Jorge Mautner é Satã, a negação, no filme O Demiurgo
Caetano, Gil E Eu
por Jorge Mautner
Durante dois anos quase, eu lavei pratos em restaurantes de Babylon-New-York-City, fui empregado de assistente de garçom carregando caixotes cheios de camarões, garrafas de vinho, lavei cozinhas ao som de soul music, limpei milhares de cinzeiros mas nunca fui promovido a garçom. Eu invejava muito o Neville D’Almeida. Depois fui massagista. Foi Ruth quem me deu a ideia. Coloquei um anúncio no Village Voice e comecei a fazer massagens orientais em muitas pessoas de variados backgrounds sociais em Gotham City. Como todos os dias faço ginástica (uma hora e meia) e como aprendi algo de karatê e tai-chi-chuan eu acabei fazendo ótimas massagens de espinha. Era um tempo estranho, com tempestades de neve lá fora e leitura de Heidegger. E escrevendo meu manuscrito de 3 mil páginas.
Depois veio a primavera e eu e Ruth fomos pra Londres subitamente num avião a jato. E foi lá, foi lá que eu conheci Caetano Veloso e Gilberto Gil. Eu entrei de guarda-chuva na casa de Caetano e disse uma profecia. O Caetano ficou impressionado e disse tremulamente — "Você é profeta, é?" Eu disse mais tremulamente: — Bem, não são bem profecias, são análises, análises totalizantes que incluem muitas coisas, por exemplo..." E falei, falei. Gilberto Gil disse — "Ei, nêgo, você toca bandolim, é?" E eu timidamente no dia seguinte trouxe meu bandolim e tocamos, tocamos, noites, dias, e a lua sumia por dentro da névoa londrina. Aquele relax londrino com juventude sensual imitando os Rolling Stones pelas ruas do ex-império a passear.
Com Caetano eu tocava (acompanhando fazendo ecos e fraseados) sambas antigos, de Noel e Caimmy, de Ismael Silva e Ary Barroso, todo aquele repertório popular de Caetano. Com Gil eu tocava acompanhando o seu novo som africano-rock-heavy-brazilliance-electricity. Às vezes predominava o jazz, às vezes rock & baião. Falava-se muito de tudo. Inumeráveis discussões sobre Nietzsche, Hegel, estruturalismo, discos voadores, Dionisius e Apolo. Quando eu voltava para a casa do Arthur que me hospedava lá em Londres, eu vinha pela madrugada (eu e Ruth) pensando naquelas maravilhosas criaturas que eu havia conhecido. Eu, um mitólogo massagista e lavador de pratos em New York, de repente na Bahia em plena Londres! Um dia o Caetano ao ouvir eu cantar uma canção minha chamada "O Vampiro", ficou entusiasmado e disse que ia gravar. Eu fingi que não havia escutado e só quando ele repetiu é que eu me manifestei em sorrisos chineses e cortesias que tais. Eu sou uma estranha mistura do século XIX e do XXI pulando o XX. Os baianos são o mel, a bondade, a ternura, o cristianismo, a generosidade, o amor de um Brasil que só agora descobri através deles. Então eu disse para Caetano e Gil: — "VOCÊS ME TIRARAM DA LAMA".
Depois fomos à Espanha, e foi em Barcelona que eu vi com que crueldade pagã Cae gostava das touradas. Ele ficava espiando o sangue sair do touro entre horrorizado e fascinado. Era como se toda a violência que a Cae tanto horror causa, fosse naquele momento algo que pudesse conter beleza.
Gilberto Gil
Gilberto Gil é Pan no filme O Demiurgo
Gil em suas vestes africanas fazia as autoridades espanholas se espantarem muito. Foi na Espanha que eu Gil e Cae falamos de Deus e na anti-matéria, no destino dos astros, na desintegração da matéria, e nos deuses. Foi aí que nasceu a letra "Three Mushrooms". Também falava muito Périkles (que fez agora um filme com Dedé como atriz principal). Ruth e Dedé falavam muito formando uma espécie de complô feminista contra os homens. Foi aí que eu as comecei a ver como Bacantes e Amazonas, coisa que eu iria aproveitar no filme "O Demiurgo".
Um dia, quando Caetano foi visitar as ruínas de um templo grego, eu que acompanhava o cortejo do mestre bem lá atrás, ouvi um grupo de espanhóis murmurarem quando Cae passou: — "É um príncipe mouro, um príncipe de uma casa muito antiga". Mas outro dia Cae foi atacado por um policial porque estava de biquini escandaloso. Eram assim os dias e as noites na Espanha. Foi durante este período que Gil musicou a letra "Babylon" que são memórias sintetizadas de New York, e "Crazy Pop Rock", que é um rock ecológico-social. Foi durante este período também que Gil ficou treinando bastante sua guitarra elétrica e todos brincavam com seu filho que era recém-nascido e muito bem cuidado por Sandra, sua mãe. O nome dele é Pedrinho e eu saudei o seu advento com uma letra que falava na era de Aquarius.
Depois chegaram Rogério Sganzerla e Helena Ignez, e também Julinho Bressane, e aí o ambiente enriqueceu-se com a presença desses radicais românticos. Caetano e eu andávamos muito preocupados com a lógica, a razão, e a história.
As discussões multiplicaram-se. A idéia do filme brotou como uma flor selvagem na boca de Caetano. Foi ele quem propôs: — "Vamos fazer um filme?" Mas como muitas das idéias do divino mestre, guru, prestidigitador e rei da Bahia, a idéia pairou no ar e depois transformou-se numa canção. Foi só em 1971 que a concretizamos. Era ainda julho de 1970.
Depois eu e Ruth voltamos para New York, e Antônio Bivar ficou com a gente no Chelsea Hotel. A neve caiu poderosa e New York mais uma vez me fascinou com seu vampirismo expressionista. Depois chegou Hélio Oiticica que ficava admirando a lua amarela em cima do anúncio do YMCA.
Voltei para Londres com Ruth Pante-rete em inícios de 1971, e foi aí que começamos a rodar o filme. Gil já com seu conjunto formado tocando maravilhosamente sua guitarra elétrica e com um som genial. Toquei um dia com ele lá no Marquee, sob os olhares vigilantes e de águia de Guilherme Araújo. Cae formando seu conjunto trabalhando com Macalé, e lendo Levi-Strauss La pensée sauvage. O filme é colorido e Caetano é um Demiurgo (mistura de oráculo, prestidigitador, pitonisa, profeta) Gil é o deus Pã, Leilah Assumpção é Cassandra, e eu sou Satã, a negação. Há a revolta das mulheres chefiadas por Dedé. Há milhares de situações e acontecimentos. Aguilar, o pintor, é Sócrates, mestre do Demiurgo, e o filme teria sido impossível sem a inestimável colaboração de Ruth que explodiu a minha alma e me fez crescer os cabelos, e sem a assistência da direção constante, os palpites maravilhosos, a criatividade, a presença dinâmica de Arthur de Mello Guimarães.
Caetano Veloso
Caetano Veloso é o Demiurgo no filme de mesmo nome
Caetano Veloso é preocupadíssimo com assuntos dos mais variados, de Filosofia à História, e sua casa é um centro de discussões de onde emana uma luz de aurora renascentista. Cae acha graça no meu modo de escrever como uma fábrica. Nossos diálogos são muito estranhos porque ele é um poeta, um dos maiores poetas brasileiros, com agudíssima informação, um prestidigitador, um demiurgo cujas referências estarão sempre localizadas no Brasil, na Bahia. Na querida Bahia. Eu sou um desintegrado, um indivíduo dissolvendo-se em cacos internacionais. Um escritor pop. Vejo Cae como um rei oriental, com abanos, corte, dengosidade baiana, registrando o mundo e as incríveis contradições da nossa época através desta peculiar posição. Caetano não tem crise de identificação, suas referências são nítidas e seguras, a Bahia mítica, tribal e mágica.
Gilberto Gil disse que é pela primeira vez que sente a música como um trabalho. Um trabalho cotidiano, um serviço de operário. Gil possui uma serenidade, uma tranqüilidade de quem realmente está em relação desalienada com o seu trabalho. Caminha para um ascetismo de dedicação integral para com a música, eu diria que o seu ser poético, todo seu sistema nervoso, tudo nele, se encaminha para um contínuo processo de crescimento e desalienação na simplicidade reencontrada. Ambos aprofundaram-se, estão em caminhos separados porém paralelos, muito mais simples, mais despojados do que na época do tropicalismo. Os dois estão navegando agora pelos desconhecidos mares do oceano aberto, em cujo horizonte a grande noite e a eterna aurora os espera. Na obra dos dois, cada vez mais diferenciada, profunda, e simples, sente-se o emanar de uma luz de aurora, renascença, esperança. Dentro da amargura atual, a obra dos dois, cada vez mais diferenciada, irradia uma vibração de bálsamo, uma inquietude fermentadora, indicando o caminho do oceano aberto, aquele de Nietzsche, aquele de Aurora.
Para além da incrível criatividade do nosso trabalho em conjunto, foi através destes dois iluminados baianos que eu conheci pela primeira vez um Brasil desconhecido para mim, um Brasil misterioso, doce, dengoso, cheio de riquezas míticas e humanas sem fim. Estranha aliança, deveras estranha, destes dois sóis da Bahia com um desintegrado produto industrial, eu, Jorge Mautner, pura negação permanente.
Quanto ao filme, foi uma viagem de prazer e agonia. Numa das cenas em que eu, Cae e um jovem chamado Upsi Luli sacrificamos a Dionisius oferecendo a ele nosso sangue, o sangue saiu muito aguado, e eu para salvar a situação, tentei consertar e disse: — "Eis, eis o nosso sangue como água". Mas não deu certo porque Caetano caiu na gargalhada com todo mundo. Aliás Caetano tem um nome artístico no filme: chama-se Caetano Veloso. Acumular as funções de diretor e ator foi uma experiência incrível e eu me senti um pouco Charlie Chaplin.
Macalé no filme canta uma estranha cantiga com letra minha que dura 8 minutos. É quase uma ária de ópera-candomblé. Nunca vi filme mais irônico do que este, e ao mesmo tempo com um élan de tragédia musical. Como os meus livros, o filme nada tem a ver com situações dramáticas, relacionamentos psicológicos dos personagens. O filme é uma farsa, uma fábula. Oh! La Fontaine, se as pessoas soubessem como você é atual!
Leilah Assumpção está magnífica em seu papel de Cassandra, e Dedé tem uma longa cena de namoro com Caetano Veloso ao som de "Coração Vagabundo". O filme é a fusão de quatro influências: expressionismo alemão, Godard, Glauber, pop americana. E um quinto elemento tropicalmente brasileiro de chanchada.
Claro que o filme é muito mais como tudo é sempre muito mais. O filme é denso, profundo, aterrorizante. Há uma nostalgia romântica a pairar por cima do filme, e acho que ele é algo muito novo.
Caetano participou da montagem, Gilberto Macedo foi a peça principal. Agradeço a todos que me tiraram da lama, e espero que todos vocês leitores d’O PASQUIM assistam ao filme.
Um dia eu li O PASQUIM pelas ruas de New York em meio a uma tempestade de neve. Como este mundo é estranho!
Jorge Mautner
Pasquim, 10/6/1971
O DEMIURGO - Um filme dos Tropicalistas
por Toninho Buda, 25 agosto 2000
Demiurgo é o nome dado pelos platônicos ao deus que teria criado o mundo, mas significa também operador de milagres. E hoje (25 de agosto de 2000) é uma data muito oportuna para falarmos deste filme, porque estamos comemorando no mundo todo o centenário da morte de Frederico Nietzsche. A influência deste filósofo é tão vasta, que eu chego a ficar emocionado quando leio o caderno Idéias, do Jornal do Brasil desta semana, especial sobre ele. Curiosamente, encontrei por acaso e reli hoje mesmo as anotações que fiz há exatos dois anos, em 20 de setembro de 1998, na casa do Marcos Petrillo, assistindo a um fantástico filme dos tropicalistas. Naquela noite mágica, o Marcos - que tem com a Tropicália uma ligação semelhante à que eu tenho com a Sociedade Alternativa - me mostrou esta relíquia da Kaos Filmes, que muito pouca gente conhece. Diga-se de passagem, Kaos sempre foi o nome da proposta político-filosófica de Jorge Mautner, que é um outro verdadeiro apaixonado por Nietzsche. É o próprio Mautner que inicia o filme, no papel de Satã. Gilberto Gil logo aparece - fantástico - no papel de Pan e em seguida vem Caetano Veloso, no papel do Demiurgo. E este demiurgo é um discípulo de Sócrates... Da trama ainda participam Jards Macalé e Dedé Veloso, a primeira mulher de Caetano.
Ora, é importante salientar nesta abertura, a representação da violência contra a natureza humana que foi causada pela maniqueísta divisão entre o corpo e a mente, ou entre physis e logos, desde os tempos dos gregos. Os gregos são os autores da máxima mens sana in corpore sano (mente sadia em corpo são), que pressupõe essa integridade entre corpo e mente. Mas foi exatamente com um grego - Sócrates - que nós passamos a assistir à decapitação do ser humano, num processo em que a cultura socrático-judaico-cristã veio - durante os séculos posteriores - desprezar a terra e valorizar somente o céu. Bem como desprezar o corpo e valorizar somente a alma. E ainda dizer que o corpo tem parte com o diabo e a alma deve buscar se livrar dele e buscar a Deus. Assim, o filme O Demiurgo se inicia com Caetano fazendo o papel de representante de Deus e Mautner e Gil representando os lados demoníaco e dionisíaco da natureza: Satã e Pan, Luta & Prazer (aproveito aqui para relembrar o nome desta fantástica e infelizmente desaparecida publicação alternativa da contracultura brasileira: Luta & Prazer).
Satã é o mesmo Satanás, chefe dos anjos rebeldes contra Deus, segundo a Bíblia. É ainda o demônio da Ira, do ódio, da guerra, do repúdio e do revide. Seus colegas são Lúcifer (Orgulho), Mammon (avareza), Asmodeus (luxúria), Belzebú (gula), Leviatã (inveja) e Belphegor (preguiça). Mas voltemos ao filme: os diálogos são fantásticos e as cenas, cheias de símbolos. Mautner usa o pentagrama invertido (símbolo do mal) e o anjo o utiliza na forma positiva. A cena de Gil (Pan) com as lésbicas é antológica! O demiurgo dá consultas às mulheres, castiga-as, lê suas mãos e, de repente, grita “viva a lógica”. Logo em seguida, Sócrates quer ler suas mãos... É evidente aqui uma grande gosação com o logos grego, pois a leitura de mãos não tem nada a ver com a lógica (que é a parte da filosofia que estuda as leis do raciocínio). Em dado momento, sete amazonas matam o demiurgo e bebem o seu sangue (a amazona parece representar o domínio da delicada beleza sobre a besta - o cavalo. Ou seja, a besta selvagem subjugada à vontade da mãe, geradora da vida). Mas o demiurgo ressuscita e discursa sobre a divina comédia humana, com saudades da Bahia, Porto Seguro e do sol dos trópicos (Na Divina Comédia, Dante colocou no inferno grande parte dos políticos do seu tempo... O filme, que assistimos em vídeo mas parece ter sido feito em super/8, parece ter sido rodado durante o exílio deles na Europa e época da Ditadura Militar no Brasil. Seria interessante se o Internacional Magazine buscasse uma entrevista com os tropicalistas, sobre o assunto)...
A presença de citações de Nietzsche então se torna muito forte no filme. Na cena do equilibrista, em que Caetano cita o grande poeta Rimbaud (o primeiro grande hippie), o filósofo alemão é muito evidente num texto que é do Zaratustra e diz mais ou menos o seguinte: “o homem é uma corda esticada entre o animal e o além do homem; uma corda sobre o abismo”. Além disso, Caetano faz uma outra citação do Zaratustra, que o próprio Mautner sempre usou em seu trabalho: “Aquele que não trouxer dentro de si o caos, não poderá dar à luz a grande estrela bailarina” (na verdade, o texto original está na primeira parte do ítem V do Zaratustra, e diz: “e Zaratustra falava assim ao povo: é tempo que o homem cultive o germe da mais elevada esperança. Eu vo-lo digo: é preciso ter um caos dentro de si, para dar à luz uma estrela bailarina. Eu vo-lo digo: tendes ainda um caos dentro de vós outros”). Mas tem outra nota importante a este respeito: Ordem da Estrela Bailarina era o nome de uma ordem iniciática criada por Edenilton Lampião (editor da revista Planeta no início dos anos 80), onde ele tentava aglutinar o que restava dos movimentos alternativos no Brasil. Esta ordem era de clara inspiração nietzschiana e crowleyana... Não é a primeira vez que falamos das semelhanças entre a Jovem Guarda, o Tropicalismo e a Sociedade Alternativa... mas voltemos ao filme.
A cena da lata de Coca-Cola é digna de Salvador Dali! Quem mais poderia criar uma analogia entre a beleza externa de uma lata de Coca com Apolo (o deus da beleza na mitologia grega) e o seu conteúdo com Dioniso (o deus do vinho entre os gregos ou o mesmo Baco entre os romanos)? E quem mais poderia ter a genialidade de pintar um pacto entre o Demiurgo, o diabo e Sócrates, para daí resultar a morte de Pan, senão os tropicalistas?! Gilberto Gil interpreta de forma brilhante a morte de Pan. E não estaria aqui também a morte da nossa cultura, bem como a morte de Deus, que é uma das essências da grande obra de Nietzsche? O Grande Deus Pan morreu... Em resumo: ao tentar separar a cabeça do próprio corpo, os socrático-judaico-cristãos se esquecem de que o que alimenta o cérebro é o sangue, que vem do coração. E que o alimento do sangue é ingerido pela boca e pelo nariz, que também estão na cabeça! Ora, ao tentar separar-se do corpo (physis), a própria cabeça (logos) morre imediamente de fome! Aí reside a essência da morte de Deus: a ninguém é possível ir para o céu assassinando dentro de si o Grande Deus Pan!
Toninho Buda
25 agosto 2000
Informação Suplementar
O Demiurgo é o criador do Mundo inferior (ou material). É considerado o chefe dos Arcontes possuindo sabedoria limitada e imperfeita.
Segundo os Gnósticos, esta entidade seria o Deus do Velho Testamento da Bíblia. Este ente tem a arrogância típica dos que se acham onipotentes. Criador de tudo que conhecemos, acha que todos devem curvar-se a sua divindade: "Não terás outros deuses diante de mim" é seu lema.
No mito Gnóstico o Demiurgo foi gerado pelo eon Sophia após sua queda. Ao ser gerado, criou o mundo material com o objetivo de aprisionar e governar as partículas divinas provenientes de sua mãe (Sophia) na matéria.
Querendo que as Almas do Mundo sejam livres, Sophia rebela-se contra o Demiurgo, e o verdadeiro Deus Inefável envia aos homens o seu filho mais querido, o eon Christós ou Cristo que desce ao mundo material com o objetivo de transmitir a "Gnosis" (conhecimento) às Almas para que elas tenham consciência de sua parcela divina e partam para o Pleroma libertando-se do jugo do Demiurgo.
Com o objetivo de impedir que isso ocorra, o Demiurgo cria inúmeras ilusões para afastar as Almas de sua legítima parcela divina, de modo que estas estejam presas e sejam escravas do mundo material, tendo que sempre a ele retornar (reencarnação). Desta forma esta entidade poderá ser o governante desta pequena Esfera de Vida onde reina absoluto.
O Demiurgo possui um povo eleito: os judeus. A estes se revelou e os têm como seu povo. Deu-lhes sua Lei (Lei de Moisés ou Torah) para a sua própria maldição: "Olho por olho, dente por dente". Seu dia é sábado.
Possui vários nomes: Samael (deus cego), Yaldabaoth (criança do Caos), Saclas, Saturno, Cronos, etc. Sua consorte é o demônio feminino Nebruel, que ao se acasalar com ele, dá origem a doze eons.
No Evangelho Apócrifo de João, o demiurgo Yaldabaoth tem a aparência de uma cobra com rosto de leão e seus olhos são como relâmpagos faiscantes.
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