Acabou
Nosso Carnaval
Lúcio
E. do E. Santo Júnior
Minha geração foi a última a ver as
turmas de carnaval em Bom Despacho. E, com certeza, uma das últimas a ver os
desfiles das escolas de samba. Lembro-me do desfile em 1988. Era especialmente
fascinante a escola de Dona Sebastiana, composta só por negros.
Conversando com parentes que viveram
o período, contaram-me que o desfile das escolas de samba foi acabando aos
poucos, pois implicava em gastos e dava trabalho.
As turmas vestiam fantasias e havia
o prêmio por fantasia. Lembro-me de ir ao Clube Social e ver as meninas da
Unidos por Acaso vestidas com fantasias de capetinhas, de diabinhas. Pensei
como devia ser sexy participar de uma turma. Havia outras: Tropicana, Staff, Oi
Tentação. Os blocos alugavam uma sede, que era uma sede ou casa velha, à noite
tinha o Clube Social e o concurso dos blocos. A cidade era toda decorada,
Roniere Menezes fez uma marchinha que tocou no rádio graças ao Célio Luquini;
que sem dúvida tem carinho pelas coisas da cidade.
NÓS DOIS
PELA CIDADE
FOI NO
JARDIM SEM FLOR
QUE EU
COLHI VOCÊ
DEI UM
SORRISO
ABRI
MEU CORAÇÃO
VOU TE
ABRAÇAR, TE LEVAR PELA CIDADE
LÁ NA
BIQUINHA
MOLHEI
SEU BELO ROSTO NA MINA
OUVI A
SEREIA CANTANDO
MATANDO
A SEDE DE MACUNAÍMA
NÓS
DOIS, NÓS DOIS NA RUA DO CÉU, MEU AMOR
EM LUA
DE MEL NO PARAÍSO
NÓS
DOIS, NÓS DOIS, NA CRUZ DO MONTE
SANTO
DESEJO: CRISTAL NO HORIZONTE
NA
TABA, TABA, TABATINGA
VI UMA
NEGRA LINDA
FALAR
EM OUTRA LÍNGUA
NA
TABA, TABA, TABATINGA
VI
BATUQUE E GINGA
MISTÉRIO
DAS COLINAS
NA
PRAÇA DA ESTAÇÃO
CHEGOU,
CHEGOU A TURMA DO PRAZER
LARGUINHO,
GARÇA, QUENTA-SOL
SÓ
QUERO AMAR E DESPACHAR O MAL
LÁ NAS
PALMEIRAS
VI UMA
DONA DOIDA DE PORTA-BANDEIRA
CRIANÇAS
DE ÍNDIO, ARLEQUIM FOLIÃO
É SÓ
MAGIA, ALEGRIA GERAL NA MULTIDÃO
NÓS
DOIS, NÓS DOIS PELA MATRIZ, MEU AMOR
SEM
MAL-ME-QUER, SEM DIZ-QUE-DIZ
NÓS
DÓIS, NÓS DOIS NA VILA AURORA
QUERO
VIVER SETE VIDAS COMO AGORA
NA
TABA, TABA, TABATINGA
VI UMA
NEGRA LINDA
FALAR
EM OUTRA LÍNGUA
NA
TABA, TABA, TABATINGA
VI
BATUQUE E GINGA
MISTÉRIO
DAS COLINAS
Havia um concurso de Rainha do
Carnaval. Uma parente minha ganhou, mas era marmelada, pediram a ela para ceder
o lugar a duas outras, pois era preciso desfilar no palco. Ela, tímida, ficou
aliviada.
Na minha época (anos 90) eram
Ideograu, Locaia, Pelourinho. “Locaia” tinha o termo da Língua do Negro da
Costa, “ocaia”, que é mulher. Depois da minha época, as turmas acabaram. Acabou
nosso carnaval.
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