sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Acabou Nosso Carnaval

 

Acabou Nosso Carnaval

Lúcio E. do E. Santo Júnior

 

            Minha geração foi a última a ver as turmas de carnaval em Bom Despacho. E, com certeza, uma das últimas a ver os desfiles das escolas de samba. Lembro-me do desfile em 1988. Era especialmente fascinante a escola de Dona Sebastiana, composta só por negros.

            Conversando com parentes que viveram o período, contaram-me que o desfile das escolas de samba foi acabando aos poucos, pois implicava em gastos e dava trabalho.

            As turmas vestiam fantasias e havia o prêmio por fantasia. Lembro-me de ir ao Clube Social e ver as meninas da Unidos por Acaso vestidas com fantasias de capetinhas, de diabinhas. Pensei como devia ser sexy participar de uma turma. Havia outras: Tropicana, Staff, Oi Tentação. Os blocos alugavam uma sede, que era uma sede ou casa velha, à noite tinha o Clube Social e o concurso dos blocos. A cidade era toda decorada, Roniere Menezes fez uma marchinha que tocou no rádio graças ao Célio Luquini; que sem dúvida tem carinho pelas coisas da cidade.

 

NÓS DOIS PELA CIDADE

FOI NO JARDIM SEM FLOR

QUE EU COLHI VOCÊ

DEI UM SORRISO

ABRI MEU CORAÇÃO

VOU TE ABRAÇAR, TE LEVAR PELA CIDADE

LÁ NA BIQUINHA

MOLHEI SEU BELO ROSTO NA MINA

OUVI A SEREIA CANTANDO

MATANDO A SEDE DE MACUNAÍMA

NÓS DOIS, NÓS DOIS NA RUA DO CÉU, MEU AMOR

EM LUA DE MEL NO PARAÍSO

NÓS DOIS, NÓS DOIS, NA CRUZ DO MONTE

SANTO DESEJO: CRISTAL NO HORIZONTE

NA TABA, TABA, TABATINGA

VI UMA NEGRA LINDA

FALAR EM OUTRA LÍNGUA

NA TABA, TABA, TABATINGA

VI BATUQUE E GINGA

MISTÉRIO DAS COLINAS

NA PRAÇA DA ESTAÇÃO

CHEGOU, CHEGOU A TURMA DO PRAZER

LARGUINHO, GARÇA, QUENTA-SOL

SÓ QUERO AMAR E DESPACHAR O MAL

LÁ NAS PALMEIRAS

VI UMA DONA DOIDA DE PORTA-BANDEIRA

CRIANÇAS DE ÍNDIO, ARLEQUIM FOLIÃO

É SÓ MAGIA, ALEGRIA GERAL NA MULTIDÃO

NÓS DOIS, NÓS DOIS PELA MATRIZ, MEU AMOR

SEM MAL-ME-QUER, SEM DIZ-QUE-DIZ

NÓS DÓIS, NÓS DOIS NA VILA AURORA

QUERO VIVER SETE VIDAS COMO AGORA

NA TABA, TABA, TABATINGA

VI UMA NEGRA LINDA

FALAR EM OUTRA LÍNGUA

NA TABA, TABA, TABATINGA

VI BATUQUE E GINGA

MISTÉRIO DAS COLINAS

 

            Havia um concurso de Rainha do Carnaval. Uma parente minha ganhou, mas era marmelada, pediram a ela para ceder o lugar a duas outras, pois era preciso desfilar no palco. Ela, tímida, ficou aliviada.

            Na minha época (anos 90) eram Ideograu, Locaia, Pelourinho. “Locaia” tinha o termo da Língua do Negro da Costa, “ocaia”, que é mulher. Depois da minha época, as turmas acabaram. Acabou nosso carnaval.

 

 

 

 

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