José
Vasconcelos: A Raça Cósmica e o Professor da América
José Vasconcelos (1860-1959)
foi o autor mexicano que fez a “redenção cósmica” dos mestiços. Era filósofo,
escritor, místico, educador, político. Era uma figura muito intensa e apaixonada
e uma das principais figuras do século XX mexicano.
Nasceu
em Oaxaca em 1882 e seu pai aceitou, junto de sua família, trabalhar no deserto
de Sonora, onde era perigoso trabalhar devido aos ataques dos apaches. Estudou
na infância numa escola norte-americana bilíngue da fronteira. Foi criado junto
da mãe muito religiosa, a quem mesmo depois de morta manteve o cordão umbilical
espiritual. Aos 18 anos, na época da morte de sua mãe, foi estudar na capital e
misturava ciência e misticismo: positivismo de Comte, espiritismo e maçonaria.
Vasconcelos
foi um apoiador do presidente Madero bastante convicto, combatendo os
porfiristas e empolgando-se com a revolução mexicana; Posteriormente com a
morte de Madero, ligou-se a Carranzas e Pancho Vila. Com o assassinato de
Carranzas, foi para a Europa, fugindo das lutas políticas que, segundo ele,
tinham feito a revolução mexicana perder-se em rivalidades mesquinhas.
Nesse
período dos anos 20, tido como seu período progressista, era chamado “Professor
da América”. Nessa época, entre 1921 e 1924, Vasconcelos tornou-se secretário
da educação pública, criada no governo de Alvaro Obregón. Lançou grande
campanha de alfabetização. A seguir, criou o periódico O Mestre, pois queria instaurar no magistério de seu país o seu
espírito redentor. Nesse período, Vasconcelos vislumbrou, no livro Raça Cósmica (1925), a América Latina
como um crisol de todas as culturas do mundo, mas falava especialmente que raça
cósmica nasceria no Brasil e em segundo lugar, tinha destaque a Argentina. O
México foi descrito por ele como selvagem e fracassado. Pode-se dizer que a
influência de Nietzsche faz pensar que em La
Raza Cósmica gera a profecia de que o super-homem ia nascer entre o
Amazonas e o Prata. Devido a suas idas e vindas ao exílio, Vasconcelos ficou
conhecido como “Ulisses crioulo”.
Dentre
muitos artistas de vanguarda, Diego Rivera, Siqueros e Orozco eram
vasconcelistas convictos. Nas grandes paredes da Escola Nacional, esses
muralistas pintaram Quetzalcoatl, Platão, Frei Bartolomeu de Las Casas, dentre
outros, para ele, símbolos de sua síntese universal. Era a teoria dos impérios
étnicos:
Temos
então quatro etapas e quatro troncos: o negro, o índio, o mongol e o branco.
Este último, depois de organizar-se na Europa, converteu-se em invasor do
mundo, e se acreditou que ia predominar, ao mesmo tempo em que acredita que as
raças anteriores, cada uma em sua época de império. Era claro que o predomínio
do branco seria temporal, mas sua missão é diferente de seus predecessores, sua
missão era ser ponte, colocando as bases materiais e morais para união de todos
os homens em uma quinta raça universal, fruto das anteriores e superação do
passado (VASCONCELOS, apud: SILVA , 2013)
Como
educador, na secretaria de educação pública, Vasconcelos desencadeou uma
cruzada espiritual sem precedentes no México. Ao tentar candidatar-se, fracassa
e deixa a secretaria em 1923, exilando-se. No exílio nos USA e Europa, sempre
publica artigos críticos ao regime.
Em
1928, de volta ao país, Vasconcelos marcou época novamente e criou sua famosa
campanha presidencial, apoiada principalmente por estudantes e operários. Ficou
conhecida como “campanha vasconcelista”. Foi marcada pela violência política,
pois era basicamente uma campanha de românticos num país oligárquico.
O
fracasso dessa campanha, supostamente fraudada pelo adversário, fez com que
Vasconcelos voltasse aos USA e Europa em seu exílio mais amargo e trágico de
todos. Seus seguidores sentiram-se abandonados. O exílio foi muito amargo e a
esposa e escritora Antonieta Rivas Mercado suicidou-se com a arma de
Vasconcellos. Ele voltou, então, a um catolicismo de lembranças maternas. Era
muito difícil suportar o convívio com o “profeta solitário” e “Cristo caído”
que era, então, José Vasconcelos, segundo a escritora. Vasconcelos já vinha de
um outro casamento em que tinha deixado de viver com a mulher para dar aulas
junto da amante no Peru, mas a amante deixou-o e foi viver em New York com um
de seus amigos, o que foi enorme baque trágico para Vasconcelos.
Como
católico, assumiu em 1930 a Universidade de Sonora, mas ao dar opiniões
políticas, terminou demitido. Retornou, Igualmente, ao exílio, e, em meio à
depressão e angústia, encontrou um ex-inimigo reacionário e conciliou-se com
ele, o que para os antigos vasconcelistas foi uma vergonha.
De
volta ao México somente em 1938, novamente católico depois do suicídio da
esposa Antonieta em plena igreja Notre
Dame, estando muito contra a extrema-esquerda, Vasconcellos aproximou-se da
Alemanha nazista e fundou a revista Timón,
que produziu alguns números onde defendeu vigorosamente suas ideias a favor
da raça cósmica, retomou Nietzsche, etc. Nos seus últimos anos, refugiou-se na
mística, visitou Batista, Franco e outros reacionários, mas também Fidel
Castro, a quem aconselhou ser duro, pois senão o povo não responderia
positivamente, citando sua experiência junto ao presidente Madero.
No
final da vida, pode-se ver que descobriu uma simpatia grande no brasileiro
Érico Veríssimo, “gaúcho de Porto Alegre” que ele menciona como um brasileiro
diferente dos demais, pois em geral, comentou ele, os brasileiros que conheceu
sentiam-se desdenhosos e superiores diante dos problemas mexicanos, mas
Veríssimo dizia ter sangue índio e sentia-se mexicano, logo após pisar o solo
do país. Vasconcelos cita-o várias vezes em vídeos disponíveis no youtube. Homem tocado por absoluto, uma
palavra pode definir bem esse homem de múltiplos talentos: a palavra grandeza.
Bibliografia:
SILVA.
Ascenso João Gabriel da. A redenção
cósmica do mestiço: nversão semântica do conceito de raça na Raza cósmica de
José Vasconcelos. Est. Hist., Rio de Janeiro, vol. 26, nº 52, p. 294-315,
julho-dezembro de 2013.
Videografia:
Charlas Mexicanas com José Vasconcelos <<https://www.youtube.com/watch?v=Hmhq1bcnrKM&ab_channel=AndrosE.R.Aguilera>>.
La Pasion de Vasconcelos. <<https://www.youtube.com/watch?v=fubakzN00AM&ab_channel=Cl%C3%Ado>>
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