sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

FERROADAS SEM FERRAO DE UM TROTSQUISTA ASSOMBRADO PELO FANTASMA DE STALIN

 

Debate com o PCB: ‘neo-stalinismo’ doença senil da pequena-burguesia semi-intelectual

 

FERROADAS SEM FERRAO DE UM TROTSQUISTA ASSOMBRADO PELO FANTASMA DE STALIN

[Por Santiago Marimbondo]

 

“Na verdade, esse tipo de ‘sofística’ sabe melhor que Protágoras como fazer do branco preto e do preto branco, e melhor que os eleatas sabe demonstrar ‘ad oculos’ [aos olhos] a mera aparência de todo real.”

 

K. Marx; ‘O Capital’

 

Fenômeno particularmente relevante da realidade social contemporânea é o fenômeno da pós-verdade. Com o desenvolvimento de novos meios técnicos de difusão de ideologia de massas (como a internet) e o bombardeamento de informação a que é submetido o indivíduo em seu isolamento e atomização – impostos pela reprodução potencialmente ampliada da sociedade capitalista – parece se construir, cada vez mais, um labirinto entre o sujeito e a realidade efetiva; o real parece se dissolver, a própria ideia de que pode existir um discurso verdadeiro, que reflita a realidade em sua efetividade, se diluir.

A partir disso todo tipo de “teoria”, das mais estapafúrdias e inacreditáveis, pode encontrar espaço para se difundir, pois construindo uma certa coerência lógica interna (apesar de seu afastamento e incoerência em relação a realidade efetiva) ela consegue apresentar, para o indivíduo pego em seu isolamento, um aparente caminho pra fora do labirinto caótico das informações desencontradas.

Da “teoria” da terra-plana ao negacionismo histórico em relação aos crimes nazistas, da negação do aquecimento global à afirmação de que Hillary Clinton ou Joe Biden (políticos do partido democrata estadunidense) são comunistas, todo tipo de ideologia, por mais amalucada que seja, consegue encontrar espaço de difusão e adeptos.

A mais nova moda ideológica da pós-verdade, a mais nova expressão do terra-planismo (pelo menos nos meios culturais de “esquerda”), é o chamado ‘neo-stalinismo’. A busca por reabilitar o ditador contra-revolucionário Joseph Stálin – que dirigiu a perseguição e o assassinato de toda uma geração de revolucionários bolcheviques (Bukharin, Zinoviev, Kamenev, Radek, Trotsky, só pra ficarmos nos nomes de alguns dos mais conhecidos dirigentes da revolução de outubro, revolucionários que efetivamente dirigiram aquele processo, diferente do papel secundário ocupado por Koba); que comandou a repressão, perseguição e assassinato de toda uma geração de grandes intelectuais que se formou nos primeiros anos de florescimento do regime soviético (pensemos que uma série de importantes pensadores, em diferentes campos do conhecimento, foram mortos ou levados ao suicídio pela perseguição stalinista, como o economista Isaak Ilich Rubin, o filólogo David Riazanov, o psicólogo Lev Vigotsky, o poeta Vladimir Maiakovsky, e uma longa lista de etc); que comandou os abomináveis ‘processos de Moscou’ (onde “confissões” públicas eram extraídas por meio de bárbaras torturas) –  seria cômica, se não fosse por demais asquerosa.

 

MARIMBONDO, VOCÊ ASSOCIA ALGO QUE NADA TEM A VER. STÁLIN É DEBATIDO NA RÚSSIA TAMBÉM. É NATURAL QUE O DEBATE CHEGUE AQUI E, PRINCIPALMENTE, AO PCB. ISSO TE DEIXA INDIGNADO, MAS É UM PARTIDO COMUNISTA, ENTÃO TEM QUE DEBATER AS EXPERIENCIAS SOCIALISTAS REAIS. NADA MAIS NATURAL QUE DEBATA STALIN. NUNCA DEVERIA É TER DEIXADO DE ESTUDA-LO E DEBATÊ-LO.

            SE A HIPÓTESE DE QUE TROTSKY, ZINOVIEV E KAMENEV SÃO CULPADOS DE TRAIÇÃO, VOCÊ DEVERÁ AO MENOS ASSIM QUE: 1) TROTSKY DEPÔS NUM COMITÊ DE ATIVIDADES ANTIAMERICANAS, DENUNCIANDO COMUNISTAS, OBVIAMENTE. O TEXTO É DE TROTSKY, ELE MESMO ADMITE QUE OS STALINISTAS ESTÃO COLHENDO O QUE PLANTARAM. 2) ZINOVIEV E KAMENEV TRAIRAM EM 1917 E FORAM PERDOADOS, MAS ISSO PESA NOS ANOS 30, POIS ERAM REINCIDENTES.

 

Um dos centros articuladores dessa busca de reabilitação do “organizador de derrotas” Stálin é o PCB; um partido hoje formado predominantemente por setores pequeno-burgueses semi-intelectualizados, oriundos dos espaços acadêmicos e sem militância efetiva, sem praticamente nenhuma inserção no movimento operário real, o PCB busca mostrar uma face “radical”, de suposto combate ao liberalismo, por meio dessa reabilitação do ditador que afogou em sangue a revolução de outubro.

Voltaremos no final desse artigo a crítica a essa contradição da postura pública do PCB, que busca posar de radical no “combate” ao liberalismo por meio da reabilitação (algo envergonhada, por enquanto) de Stálin, mas que em sua prática política apoia a liberal “revolução solidária” do Psol em sua campanha eleitoral para prefeitura de São Paulo.

 

            MARIMBONDO, “PÓSAR DE RADICAL”??? SE O SEU PONTO É QUE O STALIN É REACIONÁRIO, COVEIRO DA REVOLUCAO. POR QUE STALIN TE PARECE MUITO RADICAL, POR QUE O PCB FALARIA NELE PARA POSAR DE RADICAL??? ORGANIZE AO MENOS SUAS MENTIRAS.

 

Por hora, contudo, vamos nos centrar em artigo publicado recentemente no blog teórico ligado ao partido, o ‘Lavrapalavra’¹. No artigo, o ‘digital influencer’ Diogo Fagundes (bastante conhecido pelo menos em um setor estendido dos filiados e simpatizantes do partido “comunista” brasileiro) utiliza a estratégia argumentativa típica através da qual o ‘neo-stalinismo’ busca reabilitar a figura do contra-revolucionário. Parto deste artigo para o debate não porque ele seja particularmente profundo ou de qualidade, mas por dois outros motivos, interligados: porque a forma como ali se defende Stálin é a forma que tem se tornado corriqueira entre os stalinistas “cults” de defender o ditador; porque o artigo foi bastante compartilhado e comemorado entre os simpatizantes e filiados ao PCB, o que mostra que ali se expressa a forma típica da estratégia argumentativa dessa busca de reabilitação da memória do contra-revolucionário georgiano.

A estratégia argumentativa típica utilizada pelos defensores “intelectualizados” da memória do georgiano é a seguinte: se afastar de uma defesa declarada e direta dos seus crimes mais nefastos (“Se a apologia de todas as ações de Stalin é algo absurda, se podemos — e devemos — repudiar várias ações e tecer críticas”, como diz Fagundes), mas ao mesmo tempo justificar esses crimes, pois “temos que entender as condições históricas” (ou “também é errado desconsiderar os fatores históricos concretos” nas palavras de nosso pobre “intelectual”). Dessa forma, como “Stalin não foi a reencarnação de Lúcifer”² (como no argumento algo surrealista de outro “intelectual” ligado ao PCB) e como ninguém é santo, o ditador georgiano também deve ser levado em consideração e legitimado, quando se busca construir uma perspectiva teórico-estratégica para a esquerda.

 

AQUI VOCÊ JÁ DEVERIA TER PARADO DE FALAR EM STÁLIN E SIM DISCUTIDO OS RUMOS DO PARTIDO E DO PODER SOVIÉTICO NO PERÍODO. VC ESTÁ FAZENDO HISTÓRIA BURGUESA, CENTRADA NUM PERSONAGEM. VOCÊ É ULTRAPASSADO E NÃO ESTÁ SENDO MARXISTA EM SUA CRÍTICA.

 

Apesar da fragilidade do texto, no entanto, o debate e resposta a ele é importante por dois motivos: 1- o stalinismo tenta (e tem conseguido, na verdade) se relegitimar dentro da esquerda, como mínimo como alternativa a ser levada em consideração (hoje, seus defensores, numa estratégia defensiva de argumentação, não dizem que o stalinismo deve hegemonizar a perspectiva teórico-estratégica da esquerda, mas apenas ser considerado como algo a ser levado em consideração e legitimado); se enganam aqueles que pensam que combater os erros teóricos e estratégicos do stalinismo não tem sentido atualmente, pois esse seria um debate do passado, na medida em que a URSS não existe mais. É por demais evidente que um balanço histórico da principal experiência de luta das classes e setores subalternos na história (que foi o processo revolucionário que começou em outubro de 1917) tem relevância central pra pensarmos a construção das lutas presentes e futuras (voltaremos a esse ponto ao longo do artigo);

2- Essa concepção metafísica da história que propagam os stalinistas “intelectualizados” pra justificar os crimes do contra-revolucionário, ou seja, a ideia de que aquelas ações “foram fruto das condições históricas e portanto não existia alternativa” permite, a partir de sua crítica, buscar aprofundar e disseminar uma efetiva concepção materialista e dialética da história, onde as condições objetivas não são hipostasiadas como um sujeito autônomo, um demiurgo, existente de forma exterior e independente dos seres humanos concretos, os efetivos construtores e realizadores da história.

 

SUA LEITURA DA HISTÓRIA CENTRADA NO INDIVÍDUO STALIN É QUE É METAFÍSICA E ANTIMARXISTA. VOCE É QUE FALA DE STALIN COMO UM DEMIURGO.

 

A concepção materialista e dialética da história nada tem a ver com uma ‘filosofia da história’ de tintura idealista e metafísica, onde os seres humanos reais e concretos são meros joguetes manipuláveis de uma força exterior, algum ‘deus ex-machina’. Para nós marxistas revolucionários a história é fruto da ação humana, de seres humanos concretos e reais. Os seres humanos fazem a história; em condições e circunstâncias não escolhidas, legadas por condições e estruturas determinadas pelas gerações passadas, mas nós a fazemos. As escolhas, pulsões, perspectivas estratégicas e programáticas, dos seres humanos que atuam historicamente, assim, não são o reflexo passivo (como no mais vulgar economicismo propagado pelos stalinistas “intelectuais”) das condições objetivas, mas a busca consciente sobre como atuar pra transformar essas condições. Na história a objetividade nunca é algo puramente exterior, mas também, de forma insuperável, fruto da sistematização e cristalização da ação dos sujeitos.

 

         VOCÊ NÃO É OBJETIVO AO TRATAR DA QUESTÃO STALIN E SIM OBJETIVAMENTE RELIGIOSO, DOGMÁTICO, VOCÊ TEM UM OBSTÁCULO MENTAL, É PRECONCEITO. E VOCÊ O COLOCA NUM STATUS DE DEMIURGO, SUPER-HOMEM, LÚCIFER OU ALGUMA ENTIDADE DEMONÍACA, CAPAZ DE CORROMPER UM PARTIDO, UM PAÍS, A HUMANIDADE.

 

Essa ideologia em que as condições objetivas aparecem como algo exterior e impossível de serem modificadas pelo sujeito pode ser interessante para os burocratas acomodados, mas não para a classe revolucionária, o proletariado, que buscando compreender a realidade objetiva onde está inserida visa atuar pra explodir essa objetividade (capitalista) e transformá-la em algo novo e estruturalmente distinto, algo só possível com uma atuação consciente e volitiva, e não pela espera passiva do desenvolvimento das “condições objetivas”. Estruturas sociais e atuação dos sujeitos na história (concepção metafísica x concepção materialista e dialética da história)

Nesse sentido, o segredo do artigo de nosso “intelectual” se encontra em seu último parágrafo; se “a apologia de todas as ações de Stalin é algo absurda” a crítica radical à política contra-revolucionária do ditador georgiano, que levou a morte de praticamente toda a direção bolchevique com a qual ele conviveu, deve ser afastada como um psicologismo pré-iluminista, pois não entende que ela foi fruto da racionalidade histórica em que ele estava inserido:

“Nossos ideólogos não querem balanço algum, apenas condenação moral e total. Querem a regressão a uma visão histórica baseada no psicologismo e no moralismo, algo anterior até mesmo a Hegel — que lia o Terror jacobino sob uma lente conceitual, tentando desbravar a racionalidade histórica por trás das ações, no lugar da condenação moral aos personagens históricos considerados individualmente. Isto já é esperado por parte de liberais, conservadores e todos os apologistas da ordem. Que socialistas caiam nisto só demonstra a atual barafunda ideológica em que estamos.”

 

Esse pretenso “hegelianismo” mal digerido (pois o grande filósofo prussiano não deve ser responsabilizado pelas estultices de seus vulgarizadores), que busca “desbravar a racionalidade histórica” como forma de justificar com uma tintura de “esquerda” uma política que foi objetivamente contra-revolucionária sempre foi marcante nas estratégias argumentativas da intelectualidade ligada ao stalinismo.

 

ISSO QUE ELE TIPIFICOU É VOCÊ, VOCÊ VAI FALAR NO STALIN, CAI NUM PSICOLOGISMO VULGAR. VOCÊ PEGA UM PERSONAGEM HISTÓRICO COMO INDIVÍDUO E O CONDENA DE ANTEMÃO.

 

Como em geral esses intelectuais são acadêmicos, “militantes” de gabinete, burocratas afastados das lutas reais entre as classes, a compreensão das estruturas históricas que permitiram a emergência de certos fenômenos significa pra eles a JUSTIFICAÇÃO desses fenômenos. Na medida em que esses fenômenos são racionalizáveis, passíveis de serem entendidos racionalmente, eles são entendidos, por esses tipos, como racionais, como fruto de uma razão existente fora e exterior em relação à história concreta. Assim, uma leitura vulgar do aforismo do velho Hegel “o real é racional e o racional é real” transforma esses fenômenos que ocorreram objetivamente e que podem ser entendidos por meio da razão, em fenômenos racionais, expressões “da razão na história”.

Evidente que uma tarefa fundamental dos militantes revolucionários, dos trabalhadores conscientes, é compreender as condições objetivas que permitiram que uma burocracia contra-revolucionária tomasse o poder na URSS e pudesse, a partir disso, comandar a perseguição e o assassinato de toda a velha guarda bolchevique e o desvio da maré revolucionária que se desenvolvia no mundo capitalista após a revolução de outubro (os exemplos são muitos: a política do stalinismo na revolução chinesa entre 1925-27, na grande greve geral na Inglaterra no final da década de 20, no processo de ascensão da luta de classes na Alemanha que culminou com a tomada do poder pelos nazistas – o que em nada era um desenlace dado de antemão – na revolução espanhola, e uma longa série de etc, onde Stalin foi efetivamente um “grande organizador de derrotas”), mas compreender as condições objetivas que permitiram que a burocracia contra-revolucionária tomasse o poder em nada quer dizer justificar sua política.

 

VOCÊ ATÉ AGORA NÃO SE COLOCOU COMO TROTSKISTA, MAS VOCÊ CITOU AGORA UM LIVRO DE TROTSKY. EM TUDO O QUE VOCÊ ESCREVE, VIVE O ESPECTRO DO BONAPARTE VERMELHO. VOCÊ CULPA UM INDIVÍDUO DE VÁRIAS DERROTAS HISTÓRICAS. ISSO É RIDÍCULO. É DEMONIZAR ALGUÉM, É INVERTER O CULTO DA PERSONALIDADE QUE VOCE TANTO ODEIA!

 

Uma concepção materialista e dialética da história não vê uma contradição intransponível entre as condições objetivas e estruturais que determinam as possibilidades e potencialidades da ação histórica concreta, e a subjetividade, as pulsões e volições dos indivíduos inseridos dentro dessas determinações (inclusive psicológicas). As condições objetivas, as estruturas sociais, não são algo exterior e autônomo em relação aos sujeitos, os efetivos atores da história, mas síntese e sistematização de suas ações. Já em sua primeira tese contra Feuerbach (um documento fundante da nova ‘weltanschung’ [visão de mundo] materialista formulada por Marx) o revolucionário alemão combate uma perspectiva pretensamente materialista onde a materialidade, a objetividade, é vista como algo exterior e independente dos sujeitos. A práxis, a ação subjetiva, volitiva e consciente, é também uma realidade material.

As ações dos sujeitos inseridos nos processos históricos, assim, sua subjetividade, o programa e estratégia que defenderam, não são algo exterior à objetividade do fenômeno, nem mero reflexo passivo das condições objetivas; muito pelo contrário, as ações dos sujeitos, sua subjetividade, são parte central, fundamental, da própria objetividade. Isso se potencializa quando pensamos em alguém que ocupava uma posição dirigente no processo, como era o caso de Stálin. Suas decisões, a política que ele defendeu, sua estratégia e programa (que representavam os interesses de uma burocracia contra-revolucionária) não foram mero reflexo passivo de condições objetivas exteriores a sua ação (como no mais vulgar economicismo propagado pelos “intelectuais” stalinistas) mas foram parte fundamental da constituição da objetividade. A história não é algo exterior a atividade dos seres humanos, mas fruto e expressão de suas ações.

 

VOCÊ FALA EM ECONOMICISMO, MAS O QUE MARX DIZ É QUE A PRODUÇÃO É DETERMINANTE SOCIALMENTE. NOTE O QUANTO A ESCRAVIDÃO, QUE É UMA FORMA DE PRODUÇÃO, INFLUENCIOU A SOCIEDADE BRASILEIRA. DETERMINA ATÉ QUEM O SEGURANÇA VAI BARRAR NO SHOPPING. ISSO TEM A VER COM ECONOMIA, NÃO É MESMO?

 

O mais divertido, contudo, é a tentativa de dar um ar de novidade conceitual a uma velha concepção metafísica da história, como tenta fazer nosso “intelectual” neo-stalinista. Essa compreensão da história onde essa categoria, de reflexo das ações concretas dos seres humanos reais e ativos, é transformada numa pessoa separada (“a racionalidade histórica”) que com suas astúcias e razões se move por si mesma é tão antiga que inclusive já foi satirizada há muito na história da literatura.

Do doutor Pangloss, o sábio de Westphalia, no ‘Cândido’ de Voltaire, ao ‘humanitismo’ de Quincas Borba, no ‘Brás Cubas’ de nosso Bruxo do Cosme Velho (onde ‘os vencedores ficavam com as batatas’) essa concepção já mereceu mais que o merecido desprezo intelectual; a tentativa de resgatá-la, de novo e mais uma vez, por parte de nossos novos “sábios” de internet apenas mostra como a pequena-burguesia semi-intelectualizada do partido “comunista” brasileiro ainda tem um longo espaço de formação pela frente.

 

AQUI VOCÊ INTRODUZ O TERMO NEOSTALINISMO. O TERMO STALINISMO JÁ E´INVENTADO POR TROTSKY, JÁ É TOMADO DE PARTIDO. QUAIS AS DIFERENÇAS ENTRE O VELHO STALINISMO E NOVO???

 

Os revolucionários “penteamos a história a contra-pelo” (a análise das lutas passadas como base para as lutas presentes)

A partir do expresso acima nosso “intelectual” de internet (e seus seguidores simpatizantes do partido “comunista” brasileiro) poderia nos indagar, se tiver alguma sagacidade: “mas, por mais que a objetividade das estruturas históricas, das condições sociais objetivas, pressuponha, evidentemente, as ações, conscientes e volitivas, dos sujeitos históricos concretos, a realidade passada, a objetividade do passado, é um dado material e objetivo não modificável, não passível de transformação pela ação dos sujeitos sociais”.

Contudo, se é óbvio que a realidade objetiva e concreta do passado é um dado não passível de modificação pela ação histórica presente, sua interpretação no presente está sempre, de forma inerente e insuperável, mediada pela perspectiva estratégica e teórica daqueles que buscam fazer um resgate do passado como forma de basear a construção das lutas presentes e futuras das classes e setores subalternos (como bem entendiam os marxistas que criticavam o objetivismo histórico economicista, como o revolucionário italiano Antônio Gramsci em seu 25- caderno carcerário ‘A margem da história. História dos grupos sociais subalternos’, ou o intelectual alemão Walter Benjamin em suas ‘Teses sobre o conceito de história’).

 

GRAMSCI FOI A FAVOR DE DESTRONCAR O GRUPO DE TROTSKY E CHAMOU O DE BONAPARTISTA.

 

Quando Benjamin formula, em suas ‘Teses sobre o conceito de história’ que “devemos pentear a história a contra-pelo”, apesar da força imagética da imagem construída pela alemão, aqui não se faz apenas uma colocação literária, que busca dar um verniz estético para um texto teórico, mas uma afirmação que tem profundas consequências epistemológicas para uma compreensão militante e revolucionária do estudo da história das lutas passadas.

 

BENJAMIN E GRAMSCI FORAM VALORIZADOS A PARTIR DO FINAL DOS ANOS 50, SÃO BONS, MAS GANHARAM DIVULGACAO E RELEVANCIA COMO ALTERNATIVAS AO MARXISMO-LENINISMO, POIS EM ALGUNS PONTOS SÃO AUTORES HETERODOXOS.

 

O estudo das lutas passadas, de seus conflitos, limites, paixões, vitórias e derrotas, não é o estudo de uma realidade morta, que existe numa dimensão distinta e inacessível, pelo contrário, as lutas passadas existem e vivem nas lutas presentes; o estudo da história de luta das classes subalternas, da luta do proletariado na modernidade, não é um decorar insosso de fatos e datas, menos ainda uma justificação dos erros e ações contra-revolucionárias que possam ter ocorrido em nome das revoluções (como é o caso do stalinismo, onde uma política efetivamente contra-revolucionária foi levada a frente portando a bandeira da revolução) mas um auto-esclarecimento necessário e fundamental para aqueles que buscam se preparar para organizar e dirigir novas lutas, para que os mesmo erros não se repitam e os acertos possam ser afirmados.

Os militantes revolucionários, os trabalhadores conscientes, que se preparam para grandes lutas que podem emancipar nossa classe, não estudam a história como acadêmicos, confortáveis em seus gabinetes e distantes das lutas reais, que buscam descobrir a “razão na história”, como se “a história” fosse um sujeito com razões próprias. Estudamos a história como forma de auto-esclarecimento para que no caos do campo de batalha da luta entre as classes, da guerra de classes, possamos ver com clareza as múltiplas possibilidades táticas que permitem a realização de nossos objetivos estratégicos.

 

VOCE COBRA O STALINISMO POR NÃO TER FEITO REVOLUCOES E DEPOIS DIZ QUE O STALINISMO JÁ NASCEU QUERENDO CONTRARREVOLUCAO. JÁ DISSE: VOCE NÃO É MARXISTA, VOCÊ É TROTSQUISTA FANÁTICO, REVISIONISTA DO MARXISMO LENINISMO.

 

O general prussiano Carl von Clausewitz, o mais clássico teórico contemporâneo sobre estratégia, tido em altíssima conta por revolucionários do calibre de Marx, Engels, Lenine, Trotsky, Gramsci, tinha como uma de suas máximas centrais que “a guerra é um camaleão”. Frente a mutabilidade e transformação constante inerente à guerra uma qualidade fundamental para o grande estrategista, assim, seria sua capacidade de ver com clareza frente a esse caos. Uma das formas fundamentais de manter a presença de si frente ao caos que significa o conflito, segundo o prussiano, era o estudo da história militar e das batalhas passadas. A história nunca se repete, é evidente, mas o estudo das grandes batalhas do passado e da história militar treinava o general para que esse tivesse a capacidade de responder às transformações constantes e conflitantes no campo de batalha de forma a agir com a velocidade e clareza necessária para impor seus objetivos estratégicos ao inimigo.

Nós revolucionários, nós trabalhadores conscientes, nós marxistas, estudamos a história como estrategistas, como sujeitos que se preparam para atuar nas grandes lutas do proletariado e demais setores subalternos, e não como “intelectuais” de gabinete, confortáveis em seus escritórios e distantes das lutas e embates reais entre as classes. Nesse sentido, a história das lutas passadas de nossa classe vive em nossas lutas presentes.

 

SUA ESTRATÉGIA DE DIFAMAR E DETONAR DE ANTEMÃO STALIN NÃO AJUDA EM NADA, É UMA PESSIMA ESTRATÉGIA, EMOCIONAL, METAFÍSICA...MUITO RUIM. VOCE NÃO AJUDA EM NADA.

 

E disso em nada decorre que não se deva estudar a história em sua objetividade, que o estudo da história deva ser manipulado e deformado para se adaptar a determinadas perspectivas políticas. Quem entende essa relação dessa maneira são os setores burocráticos, que defendendo uma política que foi objetivamente contra-revolucionária (como a stalinista), que objetivamente utilizou a bandeira da revolução para perseguir e assassinar os revolucionários (e essa perseguição é empiricamente verificável e documentada, como nos processos de Moscou, onde a direção do partido bolchevique que esteve à frente da revolução de outubro, como nos casos já citados de Bukharin, Zinoviev, Kamenev, foi executada com base em “confissões” públicas feitas sob base de intensa tortura) busca deformar a história para que essa política contra-revolucionária possa aparecer como algo justificável.

Os revolucionários marxistas, na medida em que entendem que a emancipação do proletariado é obra do próprio proletariado, e não de uma burocracia que se põe no papel de sua consciência atribuída, pensam que é necessário que o próprio proletariado tenha claro um balanço do que foram seus processos de luta. E pra isso a classe operária deve conhecer toda a verdade, com seus muitos elementos heroicos e engrandecedores, mas também com seus limites, degenerações e deformações.

 

O QUE TE INCOMODA É QUE MILITANTES COMO JONES MANOEL DO PCB NÃO SÃO BUNDA MOLES, NÃO SÃO BUROCRATAS, TEM PAIXÃO, CONVICCÃO, TESAO.

 

A correlação de forças e a política do stalinismo durante as décadas de 20 e 30

Outro dos argumentos preferidos dos stalinistas “cults” é que aqueles que criticam a política contra-revolucionária do ditador georgiano não levam em consideração a correlação de forças que existia naquele momento. As perseguições e assassinatos dos revolucionários e intelectuais teriam como justificativa histórica assim o isolamento da URSS, a ameaça nazi-fascista, a possibilidade de restauração do capitalismo. Também nosso “intelectual” de internet utiliza esse argumento:

“Se a apologia de todas as ações de Stalin é algo absurda, se podemos — e devemos — repudiar várias ações e tecer críticas duras à coletivização forçada no campo (cujo melhor crítico é Mao Tsé-Tung, o que deve causar enorme confusão na mente dos nossos teóricos do “totalitarismo”), aos expurgos violentos, às farsas judiciais contra adversários em 1937-38, no auge do Grande Terror, também é errado desconsiderar os fatores históricos concretos, como a ameaça do nazi-fascismo, abertamente voltado a destruir e escravizar o mundo eslavo,…”

 

NÃO TRAGA MAO TSE TUNG, VOCÊ É QUE MOSTRA CONFUSÃO MENTAL. MAO TESE DENUNCIAVA QUE OS TROTSQUISTAS COLABORARAM COM OS JAPONESES. ELE FAZ CRÍTICAS A ESQUERDA, VOCE TRAZ MENTIRAS DE DIREITA.

 

Esse argumento é particularmente risível pois mostra a ignorância histórica de nossos “sábios” stalinistas. Tomemos o caso da ameaça nazi-fascista a que estava efetivamente submetida a URSS e que nosso caro Fagundes toma como exemplo das justificativas históricas para os contra-revolucionários processos de Moscou (pois, apesar de não podermos concordar com todas as ações de Stalin temos que entender as condições históricas onde elas se deram, nos diz o “sábio”). Tomar a ameaça nazi-fascista à existência da URSS (que certamente existia) como um dado exterior a política da burocracia dirigida por Stálin é demonstrar a falta do mais superficial conhecimento sobre as condições históricas que permitiram o ascenso do nazismo na Alemanha no final da década de 20 e começo de 30 do século passado.

Em nada a tomada do poder por Hitler se deu como um processo objetivo impossível de ser combatido e que devia ser tomado como um dado autônomo e exterior pela burocracia stalinista. A política que impôs Stálin ao partido comunista alemão naquele momento, conhecida por qualquer um estudou pelo menos um pouco o período como a política do “terceiro período”, que se negava a qualquer frente única com o partido social democrata alemão (que tinha uma influência de massas sobre a classe operária do país) tratando os social-democratas como “irmãos gêmeos” dos nazistas, teve responsabilidade direta e profunda na derrota do proletariado do país, então o mais organizado e um dos mais combativos da Europa. Tratar, portanto, a ameaça nazista à URSS como algo sobre o qual Stálin não tinha qualquer responsabilidade é demonstrar um total desconhecimento dos fatos históricos objetivos, o que mostra o nível dos “intelectuais” que defendem o stalinismo pela internet³.

 

VOCÊ DEFENDE FRENTE ÚNICA? MAS FRENTE ÚNICA NÃO É ABRIR MÃO DA REVOLUÇÃO, NÃO É FAZER PACTO COM A BURGUESIA, COM OS LIBERAIS?? NÃO É FAZER A FRENTE POPULAR QUE VOCÊS CONDENAM NA ESPANHA???

 

O mesmo se pode dizer sobre o isolamento da URSS; esse isolamento, que certamente deve ser pensado quando se estuda o período, não era simplesmente um dado exterior para a burocracia que dirigia o país e que atuava, agia efetivamente sobre a história, naquele período. Ele foi produzido e reproduzido pelos dirigentes do Kremlin, cujo representante máximo era o próprio Stálin.

 

PARA ROMPER O ISOLAMENTO, BASTAVA EXPORTAR A REVOLUÇAO E IR SOVIETIZANDO TUDO, COMO QUERIA O SEU ÍDOLO TROTSKY?? NÃO SEJA LUNÁTICO.

 

A política errada do georgiano quando da revolução chinesa de 1925-27, quando ele ordena que o partido comunista chinês, que começava a ganhar influência de massas, entre e se submeta a disciplina interna do Kuomitang (o que permitiu que posteriormente a direção do partido nacionalista chinês reprimisse com facilidade e brutalidade os comunistas)[4]; a repetição da mesma lógica de submissão as direções não revolucionárias quando da greve geral na Inglaterra no final da década de 20, que abriu uma situação revolucionária no país, em que Stálin novamente impõe ao jovem partido comunista britânico que se submeta a direção reformista das trade-unions[5]; a política stalinista na revolução espanhola, quando pra agradar seus aliados ocidentais, Inglaterra e França, Stálin comanda o partido comunista espanhol pra que esse reprima duramente todos os setores revolucionários no país (anarquistas, trotskystas, poumistas)[6], pra ficarmos em exemplos por demais conhecidos por quem estuda minimamente a história do período, foram elementos centrais para que a realidade objetiva do isolamento da URSS viesse a se reproduzir.

 

AGORA VOCÊ É CONTRA FRENTE POPULAR, O QUE VOCE DEFENDE NA ALEMANHA EM 33, VOCE RECUSA NA ESPANHA E NA CHINA.

 

O isolamento da URSS, assim, não foi um dado puramente exterior, com o qual a burocracia stalinista, e o ditador georgiano em primeiro lugar, teve que lidar como uma força exterior e autônoma, impossível de ser modificada. A política contra-revolucionária dirigida por Stálin foi parte central da construção desse isolamento. Que os “intelectuais” neo-stalinistas, que buscam defender o ditador na internet, sequer levem isso em consideração mostra o grau de conhecimento histórico dos nossos “sábios”

A relação entre ciência e política, entre conhecimento e estratégia, no marxismo (é moralismo caracterizar a burocracia stalinista como traidora e criminosa?)

Outro argumento que, por incrível que possa parecer, os neo-stalinistas acham particularmente inteligente, que quando usam pensam estar efetivamente “lacrando” na internet, é o de que a caracterização que fazem os críticos do stalinismo de que o ditador georgiano traiu a revolução de outubro, cometeu crimes contra a revolução, seria um moralismo anti-científico e mostraria a incapacidade de uma análise supostamente objetiva do fenômeno, pois as ideias de crime e traição não teriam qualquer espaço num discurso científico.

Isso, no entanto, mostra apenas a concepção positivista e acadêmica, ligada a intelectuais presos a seus gabinetes e que nunca se envolvem com as lutas reais entre as classes, que tem nossos “sábios” sobre o conhecimento dos fenômenos sociais e históricos. A relação entre análise científica dos fenômenos e sua caracterização política e estratégica no marxismo, teoria revolucionária e militante da classe operária, é bastante mais complexa.

Qualquer um que já participou de uma luta qualquer dos trabalhadores, de uma greve, de uma mobilização, já acordou cedo para participar de piquetes e já se enfrentou com a polícia e com os bate-paus ligados à burocracia sindical sabe que caracterizar essa burocracia (que dirige grande parte dos sindicatos no Brasil, por exemplo) como traidora das lutas, como pelega, nada tem de moralismo, mas é uma caracterização política fundamental e necessária como auto-esclarecimento para os trabalhadores que organizam suas lutas por suas condições de vida.

 

ESSA BUROCRACIA DEVE SER MAIS TROTSQUISTA LIGADA AO PT DO QUE DO PCB, NÃO É MESMO?? VOCE SE PERDE TOTALMENTE AQUI, AO IMAGINAR QUE O PCB TEM BUROCRACIA SINDICAL. VOCE MESMO INSULTOU O PARTIDO CHAMANDO DE ACADEMICO E ISOLADO DAS MASSAS E NÃO SEI QUE.

 

As burocracias encasteladas nos sindicatos não são pura e simplesmente expressão de condições objetivas exteriores a sua ação, mas antes utilizam seus privilégios materiais e subjetivos para produzir e reproduzir essa sua posição social. A condição de despolitização da classe trabalhadora que permite aos burocratas ocupar essas posições não é apenas um dado objetivo exterior a ação dos burocratas, mas expressão de uma política ativa para a reprodução de sua despolitização, para que seja possível que sejam reproduzidos os privilégios dos burocratas.

Aqui novamente é preciso romper com uma concepção metafísica e vulgarmente economicista da história em prol de uma concepção materialista e dialética. Entre os elementos que formam a objetividade das relações sociais está, de forma insuperável, a ação subjetiva dos sujeitos que vivem essa realidade. A história não é uma realidade objetiva exterior a ação dos seres humanos, mas expressão e sistematização de sua atividade consciente e volitiva. Mesmo que sempre em condições determinadas são os seres humanos que fazem história.

 

PARA FALAR DE STALIN VOCE DEIXA QUALQUER OBJETIVIDADE E PARTE PARA UMA CONCEPÇAO ULTRAPASSADA DE HISTORIA, CENTRADA NO INDIVÍDUO.

 

Para qualquer trabalhador que se prepara para uma luta, para uma greve, e que tem o sindicato de sua categoria dirigido por uma burocracia sindical (como CUT, Força Sindical, UGT, CTB, no Brasil, por exemplo) é central, fundamental, ter claro que para construir efetivamente essa luta ele terá que superar essa burocracia que dirige o sindicato, ter uma política consciente para isso, pois mesmo que essa burocracia tenha se submetido a uma assembleia massiva de trabalhadores que votou por uma greve, por exemplo, só o fez para não perder o controle da categoria e com o claro objetivo estratégico de trair a luta assim que possível e o mais rápido possível. Sem essa clareza estratégica, sem essa clara caracterização política, os trabalhadores combativos que se preparam para lutar só poderiam esperar a derrota e a desmoralização, que é com o que conta a burocracia sindical para reproduzir sua condição de privilégio (pois a desmoralização da derrota leva a despolitização, e a despolitização é base para a reprodução dos privilégios da burocracia, num processo que se retroalimenta constantemente).

 

CITE SINDICATOS IMPORTANTES QUE O PCB CONTROLA.

 

Num outro grau de dimensão histórica, algo análogo ocorreu na URSS; uma análise científica, com base em documentos históricos e empiricamente verificável, mostra que após os esforços para a revolução e para garantir a vitória frente aos exércitos brancos apoiados pelas potências imperialistas, num país já pobre e que já tinha sido uma das principais vítimas da I guerra mundial, se formou uma burocracia contra-revolucionária, cujos interesses sociais estavam em contradição com os interesses do proletariado[7].

Essa análise científica e objetiva, baseada em fatos e documentos, que mostra a degeneração da revolução por fruto das condições históricas em que ela se deu, dá base para a caracterização política e estratégica da burocracia stalinista como uma burocracia que traiu a revolução de outubro (assim como uma direção burocrática de sindicatos traí, objetivamente, greves), e que de forma criminosa perseguiu e assassinou a maior parte da velha guarda do partido bolchevique que dirigiu a revolução, toda uma camada de intelectuais que se formou sob o influxo de outubro, uma massa de trabalhadores que de forma instintiva lutava por seus direitos (assim como uma burocracia sindical entrega por vezes, de forma criminosa, militantes, piqueteiros, lutadores, combativos pra polícia).

Ver na caracterização política e estratégica da burocracia stalinista, e do próprio ditador georgiano, como traidora e criminosa um elemento moralista mostra apenas como os “militantes” ligados aos partido “comunista” brasileiro nunca sequer chegaram perto de uma luta real e efetiva da classe trabalhadora.

Para concluir: PCB “radical” na defesa do stalinismo e social-liberal na defesa da “revolução solidária” no processo eleitoral (o maniqueísmo como ideologia dos medíocres)

 

POR QUE VOCE ACHA STALIN SIGNO DE RADICALIDADE? POR QUE TROTSKY NÃO SERIA UMA MELHOR ESCOLHA, SE SÃO REFORMISTAS MODERADOS, POR QUE FINGEM COM STALIN E NÃO COM TROTSKY?

 

Um dos fatores centrais que parece legitimar, entre os simpatizantes e “militantes” do PCB sua reabilitação da figura de Stálin é que eles estariam se colocando, supostamente, na linha de frente da luta contra o liberalismo e da defesa da memória da revolução russa. Se baseando numa lógica maniqueísta tão rasteira que chega a assustar que pessoas que parecem se reivindicar intelectualizadas possam defendê-la os pecebistas partem do pressuposto que “ou você defende o stalinismo ou você é liberal” ou “se você critica os crimes e traições do stalinismo você critica a memória da revolução russa, logo você é um liberal”.

 

SIM, VOCE TEM UMA VISAO DE HISTORIA CENTRADA NO INDIVÍDUO QUE É LIBERAL, POR ISSO ULTRAPASSADA. VOCE APENAS USA UMA FRASEOLOGIA MARXISTA, UMA RETORICA ABUNDANTE, VAZIA, IRADA, PARA ESCONDER SUA FRAQUEZA.

 

Outro primor do vulgar reducionismo maniqueísta que baseia a argumentação dos neo-stalinistas atuais é que criticar a perseguição brutal e os assassinatos contra os revolucionários levados a frente pelo stalinismo seria reivindicar o pacifismo. Nosso caro Fagundes também apela para esse argumento:

“Quem acha, na esquerda, que obterá dividendos com o combate a um suposto “neo-stalinismo” quebrará a cara. Para a narrativa predominante nos meios liberais não há espaço sequer para Lenin. Possuem uma certa coerência nossos direitistas: a violência política não começou apenas com Stalin, apesar da sua intensificação a partir dele. A defesa de um humanitarismo pacifista e abstrato certamente não depõe a favor do comandante implacável — terror dos anarquistas — do Exército Vermelho, Leon Trotsky, nem sequer ajuda a ver com bons olhos alguns processos amados pelos progressistas, como a primeira revolução de negros anti-escravidão bem sucedida na história (a revolução haitiana, famosa pela violência) ou a luta de republicanos na Espanha contra as tropas de Franco — quem já leu algo sobre a Guerra Civil Espanhola fica espantado com episódios de brutalidade cometidos pelo “lado certo” da guerra, principalmente contra o clero católico.”

 

AQUI O SEU ADVERSÁRIO ESTÁ DIZENDO JUSTAMENTE QUE ELE NÃO SE ESCANDALIZA COM A DEFESA DE STALIN, MAS ESSE ARTIGO É JUSTAMENTE VOCE ESCANDALIZADO, IGUAL A UM LIBERAL ESCANDALIZADO. E ISSO NÃO É COINCIDENCIA, POIS VOCE NÃO CONSEGUE SE AFASTAR DAS IDEIAS LIBERAIS.

 

Não nos aprofundaremos aqui na questão dos tais “dividendos” que nosso Fagundes almeja conseguir junto aos “meios liberais”. Respondemos apenas que para os que buscam construir uma perspectiva revolucionária ligada aos interesses do proletariado em sua luta por emancipação, a opinião ou aceitação pelos “meios liberais” é algo por demais desimportante. Quanto a nosso Fagundes inclusive o fato de ele ventilar essa ideia mostra pra quais interesses se voltam suas construções “teóricas”.

 

ELE ESTÁ FALANDO É QUE VOCE NÃO VAI TIRAR DIVIDENDOS ATACANDO STALIN DESSA MANEIRA ENSANDECIDA.

 

Em relação ao pacifismo, o maniqueísmo rasteiro que busca igualar a crítica aos crimes do stalinismo à reivindicação de uma ação transformadora pacífica é por demais vulgar e está ligada a outro elemento de uma lógica reducionista e maniqueísta, a de que como a violência revolucionária na luta por emancipação dos subalternos é legítima, qualquer tipo de ação criminosa e traidora (como as levadas a frente pelo stalinismo) seria também legítima.

Contudo, pra quem busca pensar dialeticamente e não através da ótica do mais vulgar e rasteiro maniqueísmo a diferença entre a violência legítima dos subalternos em sua luta por emancipação, em meio a uma guerra civil, com um país invadido pelos exércitos brancos apoiados pelas potências imperialistas, que deveria ser algo contingente e limitado no tempo (como no exemplo do caso russo) e a violência sistemática perpetrada por uma burocracia contra revolucionária contra os militantes e dirigentes do partido que esteve à frente da revolução (o partido bolchevique) é por demais evidente.

Entender as condições históricas objetivas que permitiram a formação dentro do processo revolucionário de uma burocracia que passou a negar a possibilidade de desenvolvimento da revolução, buscando reprimir e perseguir os setores que continuavam lutando pelo avanço de seu potencial não significa:

 

“Descrever toda a história de lutas revolucionárias como uma sequência bárbara de derramamento de sangue sem sentido é o procedimento padrão de qualquer Restauração, como atestam as visões sobre os jacobinos presentes na França após 1815 — o que durou até que historiadores comunistas do século XX “restaurassem” Robespierre — ou as reações das oligarquias latino-americanas contra o levante dos negros haitianos, sempre dando ênfase aos relatos de violência, algo que ajuda a explicar até mesmo a independência meia-bomba no Brasil.”

 

Como pensa o autor do texto com o qual debatemos; significa ter uma visão objetiva, e daí sim não romantizada e idealizada, do processo revolucionário, onde não há de forma alguma uma garantia de que ele vá avançar e ser vitorioso de antemão. Muito pelo contrário, como atestam todas as revoluções (os grandes exemplos sendo a própria revolução russa e a revolução francesa) as possibilidades de desvios, de retrocessos, da formação de burocracias thermidorianas, que se colocam à frente da revolução para traí-la e reprimir suas potencialidades, é algo sempre presente. Ter claro essa possibilidade, fazer uma análise objetiva do porque esses retrocessos se produziram, é chave para que nas novas lutas em que se colocará o proletariado (e certamente se colocará) os mesmo erros e desvios não se reproduzam, ou que possamos, nós trabalhadores, combatê-los com maior prontidão e clareza.

Criticar essas deformações e degenerações também em nada significa negar a grandiosa memória da revolução de outubro e da URSS, o principal fenômeno de luta da história das classes subalternas, que tem um significado universal incontornável. Só o mais adaptado e pusilânime burocrata poderia fazer essa relação. Honramos a memória dos trabalhadores revolucionários que deram a vida por essa grande revolução buscando fazer um balanço efetivo e sem preconceitos de seus importantes ganhos e também de seus descaminhos e degenerações.

 

O QUE VOCE ESTÁ FAZENDO É TRANSFORMAR A REVOLUCAO RUSSA NUMA EPICA SEM HEROIS. DE UM LADO ESTAO OS TORTURADORES E BUROCRATAS E DE OUTRO AS VÍTIMAS QUE SE DEIXAM MATAR E TORTURAR PACIFICAMENTE, SEM DAR UM TIRO. ISSO QUE VOCE FAZ NÃO É BALANÇO EFETIVO, É HISTERICA CONDENACAO DE UM INDIVIDUO NO QUAL VC INVESTE A CULPA DE TODAS AS DERROTAS.

 

Que mesmo traída por uma burocracia contra-revolucionária, thermidoriana, a revolução de outubro tenha tirado a Rússia de uma condição de atraso semi-feudal para colocar a URSS como a segunda potência do mundo é algo que mostra a força e a grandeza do proletariado daquele país, que nem toda a perseguição e brutalidade stalinista conseguiu reprimir.

 

VOCÊ ATRIBUI A STALIN O PODER DE CENTRALIZAR TUDO COMO DITADOR E DEPOIS DIZ QUE O PROLETARIADO É QUE VENCER A GUERRA. SE É DITADOR E MANDA EM TUDO, ENTAO NÃO QUEIRA TIRAR O MERITO DELE DE VENCER A GUERRA. OU ENTAO ADMITA QUE NÃO MANDAVA EM TUDO E QUE A GUERRA FOI GANHA APESAR DA BUROCRACIA, APESAR DO LIDER SER BUNDA MOLE. ORGANIZE SUAS MENTIRAS!!! SE SÃO BUROCRATAS BUNDA MOLES, COMO VENCERAM A GUERRA? COMO O POVO LUTOU SEM LÍDER? NOTARAM COMO GORBACHEV, O LÍDER, FEZ TUDO DESABAR SEM LUTA??

 

Assim, fica por demais evidente, para quem busque mesmo que inicialmente pensar de forma dialética, que o maniqueísmo “stalinismo ou liberalismo” em nada encerra as possibilidades de compreensão do riquíssimo fenômeno que foi a revolução russa. Os revolucionários e trabalhadores conscientes bradamos alto NEM O STALINISMO QUE AFOGOU EM SANGUE E TRAIU A REVOLUÇÃO, NEM O LIBERALISMO CAPITALISTA QUE REPRODUZ NOSSA EXPLORAÇÃO, por um resgate efetivamente revolucionário da revolução de outubro, para que em nossas lutas presentes e futuras possamos efetivamente construir uma sociedade socialista, que prime pela democracia operária e pela liberdade e iniciativa independente dos trabalhadores na escolha dos rumos da revolução.

 

ORGANIZE SUAS ASNEIRAS: COMO LEVOU A POTENCIA MUNDIAL E AFOGOU EM SANGUE E TRAIU A REVOLUCAO AO MESMO TEMPO???

 

Quanto ao suposto radicalismo dos “militantes” do PCB, por defenderem o stalinismo e se pensarem estar na linha de frente da luta contra o liberalismo; bom, o critério, como já dizia o nosso velho mestre, é a prática. A primeira questão a se notar aqui é que o PCB, que já tem quase 30 anos desde sua “refundação” no começo da década de 90 do século passado, não tem nenhuma inserção significativa na classe operária brasileira e não deu, nos últimos muitos anos, sequer um exemplo que possa ser lembrado de luta efetiva. Um pequeno grupo que se constrói apenas entre um setor da pequena-burguesia acadêmica progressista parece pouco apto a se reivindicar radical.

 

COMO RADICALISMO, POR QUE STALIN APARECE COMO SÍGNO DE RADICALISMO E NÃO TROTSKY, SE TROTSKY É TÃO RADICAL? POR QUE NÃO FINGEM RADICALISMO COM TROTSKY?

 

Além disso, a “luta contra o liberalismo dentro da esquerda” que parecem reivindicar os pecebistas é totalmente contraditória com sua aliança sistemática com o partido que é a própria representação do “esquerda” liberal no Brasil, o Psol. O apoio a “revolução solidária” do Psol na campanha eleitoral para prefeitura da cidade de São Paulo por parte do PCB mostra que seu radicalismo se restringe a defesa dos crimes e traições do stalinismo, mas na prática política o partido “comunista” brasileiro defende o mais rasteiro e adaptado eleitoralismo liberal que marca a prática política da “esquerda” brasileira há já algumas décadas.

 

VOCE DEVERIA É EXPLICAR QUE STALIN É CONTRARREVOLCUIONÁRIO E O PCB, AO FAZER ELEITORALISMO LIBERAL, TAMBÉM É. MAS VC, AO FALAR DE STALIN, ACABA SEMPRE FALANDO EM RADICALISMO. TROTSKY FICA COMO SENDO MODERADO. E DE FATO TROTSKY, BOA PARTE DA VIDA, COMBATEU LENINISMO E CZARISMO AO MESMO TEMPO. VOCE TRAI, A TODO TEMPO, SEU PROPRIO DISCURSO.

 

Esse texto é endereçado aos jovens sinceros e que buscam uma militância efetiva e ligada à classe trabalhadora e demais setores subalternos e que hoje tem referência no PCB; companheiros, nós trabalhadores, jovens, mulheres, negros, lgbts, devemos nos preparar para grandes enfrentamentos da luta de classes em nosso país, assim como os que aconteceram e acontecem hoje na França, no Chile, nos EUA. Pra isso, contudo, é preciso que nos libertemos dos espectros do passado e façamos um balanço efetivo e revolucionário do grande processo de luta dos trabalhadores que foi a revolução russa. E isso só é possível enterrando de vez e sem subterfúgios o fantasma de Stálin, o coveiro de revoluções, o grande organizador de derrotas.

 

 

VOCE NÃO FEZ NADA NESSE ARTIGO, A NÃO SER RETÓRICA. VOCE ESCONDE QUE SEU EMBASAMENTO É TROTSKY. POR VERGONHA, TALVEZ. VOCE ATACA O PCB COM PSICOLOGISMO VULGAR, COM INVEJA DO TESAO DOS MILITANTES COMO JONES, NÃO POR ELES SEREM BUROCRATAS OU BUNDA MOLES. SUA CONCEPCAO DE HISTORIA É FOCADA NUM INDIVIDUO, UM SUPER-LUCIFER QUE VOCE DEMONIZA DE FORMA RIDÍCULA.VC APENAS INVERTE O CULTO DA PERSONALIDADE. ISSO É METAFÍSICA, VOCÊ ESTÁ MERGULHADO EM LIBERALISMO. VOCE CHAMA DE DITADOR, MAS A SEGUIR ADMITE QUE O PROLETARIADO GANHOU A GUERRA, OU SEJA, AS PESSOAS TINHAM LIBERDADE, ENTAO. VOCÊ CHAMA DE BUNDA MOLE, BUROCRATA, MAS É OBRIGADO A ADMITIR QUE TRANSFORMOU O PAÍS EM POTENCIA. VOCE SUPOE QUE O LÍDER NÃO IMPORTA, ESQUECE O EXEMPLO DE GORBACHEV.

INCLUSIVE, STALIN É SIGNO DE RADICALIDADE PARA ELES DO PCB E PARA VC MESMO. ATÉ MAIS DO QUE TROTSKY. VOCE TRAI SEU PROPRIO DISCURSO.

 

1- https://lavrapalavra.com/2020/09/16/15005/?fbclid=IwAR2GsISS5hsTXdVeU3jEVFAtIoDgpfu9EtPBwnn59dq7Hdd8rkAsGFEQMTo

 

2- https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/09/stalin-nao-foi-a-reencarnacao-de-lucifer-diz-influenciador-de-caetano-veloso.shtml

 

3- https://www.expressaopopular.com.br/loja/produto/revolucao-e-contrarrevolucao-na-alemanha/

 

4- https://www.marxists.org/archive/trotsky/china/index.htm

 

5- https://www.marxists.org/archive/trotsky/works/britain/index.htm

 

6- https://www.marxists.org/archive/broue/1961/spain/rev-spain.html

 

7- Entre as muitas análises históricas científicas desse processo podemos citar: ‘A Revolução Traída’ de Leon Trotsky; a ‘História do partido bolchevique’ de Pierre Broué; as biografias escritas por Isaak Deutscher de Trotsky e de Stálin; o livro ‘O ano 1 da revolução’ de Victor Serge, todos livros facilmente encontráveis pela internet.

 

COMPARTILHE ISSO:

TwitterFacebook

 

RELACIONADO

Ciência e paradigma

Em "Sem categoria"

A dissolução do real/ ou ideologia e pós-verdade

Em "Sem categoria"

Teses sobre a importância da teoria para a formação de uma organização revolucionária

Em "Sem categoria"

 

Publicado por Santiago Marimbondo

 Ver todos os posts por Santiago Marimbondo

21 de setembro de 2020

Sem categoria

 

Navegação de posts

‘O grande inquisidor’ de Ivan Karamazov como alegoria: os tipos psicológicos do revolucionário e do burocrata

A psicologia de massas do bolsonarismo (notas de pesquisa)

Deixe um comentário

Digite seu comentário aqui...

BLOG NO WORDPRESS.COM.ACIMA ↑

Privacidade e cookies: Esse site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.

Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte aqui: Política de cookies

Lições de Abismo Aqui e Agora

  O livro de Gustavo Corção, Lições de Abismo (Livraria Agir Editora, 13a edição, 1973), é a obra literária mais famosa deste esquecido pensador e artista católico. As inúmeras edições desde a primeira em 1953 fazem pensar que Corção tinha um público significativo. Ficaram famosas suas polêmicas com Alceu Amoroso Lima, o Tristão de Athaíde, partidário de um catolicismo mais liberal, enquanto o de Corção era duramente tradicionalista. Corção foi chamado até de “satã” pelo Pasquim, e antipatizado por uma geração que mergulhara, como o padre Nando de Quarup, no catolicismo de esquerda, fazendo a opção preferencial pelos pobres.


Antes de analisar o romance, será preciso contextualizar o catolicismo de Corção. Enquanto intelectuais católicos como Tristão de Athaíde passaram da direita nos anos 30/40 para a esquerda na década de 60, quando do surgimento da Teologia da Libertação, Corção era um ex-ateu, e, quando retornou ao catolicismo, reafirmou furiosamente os dogmas. Diante da polarização da Guerra Fria, acabou resvalando para a postura de apoio ao regime militar brasileiro. Tornou-se, junto com Nelson Rodrigues (embora sem a grosseria ostensiva deste) o reacionário, o direitista que toda a geração marcada por 1968 identificou e atacou. Mas vale a pena reexaminar uma obra literária do intelectual católico Gustavo Corção, que se inscreve numa linhagem de pensadores católicos que se afigura uma de nossas duas únicas tradições de pensamento enraizadas (a outra é a vertente marxista). Distante das metáforas sexuais e das frases de mau-gosto que atrapalham mesmo as melhores obras de Nelson, Corção é um escritor provido de sensibilidade estética: ao falar de morte, passa longe da morbidez e do cinismo. O cineasta (bem pouco afeito à religião) Glauber Rocha, em 1979, reviu Gustavo Corção em outra perspectiva:



Da ortodoxia católica dos dois lados: do catolicismo tradicional e do pseudo-catolicismo da libertação. Aqui, no Brasil, por exemplo, do ponto de vista religioso, o Gustavo Corção é muito mais santo que o Tristão de Athayde. O Tristão de Athayde é inteiramente reacionário, se diz de esquerda mas usa o princípio da fé. Como, na postura de um intelectual, não pode aceitar o absurdo do dogma católico, procura isso no marxismo teórico e, ao mesmo tempo, fornece os mais reacionários artigos anticomunistas em defesa do capitalismo democrático liberal kennedista dentro do Jornal do Brasil, onde ele escreve. O dr. Gustavo Corção, ao contrário, foi um fanático do catolicismo, mas um especialista na história do catolicismo, conhecedor profundo do dogma. Então, foi um militante do absurdo, sem colocar jamais isso em dúvida; portanto, muito mais competente que o dr. Tristão. (Rocha, Glauber. Apud: HOLLANDA, Heloísa Buarque de. 1979, p.33)



Glauber reconsiderou Gustavo Corção depois de ter apoiado a abertura de Geisel e decidido dialogar com os militares nacionalistas. Já no final da década de 70 apareceram opositores do projeto do nacionalismo e do modelo estatal para o Brasil, os tais “liberais kennedianos”, que Glauber ataca nessa entrevista. Anteriormente (em março de 1971), explicitou uma visão de Corção bem diferente no Pasquim:



Como é que uma pessoa pode viver sem viajar? D. Quixote, caricatura andante de Cervantes, viajou paca e ainda topou com moinhos de vento. O grilo era o Sancho Pança. O careta mais repressivo, uma espécie de Gustavo Corção dizendo as óbvias moralidades. Se alguém filmar D. Quixote, a primeira coisa é matar logo o Sancho na primeira cena. (Rocha, Glauber. Apud: MACIEL, Luiz Carlos. Rio de Janeiro, Codecri, 1981)



Em Lições de Abismo, um professor de filosofia chamado José Maria descobre que está acometido de um câncer no sangue. Amante de ópera, culto e ilustrado, José mergulha na obsessão da idéia de morte, pensando constantemente no fim. Em meio a devaneios e especulações metafísicas, José Maria se sente desagregar. Está curiosamente próximo do existencialismo cristão, embora faça a seguinte observação:



Chego a dizer, com Kierkegaard, que ‘quanto mais me demonstrarem a imortalidade da alma menos creio nela.’ Que quer isto dizer? Terei eu um ceticismo que me leva a descrer das operações da inteligência, e que prefira a penumbra à claridade, como parece que seja o gosto de um Heidegger, e mesmo de Kierkegaard? Não. Não é bem essa a dificuldade. Se realmente me repugna a iluminação crua do cartesianismo, não me atraem as obscuridades dos filósofos germânicos. (CORÇÃO, Gustavo. 1973, p.55)



A personagem operística Kundry simboliza, daí por diante, a morte anunciada. A partir de então José Maria vive experiências existenciais que lembram as de Antoine Roquentin em A Náusea. Faz então a famosa experiência do negativo, que perpassa a filosofia de Sartre e Heidegger e os textos de Camus. Caindo nos abismos da subjetividade, José Maria vivencia momentos de extrema delicadeza e de sensibilidade muito apurada:



‘A descoberta do eu –li hoje nas páginas de um filósofo – se completa nos abismos da subjetividade.’ Esse é o documento cifrado, escrito em caracteres rúnicos, que me caiu nas mãos por acaso, e que indica de modo tão conciso o caminho do centro da Terra. Eia, Axel, chegou a hora. Despede-te da bela Gräuben. Vamos descer aos abismos. (CORÇAO, 1973, p. 234)



O romance faz um movimento de mergulho e volta à tona, em busca da sala do trono no castelo encantado de si mesmo. José Maria contesta Freud, quer achar o eu cartesiano, onde o eu estava como um rei em seu castelo, mas só encontra silêncio, escuridão, sente-se estrangeiro de si mesmo, vê o próprio dedo como “um pau de cerca derrubado, que o triste dono deste solar arruinado calcula como e quando consertará” (CORÇAO, 1973, P. 237). Nada o consola, revolvendo a memória, sente-se um prisioneiro melancólico que folheia um álbum; não se encontra na própria imaginação, essa “câmara de projeções combinadas, que superpõe espetáculos, aproximando vulcões, estrelas e rosas.” (CORÇÃO, 1973, p.238) Cai, despenca no vazio, acorda gritando, agarrando-se ao título de professor. Imagina o dia em que partirá para o outro mundo, “vendo o mundo afastar-se devagar, como um cais com muita gente agradecida, com muitos lenços”. (CORÇÃO, 1973, p.239)

Em outros momentos, no entanto, José Maria demonstra um elitismo aristocrático, criticando posturas nacionalistas e socialistas por seu coletivismo, que ele julga abjeto, tendo assimilado ao seu cristianismo a crítica de Nietzsche à “moral dos escravos”. José Maria possui uma visão olímpica do mundo:



Vendo que eu voltava à realidade do mundo, e que portanto já podia contar com minha atenção, o bêbedo tirou o velho chapéu num largo gesto patriótico, e exclamou:

- O petróleo é nosso!

(...) Mal dei conta da tese nacionalista que o meu homem com tanto ardor sustentava. Já tenho observado que os bêbedos são quase sempre nacionalistas. Não sei por quê. No momento, aliás, o problema do petróleo pareceu-me insignificante. (CORÇÃO, 1973, p. 79)



No trecho supracitado, o personagem é um “esteta do absurdo” que encontra um nacionalista romântico e boêmio. Surge hostilidade entre os dois, pois José Maria está vivenciando profundamente o negativo. O que o eleva dos abismos da subjetividade é sempre a experiência do belo. Ostensivamente influenciado por Machado de Assis, Corção cita o conto A Missa do Galo e Memórias Póstumas de Brás Cubas. Consta que publicou, inclusive, um ensaio sobre Machado. Num trecho em que José Maria comenta um adultério, uma situação machadiana vêm à tona:



Apareceu então no vão entreaberto um rosto comprido e assustado. E ficamos ambos em silêncio um diante do outro, na porta agora escancadara. Era André. O marido de Eunice. O primeiro marido. Nesse momento, apesar de toda a intensidade que trazia, o meu ciúme desmoronou-se como um castelo de cartas. Era André. (...) Na porta, André chegou-se mais perto de mim. Estava lívido, tremia, mas conseguiu falar:

--Tome conta de Eunice. Enquanto somos só nós dois, não tem muita importância. (CORÇÃO, Gustavo, 197: p.132)



A questão do adultério, tema que tortura Bentinho por todo o Dom Casmurro, e que até hoje suscita polêmicas, aparece como um problema moral superado, o que é curioso no livro de um romancista católico, e que era hostil às decisões do Concílio Vaticano II.

A devoção de José Maria às rosas, que identifica com mulheres, o faz observar, na festa em homenagem a um general e ministro em que comparece, que a relação de adoração e fruição estética que ele mantêm com as belas flores não está ao alcance do general-ministro:



O que ele vê nesse jogo de espelhos, rosas aqui, fornecedores acolá, é a sua própria importância, a sua própria face, a grande, a única realidade, em torno da qual o mundo inteiro é uma enorme moldura. (CORÇÃO, 1973: p. 97)



Mais adiante, o esteta teoriza sobre o coletivismo, mal que assola o mundo. Neste sentido, ele lembra Huysmans e Oscar Wilde, que, estetas e aristocratas, se entregavam ao hedonismo e acreditavam na máxima de Villiers de Isle-Adam: “Viver? Nossos criados farão isso por nós.” Mas, no livro Lições de Abismo, essa repulsa à vulgaridade é envolta em implicações místico-religiosas. É a doença que impulsiona a reflexão de José Maria. Como em Wilde e Huysmans, aqui há a repulsa pela ascensão das massas no século XX, equacionada pelo personagem José Maria com degradação moral e demagogia vulgar, deixando transparecer uma característica do pensamento conservador. Remete também a Viagem ao Centro da Terra, de Júlio Verne:



Na Viagem ao Centro da Terra de Júlio Verne eu vejo um grande simbolismo: a cozinheira e a jovem Gräuben ficam para trás, são por assim dizer abandonadas – ao contrário do que acontece nas aventuras do correio do Tzar, em que Marfa e Nadja acompanham o herói – para que se acentue nitidamente o caráter masculino da curiosidade penetrante e vertical. (CORÇÃO, Gustavo. 1973: p.185)



O livro de Gustavo Corção resguarda uma vitalidade, pois o surgimento da AIDS tornou essa vivência da qual ele fala, a realidade de uma pessoa que vive com uma doença incurável, uma presença cotidiana em nosso mundo – e aliás, estamos tratando aqui da situação-chave, da pedra de toque do romance.

Lições de Abismo foi elogiado por Oswald de Andrade e dado de presente para o filho Rudá, o que mostra a tolerânca ideológica de Oswald, que, no entanto, fez ao autor da obra a seguinte ressalva:



E o caso Corção vem confirmar o que já disse – temos romances mas não temos romancistas. Homens que escrevem maravilhas são muitas vezes no convívio verdadeiros desarmados intelectuais. Geralmente inconscientes e mesmo incultos. A essa fatalidade que pesa sobre a nossa literatura não escapa o próprio Gustavo Corção que acaba de publicar um triste livro de polêmica ideológica, confirmando-se num pequeno catolicismo de Laranjeiras e Centro Dom Vidal. (ANDRADE, Oswald de. 1972: p.169)



Oswald faz uma clara distinção entre homens e obras, criticando não a obra literária, que reconhece transcender o catolicismo reacionário de Corção, mas o modernista contesta o texto onde Corção tece considerações ideológicas.

Em Lições de Abismo, são as situações existenciais vividas pelo personagem José Maria que garantem a perenidade da obra. O livro teve a sorte de ser portadora de um assunto que a rejuvenesceu. Estranhamente, a preocupação cotidiana e pungente com a mortalidade, que o protagonista recomenda, parece salvar do tempo suas palavras, se não podia salvar a si próprio.