gente do PT. Enquanto Dilma bate na Globo em seu blog, chamando os jornalistas da grande rede de tucanos, o filme de Lula transmite a mensagem contrária: produto audiovisual só dá certo com o melodrama sem distanciamento crítico algum da telenovela, filme nacional só dá certo copiando a estética subroliúde da Globo. É, Lula, as imagens falam por si!
Deve-se criticar Lula e seu filme: qual o legado teórico de Lula? Existe um certo obreirismo no PT, como subsequente mitificação da figura do operário? Que valores ou antivalores Lula representa? O filme ensina ao povo o quê, objetivamente, que ensinamento ele dá às massas? Ele simplesmente apela para que se mitifique um político, mostrando-o como um super-homem, dando a entender que se deve segui-lo e eleger a Mulher Maravilha que o Superman apontar?
Para fazer essa crítica tão necessária, deve-se evitar tanto o ataque particular de Cezinha (que, pelo menos, abre o debate sobre o filme de Lula) quanto o ataque boboca e confuso de Caetano Veloso, que insiste em dizer besteiras, agora dizendo que Lula não sabe conjugar "substantivos e artigos" (deveria falar em concordância nominal, conjugação é para verbos) e o pior, em Portugal. Caetano: não são os linguistas brasileiros que idealizam a fala de Lula, é você que idealiza, com a cabeça colonizada, o português de Portugal, desejando impô-lo aos brasleiros como o mais bonito, o mais chique, o mais elegante...
Benjamin é esquerda independente. Há muito vem criticando o governo Lula com bons argumentos, mas agora que fez uma observação pessoal na Folha, levantando a hipótese de Lula ter tentando forçar um garoto do Movimento da Esquerda Proletária na prisão em 1979, é que ele obtém repercussão. A mídia vende é com o escândalo, a baixaria é que é comentada. Triste, mas Benjamin vai continuar como importante crítico da esquerda pela esquerda. Lula já disse absurdos sobre a luta armada, dizendo que os guerrilheiros não deram conta nem de umas muriçocas. Ninguém se importou. Agora, Cezinha fez um ataque particular que pôs em polvorosa a militância petista e a base governista; ele fez despertar o fantasma da ex-mulher de Míriam em 1989, que com seu ataque pessoal devastou a campanha de Lula, assim como arrasou Lula psicologicamente, a olhos vistos.
Pena que ele não criticou a estética do filme do Lula, totalmente devedora da Globo e de suas telenovelas. Fora o anacronismo de colocar Zezé Di Camargo e Luciano como trilha sonora de acontecimentos dos anos 70. E isso, por sugestão política de gente do PT. Enquanto Dilma bate na Globo em seu blog, chamando os jornalistas da grande rede de tucanos, o filme de Lula transmite a mensagem contrária: produto audiovisual só dá certo com o melodrama sem distanciamento crítico algum da telenovela, filme nacional só dá certo copiando a estética subroliúde da Globo. É, Lula, as imagens falam por si!
Deve-se criticar Lula e seu filme: qual o legado teórico de Lula? Existe um certo obreirismo no PT, como subsequente mitificação da figura do operário? Que valores ou antivalores Lula representa? O filme ensina ao povo o quê, objetivamente, que ensinamento ele dá às massas? Ele simplesmente apela para que se mitifique um político, mostrando-o como um super-homem, dando a entender que se deve segui-lo e eleger a Mulher Maravilha que o Superman apontar?
Para fazer essa crítica tão necessária, deve-se evitar tanto o ataque particular de Cezinha (que, pelo menos, abre o debate sobre o filme de Lula) quanto o ataque boboca e confuso de Caetano Veloso, que insiste em dizer besteiras, agora dizendo que Lula não sabe conjugar "substantivos e artigos" (deveria falar em concordância nominal, conjugação é para verbos) e o pior, em Portugal. Caetano: não são os linguistas brasileiros que idealizam a fala de Lula, é você que idealiza, com a cabeça colonizada, o português de Portugal, desejando impô-lo aos brasleiros como o mais bonito, o mais chique, o mais elegante...
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