José
Maria de Vargas Vila: Um Nietzsche Colombiano Diante dos Bárbaros
José Maria de La Concepción de
Vargas Vila Bonilla (1860-1933), conhecido simplesmente como Vargas Vila, é um
dos maiores escritores colombianos, mas pouco conhecido no Brasil. Eu o conheci
através de Ezio Flavio Bazzo, admirador de Cioran e de Nietzsche. Seu estilo
apaixonado foi frequentemente comparado a Nietzsche, de quem foi contemporâneo.
Vargas Lhosa admitiu ter lido seus romances quando adolescente. Os romances de
Vargas Vila, tais como Ibis, eram
recheados de cenas eróticas e donos de um estilo apaixonado, colorido e
cativante, altamente libertário e anticlerical. Ibis lhe valeu a excomunhão
pela Igreja Católica. Vargas Vila agradeceu publicamente. Antonio Candido
chegou a dizer que aceitava Nietzsche, mas não Vargas Vila. No entanto, Vargas
Vila é essencial: foi o primeiro romancista latino-americano a comprar casa e
fazer sucesso editorial em língua espanhola internacionalmente, muito antes de
Garcia Marquez e Vargas Lhosa conseguirem essa façanha.
Vargas Vila escreveu mais de vinte
romances, tais como Lírio Vermelho, Aurora e as Violetas, dentre outros. Seu
ódio às mulheres e o tema presente da homossexualidade também criaram espanto
já em sua época. Como era polêmico, a forma que os amigos conseguiram que fosse
protegido era o trabalho diplomático. Mesmo assim, como cônsul do Equador na
Itália, negou-se a dobrar o joelho diante do Papa, causando escândalo. Ao que
ele respondeu: “nunca me ajoelhei diante de nenhum mortal”.
Como era um liberal entusiasta e
figura importante nas disputas políticas envolvendo as ideias liberais na
Colômbia, seu verbo vigoroso era comum nos jornais liberais, o que lhe ganhou
muitos inimigos na Colômbia rural de então. Trabalhou como professor em liceu,
mas a situação como professor complicou-se devido à sua inimizade contra os
católicos. Filho de um general militar liberal que morreu degregado no Panamá,
então colônia penal colombiana cheia de pântanos, deixando a família na miséria,
Vargas Villa cresceu autodidata. Escrevia uma prosa barroca, retorcida,
deslumbrante.
Após participar daquela que é
considerada a última revolução colombiana significativa em 1883 e ser
derrotado, Vargas Vila passou a correr risco de vida e mudou-se sucessivamente
para Nicarágua, México e Venezuela, países onde fez muitos amigos. Nesse último
país chegou a ocupar postos públicos em 1893. Em 1898 foi a Nova York ajudar a
fundar a Revista Hispano-Americana.
Publicou, então, Diante dos Bárbaros,
apaixonado panfleto literário contra o que chamava “yankismo”, publicado em
meio aos norte-americanos, que chamava de bárbaros nos seguintes termos:
Washigton apunhala Bolívar pelas costas, e
rouba seus tesouros; E os yankees se entregam ao butim e a pilhagem da América
Latina e o mundo ignora esse butim feito pelos piratas de Cartago, acreditando
na derrota de
Roma (...) Para vingar a derrota de sua
ganância, eles caíram no Haiti; a Ilha, verde e dourada, os seduziu, como uma
joia caída do céu; pousaram lá, se declararam senhores daquela turbulenta
democracia de negros atrasados [que] foram fuzilados em praças públicas, foram
assassinados no campo, se apoderaram de sua alfândega, e se declararam seus
senhores, aproveitando o fato de que a França, sua antiga metrópole, não
poderia ajudar a indefesa Ilha caída sob o escudo de Kir (Vila, 2021).
Logo a seguir, em 1900, ocorreu o que Vargas
Vila chamou de “o crime do Panamá”, crise em que USA ajudou a província do
Panamá a tornar-se independente, complicando as relações com a Colômbia e
despertando sentimentos anti-yankees
e patrióticos na juventude colombiana, que deu razão a Vargas Vila em seus
gritos em forma de panfletos.
Os
problemas junto aos USA começaram logo a seguir, quando Vargas Vila fundou a
revista Némesis, levando adiante a
campanha contra a intervenção yankee
na América Latina. Ficou amigo de José Martí nesse período, tendo dedicado a
ele um livro, Martí, Apóstolo e
Libertador. Escreveu também um livro sobre o poeta nicaraguense Rubén
Dario. Némesis despertou atenção na polícia
e a solução encontrada, mais honrosa, foi que Vargas Vila mudou-se para a
Espanha como cônsul nomeado por seus amigos na Nicarágua. Nemesis passou a ser
editada em Paris.
Para
complicar, Vargas Vila era uma figura temperamental, extravagante, misógina e a
única mulher com a qual, durante toda vida, teve relações sempre amistosas foi
somente a mãe. Na Itália registrou-se o suicídio de uma das mulheres com as
quais envolveu-se. Embora sempre nacionalista colombiano fervente, suas
posições políticas intransigentes contra os USA e contra os católicos fizeram
com que fosse proscrito em seu país natal, embora sempre sonhasse em voltar.
Morreu em Barcelona e suas cinzas só foram levadas para a Colômbia em 1981.
Bibliografia:
José
María Vargas Vila: biografia, estilo,
obras, frases. <<https://maestrovirtuale.com/jose-maria-vargas-vila-biografia-estilo-obras-frases/>>.
Vila,
Vargas. Ante Los Bárbaros. <<https://www.gftaognosticaespiritual.com/wp-content/uploads/2012/08/32-03-ANTE-LOS-BARBAROS-VARGAS-VILA-www.gftaognosticaespiritual.org_.pdf>>
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