domingo, 30 de maio de 2010

Lista dos deputados que votaram contra os professores

Taí a lista dos deputados da ASLEMG que votaram contra os professores nessa última greve. Entre eles, está Domingos Sávio, do PSDB, que sempre vem pedir voto aqui em Bom Despacho.

Em outubro, diga não aos inimigos da educação em Minas:


http://ucdiariodaclasse.blogspot.com

sábado, 29 de maio de 2010

Easy Rider Brasil

Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior (Bom Despacho/MG)

Ainda vestido de Capitão América, Dennis Hooper voltou do sambódromo cansado. Naquele domingo, seu amigo Peter Fonda vinha visitá-lo, vindo da missa dominical. Os dois ex-hippies ainda mantinham a amizade, mesmo morando no Rio de Janeiro desde 1970. No ano anterior, os dois tinham sofrido um ataque dos rednecks após o Mardi Gras em New Orleans. Após uma longa recuperação, que durou um ano, os amigos resolveram ir assistir ao carnaval no Rio de Janeiro. Gostaram bastante, planejavam voltar. No entanto, souberam que o FBI os estava processando por tráfico de cocaína nos Estados Unidos. Foram ficando pelo Rio de Janeiro, para evitarem o processo e a prisão.
Agora, nos anos 2000, quando os dois estavam em torno dos sessenta anos, o Capitão América ainda permanecia bastante boêmio, enquanto Fonda convertera-se ao catolicismo que tanto o impressionara em New Orleans. Hopper vivia quase que sempre sozinho num apartamento em Copacabana, enquanto Fonda estava casado com uma esposa brasileira e praticante da renovação carismática. Fonda não praticava o catolicismo carismático, mas simpatizava com aqueles cultos que lembravam os ritos protestantes norte-americanos, dos quais, no entanto, nunca participara.
Ambos continuavam com a mesma paixão por motocicletas e bandas de rock, especialmente as da época, do final dos anos 60: Steppenwolf, the Byrds, Eletric Prunes, Jimi Hendrix, Bob Dylan, entre outras. Fonda sempre repetia a frase de Max Weber que dizia que “aquele que vê o mundo aos 50 anos da mesma forma que via aos 20, desperdiçou 30 anos de sua vida”. Hooper, sempre muito crítico, gostava de comparar ele e Fonda com a dupla Wood & Stock, de Angeli.
Fonda ainda lembrava-se muito daquele dia em que foram alvejados pelos caipiras do sul, os reacionários de lenço vermelho, god damn racistas que discriminavam gays, comunistas e cabeludos. Hooper preferia esquecer que sua motocicleta voara longe, aos pedaços, e ainda assim conseguira ajuda com um caminhoneiro, salvando a si mesmo e ao amigo.
Muito tempo depois de terem se recuperado, Fonda ainda fazia todo ano um ritual místico para homenagear as duas motocicletas: reunia as duas máquinas danificadas no réveillon de Copacabana, cantava e dançava a noite inteira, banhando de ervas e flores as duas. Fonda cultuava muito a Harley Davidson do amigo e a sua. Hooper, cético, nunca participou. Certa passagem de ano, Fonda cobriu as motos de cremes e ungüentos cheirosos e escondeu um punhado de cânfora no tanque de sua Harley. Era uma forma de agradecer especialmente à sua alquebrada motocicleta tudo o que tinham passado. Ele talvez temesse, internamente, que uma tivesse ciúme da outra.

Rebecca no Trem Fantasma

(Conto editado no livro Penetrália, ed. Dez Escritos, 2005).

Conheci Rebecca na abertura duma exposição: ela era a estrela da festa, embora seus quadros não estivessem expostos. Talvez devesse ter mantido distância dela. Foi ela quem se insinuou, meiga, quase esvoaçante:
- Está gostando?
- Acho que está muito eclético.
- O curador é péssimo. Foi ligando para as pessoas, deixando os artistas trazerem o que quisessem...Para uma exposição que pretendia mostrar os artistas dos anos 80 e 90...Vocês mineiros têm dificuldades em fazer escolhas.
- Talvez precisemos de mais existencialismo aqui em BH.
- Ah, quem sabe.
Eu pretendia testar a moça e extrair dela maiores informações.
- Tem trabalhos seus aí?
Ela me olhou espantada. Com um tom mais arrogante, respondeu:
- Não...Vou expor um quadro meu na semana que vem...
Eu julgava que aquela moça tinha um sotaque que me parecia familiar.
- Você é de Belo Horizonte?
- Não, sou do triângulo.
- E não se considera mineira?
- Não, nós somos um outro estado.
- Verdade? Disse eu, irônico, carregando no “r”.
Ela pareceu impaciente, e mudou de assunto:
- Estou também trabalhando com vídeo.
- Gosta de cinema?
- Não, quero fazer videoarte.
- Como é seu nome?
- Rebecca Matos, artista plástica.
- Eu sou Arcanjo, jornalista e trabalho no jornal O Debate.
Isso não intimidou Rebecca. Ela foi logo ao assunto:
- Estou fazendo um vídeo.
- E daí?
Não sei porque topei, mas logo eu estava andando pela cidade afora no automóvel de Rebecca. Eu senti um certo fascínio por aquela mulher madura, vestida à européia, cabelos com corte chanel. O sotaque do interior mineiro, por outro lado, me irritava. O ar em torno de Rebecca era carregado, como se ela drenasse energia. Isso me incomodava e me dava vontade de falar, falar coisas.
- Sabe, Rebecca, não sou crítico porra nenhuma.
- Como assim?
- Sou jornalista, mas trabalho na seção policial.
- Nossa, nunca leio...
- E o que você lê.
- Ah, eu sou mística.
A minha fala, a respeito de suas leituras, era intencionalmente agressiva. Eu queria ferir com palavras: havia Lauro Trevisan e Richard Bach no porta-luvas do carro.
- Está aprendendo a usar o poder infinito da sua mente?
- Como?
Silenciei por longos momentos. Ela dirigia dispersa, eu temia um acidente.
-Basta negar seus problemas e eles sumirão.
Rebecca soltou a frase de repente. As palavras me pareceram pombos saindo da cartola.
- Isso é irracionalismo.
E foi a vez de Rebecca se calar. Estávamos chegando ao parque. Eu não quis revelar minha atividade no jornal O Debate. Aliás, O Debate era um tigre de papel, vivia decadente, dependendo de verbas da Assembléia Legislativa para se manter. E eu conseguira um trabalho: ligava para as casas das pessoas pegando os dados dos falecidos. Fazia a seção de óbitos. Era bem pior do que a seção policial.
- Eu costumava jogar cartas.
- Verdade?
Esta palavra, dita por ela sem sotaque e sem ironia, ganhava um sentido insuspeitado: Rebecca acreditava em mim.
- Só de brincadeira...Ganhei do meu tio um livro místico. Falava de celtas, druidas, essas coisas. E junto veio um baralho.
- Ah, Arcanjo, eu acho que acredito em tudo...Nossas almas, elas vieram de outros planetas. Existiu um planeta chamado Antares, e as almas dos habitantes vieram penar aqui, neste vale de lágrimas.
Devido a meu nome, Rebecca passou a achar que eu era religioso. Começamos a fazer as imagens de seu videoarte. Eu tinha sugerido um parque de diversões bem afastado, pobre e mambembe.
Começamos: eram ingênuas, naïf, exageradas, mas eram cenas que mostravam algo entre a cultura popular e a cultura de massa. Tinham algo de destroços de um mundo antigo, fósseis de uma pureza que calava fundo. A primeira tomada foi no trem-fantasma, um caixão se abria, exibindo um esqueleto que se levantava. Lá dentro, mesmo na penumbra, pude ver uma gata e sua ninhada de gatinhos. O estofo vermelho e convidativo a trouxera até ali. O cenário era um cemitério nevoento, com árvores esgalhadas ao redor. Outros esqueletos se erguiam, mortos-vivos, numa dança macabra em homenagem àquele que renascia. A gata miava pungente. Aquilo doía, sei lá por quê.
A seguir veio uma teia, contendo uma aranha negra enorme. O quadro pintado ao fundo insinuava que a aranha estava próxima a uma casa tranqüila, uma casa de campo. A aranha tremia na teia de plástico. Suas patas e o corpo tinham a aparência da aranha-caranguejeira, paradoxalmente, uma aranha não-venenosa. Seria essa aranha um símbolo da genitália feminina? Os criadores do trem-fantasma não deviam conhecer Freud - e deviam temer igualmente aranhas, comunistas e cobras.
Um macaco gigantesco, inspirado em King-Kong, era a imagem seguinte. Rebecca teve medo e eu tive de fazer a maior parte das tomadas. Os olhos do símio se tornavam vermelhos quando o trem estava ligado. Naquele filme antigo, o macaco era nitidamente masculino, e seqüestrava uma mulher bonita. Julguei que a criatura do trem-fantasma era um austrolopitecus fallicus. O olho do animal enchia a tela; a cena em que ele estava encaixado fazia com que pudéssemos vê-lo na semi-escuridão, com leves tons de vermelho a tingir-lhe a cabeçona que se erguia do chão. A imagem, vista de relance, emergia de algum lugar do cérebro e não de um brinquedo de parque infantil.
Decidimos terminar por ali as imagens. Eu e Rebecca nos despedimos, e eu lhe dei meu endereço e telefone.
- Em breve uma obra minha entrará em exposição no Palácio das Artes. Quero ter ver no coquetel, disse ela.
Esta última afirmação me passou desapercebida, e fora feita de maneira enérgica. Eu resmunguei qualquer coisa e deixei-a no ponto de ônibus. Ela me deu um beijo bem próximo da boca, segundos antes de chegar aquele bólido vermelho:
- A gente se vê.
Dias depois, recebi um pequeno desenho, emoldurado em papel bege. Tinha uma mensagem escrita a caneta no verso, com uma letrinha miúda e escorreita:

Anjo:

Penso que, se com minha arte eu puder trazer alegria à nós, filhos de Deus, este é meu dever. Amo este mundo, acho que este mundo é lindo e cheio das coisas de Nosso Senhor e às vezes estou alegre, às vezes triste. Estes momentos de solidão são parte da vida e não devemos reclamar. Estou esperando você, quero que vá ver a exposição que inauguro no próximo dia 13. Não se importa que eu o chame de “anjo”, somente? Tomara que não...

Beijos carinhosos da Rebecca

BH, inverno de 1997

Do outro lado, havia um desenho do viaduto da Lagoinha. Era um singelo desenho com tinta guache, mas anunciava mais do que um flerte com a pintura abstrata, arte que para mim não merece muito mais consideração do que quaisquer rabiscos infantis. No desenho o viaduto se desmilingüia numa névoa cinza e alaranjada. O viaduto em si se tornava, no quadro, uma espécie de rio gelatinoso cercado de palitos ameaçadores e sombrios. Afastei a ilustração com desprezo e tédio.
Dias depois, entrei no Palácio das Artes, disposto a ver a obra de Rebecca. Tropecei num carrinho de supermercado que estava sendo exposto. Continha grama e torrões de terra. “A verdadeira instalação é o mundo”, pensei, me lembrando dos catálogos da Bienal de São Paulo.
- Quero ver a face feminina de Deus.
Minha amiga Rebecca começou a me revelar com mais profundidade seus conhecimentos místicos. Eu ouvia tudo silencioso, complacente:
- Sempre quando estou pensando em algo prejudicial, coloco a unha do indicador no polegar e aperto até machucar, até que este pensamento passe.
- Fale mais sobre a deusa com a qual você quer se encontrar...
- Não é deusa. É Deus. As grandes religiões, o judaísmo, o islamismo e o cristianismo têm sacerdotes homens. Os homens impõem os dogmas.
Silenciei de novo. Eu ouvia tudo como quem ouve uma confissão. Rebecca usava uma camiseta onde se lia I love New York e tênis puídos.
- Olhe aquela obra ali. Chama-se O Círculo de Giz Caucasiano.
Olhei naquela parede, sem disfarçar minha preguiça e displicência. Vi ali um quadro onde um círculo fora traçado com pinceladas violentas, com tinta vermelho-hemoglobina, sobre um fundo branco. Em cima do círculo pintado, Rebecca havia pregado outro círculo, este de arame, e que ultrapassava os limites da tela. Aquele quadro me pareceu ilustrar uma ausência completa de regras e limites que devia fazer parte da personalidade de Rebecca. Desviei o olhar para outra obra, uns molhos de macarrão mofados que jaziam em cima de prateleiras. Observando meu desinteresse, Rebecca sentiu-se atingida:
- Há três tipos de amor, Eros, Philos e Ágape. Se vocês jovens puderem fugir da hipocrisia do amor que tinha a geração passada, poderão usufruir do Eros bom. O Eros é o amor carnal, o Philos é a amizade, e Ágape é o amor destruidor, devorador.
Dada a diferença de idade existente entre mim e Rebecca, senti que se dizia de uma outra geração. Ela já revelara que fora hippie e desbundara alegremente nos frenetic dancin’ days.
- Não quer me levar até lá em casa?
Finalmente, Rebecca fez a pergunta lancinante. Logo que subi ao apartamento, um novo convite sucedeu o primeiro:
- Não quer ficar para um vinho?
Após várias taças, nos deitamos no sofá para ouvir seus discos de canto gregoriano. O estado eufórico provocado pelo álcool me fez bolinar Rebecca, ela logo estava se abrindo toda. Insisti para que ela desligasse o som e apagasse a luz, mas Rebecca estava já obcecada com a comunicação não-verbal do sexo. Deitou-se e misturamos nossos doces quentes.
Na manhã seguinte me despedi de Rebecca e peguei um táxi até o centro da cidade. Ela tentou me segurar mais tempo, mas me sentia cansado, exausto, e a sensação, além de física, era espiritual. Quando o táxi passou diante do lugar onde estivemos no dia anterior, decidi descer, pois meu dinheiro não dava para finalizar a viagem. O passeio em frente ao Palácio das Artes se fez fantástico: senti que havia um mistério na Grande Galeria, um mistério que levantava agora o véu para que eu o pudesse contemplar. Num piscar de olhos eu estava diante do quadro que eu vira na noite anterior, o Círculo, e o chão me fugia aos pés. Aquele círculo vermelho era um útero aberto, sangrento, um berço esplêndido, o círculo de arame representava o corpo carnal e efêmero, e a imagem do útero resplandecia, o grande mistério ali repousava mas não se entregava a mim nem assim, escancarado, fingido, representado. Eu me vi na pele de um César que abria a barriga da mãe e encontrava, assombrado, uma lufada de vento quente ali trancada.
Fugi assustado, com as roupas empapando de suor, perambulei como um zumbi pelas ruas do centro da cidade, meu corpo funcionava no piloto automático. Somente depois de chegar ao meu apartamento me acalmei, e me dei conta de que vivera aqueles últimos instantes como as formigas da minha infância, as formigas saúvas das quais eu arrancava a cabeça, e restava delas o corpo tremendo, mexendo as patas sem sentido, andando para lugar algum, sem remédio.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A Reunião de Ontem na Câmara

Reproduzo aqui uma postagem muito interessante do ainda mais instigante blog do André: andredurock.blogspot.com


Como vi e li que muita gente está interessada em saber o que rolou na Câmara Municipal ontem (24/05), resolvi deixar a preguiça de lado e narrar alguns fatos contundentes que aconteceram nakela casa.

* A reunião começou como sempre, com as leituras da ata passada, de cartas recebidas e de projetos que estavam em pauta prá votação.

* Aprovada a vinda da UAB prá Bom Despacho. Vereadores querem homenagens pro povo que ajudou a trazê-la. Curos de mestrado em Física (Como se BD já não tivesse doidos o suficiente).

* Câmara lotada até a tampa. Muita gente sentada no chão ou em degraus adjacentes, temperatura quente. Claque do prefeito, maioria revoltada, reclamações de parte a parte.

* Falando no q interessa, primeiro falou o sr. Acir Parreiras, num discurso limpo, sereno; quase que dava prá confundí-lo com um advogado; lendo em folha A4, o assessor rebateu as acusações do Chimpanzé, dizendo q ele é que devia dar explicações sobre materiais esportivos desviados, apresentou cheques (xerox) assinados (como sacados) por ele, atacou a câmara municipal por conta da reforma do teto, atacou um dos vereadores por "preparar o depoimento do chimpanzé" (apresentou uma foto do citado vereador cercando um Palio no meio da rua, o que seria no máximo, uma prova de crime de trânsito) apresentou sua versão sobre a venda da matéria ao EM por 30 mil reais e do "cêrco" que ele fêz ao símio no meio da rua. E o mais fantástico, ainda citou meu blog. Como se eu tivesse alguma aspiração política... vade retro... prometeu, ainda, testemunhas mil para as apurações da CPI da Câmara. afirmou q o Prefeito é um homem nervoso (Se ele visse Acir conversar com Chimpanzé ele iria ficar BRAVO com o assessor) Como era de se prever, negou tudo, acusou todo mundo, disse que ninguém tem provas e tentou dar uma de santo. O povo vaiou a gosto.

* Logo depois, o Vereador Fernando Cabral tomou a palavra. Disse que tudo q o assessor disse era mentira. (um dos pontos altos da bagaça, pq o povo vaiou o assessor com força), fez outras acusações sobre a prefeitura (tipo: Já que que o Chimpanzé era acusado de desvio, pq somente rebaixá-lo ao invés de exonerá-lo?), tirou o corpo dele e de seus companheiros da oposição (leia-se: fodam-se os da situação) sobre o esquema do teto da Câmara (já que não estavam lá no mandato anterior), e jurou nunca ter entrado na casa do chimpanzé. (Eu sinceramente, também nunca fui à casa de macaco algum...)

* Logo depois, o que era prá ser a nata, virou coalhada. Haroldo Queiroz nem se deu o trabalho de se levantar e dirigir-se a tribuna Tancredo Neves ( o que Tancredo fez por Bom Despacho prá virar tribuna? Ah... é avô do Aécio...) Pois bem... Nem lá ele foi. Sentadinho, depois de beber mais ou menos dois litros d'água, nosso prefeito disse que estava indignado com as acusações feitas contra ele. Achou uma covardia que as denúncias viessem à tona quando ele estava viajando e não podia se defender. Achou covardia também que incluíram sua familia (mulher e filha) no imbróglio. Afirmou que nomeou o secretário (Chimpanzé) contra sua vontade, foi só pq várias pessoas pediram. Disse q estava insatisfeito com o trabalho so secretário e por isso rebaixou-o. Que o Pan troglodythes pediu-lhe realmente dinheiro emprestado (crime de agiotagem), e que apenas estava cobrando o débito. E despejou a pérola da noite (na opinião deste humilde blogueiro), afirmou que "Se Deus quiser, será o deputado (não sei se federal, ou estadual, naõ prestei atenção) de Bom Despacho em 2014. (Desde já, aviso, se Deus realmente quiser isso, mudo de religião). Pediu muito educadamente, que o povo ficasse quieto, enquanto ele apresentava sua versão dos fatos (Pq nenhum candidato pede pro povo ficar quieto durante os comícios?), que as vaias não adiantavam, e que quem iria decidir era a câmara e o ministério público.

* Logo após o pronunciamento do prefeito, quando percebeu q a coisa ia esquentar, pq os vereadores de oposição iam iniciar suas perguntas (assas pertinentes), o presidente, com ar professoral, encerrou a reunião, alegando falta de condições para continuar os trabalhos.


Flashes:


*Haroldo tomou uns 2 litros d'agua.

*Acir ficou coretando o Vereador Fernando Cabral durante a sua réplica: ficava "macaqueando" os gestos do vereador e sussurava (por leitura labial): Prova! Prova!

*Haroldo foi muito mais manso que na entrevista à difusora. Não afirmou hora alguma que compra o que quer, faz o que quer ou presta conta da vida particular quando quer...

*Nunca vi a Câmara Municipal tão cheia em minha vida.

* O Vereador Marcelão fala prá dentro.

*Os vereadores Irú e Pedro Paulo, como sempre, nem abriram suas bocas. 4.000 por mês prá tomar café, é foda!

sábado, 22 de maio de 2010

BLOGNOVELA PENETRÁLIA: MENSALITO NA CIDADE SOL

(O autor perde o controle sobre os fantasmas, que se evadem para um prédio próximo de sua casa e instalam-se num gabinete cheio de mistérios e maracutaias. Eles brigam e praticam extorsão uns com os outros, saindo na TV e em vários jornais).


Monólogos da Vagina: Quero meu ti-ti-ti aí.


Fantasma de Oswald de Andrade: Estou endividado, tenho vários empréstimos na Caixa Federal...


Cruz de Cruz & Sousa: Tranca a porta aí. Não tenho nada a ver com suas contas. Dê o dinheiro para a Monólogos da Vagina.


Monólogos da Vagina: Preciso encher o tanque do meu carro, sair para a balada no Rio de Janeiro, ir para boates. Me dá o dinheiro agora.



Fantasma de Oswald de Andrade: Estou gravando vocês com minha caneta-filmadora! Ahá! Vocês são muito toscos. Amanhã estarão no Youtube.


Monólogos da Vagina: Eu vou pegar meu carro e te atropelo, Fantasma. Me dá meu mensalinho agora!

Cruz do Cruz & Sousa: Eu sou amigo de um governador gordo e corrupto, eu jogo sim, jogo todo o orçamento da cidade SE EU QUISER, eu só saio em 2010, eu usufruo e desfruto do que EU QUISER! Eu te exonero, se EU QUISER, hein, Fantasma, eu te rebaixo a chefe de divisão, se EU QUISER. Merda de Fantasminha Pluft que não sabe nem falar!!! Vou entrar contra você com calúnia e difamação. Contra você e contra sua caneta-filmadora. Para os amigos, TUDO, para os inimigos, A LEI! Você está me devendo seis mil reais. Por isso a Monólogos estava cobrando de você.


Fantasma de Oswald de Andrade: Me extorquindo.



Cruz do Cruz & Sousa: Alto lá! Extorquindo não! Seus filhos só foram à praia porque eu levei. Eu sou como um pai para você, Fantasma.


Fantasma de Oswald de Andrade: Pode me rebaixar, eu vou pedir exoneração. Eu apoiei tanto o seu pai, o rei Haroldo III, O Tosco. Devia favores a ele, não para você.

Cruz de Cruz & Sousa: Dobre a língua para falar do rei Harold III, hein? Não quero mais ouvir o nome dele na sua boca de onde saem palavras mal faladas. O santo rei Harold III que chegou aqui na Cidade Sol sem nada e fez fortuna tomando terras de camponeses idiotas. Como ousa falar dele!


Fantasma de Oswald de Andrade: Pare de me ameaçar, pois tenho a quem recorrer. Vou denunciar na justiça, na Câmara da Cidade Sol...


Cruz de Cruz & Sousa: Não me calunie, não me difame que eu entro com três processos contra você, hein? Isso tudo são picuinhas de quem está manipulando você, intrigas da oposição. Armaram um circo e colocaram você, Fantasma, de chimpanzé. Quer ser eu? Quer colocar outro em meu lugar? Não saio até 2012. Vocês vão ter que me engolir, com extorsão e tudo.

Fantasma de Oswald de Andrade: Estou com a consciência mais leve, Cruz. Tou na minha e não comento anônimo. Nem sei o que é isso, tem alguma coisa a ver com O Homem e o Cavalo e as blognovelas? De onde vc tirou? Tá no Fantasma do Pai de Hamlet? Vou olhar. Quer ser eu quem?


HEAUTONTIMOROUMENOS: Enfim, pouco se pode esperar de um narciso, cujos sentidos canalizam-se preferencialmente à auto-adoração, ainda que insegura e, quase sempre, arrependida. Portanto, que se exalte a comodidade e conveniência da crítica eletrônica. Como Cruz da Cruz & Sousa mantém a dificuldade infantil de lidar com a divergência de opiniões, poupa-se o discordante de ver seu protesto desesperado e repugnante. Afinal, além da alma, também a bunda lhe é seca.

Cruz da Cruz e Sousa: Jamais conseguirás, seu caipira de merda. Você jamais será porra nenhuma. E sabes disso. Um porrinha nenhuma num interior qualquer. But a parasite medication would take care of you. Just a worm. So sorry. Assinado: Cruz da Cruz & Sousa da bunda seca!



(Os fantasmas deixam o gabinete, correndo uns atrás dos outros com a caneta-filmadora).

terça-feira, 18 de maio de 2010

Borges-Herzegovina: Do Neoclássico ao Neo-Hippie

(Texto de Lúcio Jr premiado no concurso Imagens da Vida Universitária, Colação de Estudante II, março de 1997).

O hospital Borges da Costa, prédio em estilo neoclássico, datado do início do século, há dezesseis anos é protagonista de uma crise infindável. O prédio já foi morada de mendigos e depois foi tomado pelos estudantes de baixa renda.
O Borges da Costa retrata a crise urbana em nosso País: de prédio componente da elitista Faculdade de Medicina no início do século, tornou-se atualmente um refúgio dos deserdados. Foi do neoclássico ao neo-hippie. É um símbolo da universidade brasileira e de suas distorções.
O Borges da Costa não é Haight-Asbury, Belo Horizonte não é San Francisco. Ali não floresce nenhuma contracultura, nenhum underground. A necessidade é que obrigou os estudantes da ocupar o velho hospital de câncer. Os hippies dos Estados Unidos, que se juntavam em bairros como Haight-Ashbury em San Francisco, Greenwich Village e na Carnaby Street em Londres eram filhos da abundância, não da penúria. Os “bórgios” são estudantes carentes que geralmente levam adiante cursos pouco valorizados no mercado de trabalho (Filosofia, Sociologia, Letras, História, Belas-Artes) e que sofrem de solidão, desamparo, pobreza. Não estão fora do sistema, estão à margem, vivendo numa zona de litígio, numa terra de ninguém. São órfãos do milagre brasileiro (não é à toa que o Borges foi ocupado em 1980, ano do início da recessão e da ´década perdida`).
No livro Feliz Ano Velho, datado mais ou menos daquela época, Marcelo Rubens Paiva escrevia que, na UNICAMP, ele via três turmas distintas: a dos caretas, a dos revolucionários e dos desbundados. No Borges, há um rescaldo desse período: há os hippies recaídos, que não são inocentes como as “crianças da flor”, são jovens que buscaram modelos no passado e perambulam como sonâmbulos frustrados, ligados em alguma viagem psicodélica ou amargurados e agressivos com o fim do sonho.
O edifício Borges da Costa foi do neoclássico ao neo-hippie em meio século. Apesar do lado festivo e sonhador, existe também um lado barra pesada de dois suicídios: um deles, um estudante de Economia chamado Carlos Eduardo, eu conheci: era esquerdista radical, veio do interior, foi se desiludindo com o curso, com a política, teve atritos com os grupúsculos que dominam o Borges e, em meio à tristeza e à marginalidade, acabou se matando em dezembro de 1992.
Eu me lembro de tê-lo visto nas passeatas do impeachment daquele ano. Estávamos todos esperançosos naquele momento e ele não. Mantinha-se com reservas. Para ele ainda faltavam muitas coisas. Hoje sei que o Edu não agüentou esperar. Foi embora sem se despedir.
O Borges para mim é mistura de tudo isso, de dor e celebração doidivanas, de rabiscos coloridos e lamentos, de uma festa onde li meus poemas e da realidade da morte de Carlos Eduardo dias depois, de hippies e de mendigos, do sonho e do alcoolismo.
“Antes eu sonhava/Agora já não durmo”. O Borges é Legião Urbana. Uma Bósnia estudantil, uma guerra civil de todos contra todos, é Fernando Pessoa e César Pedroso, um poeta e morador que escrevia poemas como Mulher do Capitão: “Bota bota na xota”. Faço questão de reproduzi-lo assim mesmo, na íntegra. Eu me lembro das noites intermináveis em que minha turma do segundo período da Filosofia encontrava-se no Borges e, descrentes, chegávamos à conclusão de que valia, na vida, o poema de Maiakóvski: “Melhor morrer de vodka do que de tédio!” Escrevi um poema chamado Anjo Exterminador naquele final de 1992 e início de curso; sintetiza o que eu sentia naquela época:

Madrugada –sombras solitárias, rua morta
Não era mórbido o sorriso púrpura de seda
& o ar ficou pesado, choveu outra vez
Vai chover de novo.
O espectro flutuou transido nas colinas de mármore
E da própria garganta saiu o grito do assassino de si
Foi o deleite final do Anjo Exterminador
Das trevas surgem gêmeas siamesas dizendo, blasfemando:
“Dorme, dorme pálida criança, calma e vasta repousa a cidade
Cerra teus olhos enquanto o céu se abre
Em estertores vermelhos”.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Blognovela Penetrália: Beat But Nonsense, O Império Contra-Acata

(Segundo andar de sobrado, pequena cidade do interior. Lúcio reúne alguns detritos que ganhou do cenário de Caminho das Índias: turbantes velhos, batas, incenso fedorento. Em meio aos cacarecos desse segundo andar sujo, surgem velhos fantasmas já aniquilados em outras blognovelas, pois a blognovelha penetrália já morreu e a blognovela revista cidade sol que deveria ser nova ainda não nasceu e surgem sintomas mórbidos por todos os lados).


Monólogos da Vagina: se um dia o nome que me foi dado for por alguém utilizado. Ninguém vai precisar do meu nome. Nem eu. Mas aqueles cujo nome representam algo além do nome, esses são símbolos, são avatares. O eu roubam, para esses, é algo além do nome, é simbólico, o trabalho, conteúdo. Quem pode roubar-me de mim? Não, ninguém pode. O pobre fica mais pobre, pois o que foi roubado nunca nomeará, pois esse nome e esse corpo não lhe pertencem. ISSO NÃO TE PERTENCE MAIS. Mais fica aquele que tem o nome, pois nada lhe real lhe será tirado – nem será dado. Ficou claro? Fui de mim...


Lúcio (espantado): Agora vou ficar só olhando essa conversa entre vocês fantasmas. Essa blognovela era para ter acabado quando o blog penetrália mudou para revista cidade sol. Mas não deu. Mas então o elenco, para mim, morreu. O Réquer ficou de diretor, mas ele é péssimo diretor, então tentamos conseguir o Giane M., mas não deu, ele cobra caro e está noutra.

A Cruz de Cruz e Sousa: Ah, Monólogos da Vagina, beijos loucos nas suas asas, nas suas vergonhas molhadinhas, eu te abençôo! Ah, que sonho ser dirigido por Giane M., de Não Trepe com Esses Caras, Mãe!

O Fantasma do Pai de Hamlet: O blindado M50 tem dados facilmente identificáveis, Hamlet. Poucas pessoas sabem de meu projeto, inclusive eu. Você vai poder passar por cima de seu tio e de sua mãe com uma potência do motor, velocidade de boca. Na boca de sua mãe, você explodirá um projétil, projétil na boca do canhão. Na boca de seu tio usurpador, a blindagem é choban ou sanduíche? Quais tipos de aço são usados no exército podre da Dinamarca? Há algo de Dinamarca nesse reino de podres! Nem tudo, como você vê, lhe pode ser revelado.



Fantasma de Oswald de Andrade: Sim, sim, a saclonagem é surrealista. Não sei porque a dúvida. A saclonagem deve pedir pedágio à plagicombinação, uma vez que isso é tudo culpa do canto do passarinho que canta tuíste.


Fantasma do Pai de Hamlet: Hamlet, qual a espessura da blindagem? Qual a freqüência do tiro de canhão de Fortimbrás? Qual mira Ofélia utiliza, laser, rádio-frequência ou telescó-pica? Qual a profundidade que Shakespeare pode atingir usando snorkel? Qual tipo de projétil utiliza o canhão BeckHETT, AT? Etc. E mais uma dezena de segredos.


O HEAUTONTIMOROUMENOS (um estranho fantasma entra em cena): Sou fantasma de mim sentado. Boa tarde! Lembram da polêmica do pé de alface? Não comerei da alface a verde pétala. Nem da cenoura as hóstias desbotadas. Deixarei as pastagens às manadas. E a quem maior aprouver fazer dieta.


A Cruz do Cruz & Sousa: Crux! Cruz crux clã! Não vou questionar a pesquisa, mas ali consta que um par de sandálias havaianas custam em média $21,00. Comprei semana passada por $12,90.


Monólogos da Vagina: a pessoa se utiliza do nome de Pessoa, Pessoa é um artista, admira o artista, odeia o artista, vomita o artista, vomita a própria cabeça. Sofre dupla personalidade, tripla, Álvaro de Campos, Alberto Caieiro, etc. heterônimos. HEAUTONTIMOROUMENOS. A solução, Psicologia. A vantagem é jurídica, a solução, psicológica. O nome canta tuíste, é triste e é preciso pagar as contas. Sim, devolva o nome que seus pais te deram. O nome é o patrimônio maior do cidadão e não pode ser tomado por gente ESTÚPIDA, gente HI-PÓ-CRI-TA! Gente que mente. Gente desequilibrada psicologicamente. Gente é para brilhar. Gente é para dançar. Tuíste. Tou lúcida, não estou louca.


Fantasma do pai de Hamlet: Agora diz isso para o Hamlet. Eu dou minha palavra de Oficial e Cavalheiro que li o pedido de desculpas de Hamlet para o Fantasma de Oswald de Andrade. Oswald é mesmo o rei do plágio! Quando da formatura na AMAN, recebi além do Espadin de Oficial, o título de Oficial e Cavalheiro, e esse título nem a Cruz do Cruz & Sousa poderá me tirar.


Monólogos da Vagina: Gente ESTÚPIDA! Gente HIPÓCRITA! Loucos, loucos. Sua loucura, Lúcio, a sua loucura não é lúcida, Lúcifer. Querer se aproveitar da credibilidade do Fantasma de Oswald de Andrade, da Cruz de Cruz & Sousa e do Fantasma do Pai de Hamlet! Absurdo! Gente NOJENTA, desequilibrada, ansiando por dar VISIBILIDADE às suas existências MEDÍOCRES. A sua loucura, Lúcifer.


Lúcio: Você ´tá louca, Monólogos. Minha loucura é minha consciência, que está aqui na hora da decisão.


Fantasma do Pai de Hamlet: Você abriu seu blog, fechou, seu blog é sua cidadezinha do interior, bota interior nisso, é o interior de você, é o seu interior de você, bota MG, Oswald, Hamlet, é o rei do plágio. O rei do plágio tinha linque, depois não teve mais. Oswald teve uma fase em que era pura propaganda descara de cunho esquerdista. Ponta de Lança, ah, Ponta de Lança, achei.



Alf, o Eteimoso do Vanguarda Antropofágica: Cuidado, GENTE, que eu não danço tuíste. Tem gente ociosa dançando tuíste. Meu advogado no Brasil vai entrar na justuíste.



Cruz de Cruz & Sousa: Alf, tá plagicombinando teu nome, imagem e textos. Seu tuíste é seu blog, que é sua cidadezinha interior, seu castelo de Kafka, suas ruínas tristes onde Pedro ensinou Cristo a negar Wagnernietzsche por três vezes...seu pseudotuíste vai dançar. É gente cretina e criminosa. Mete na justiça esse vagabundo! Novamente!



Alf, o Eteimoso da Vanguarda Antropofágica: Sr. Lúcio.... mais...falar...qualificada...obra...obrar...obrar...acaba de sair...meu nome...retire...retire...divulgação...pediria...não...não...ADULTO...pare...par..e...meu nome...minha foto...retire, retire...achar, eu tenho como te achar. Teucu21 está te seguindo no tuíste.

Monólogos da Vagina: A Cruz de Cruz & Sousa não dança tuíste.

Fantasma do Pai de Hamlet: Não se dirijam a mim como rei da Dinamarca.

Fantasma de Oswald de Andrade: Não se dirija a mim como Oswald nem Glauber.

HEAUTONTIMOROUMENOS: Quem escreve nunca alcança, como disse o Antônio Siúves. Escreva cada vez mais. Meu advogado te adora, teu psiquiatra te ama, pois você é um nada ou não é ninguém? Deixe o seu nada crescer, aparecer.


Alf, o Eteimoso da Vanguarda Antropofágica: Pronto! O Fantasma de Oswald de Andrade pirou de vez e assumiu a identidade do Fantasma do Pai do Hamlet e dos Monólogos da Vagina e do HEAUTONTIMOROUMENOS e da Cruz do Cruz & Sousa e...a minha própria, do Eteimoso da Vanguarda Antropofágica!!! Que bobagem, Fantasma, saia dessa, já tinha notado no seu blog, que é a sua cidadezinha interior, seu castelo de Kafka, que você é obcecado pelos Monólogos da Vagina. Não dá para ser ninguém exceto você mesmo! Vamos fazer uma vaquinha para a terapia do Alf?


HEAUTONTIMOROUMENOS: Deus é fiel.


O Fantasma de Oswald de Andrade: Acho estranho, Hamlet não precisaria disso. É mais fácil discutir sobre um AUTOR morto, sobre um rumo na vida MORTO, a gente fala ALHO, o outro entende BUGALHO, outros entendem CEREJAS, doces como mel. Deuses e anjos se estranham nessa comédia DIVINA com os Monólogos da Vagina.

Monólogos da Vagina: Fantasma, qualquer um pode discutir sobre a MORTE. Mas usando sua própria foto. A morte tem FOTO? A morte tem nome, a morte do autor é viva ou morta? Se alguém usa um fantasma de um AUTOR morto e bota ele para dançar tuíste, as opiniões ali são do Fantasma dançando tuíste, não são? Não é curandeirismo, não é macumba, é Chico Xavier trabalhando numa parceria AUTORIZADA.



Fantasma de Oswald de Andrade: Os Monólogos têm razão, é a livre plagicombinação, mas usando tuíste não, não é educado dançar tuíste, nem é educado olhar a foto da MORTE. Ela não tem nome, não tem foto. Antes de usar a OBRA de um AUTOR MORTO deve-se pedir AUTORIZAÇÃO de um AUTOR no CENTRO ESPÍRITA, pois não podemos perturbar os MORTOS nem depois da MORTE DO AUTOR. Pelo tuíste, constava como extensão Oswald de Andrade. Não, não pode. Temos que fazer a nossa própria história, famosos ou duendes da morte. Um lixeiro, um fantasma é tão importante na ordem social quanto um artista conhecido. O que vale é ser bom na profissão que escolhemos.


Lúcio (recolhe-se a um canto, triste e solitário, imaginando uma maneira de acabar com a blognovela penetrália e afugentar os fantasmas): É, para dançar tuíste exige a gente ficar o dia inteiro conectado, leva tempo.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Documentário: eu tenho a palavra

EU TENHO A PALAVRA é um documentário que pretende contribuir para a valorização da participação da cultura banto, preservada pela oralidade, na configuração do patrimônio cultural brasileiro.
Durante décadas acreditou-se na supremacia do iorubás-nagôs, no que se refere à contribuição das diferentes etnias africanas para a formação cultural brasileira. Essa idéia foi influenciada, principalmente, pelos estudos efetuados por Nina Rodrigues, no final do século XIX na cidade de Salvador-BA, seguido por Roger Bastide e Pierre Verger, na década de 1930. O resultado desse continuísmo metodológico foi o desenvolvimento da tendência equivocada de resumir a história do negro no Brasil à história do povo sudanês através de uma ótica iorubá.
Se levarmos em consideração que a língua viva de um povo é o testemunho mais antigo da história desse povo, os dados obtidos no domínio da língua, da religião e das tradições orais no Brasil revelam a presença banto como a mais antiga e superior em número e em distribuição geográfica no território brasileiro, por mais de três séculos consecutivos. Testemunho desse fato é o próprio vocabulário associado à escravidão, com palavras tais como quilombo, senzala, mocambo, mucama, assim como o vocabulário religioso afro-brasileiro, onde os vocábulos mais conhecidos são candomblé, umbanda, catimbó, macumba. Ainda hoje há registros de falares isolados em comunidades rurais, vestígios de antigos quilombos, que preservam um sistema lexical banto, como a “língua do negro da Costa” ou “Gira (língua, gíria) da Tabatinga”, ainda falada no quilombo de Tabatinga, situado no bairro Ana Rosa, periferia da cidade de Bom Despacho (MG).
Nossos personagens principais são dois: Dona Fiota e Chitacumula. Dona Fiota, Maria Joaquina da Silva, esteve presente no “Seminário Legislativo sobre a Criação do Livro de Registro das Línguas”, promovido em 2006 pelo IPHAN, falando das origens e do trabalho de preservação da língua falada no quilombo de Tabatinga.
A “língua do negro da Costa” era falada nas antigas senzalas das fazendas do interior de Minas Gerais e, com ela, os escravos podiam se comunicar livremente. Dona Fiota conta: “A gente não podia falar o nome do trem. Tem assango? Não, não tem assango. Tem cambelera? Não, cambelera também não. Tem caxô? Nada de caxô. Então, minha mãe falava: ‘Catingueiro caxô. Caxô o quê? No Curimã’. Ela tava avisando que o patrão havia chegado. Aprendi essa língua com a minha mãe. Ela falava todo dia para mim até eu aprender. Isso traz toda uma história pra gente, tanto das partes alegres, como das tristes”.
Dona Fiota foi escolhida pela comunidade para ser professora da “língua do negro da Costa”, com salário a ser pago pela Secretaria Municipal de Educação de Bom Despacho. Após um mês de trabalho, quando foi receber, o funcionário lhe disse:- “Ah, a professora é a senhora? Então, não vou pagar. Como justifico o pagamento a uma professora que é analfabeta?”. Dona Fiota deu uma resposta de bate-pronto:" Eu não tenho a letra. Eu tenho a palavra".
Nosso outro personagem principal, Amadeu Fonseca Chitacumula, é um estudante angolano no Brasil. Conhecedor e amante de sua cultura, Amadeu participou em 2004 do evento “Minas afro-descendente - Uma experiência de revitalização de remanescentes de línguas africanas em Minas Gerais”, fruto de projeto da Faculdade de Letras da UFMG, coordenado pela professora Sônia Queiroz. Nessa ocasião, encontrou-se com Dona Fiota. Depois de se cumprimentarem em português, Dona Fiota pronunciou frases no dialeto que aprendera com a mãe. Chitacumula, surpreendentemente, entendia tudo o que dona Fiota dizia, e traduzia etimologicamente a origem de suas expressões, comparando com sua língua natal, o umbundo. A língua umbundo é falada pela etnia banta ovimbundo, da qual Chitacumula faz parte, e que constitui cerca de 40% da população de Angola.
Em nossa estratégia de abordagem pretendemos, na primeira parte do documentário, acompanhar uma visita de Chitacumula a Dona Fiota, em Bom Despacho (MG). Na segunda parte, é Dona Fiota que embarcará para Angola junto de Chitacumula, numa visita à família deste residente na cidade de Huambo, capital da província com o mesmo nome – na região onde se concentram a maioria dos ovimbundos.
A viagem de Dona Fiota representará, em pequena escala, a volta de um país inteiro às suas origens. O Brasil do samba e da capoeira, encontrará, enfim, sua irmandade banta do outro lado do oceano, separados que foram por séculos de escravidão e de estudos equivocados. A trilha sonora reforçará essa ideia de encontro, e consistirá principalmente dos vissungos recolhidos por Aires da Mata Machado em 1928, outros mais recentemente recolhidos, e canções tradicionais, na voz dos próprios personagens.
Através do documentário EU TENHO A PALAVRA pretendo também render homenagem aos meus antepassados, africanos escravizados nas terras das Minas Gerais colonial, falantes da “língua do negro da Costa”, amantes e praticantes da sabedoria que “não está escrita”. Com licença do curiandamba...

postagem retirda do blog:
liliansantiago.blogspot.com

Um Microconto Escrito para o Twitter

SEQUESTRO. "Estou com seu filho aqui. Ele apanhou. Fale com ele". "Pai, eu te amo". "Não é meu filho". Desligou.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Um Cara dos Tempos da Brilhantina

Um conto de John Hemingway, publicado na edição de primavera da Saw Palm, uma revista de literatura e arte do jornal do Sul da Flórida.


UM CARA DOS TEMPOS DA BRILHANTINA
John Hemingway

Trad. Lúcio Jr.

Quando ele olhou a si mesmo no cabelo, seus longos cabelos pretos e crespos eram o que tinham sido na noite anterior, só tinham perdido o brilho e precisava disfarçar isso com brilhantina. Sua visão nunca tinha sido lá muito boa e quando ele encontrou seus óculos, penso que precisava comprar uma caixa de tinta de cabelo. Sua namorada continuava na cama e se ele pudesse encontrar uma farmácia que estivesse aberta ele poderia resolver tudo antes de se levantar, mas ele estava cansado e sentindo-se estressado, então foi andar na praia ao invés disso.
O que ele realmente precisava era de férias e não só um tempo da cidade. Voando para Miami e ficando no hotel onde ele e sua mãe sempre ficavam quando ela era viva ajudava, mas não podia disfarçar a falta de sono ou o estado de sua carreira. Mentiroso agora era alguém que já era no mundo do teatro de vanguarda. Ele chegou a um beco sem saída, e nos últimos seis meses ele tinha sido forçado a pagar suas contas em dinheiro vivo ou com o cartão de crédito da namorada. Os tempos estavam ruins, mas falta de trabalho era algo que ele nunca tinha experimentado antes. Era uma experiência de empobrecimento, classe baixa, amesquinhadora e ele se perguntava quanto mais tempo ele teria como tirar dois mil dólares mensais de sua renda para pagar um processo que chegara ao fim e ele perdera.
"Que culpa eu tive?" Ele perguntava a si mesmo retoricamente quando saía do elevador e andava para a piscina e para a praia ali perto. Ele poderia ser culpado por dizer a verdade sobre aquele hotel em Roma? Ele não deveria ter falado sobre o brutal cheiro de esgoto que vinha do banheiro?
"Que merda de culpa eu tive?!" Ele dizia alto, esbarrando em uma empregada guatemalteca e um limpador de piscina da Venezuela. Ele não tinha planejado falar sobre a sujeira de seus alojamentos para toda a Itália, mas como ele ia saber que um dos jornalistas com quem ele falou iria realmente publicar o que ele tinha a dizer?
Foi quando ele entrou numa fria. O jornal publicou seus "observações difamatórias" e a próxima coisa que o hotel fez foi processá-lo. "Mentiroso disse que o quarto onde ele está dá nojo" era o título que o jornal colocou e foi mais que suficiente. Ele tinha uma reputação de falar merda e por muitos anos ele fez inimigos em dois lados do Atlântico, mas apesar de tudo seu talento (que era real) o protegeu. Ele tinha sido processado antes, mas dessa vez era diferente. Depois da crise, as pessoas não estavam mais tão piedosas quanto antes. Se no passado, um juiz tivesse entendido que ele era uma espécie de palhaço e deixado ele ir com um tapinha nas costas, tolerância agora era uma raridade e as pessoas tinham que ser cuidadosas. Para o hotel ele era uma presa fácil e os honorários do advogado consumiram todas suas economias.
Quando ele abriu o portão para a praia, ele tirou seus sapatos fora de forma que pudesse sentir a areia debaixo de seus pés. Na Nova Inglaterra ele tinha neve nos pés e ali nunca ficava frio. Sua mãe gostava de compará-la à cidade do sul da Itália onde ele tinha crescido. "Veja como a areia é fina", ela dizia, "e veja o azul do mar e imagine como era para mim quando eu estava com a sua idade". O mar, realmente, estava azul, mas nunca revelou muito sobre a educação que sua mãe tivera. Ele tinha sérios problemas com a verdade e podia inventar as mais ultrajantes histórias. Quando ele era criança ela sempre contava que seu pai era um negro americano que ela encontrou depois da guerra e essa era a razão de seu cabelo crespo, ou que os Mentirosos eram nobres italianos, mas que eles perderam tudo durante os tempos do fascismo. Nada disso era verdade, ou tudo fosse, quem poderia dizer? Quando alguém está mentindo para você vinte e duas horas por dia qualquer ideias que você tiver sobre a realidade acabam sendo diminuídas, na melhor das hipóteses. Ele sabia que era errado, mas o que poderia fazer? Ela era sua mãe e enquanto ele tentava resistir a ela, no fim das contas ele tomava o seu comportamento como modelo do seu próprio, mesmo se oficialmente ele continuasse discordando das mentiras.
Quando ele tinha dezessete ele a deixou, ou foi chutado para fora de casa. Existem duas versões dessa sua adolescência, mas a que muitas pessoas reconheceram como verdadeira, inclusiva postada em sua página da Wikipédia, disse que sua mãe estava vivendo com dois irmãos mexicanos próximo da fronteira do Arizona e que seus amantes a convenceram a lhe dar um chute na bunda. Muitos viram viram esse episódio como a inspiração de uma de suas mais peças mais escandalosas e criticamente aclamadas: "Non scopare quei uomini Mama! (Não transe com esses caras, mãe!)." Esse trabalho seminal acabou tragicamente para o protagonista que não somente foi rejeitado por sua mãe, mas também foi morto e transformado em churrasco por um grupo de imigrantes mexicanos famintos.
Depois que ele foi para Nova Iorque, ele financiou seus estudos e seu estilo de vida vendendo LSD e prostituindo-se para advogados e executivos ricos. Foi um período que ele lembrava com certa nostalgia e podia falar entusiasticamente por horas sobre todos os escritores e músicos que ele conheceu nesse tempo em que ele e outros amigos foram ao Woodstock de carona para ver o concerto.
Ele tinha vivido muito e, honestamente, ele não achava que o aquilo que ele já não tivesse experimentado valesse a pena. Ele foi um grande artista e tinha sido parte de uma idade de ouro do teatro dos anos 80 e 90. Claro, agora tudo tinha chegado a um fim inglório e ele percebeu que precisava rapidamente escrever um livro (e fazer um contrato de um filme) sobre sua vida. Para isso, ele vivia em contato com seu agente.
Com um livro, especialmente com um contrato de filme, ele não precisaria preocupar-se com contas não pagas que o deixavam acordado à noite ou as críticas ruins a seus últimos trabalhos junta à sua namorada. Daniela era bonita e tinha feito uma telenovela e comerciais, mas ele precisava absolutamente ficar menos dependente dela do que ele já estava. Na noite passada quando eles estavam comendo em sua favorita churrascaria perto da praia, ela perguntou a ele de novo se ele realmente a amava e ele disse que sim e ela perguntou então: "Você não acha que é hora de nos casarmos?"
"O quê?! Ele engasgou-se todo com o bife de lombo que estava comendo.
"Não acha que é a hora?" Ela repetiu com um sorriso nos lábios que ele acharia atrativo em outra mulher, mas nela, esse sorriso fazia-o suar frio e ficar em pânico.
"Tudo tem o seu tempo", falou ele depois que consegui comer seu bife, "nós estamos juntos por o quê, uns três anos? Por que acelerar? Eu te amo e você me ama e não existe motivo para enfatizar o tema "casamento".


"Então você não me ama?"

"Nem tanto". Ele disse (o que era verdade).

"O quê??"

"Eu quero dizer que não devemos entrar nessa".

Mas eu quero entrar nessa, Gianni, eu que você entre nessa comigo". E ele sabia que não sairia dessa tão fácil e tudo o que ele disse naquela noite para ela foi o que ela não queria ouvir. Ele, que eraum gênio para virar e modelar a verdade de tudo de acordo com suas necessidades, parecia ter perdido essa habilidade, tudo o que ele podia fazer era colocar, de formas diferentes, que ele não estava tão a fim de Daniela. Claro, ele sabia que não estava dizendo o que ela queria ouvir e sua inabilidade para mentir o incomodava. Ele não estava bem certo se o estresse das situações artísticas e financeiras combinadas o estava inibindo de manipular ou se ele não tinha ainda achado uma saída para onde ele queria chegar.
Por sorte, nem tudo estava errado no mundo. A América tinha um novo presidente e tudo o que o cara fazia era inspirador e o levava a pensar que a mudança era ainda possível. Um afro-americano na Casa Branca tinha alterado a paisagem política e social de seu País e ele seria uma especial ternura por esse em parte devido ao caso que sua mãe contava de seu pai negro e em parte por causa do filho que ele teve, secretamente, com uma mulher do Harlem. De muitas formas, tudo se ligava e ele tinha, antes que ninguém tivesse tantas informações sobre Obama, sua própria versão personalizada do cara; um mini-eu que incorporava o melhor dos Estados Unidos (racialmente falando) e quem, como seu pai, poderia um dia ver a necessidade dos estrangeiros voltarem a seus países de origem e a língua ficar intocada.
"Se ele não atirar os estranjas no mar então ele não é meu filho". Ele lembrava isso a si mesmo enquanto jogava uma pedra voando para uma corrente do Golfo. Os ilegais eram uma peste para o País. Isso era óbvio para ele. Eles eram uma doença e um exército sujo que merecia um chute na bunda. Eles chuparam o sangue dos sucos vitais da nação e eles estavam acabando com a força da América e seu desejo de sobreviver. Claro, como um patriota, e como um artista, ele sabia o que tinha de fazer. Ele estava sempre na frente e estava somente esperando o contrato do filme tomar sua forma final.
"Por que eu sempre tenho que ligar para ele ao invés dele ligar para mim?" Ele pensava. O agente tinha um apartamento em Manhattan, mas nunca estava lá. De fato, Mentiroso não podia se lembrar da última vez que os dois tinham estado fisicamente juntos. Eles ficavam em contato através de mensagens de texto em que o agente escapulia e dava um jeito de atender outros clientes em Los Angeles ou Londres.
O telephone tocou e tocou e o Mentiroso ficou impaciente. Ele ficou de costas com seu Blackberry na areia. O sol estava se pondo e o céu na distância tinha sombras de lavanda e luz azul. Dois barcos estava entrando no porto e gaivotas subiam nas estacas de concreto do píer.
"Merda, onde se enfiou?" Disse Mentiroso. Quinze por cento de qualquer coisa que eu faço vai para esse palhaço e então, Deus tome conta, quando eu o ligo ele desliga a merda do telefone". Mas ele não teve resposta. Ele claramente não era um dos clientes prioritários do agente.
Horas depois, quando ele estava sentado por si mesmo no bar do hotel seu agente finalmente reconheceu sua existência com uma curta mensagem onde se lia: "Gianni, não deu para fazer contrato com a Warner/Universal. Tento na Disney? Beijos, Bernie".
Isso certamente não era o que ele queria ouvir, mas ele tinha de admitar que existiam razões. Não somente o agente era incompetente, mas os estúdios eram piores. Ele sentiu-se cercado por uma mar de filistinos e degenerados. Ninguém poderia entender sua arte. Estava além de seu alcance. Eles eram como formigas, pequenos e insignificantes peças da selva social e ele francamente tentara muito educá-los, para fazer com que chegasse ao ponto ele sempre esteve.
"Ao inferno com eles", ele disse enquanto tomava o seu quarto copo de coquetel e pedia outro. O bar tinha TV em cada canto e um jornalista com uma voz alta e cavernosa estava perguntando quanto tempo mais a América poderia suportar tantos ilegais em seu meio.
"Tá certíssimo", disse Mentiroso. Estavam umas poucas pessoas no bar, mas ninguém prestou atenção a ele. O jornalista estava comentando sobre a última ação do pessoal da imigração em Ohio. Os oficiais da Imigração cercaram uma fábrica de tecidos, fechando-a e prendendo todo mundo que não podia provar cidadania americana. A operação foi massivamente bem planejada, dando uma dura na comunidade latina que, em sua maioria, trabalhava na fábrica.
As notícias da operação trouxeram pânico para a população local, que correu para tirar as crianças das escolas e escondê-las das autoridades governamentais. O jornalista declarou com certa solenidade que mais de duzentos imigrantes ilegais tinham sido presos e sofreriam um processo que costuma acabar com a deportação.
"Isto", ele garantiu ao seu público, "é o que eu chamaria um bom exemplo de como nossos impostos podem ser bem gatos e como raramente eles são. Um bom início para a América.
"De acordo!" disse Mentiroso enquanto o trazia a quinta rodada. Ele estava aborrecido com seu agente e por lembrar de sua mãe, cansado e desgostoso com sua namorada, mas mais do que qualquer coisa, ele se sentia doente em ver o que os ilegais estavam fazendo com América. Ele os queria fora e estar preparado para entrar em ação era necessária. Depois de cinco copos de coquetel, ele estava furioso e chegou à conclusão que os imigrantes estavam na raiz de tudo que estava destruindo sua carreira. O jornalista estava certo, melhor lidar agora com o problema, antes que ficasse fora de controle.
"Dê-me um drinque!" Ele disse e o atendente lhe trouxe outra bebida. O jornalista de voz cavernosa estava gesticulando e lembrando Mentiroso que não se deve ter vergonha de reforçar a lei do País.
"Recebo muitos e-mails me chamando de ser anti-imigrante", disse o jornalista. "Mas nada poderia estar mais longe da verdade. Tudo o quero é que as leis desse grande País sejam respeitadas! E eu pergunto, isso é pedir demais? Nós desistimos da idéia da América, de que uma terra com liberdade, justiça e liberdade para todos não signifique nada? E disse não. A constituição ainda vale e qualquer um, e eu digo mulheres e crianças incluídas, que entre nesse País ilegalmente deverá e será forçosamente removida, se necessário!
"É isso aí", concordava o Mentiroso. O estresse de ter de lidar com os ilegais estava matando a fecundidade americana. Isso preveneria o País de sua imagem no estrangeiro. Ele conquistou o mundo com sua visão de abundância e individualismo. Ele discursava de forma sexy e cinematográfica e olhava ao redor para ver se alguém estava tão entusiasmado com a operação anti-imigração quanto ele. Estavam na sala um homem de negócios, próximo da entrada onde ele estava falando com um cliente em seu telefone, um casal no canto de mãos dadas e um grupo de jovens cubanos que faziam de conta que não o viam quando ele olhava para eles.
Sem estar no clima para ser ignorado, ele de repente levantou-se e olhou em sua direção. "Tu puta madre (sua mãe é uma puta!)" Ele não falava realmente espanhol, mas ele sabia o bastante para ter noção de que isso era um grande insulto.

"Tá falando comigo, velho?" Um dos cubanos perguntou.

"Sim, estou falando com você!"

"Senta aí, velho, e cale a boca".

"Qualé, estranja!" Disse Mentiroso e a essa altura até o executivo desligou seu telefone. Era Miami de qualquer forma e todo mundo na sala era latino. O garçom veio até onde Mentiroso estava e calmamente disse a ele que era tempo de respirar e ir embora. Isso era algo sensato de se fazer e iria poupá-lo de muita confusão e dois dentes a menos. Então, pela primeira vez entrando em ação, ele jogou o copo no cubano, quase batendo-lhe na face. Ele ficaram furiosos e Mentiroso não fez nada para diminuir essa fúria, xingando suas mães, suas namoradas e tudo o que vinha em sua boca. Quanto mais eles lhe batiam, de fato, mais ódio isso lhe fazia. Seu rosto ficou torto e roxo debaixo de seus golpes, seus óculos foram amassados, mas ele não se importou. Ele estava lutando o bom combate, sacrificando-se por sua arte e seu País no altar de suas muitas mentiras. O dono do bar tentou tirá-lo, mas os cubanos não paravam. Eles estavam para matá-lo, mas antes de morrer ele ainda lembrou aos seus atacantes uma coisa: "eu é que sou o culpado", ele disse, "essa é a verdade".

Copyright 2010, John Hemingway