2012: O ANO DA RESSURREIÇÃO DAS ESQUERDAS
Materialista quer dizer que o mundo se apresenta como matéria em movimento, não quer dizer, por exemplo, que Marx ou os marxistas proclamem que Deus não existe. Sobre Deus, não há qualquer conclusão científica. O que foi afirmado por Feuerbach e que Marx encampou foi que a religião organizada, em nosso mundo, é a transferência das potencialidades do homem para uma outra esfera, a dos sacerdotes que são os intermediários de Deus. Analisando Deus da forma como é representada pelas igrejas, o marxismo aponta que a religião foi criada pelos homens e que sua criação passou, depois, a governá-los com regras e preceitos para atingir a salvação.
Seria preciso, então, negar uma determinada concepção de religião, aquela que ajuda a esconder a opressão e a exploração do homem pelo homem. A partir dessa crítica negativa, muitos entenderam que o marxismo proclama que “Deus não existe” ou que pretende sumariamente abolir as religiões ou, ainda, que seria legítimo fazer uma leitura da arte enquanto “sexo sublimado”. No entanto, os marxistas têm evoluído no sentido de criticar a visão positivista (predominante no tempo de Marx) e que privilegia a ciência em prol das outras formas de conhecimento organizado que são a arte e a religião, evoluindo no sentido de respeitar o valor e o direito de existir dessas outras formas de conhecimento.
O escrito acima, retirado do trabalho Marx Hoje: Alguns Conceitos Introdutórios, escrito pelo jovem filósofo brasileiro Lúcio Junior, ora, se sua essência estivesse presente na mente de todos os marxistas com certeza, absoluta certeza, não somente o socialismo não teria caído como ele teria se espalhado para toda a terra. A terra inteira teria se convertido no paraíso socialista.
Por que a essência desta visão de Lúcio Junior, sem a pretensão, é ela a única visão que teria evitado a derrocada do Marxismo. A rigor, foi percepção de que ela não esteve na mente dos marxistas – como deveria estar – que fez com que os primeiros luminares da Escola de Frankfurt, em especial Horkheimer, fizessem o diagnóstico de que à revolução estava posto a decisão fundamental: ou se livrar de uma visão atéia do mundo ou acabar se apartando das massas (certamente que a Escola de Frankfurt, ao menos no início, partiu não de uma visão filosófica, mas pragmática. Ao invés de lutar para limpar da mente das massas algo que não tinha como sair, estava enraizado no profundo de sua alma, então fazer uso deste algo de modo a despertar na mente popular que ele está de acordo com o ideal revolucionário, e não com o ideal dos opressores).
Mas, se os marxistas não tiveram essa visão lúcida assim como aparece no escrito de Lúcio Junior, a verdade é que tem chegado o tempo de também tê-la. A rigor, será neste preciso momento que então os marxistas começarão a sair do profundo coma em que se encontram desde o final da década de 80 para reviver os dias de glória, quando eram um só com as massas populares. Se o vaticínio dos primeiros luminares da Escola de Frankfurt se concretizou, a revolução acabou se apartando das massas populares que hoje estão na mão e no domínio dos escribas do imperialismo (e dos seus bugios, lembrando Brizola), a verdade é que a essência do escrito de Lúcio Junior abre espaço para que seja novamente reatada a união em corpo único da revolução com as massas populares.
Mas é preciso esclarecer: não foi por acaso ou acidente que os marxistas no início tomaram e assumiram uma postura que custou caro à revolução. Ter enveredado por um caminho que rejeitava e excluía por completo todo e qualquer conhecimento oriundo da religião e todo e qualquer conhecimento fundado na metafísica, tratou-se de uma necessidade. Primeiro, o conhecimento passa pela via do imperfeito para chegar ao perfeito. Do acidente para chegar à essência. É o seu devir dialético. Segundo, esta visão dos marxistas, contrários à religião e à metafísica, antes de estar neles esteve antes em Deus. Deus tinha um juízo para proferir contra todo o universo da religião, incluso o Deus de sua metafísica. No seu juízo Deus os iria rejeitar por completo, no conjunto de sua obra, como está ali no profeta Sofonias, tanto os sacerdotes do Deus Altíssimo como os sacerdotes dos deuses pagãos iriam sentir e conhecer contra si toda a ira divina. E é certo, muito certo, que toda a preparação para o cumprimento da escatologia conforme se acha no profeta Sofonias começou mesmo a se formar com Feuerbach. Começando por Feuerbach, passando por Marx, a ira divina então iria ser derramado justamente com a revolução. Os sacerdotes do Altíssimo, bem como os sacerdotes de deuses pagãos, com todo o conjunto de sua obra, os príncipes, o rei, os que usavam vestuário estrangeiro (burguesia), os que pesavam a prata (comerciantes), os poderosos (governantes desta escuridão), iriam clamar amargamente e nem a sua prata e nem o seu ouro os iria livrar da ira divina (Sofonias 1.1-18).
Mas, é preciso este esclarecimento: os vaticínios do profeta Sofonias foram originariamente endereçados à Judá. Foram proferidos cerca de quarenta anos antes da destruição de Judá por parte do rei caldeu Nabucodonozor. Sofonias está profetizando sobre a destruição de Judá, é verdade, mas o seu vaticínio, abarcando e transcendendo a questão de Judá, convertido em escatologia, acaba por alcançar, também, a destruição da Cristandade por parte da revolução. A ira que Deus derramou contra a impenitente e rebelde Judá por intermédio de Nabucodonozor e os caldeus, a quem chama de Meu Servo, é também a ira que Deus vai derramar contra a Cristandade por intermédio de Lênin e dos revolucionários. Destarte, a ação de Nabucodonozor contra Judá iria ser repetida passo a passo pela revolução, mesmo porque a Cristandade repetia passo a passo a já julgada infiel e rebelde, Judá.
No entanto Sofonias profetizando a destruição de Judá-Cristandade não realizava toda a escatologia, senão que parte dela. A escatologia iria ter duas seções, dois momentos distintos. De fato, se encontramos o profeta Sofonias vaticinando escatologicamente contra a Cristandade, por outro encontramos o profeta Isaías também de posse de um vaticínio escatológico. De modo que não somente Sofonias vaticina sobre o Grande Dia de Deus, mas também há vaticínio do profeta Isaías sobre este grande dia.
No entanto o objeto de Isaías por certo que não é o mesmo de Sofonias. Se Sofonias pode ver a destruição da Cristandade por parte da revolução prefigurada na destruição de Judá, por Nabucodonozor, ora, a escatologia de Isaías é concebida a partir da conquista de Babilônia por Ciro. Assim como uma Nova Judá iria se manifestar, a Cristandade, de igual modo uma Nova Babilônia iria se manifestar; e, se uma nova ação caldéia iria se manifestar, o que se deu com a revolução, de igual modo uma nova ação de Ciro iria se manifestar. De fato, tal está profetizado no livro do Apocalipse sobre o aparecimento DOS REIS DO NASCENTE DO SOL (Apocalipse 16..12), que são forças que revivem as forças de medos e persas que conquistou Babilônia e libertaram o povo de Deus no seu meio com os cativos voltando novamente para Judá. E agora estas novas forças dos reis do nascente do sol irão libertar a inteira humanidade do domínio do imperialismo e o seu, conseqüente, retorno para o paraíso de Deus.
E é certo, muito certo, que assim como a ação de Deus no fundamento tipológico se deslocou de Nabucodonozor para Ciro, no fundamento escatológico tem chegado o momento do Dia de Deus se deslocar da ação da Revolução contra a Cristandade e o conjunto de sua obra para a ação da conquista de Babilônia, a Grande, aquela que todas as nações caíram vítimas por causa do vinho da ira de sua fornicação, e os reis da terra cometeram fornicação com ela, e os comerciantes viajantes da terra ficaram ricos devido ao poder de sua impudente luxúria, Apocalipse18.
E é certo que o pensamento de Lúcio Junior, separando o trigo do joio, pondo dum lado Deus e de outro as religiões organizadas que passaram a se utilizar do seu nome para seus próprios propósitos (Isaías 4.1), abre caminho para o cumprimento da escatologia do profeta Isaías. Para a mudança de estação no operar dialético da revolução, pois que ela se desloca de uma situação que reviveu os dramáticos acontecimentos da destruição de Judá para a nova situação em que ela revive os acontecimentos da conquista de Babilônia por parte de Ciro à frente de medos e persas. E será agora, e somente agora, que podemos dizer tem chegado o momento em que os marxistas começarão a se levantar do coma profundo que estão desde o final da década de 80. Pois ao surgir no horizonte possibilidade concreta da união dos marxistas com os cristãos, ora, podemos dizer com certeza que é a revolução ressuscitando, se Levantando dentre os mortos. Pois se ela perdeu a força do apoio dos camponeses e dos operários das cidades, por conta do já falado vaticínio dos primeiros luminares da Escola de Frankfurt, em conexão com a criação de leis trabalhistas e de melhoria da vida de um modo geral, que abrandou o fervor revolucionário, agora a revolução vai buscar as forças que perdeu justamente nos cristãos. Os sindicatos de ontem, onde ali se discutia os passos da revolução, serão agora as igrejas espalhadas por toda a periferia das cidades. Porque são os dois lados que estão sofrendo profunda mudança – não somente a revolução está se deslocando da escatologia do profeta Sofonias para a escatologia do profeta Isaías como a Cristandade está se deslocando do castigo de Nabucodonozor para a libertação de Ciro –, ora, nas igrejas, onde se discutia os modos para agradar a Deus, e como encontrar o caminho da vida eterna, agora se discute abertamente (Mateus 7.22) o modo de superar o moribundo sistema capitalista e instaurar no lugar o sistema socialista. Porque então nas igrejas se descobre que esta é a vontade de Deus.
Pois é, o escrito de Lúcio Junior abre as possibilidades para a formação desta nova confederação de povos, cristãos e marxistas, que se unirão para libertar a inteira humanidade do domínio nefasto do imperialismo, desde o pólo norte ao pólo sul, desde o Congo à Bolívia, desde os Estados Unidos á Rússia, pois o imperialismo sobrevive do escravizar, os que estão pertos e os que estão longe.
Destarte, nesta virada de estação, os marxistas voltando o seu olhar para o início do primeiro século, compreendendo na essência o que foi de fato o movimento trazido por Jesus, a salvação absoluta do gênero humano, que se concretizaria no devir histórico, no absoluto total da História, o seu tempo teológico e o seu tempo antropológico, do qual o Marxismo foi parte sim, a sua libertação material, a libertação do Egito, ao passo que o Cristianismo foi a sua libertação espiritual, a libertação de Sodoma, sim, o reconhecimento de que o corpo do Cristianismo é parte do corpo do Socialismo, carne e unha, um só espírito, que no sangue dos jovens cristãos e de seus pais derramados nos coliseus de Roma e no sangue dos jovens marxistas e de seus líderes derramados nos porões das ditaduras é que se gestava o reino da liberdade concreta, em que cada um tem segundo as suas necessidades, ora, é neste preciso momento que a pedra que foi rolada sobre a sepultura da revolução para que ele nunca mais se levantasse estará sendo rolada. E a revolução estará se levantando novamente, em vestes novas, imperecível, revivendo todas as suas glórias do passado, agora numa proporção muito mais gloriosa, pois, deveras, as glórias da segunda casa da revolução – Deus dizendo para Marx: senta-te à minha direita, até que meu filho Jesus ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés – serão muito maiores do que as glórias da primeira casa da revolução.
Ora, esta mudança de estação implica que os marxistas terão de abandonar a antiga crítica à religião e à metafísica, assim como ela começou a ganhar forma em Feuerbach, a fim de ganhar o favor dos cristãos e, assim, se levantar do coma profundo em que se acha? Que isto nunca aconteça!
Os marxistas devem continuar com o seu juízo negativo sobre religião e metafísica, primeiro, como já dito, provém de Deus que não os concebeu gratuitamente, mas por necessidade. Está escrito ali no livro do profeta Sofonias: e vou causar aflição à humanidade, e hão de andar como cegos; porque foi contra Javé que eles pecaram. E está reafirmado em uma das cartas paulinas: o nome de Deus está sendo blasfemado entre as nações por causa de vós. A crítica à religião por parte dos marxistas tem de continuar. Não deve cessar enquanto existir a Cristandade, até que no seu lugar se manifeste a religião genuína de Jesus Cristo, decodificada no profeta Isaías: Ouvi a Palavra de Javé, ditadores de Sodoma. Daí ouvidos à lei de nosso Deus, povo de Gomorra. “De que me serve a multidão dos vossos sacrifícios?”, diz Javé. “Já estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais bem cevados; e não me agrado do sangue de novilhos, e de cordeiros, e de cabritos. Quando estais entrando para ver a minha face, quem é que requereu isso da minha mão, pisar meus pátios? Parai de trazer mais ofertas de cereais sem valor algum. Incenso – é algo detestável para mim. Lua nova e sábado, a convocação de um congresso – não posso tolerar o uso de poder mágico junto com a assembléia solene. Minha alma tem odiado as vossas luas novas e as vossas épocas festivas. Tornaram-se para mim um fardo; fiquei cansado de suportá-las. E quando estendeis as palmas de vossas mãos, oculto de vós os meus olhos. Embora façais muitas orações, não escuto; as vossas próprias mãos se encheram de derramamento de sangue. Lavai-vos; limpai-vos; removei a ruindade das vossas ações de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; buscai a justiça; endireitai o opressor; fazei julgamento para o menino órfão de pai; pleiteai a causa da viúva” (Isaías 1).
É verdade, não devem cessar a sua crítica á metafísica, pois esta é a condição para que o Deus que era, e que é, cedam o lugar para o Deus que vem! Destarte, o povo marxista deve tomar para si as lições de Apocalipse 14, mantendo a sua castidade e não se poluindo com “mulheres”, mas cuidando para estar junto com o Cordeiro no Monte Sião, cantando com ele o cântico como que novo e o seguindo para onde quer que vá. Devem cuidar para serem os primeiros que receberão das mãos do Cordeiro O SEU NOVO NOME (Apocalipse 3..12).
O que os marxistas não fizeram, mas agora terão de fazer, é ter interesse pela Palavra de Deus. É ler a Bíblia com o mesmo interesse que liam O Capital. É ler a Bíblia com o mesmo interesse que a lê um professor de Teologia. Devem se interessar sobremaneira pela Palavra de Deus; e, na medida em que forem penetrando nos seus mistérios mais profundos, mais e mais a Cristandade estará passando, porque mais e mais estará aflorando a verdadeira religião de Cristo. Cada vez que lerem um livro e dominar os seus mistérios, mais e mais os pecados da cristandade, que se mostram como escarlate, serão tornados brancos como a neve. Embora sejam vermelhos como pano carmesin, tornar-se-ão como a lã.
Socialismo Celestial versus Escola de Frankfurt
Ora, sabemos que no final da década de vinte e início da década de trinta luminares da Escola de Frankfurt, conscientes de que a religião e a crença em Deus era algo enraizado na mente popular, unido não por laço acidental, mas essencial, não tiveram dificuldade em divisar num horizonte próximo a revolução se afastando das massas até a ruptura final.
Levantaram o sinal de aviso, tocaram a buzina, mas não foram ouvidos pelos condutores da revolução e da construção do socialismo real.
E não podiam mesmo ter dado ouvido à Escola de Frankfurt. Porque a sua proposta era tão somente que os marxistas se reconciliassem com a Cristandade. Tanto é que seus luminares voltaram a freqüentar os bancos religiosos da Cristandade, e os mais afoitos, como Roger Garaudy, os bancos religiosos do Islã.
Mas agora a proposta é diferente. Os marxistas deverão retornar à Cristandade sim, sentar no banco religioso da Cristandade sim, mas com a missão de expurgar para fora dela tudo o que é praticado para manter as massas alienada das condições terrenas, que são as suas condições próprias. Deverão ser a voz dos profetas no meio do povo religioso de Deus. Ensinando-os, os instruindo, no próprio caminho de Deus. Pois que os marxistas são depositários de um espírito privilegiado, em condições de compreender os desígnios e a vontade de Deus tais como são em si, sem a interferência e a mediação do poder da ideologia, a tal ponto que a Palavra de Deus em suas bocas chegará ao coração dos necessitados como água límpida, e não mais como água poluída, como assim veio a estar nas mãos da Cristandade.
Então para tudo há um tempo debaixo dos céus. E o tempo do final da década de 20 não foi o tempo da revolução, abandonar as armas da crítica religiosa, mas era um tempo em que a ira de Deus ainda estava acesa. Era um tempo em que Deus estava apenas começando a enviar o seu anjo que haveria de guardar a revolução pela estrada e introduzi-la no lugar que preparou, o socialismo. Era um tempo em que Deus estava apenas fortalecendo a mão do homem que iria erigir o socialismo real, Stálin, o enviando na frente como o seu anjo, como o seu Josué (Êxodo 23.20).. E eles não deveriam ter acordo com os habitantes da Cristandade. Não deveriam temer os seus latifundiários amorreus, os seus banqueiros hititas, os seus comerciantes perizeus, os seus chefes militares cananeus, os seus magistrados heveus, e os seus sacerdotes jebuseus, pois Deus certamente os eliminaria do seu meio. E destroçaria as suas colunas sagradas. Servindo unicamente a Javé, e não mais à casta dos opressores, como ocorria quando estavam no Egito.
É tempo novo, tempo da revolução se levantar dentre os mortos, todos estes que riram na queda do socialismo, e se entregaram aos prazeres enganosos do capitalismo. Que seja o ano de 2012 o ano da batalha do Armagedom, quando os marxistas levantando-se em vestes novas, com a força dos cristãos do seu lado, possa então dar o golpe de misericórdia ao capitalismo que agoniza, construindo no lugar uma nova ordem social quando plenamente efetivada as coisas velhas não serão mais lembradas e nem mais subirão ao coração. Certamente que neste ano de 2012 a força avassaladora de Javé (Isaías 2.10) estará levantando por dentro a revolução, para novas e grandes giestas.
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