quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Reinaldo Azevedo e a morte do pai

Meu pai padeceu longamente de um câncer, que depois se generalizou em metástases várias... Já não podia mais se comunicar, mas estava vivo... Não sentia mais dor. Não sofria mais. Até seu último suspiro, que eu não olvidaria esforços para retardar, construí e reconstruí teias de afetos e de lembranças, caminhei pelos desvãos da memória, tentei entendê-lo melhor e a mim mesmo. Queria me fazer, e talvez tenha conseguido, a partir dali, um homem melhor. Meu pai estava vivo porque sua vida, mesmo naquelas condições, vivia em mim, na minha irmã, na minha mãe, nos seus netos, na generosa rede familiar que se criou, incluindo sobrinhos, irmãos, cunhados, para protegê-lo e dignificá-lo. Seu corpo ainda morno, embora já não emitisse qualquer sinal de consciência, me acolhia e me amparava, cobrava de mim entendimento.

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