segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Penumbra Perfumada: Reinventar a Presença

Penumbra Perfumada: Reinventar a Presença Penumbra Perfumada é um livro de poemas de Eduardo Lucas Andrade (Literatura em Cena, 2020) que nasce sob o saturnino signo da pandemia mundial. É um contexto em que o mundo está mais trágico: pandemia de coronavírus, crise econômica mundial, governos de extrema-direita. Eduardo comenta: Eu sei gente...Eu sei que tem horas que parece que a gente vai morrer, que estamos em um pesadelo e que o acordar é o dormir. Eu sei que a ansiedade vem, que a desesperança arritmia o coração e que a preocupação rouba a cena. Eu sei da incerteza, sei também das vontades de chorar (ANDRADE, 2020, p. 68). É nesses tempos de isolamento social em que o poeta propõe valorizarmos os pequenos gestos: o riso do familiar, a notícia boa de um avanço científico. Não é preciso encontrar a vacina, mas fazer pequenos gestos que nos possam fazer sentir melhor. A quarentena, o distanciamento social, implica em reinventar sua própria presença, bem como o lugar onde se habita, é preciso reler as palavras, pois muitas vezes estão grávidas, dão à luz a poemas, como nesse livro. Eduardo comenta sobre como é bom ter a casa limpa: “cheiro de casa limpa, aconchego de limpeza”. E afasta, logo de cara, a psicose da dona de casa, a preocupação obsessiva com a casa arrumada impedindo seus habitantes de habitá-la harmonicamente (ANDRADE, 2020, p. 75). Na pandemia, é preciso repensar tanto o corpo que habitamos quanto a casa. A casa tem que estar na “penumbra perfumada”, um estado poetizado pelo autor, ou seja, ser um lugar habitável, limpo, agradável Em uma de suas reflexões mais atuais, escreveu que, para estarmos realmente vivos, precisamos estar à beira da morte, mas no centro da vida. A pandemia veio ameaçando retirar a vida, mas pela via do amor, “vida vejo que ganhei”. Para o poeta, estar junto no cuidado é estar mais junto do que de corpo. O luto é definido como “uma peça que se encaixa mastigada no quadro da vida” (ANDRADE, 2020, p. 126). Os poemas de Penumbra ajudam-nos a reinventar a vida e a morte nesse contexto trágico da pandemia.

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