sábado, 18 de fevereiro de 2012

O homem e o cavalo: 90 anos da Semana de Arte Moderna

Aos 90 anos da Semana de Arte Moderna, nada como desfazer um equívoco. O intelectual tem de ir onde o erro está: O Homem e o Cavalo, peça de Oswald de Andrade, não é uma peça “stalinista” como dizem os colonizados Sábato Magaldi e Iná Camargo Costa. A peça é surrealista, mas se coloca em relação com o mundo real, por isso a “Voz de Stálin”. Há também uma passagem onde é citado Eisenstein, grande inspirador de Glauber Rocha. Ou seja, o Cinema Novo é a Semana de Arte Moderna novamente, principalmente no cinema e no teatro, artes nas quais o modernismo não esteve presente em 1922. Novamente, A Semana de 22 devorou e o foi devorada pelo Brasil. Nos anos 80, 90 e 2000, a idéia que circula na TV e na universidade colonizadas é que o Modernismo e o Cinema Novo devem ser celebrados, mas são meras cópias malfeitas das vanguardas européias. Parcialmente vencedores, os modernistas e cinemanovistas foram em parte domesticados e aceitos, mas para isso, tiveram de passar a ser vistos como continuidade do processo de colonização, não como teoria e prática da descolonização.

O PT reaproveita alguns elementos do Modernismo, em outros rompe totalmente. Dilma Rousseff é a Tarsila do Amaral da política brasileira e Lula é o seu Abaporu que não aparece no Fantástico. Dilma no poder é o começo do matriarcado de Pindorama. A bolsa-família é idéia de Oswald de Andrade de um teto mínimo e um teto máximo para a humanidade, idéia provavelmente que ele antropofagizou nos utopistas. Apesar desses avanços pontuais, o Brasil permanece um grilo de oito milhões de km2, comandado por elites vegetais e predatórias, a favor de um código florestal escrito por madeireiras.

No centro da política nacional está Lula, que percebeu que o povo não identifica no marxismo-leninismo a teoria do proletariado e sim uma teoria importada, exploração disseminada por pequeno-burgueses, enquanto vê no cristianismo como algo seu, algo proletário. A partir desse atraso cultural que nem a Semana de Arte Moderna nem o Cinema Novo puderam transcender, Lula, originário de um setor operário privilegiado em relação aos demais, construiu e está alimentado o seu messianismo pequeno-burguês, assim como o culto de sua personalidade. O seu messianismo anti-povo tende, no entanto, a se esgotar ao mostrar suas limitações ao passar do tempo: seu cinismo, seu individualismo, sua política de classe média.

É preciso ouvir o que a ciência, na figura de historiadores como Grover Furr, diz sobre Marx, Lênin, Stálin. Vai ser preciso ensinar novamente que a teoria de Marx e Lênin é a teoria do proletariado, que a Semana de Arte Moderna é o começo da descolonização brasileira para valer, o que Cinema Novo é o cinema revolucionário antes da revolução. “O ouvido é o único sentido nos resta”, aconselha São Pedro em O Homem e o Cavalo. Resta a esquerda brasileira querer ouvir.

Na peça Homem e o Cavalo, a voz de Stálin, ainda polêmica como nunca, se faz ouvir: “O socialismo é o poder dos sovietes mais a eletrificação”. Isso vale ainda para hoje: o socialismo será o povo brasileiro no poder, afirmando valores nacionais e populares, modernizando e eletrizando o País com a tecnologia para todos.

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