Sempre que falo em Jô Soares, minha mãe me vem com uma história que ele tem um filho com síndrome de down e nunca fala sobre isso. Não sei se é verdade. Mas recentemente li um livro sobre um autor que tem um filho assim e que fala sobre o assunto: O Filho Eterno, de Cristovão Tezza.
O livro me deixou surpreso, por várias razões: 1) por conseguir, enfim, concordar com Jerônimo Teixeira e não sentir repulsa; 2) por ter algo de "história que realmente aconteceu", como está em moda, sem ser constrangedor e rebarbativo. Não é algo como ler na Folha sobre um romance dizendo maravilhas sobre a Mongólia e ler, numa notinha abaixo: "o repórter tal viajou a convite de uma universidade mongol".
A história do escritor meio ripongo que passa a viver o seu dream is over com o nascimento do filho com síndrome de down é interessante. Ele sobretudo ressalta que a escritura é trabalho, é esforço. Tezza inaugurou coluna na Folha de São Paulo. Pelo que li, não crê na morte do AUTOR. Anelito de Oliveira me conta que vive a morte do autor. Para um autor, isso é ruim. Para o crítico é bom não ter que aceita ra última palavra do autor sobre a obra, é libertação.
Lembro, sobretudo, o quanto insultávamos uns aos outros, na minha infância nos anos 80, satirizando a propaganda na TV dizendo que alguém era "excepcioonal", ou seja, era um burro, retardado, "mongolóide". Era um insulto comum. Imagino a extensão do sofrimento que o personagem passou; aí, me eletrizo para ler o livro. Adorei a crítica ao futebol no final do livro: o futebol é um grande circo, um jogo onde sempre há falcatrua e erros grotescos, aqui ou em qualquer lugar do mundo. Me fez lembrar Oswald de Andrade em Ponta de Lança, onde ele dizia que o futebol era o novo pão e circo, uma transa nascida do imperialismo inglês...
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