segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Caetano X Sírio Possenti

"Sifu", de novo

Sírio Possenti
De Campinas (SP)

Parafraseando um narrador machadiano, aconselho ao leitor pudico que não leia a coluna de hoje. Vá a algum livro de pensamentos edificantes, que aqui ele vai encontrar palavras da pesada. O projeto é nobre (nobilíssimo, diria uma personagem também machadiana, que andou recentemente pela TV): trata-se da relação entre sons e letras, mas os dados não são do gosto de muitos.

Aviso dado, vamos aos fatos.

Estão discutindo a grafia de "sifu". Uma leitora me contou que Caetano e Sacconi disseram que não se deveria escrever "sifu", nem "sífu". Respondi-lhe, apressadamente, sem pensar muito, que, se ambos discordam dessa grafia, então ela deve estar correta. Reafirmo: de onde menos se espera, daí mesmo é que não sai nada.

Leia também:
» Diarréia, Sifu

Dei uma espiada na "Obra em progresso" (blog do Caetano) e está lá sua tese de que se deve escrever "sifo" e não "sifu". Seu argumento é que a segunda sílaba dessa palavra é a primeira do verbo "foder", cuja vogal, embora seja pronunciada "u" /fuder/, se escreve "o". Dá outros exemplos para sustentar sua tese. Critica as grafias "culhão", "buceta", "viado", que, acha, devem ser mesmo "colhão", "boceta", "veado" (se o leitor chegou até aqui, pode prosseguir).

Tudo bem, Caetano, mas leve seu raciocínio e sua análise até o fim. Pergunte-se de onde vem a primeira sílaba de "sifu". Verá que vem de "se fodeu". Ou seja, "se" pronuncia-se "si" (na maior parte do país), mas se escreve mesmo "se". Conclusão: argumento que vale para combater "fu" deveria valer para combater "si". Se Caetano levasse a "análise" (concedamos que seja uma) até o fim, se considerasse todos os fatos envolvidos e mantivesse o mesmo princípio (a origem da palavra), deveria propor que a grafia fosse "sefo". E não "sifo".

Sacconi propõe a mesma grafia, "sifo". Repito: por que "fo" em vez de "fu", e não "se" em vez de "si"? Discordam sobre a sílaba tônica: Sacconi acha que "sifo" é paroxítona. Aliás, um dos argumentos dele em defesa de "sifo" é que não há em português nenhuma palavra paroxítona terminada em "u". Já Caetano acha que é paroxítona. Diz que "sifu" é uma indecência oxítona que a imprensa consagrou.

Se a escrita fosse baseada na origem da palavra (sefo), a pronúncia não seria nem /sífu/ nem /sifú/ . Não haveria, não poderia haver duas vogais alçadas. Se o resultado da abreviação de "se fodeu" for "sefo", essa é a "palavra" à qual se aplicam as regras "fonéticas". Pode-se discutir qual das duas sílabas será átona. Somente ela terá sua vogal alçada: ou "e" vira /i/ ou "o" vira /u/. Mas uma das duas será tônica: e a pronúncia teria que ser ou /sêfu/ ou /sifô/. A vogal da sílaba tônica permaneceria inalterada.

Não estou considerando a pronúncia que não alçasse as vogais "e" e "o", porque algo assim não ocorre. Mas, se ocorresse, a pronúncia teria que ser /sêfo/ ou /sefô/. Se sua origem fosse mesmo respeitada.

Assim, ambos estão errados. Independentemente de ser oxítona ou paroxítona, do ponto de vista gramatical (em todos os sentidos), essa nova palavra "esquece" sua origem. Exceto pelo fato de que, ao lado de "sífu" também ocorre (não saberia dizer nada sobre sua freqüência) a forma "mífu". Ao que os humoristas podem acrescentar "nosfu", escrito assim, ou escrito "nusfu"...

A "palavra" tem relações sociolingüísticas - e outras - com "se fodeu", mas sua certidão de "palavra" não precisa registrar essa ascendência, especialmente a escrita. Nasceu "sifu" (acho que no Pasquim) e será "sifu" para sempre. A única questão pendente é a variação de sílaba tônica. Em conseqüência, de sua grafia: sífu ou sifu.

Eu disse "questão". Não disse "problema". Porque variação não é problema.

Sírio Possenti é professor associado do Departamento de Lingüística da Unicamp e autor de Por que (não) ensinar gramática na escola, Os humores da língua e de Os limites do discurso.

Fale com Sírio Possenti: siriopossenti@terra.com.br

Opiniões expressas aqui são de exclusiva responsabilidade do autor e não necessariamente estão de acordo com os parâmetros editoriais de Terra Magazine.

Terra Magazine

Sobre o Vazio Teatral II--Eis as questões...

Fiquei matutando, durante a noite, as questões pontuadas pelo professor de Teatro aí embaixo.

1) Ele quis ser o transparente possível em sua montagem de O Processo, de Kafka. No entanto, essa montagem não é transparente, pois O Processo é romance e não peça. Trata-se de um experimento autoral, sim, já realizado por Gerald Thomas, por exemplo. Para tanto, seria importante assumir um olhar autoral no Segundo Caderno, na forma cênica, etc. O olhar não é óbvio e Kafka tb não. Se mesmo assim cobraram a angústia kafkiana e o autor fez humor com Kafka, então não se está, aqui, tão longe dos escorregadios dogmas do teatro carioca. E se o malemolente teatro carioca é dogmático, o que será do alto clero da Igreja Católica e da magistratura brasiliense?

2) O autor se disse conservador e ficou temeroso em relação ao futuro de Bilontra, assim como em relação a seu próprio futuro. Porque ele sabe que a tendência é que fiquemos mais presos aos anos de formação com o passar do tempo. E ele é preso a cânone: afinal, é tão importante para um aluno entender bem o Ésquilo quanto fazer pastiche do estilo de Beckett, o que, afinal, é muito bom exercício de estilo se for bem conduzido -- aí o papel do mestre, do condutor das ovelhas do rebanho...

3) O papo do Afonso de ovelhas-guia me deixou intrigado, principalmente porque se relaciona com o fato da carta estar ligada a um movimento internacional para restabelecimento das peças compreensíveis e do cânone do sistema numa perspectiva anti-sistema. Ou entendi mal? Afonso é lobo solitário, pelo que deu a entender em sua resposta, mas um lobo solitário pode guiar uma ovelha desgarrada que entra em choque, ao mesmo tempo, com as chanchadogmas do teatro rebolado karyoka e as hipóteses da academia. Aliás, alguém da academia não pode começar "limpando a área". Deve pesquisar a área, ler e ter conhecimento das interpretações de Kafka, optando por uma delas, citando as demais. Mas começar "limpando a área"...Isso não seria um efeito meio "Hitler Reichstag 1933?" Ele também começou "limpando a área". Claro que sei que o diretor de Bilontra não teve essa intenção. Mas a interpretação é importante e só faço esse paralelo para ressaltar isso.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Sobre o Vazio Teatral (do Blog do Afonso)

Publico acima uma postagem do blog do Afonso Romano e pergunto: os festivais de teatro contemporâneo não aceitam peças "compreensíveis"?



AGORA O "VAZIO" TEATRAL
Enviada por as 23:22 - 27/12/2008


NOTA: ESTA CARTA RETRATA UM MOVIMENTO QUE NÃO É SÓ BRASILEIRO, MAS INTERNACIONAL, E ESTÁ SE ALASTRANDO EM VÁRIOS ESPAÇOS ARTÍSTICOS







Prezado Affonso Romano de Sant\'Anna,

Sou diretor teatral no Rio de Janeiro e professor na Escola de Comunicação da UFRJ. Consideradas apenas essas duas qualificações, teria eu todos os motivos para discordar de suas idéias em "O Engima Vazio", e mesmo dedicar o precioso horário de meus ensaios (teatrais) e aulas a difamar seu livro e o pensamento que ele expressa. Milito, afinal de contas, em dois campos dogmáticos da "contemporaneidade": o teatro carioca e academia brasileira.

O que ocorre comigo, no entanto, é exatamente o oposto: encontro em sua obra (e nas entrevistas a respeito dela) a sistematização de muito do que venho percebendo como artista e formador de outros artistas (sou professor de direção teatral), tanto em relação à própria criação

artística quanto à crítica que dela se faz. Por um lado, sofro na pele a discriminação de propor, como encenador, um teatro de clareza e respeito à inteligência do público; por outro, como docente,perturba-me a constante batalha contra o que meus pares semeam irresponsavelmente na cabecinha indefesa dos bacharelandos, um bombardeio de "pós-isso", "des-aquilo" e outras variações aleatórias de prefixos que tentam dar novos significados às coisas velhas, ou a coisa nenhuma.

Dirigi recentemente espetáculo adaptado de "O Processo", de Kafka, que esteve em cartaz no Maison de France. Kafka é, de certa forma, um "Duchamp" da literatura, no sentido de que sobre ele já se teorizou muito mais do que o próprio escritor desejaria. "Limpar a área" de toda a impostura analítica sobre o tcheco foi esforço constante na construção da peça, de minha adaptação. Procurei contar a história que no romancese conta, sem lançar declaradamente o "meu olhar" sobre a obra; ou melhor, fazendo isso na função de diretor que interpreta seu texto sob

forma cênica, e não no programa da peça ou na entrevista do "Segundo Caderno". Mas fui cobrado, pelo que se chama de "crítica teatral" no Rio, exatamente pela falta da "angústia kafkiana" e pela "heresia" deinvestir no humor de um autor "tão sombrio". Agora estou para estrear "O Bilontra", torcendo para que não haja, sobre Arthur Azevedo, carga tão pesada de "TIORIA" (assim mesmo, com "I"). Na faculdade, luto para que alunos-diretores procurem entender Ésquilo,já bastante complexo, antes de macaquearem Beckett. É tarefa árdua e ingrata, porquanto nas demais aulas muito se ouvem as doutrinações da "pós-modernidade" e da "des-construção", sem que ninguém tenha explicado o que é moderno ou como se constrói algo. Sou o "careta", o "ranzinza", o "ultrapassado". Tudo isso aos 43 anos; imagine quando eu completar 60! Parece que o sonho de cada estudante é emplacar uma vaga nos próximos festivais de "teatro contemporâneo", que invariavelmente recusam inscrição às peças compreensíveis.

Enfim, não lhe tomarei mais tempo com a descrição de atrocidades que já são de seu conhecimento. Escrevo-lhe somente para cumprimentá-lo por sua reflexão sadia e desejar-lhe um Feliz 2009.

E se quiser aparecer em "O Bilontra", a estréia é no dia 13/1, no Solar de Botafogo, onde aliás também está em cartaz a excelente "Traição" (produção com a qual não tenho nenhuma relação), de texto do Harold Pinter, falecido ontem como o último dos dramaturgos lúcidos...



Um abraço cordial,

José Henrique Moreira





José Henrique, meu caro:



Claro que gostei de sua carta, pela franqueza e pela lucidez. E você captou bem: a partir da crise evidente nas artes plásticas temos que proceder a uma análise de todo o sistema artístico atual. Não para voltar ao passado, mas para por no seu devido lugar as "in-significâncias" que pretendem passar por criatividade.

Neste sentido, tenho recebido emails e mensagens de artistas em várias áreas, alguns acuados, outros desiludidos, muitos revoltados, todos querendo resolver essa " aporia" em que nos metemos e que faz parte de uma questão maior que só pode ser encaminhada com uma análise crítica da modernocontemporaneidade.

Com clareza você assume o peso de estar "em dois campos dogmáticos da "contemporaneidade": o teatro carioca e academia brasileira". Este o desafio: pensar o sistema, a despeito do sistema, além do sistema, sem se enquadrar na "ideologia dominante". Lembro-me de uma frase do poeta alemão Enzensberger, que ironicamente retrata a pretensão de muita gente que conhecemos:entrando para o rebanho, muitos carneiros se julgam carneiros-guias.

Quem sabe está surgindo a ocasião e o espaço para uma discussão que interessa a muitos criadores dentro e fora do Brasil?



ARS

Linque para Entrevista de Afonso Romano


21 de Dezembro de 2008, 20 HORAS, TV BRASIL


Na entrevista ao jornalista Roberto D\'Avila, o escritor Affonso Romano de Sant\'Anna fala sobre seu novo livro O Enigma Vazio. A publicação é fruto de uma longa e profunda pesquisa em diversas áreas do conhecimento, abordando o que é a arte do nosso tempo. Afastando-se dos lugares-comuns e repetições registrados nos livros de história da arte, o autor passa a pente-fino as alucinações críticas de brilhantes escritores como Octavio Paz, Jacques Derrida, Roland Barthes, Jean Clair e outros.

Com este livro, Affonso Romano de Sant\'Anna dá continuação a um trabalho tornado mais visível com Descontruir Duchamp e A cegueira e o saber. A conversa trata, ainda, da crise econômica e seus reflexos na arte, do comércio da arte, do marketing no mercado da arte e, finalmente, das mudanças que possivelmente ocorrerão.

Affonso Romano de Sant\'Anna é um caso raro de artista e intelectual que une a palavra à ação. Com uma produção diversificada e consistente, pensa o Brasil e a cultura do seu tempo, e se destaca como teórico, poeta, cronista, professor, administrador cultural e jornalista.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Leituras do Giba: CAPITU ESTRÉIA NA GLOBO

Leituras do Giba: CAPITU ESTRÉIA NA GLOBO

Diogo Mainardi X Luiz Fernando Carvalho

Leio na veja a crítica "Machado virou circo", do Diogo Mainardi à minissérie Capitu, de Luiz Fernando Carvalho.

Para Diogo, que para mim quer só posar e tem pouco conteúdo, a adaptação trai Machado de Assis. No mundo de Mainardi, a autoridade sobre Machado é ele, pois Machado é Diogo e Luiz Fernando é Escobar, Helen Caldwell e Roberto Schwarz são a crítica esquerdista que sequestrou Machado, essa frágil Sabina.

O que dizer? Fábio Pipipi, do blog do Gerald Thomas, chamava Diogo de Di-Ogra. E Diogo chama Michel Melamed de Dick Vigarista, canastrão.

Dick-Ogra vigarista, sintetizo...

Só pontuo o seguinte: como a microssérie anterior foi muito criticada pela ausência de um narrador claro, nessa Luiz Fernando optou pelo narrador que foi Michel Melamed, convivendo quase ao mesmo tempo em que a história. Era um personagem atarracado, grotesco, com um pouco de caricatural e que chocou. Talvez essa tenha sido hiper-narrativa, extremamente marcada pela presença do narrador e pelo choque autoral representado por sua presença.

Para ser fiel a Machado, segundo o narciso Mainardi, seria preciso ser uma voz seca e que detrata nossas mesquinharias...seria preciso ser...Paulo Francis? Não, a literatura dele é fraca. Diogo Mainardi? Mas Diogo já há. Ou não? Ele próprio diz que existe somente um escritor na literatura brasileira: Machado...

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Parque: Um texto de Felipe Moreira

ZUNÁI - Revista de poesia & debates

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PARQUE





Felipe Moreira





PERSONAGENS

(todos fazem parte do CORO)



MENINA RODAMOINHO



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



MULHER CADELA



HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA



MENINA DE TORTA DE MORANGO



HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS



HOMEM COM ARAMES NA BOCA



O AMANTE DE AGULHA E LINHA (com diversas palavras costuradas no corpo)



A AMANTE DE AGULHA E LINHA (com diversas palavras costuradas no corpo)









Improvisações para MENINA RODAMOINHO com pedaços do seu corpo: rodando o braço direito com a mão esquerda, o coração saindo pela boca, os cabelos enrolados aos intestinos, o útero escorrendo pela orelha...





MENINA RODAMOINHO



Diferença... Alguma?



CORO



Talvez.



MENINA RODAMOINHO



E agora?



CORO



Talvez.



MENINA RODAMOINHO



desletrando/reletrando xx ou xy até bailarina sem ossos

desletrando/reletrando bailarina sem ossos até arionossosembaila



(run

live to fly

fly to live

aces high)



CORO



Talvez.

MENINA RODAMOINHO



Eu-monstro, tu-monstro, ele monstro, eu me deformo, tu te deformas, ele se deforma... E ainda precisa de toda água sanitária da língua para lavar o corpo do desejo do tédio dos olhos da boca?



CORO

Precisa!



MENINA RODAMOINHO



Precisa de toda água sanitária da língua para lavar os pés dos lábios dos fios dos cabelos do fígado dos dedos?



CORO



Precisa!



MENINA RODAMOINHO



Dos mamilos das pálpebras do sexo do umbigo da barriga do baço?



CORO



Precisa!



MENINA RODAMOINHO



Do estômago do cu dos braços dos peitos das pernas da língua da pele falante de mim?

Toda água sanitária da língua até secar? Secaria? Arionossosembaila! E eu deverei ter nenhum osso!



CORO



Talvez.



MENINA RODAMOINHO



Traz um aparelho pra me aperfeiçoar.



CORO



Teu corpo?



MENINA RODAMOINHO



Meu corpo.

CORO



Corpo de oceano? Oceano de corpo?

Kkkk. (= risos)





MENINA RODAMOINHO



Eu espanquei ondas!

Meus lábios nunca foram mais laranja gordos.





CORO



Tipo de dez versos des-forma de versos dez ex? Tipo de teta, poça, chafariz, nuca, língua, rio, nariz, teta, poça, chafariz, nuca, língua, rio, nariz, teta, poça, chafariz, nuca, língua, rio, nariz...





MENINA RODAMOINHO



Tipo de teta, poça, chafariz, nuca, língua, rio, nariz, teta, poça, chafariz, nuca, língua, rio, nariz, teta, poça, chafariz, nuca, língua, rio, nariz...





Até que MENINA RODAMOINHO se torna uma espécie de SCARLLET JOHANSSON deformada. Alguns membros do CORO se tornam CACHORROS brincando, mordendo, mastigando ela.





CORO



Por pornografia de infarto solar amarelo, amarelo, amarelo,

nós mastigamos corpo de Scarllet Johansson

e quando tudo comestível, tudo cagável, tudo cu-boca, cu-boca, cu-boca,

nós também somos bebê macaco obeso, desbraçado, despernado

pondo-se

(quando ali entre pernas enfiado)

a esparramar-se em desfigurada torta de manga:

pêlos, clitóris e pêlos.





Improvisações para MULHER DE LENÇOL DE LEITE com leite (de uma altura considerável, ela fica derramando leite de um copo para outro): 1- não chorar sobre ele derramado. 2- Me mergulhar nele com biscoitos. 3- Ser feita dele e me derramar pela cozinha. 4- Talvez meu rosto: como ele. 5- Ferver um elefante de leite. Beber um elefante de leite. 6- Ele com vodka, com café, com chocolate. 7- Um céu de leite. Um sol de leite. ...





Improvisações pornográficas para MULHER CADELA e HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA com chupar, pau, buceta, fuder, putinha, boca...: brinca com a minha buceta, brinca com o meu cu, brinca de mamar meu pau, chupa a minha língua tesuda, de tesudinha, eu deixo também lamber a língua do meu cu, do meu sovaco, do teu suor, do meu fedor, goza na minha boca, quando eu brinco com saliva no teu pau, todo o cabo, todas as gotas, eu mamo, e goza gostoso na sua putinha, na sua vaquinha, goza, me arregaça, me deixa molhadinha, lambe meu saco, rasga meu piru, benzinho, sangra minhas costas, morde a minha boca, quero gozar na tua cara, mijar na tua cara, rasgar o teu rasgo, comer a tua pele, lamber os teus órgãos, chupa meu rasgo, castiga meu cuzinho, esfola meu pau, senta na minha cara, deixa eu mastigar a tua merda das entranhas do cu, fica calada, puta, bota o pé na minha cara, se eu não quiser ficar calada, esporra na minha boca, deixo eu te rasgar, me rasga, me rasgo toda, eu me rasgo, eu me arregaço toda, eu sou a sua fadinha, eu sou a sua putinha, corta minha pau útero mastiga teu sangrar gostosa peito arromba meu boca orelha pelos poros pêlos suor ereto corta, mastiga meu cu, vaca, tesudo, até o útero, te fazer sangrar merda, me dá um beijinho, lindinha, enfia um gato na minha buceta, enfia um coelho, enfia um braço, me espanca com vara, me fode com vara no cu, bate, bate mais forte, goza na minha cara, deixe eu chupar tuas tetas até teu leite de vaca jorrar, deixa eu beijar teu útero, deixa eu te castigar, sua putinha, esfolar teu peito, arrancar teu mamilo, bate na minha cara, me manda calar a boca, diz que você quer chupar todos os pêlos da minha buceta até secar...





MENINA DE TORTA DE MORANGO e MULHER CADELA pegam o boneco do GIGANTE COM BARRIGA DE ÁGUA DE SOL, tentando fazer com que ele faça, aquilo que dizem.





MENINA DE TORTA DE MORANGO



Precisa fazê-lo esfaquear a barriga de água de sol de linguagem.



MULHER CADELA



Precisa fazê-lo engolir sol: permitir a analogia: órgãos/estampados — pele/abajur.





MENINA DE TORTA DE MORANGO



Precisa barriga de água de sol: os raios de sol respigando por toda parte: gotas de sol, nos corpos, gotas de sol, nos lábios, gotas de sol, nas folhas...





MULHER CADELA



Precisa também raios de sol de pôr de sol vermelho/lilás fazer brilhar, raios de sol de sol azul / rosa / roxo / laranja / verde... fazer brilhar.





HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA toma a voz do BONECO DO PADRE ANTÔNIO VIEIRA.





HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA

(fazendo o BONECO DE PADRE ANTÔNIO VIEIRA mergulhar na barriga do gigante)



Ó entranhas piedosas

de vosso divido amor.





HOMEM COM ARAMES NA BOCA pega e toma a voz de uma BONECA DE ARAME COM GENITÁLIAS DE BORRACHA (feita com os arames que saem da boca dele).





HOMEM COM ARAMES NA BOCA



Evoluindo uma metáfora de mar até "o mar está no copo".



(ele joga o copo no chão)





HOMEM COM ARAMES NA BOCA



Agora morremos afogados!





HOMEM COM ARAMES NA BOCA / BONECA DE ARAME COM GENITÁLIAS DE BORRACHA



E depois?





HOMEM COM ARAMES NA BOCA



Nós ressuscitamos.





HOMEM COM ARAMES NA BOCA / BONECA DE ARAME COM GENITÁLIAS DE BORRACHA





E depois?





HOMEM COM ARAMES NA BOCA



Você anima de mastigar água com vidro comigo?







HOMEM COM ARAMES NA BOCA / BONECA DE ARAME COM GENITÁLIAS DE BORRACHA



E depois?





HOMEM COM ARAMES NA BOCA



Faço um retrato do teu coração com cacos de vidro d´água.







HOMEM COM ARAMES NA BOCA / BONECA DE ARAME COM GENITÁLIAS DE BORRACHA



E depois?





HOMEM COM ARAMES NA BOCA



Faço um vestido de água de vidro.





HOMEM COM ARAMES NA BOCA / BONECA DE ARAME COM GENITÁLIAS DE BORRACHA



E depois?





HOMEM COM ARAMES NA BOCA



Eu deverei ser água.





HOMEM COM ARAMES NA BOCA / BONECA DE ARAME COM GENITÁLIAS DE BORRACHA



E depois?





HOMEM COM ARAMES NA BOCA



Tu deverás ser vidro.





HOMEM COM ARAMES NA BOCA / BONECA DE ARAME COM GENITÁLIAS DE BORRACHA





E depois?





HOMEM COM ARAMES NA BOCA



nunca

mais alegria de

farrapo

de pássaro

fiapo

de flor

de algo que ver

com beijo

medo

susto

e súbito

foi

mas

concentrada

como o álcool

instaurada

pelos poros

feito um suor

um fervor

um amor

através do qual

eu

com muito esmero

com muito esmero

vou

e já estou

e já estou

e vou

e vôo

pr´uma

fotografia

estourada

de luz

fritada

por Deus

atualizada num presente

contínuo

de rios

de riso





HOMEM COM ARAMES NA BOCA / BONECA DE ARAME COM GENITÁLIAS DE BORRACHA



E depois?

...





MENINA DE TORTA DE MORANGO

(cantarolando e rolando)



Eu só quero bola de bebê de neve rolar.

Eu só quero bola de bebê de neve rolar.

Eu só quero bola de bebê de neve rolar.

Eu só quero bola de bebê de neve rolar.

...





Os AMANTES DE AGULHA E LINHA pegam e tomam as vozes dos BONECOS DE MÃE e FILHO: a mãe está dando banho no menino que está em pé e nu, numa bacia.





A AMANTE DE AGULHA E LINHA / MÃE



Deixa-me ver essas unhas.



(MÃE pega a mão do menino)





A AMANTE DE AGULHA E LINHA / MÃE



Prefira unhas limpas.





O AMANTE DE AGULHA E LINHA / FILHO



Mas eu nunca tive unhas limpas.





(MÃE joga água, na cabeça do menino)



O AMANTE DE AGULHA E LINHA / MÃE



Deixa-me ver essas unhas.





(MÃE pega a mão do menino)



O AMANTE DE AGULHA E LINHA / MÃE



Prefira unhas limpas.



A AMANTE DE AGULHA E LINHA / FILHO



Mas eu nunca tive unhas limpas.

...





Ao redor da bacia, entram ULTRALEVES voando com faixas publicitárias excessivamente grandes, nas quais se lê a próxima fala do CORO.





CORO



máquina

publicitária

promete

para

próximo

verso

coelhinhos

coelhinhos

coelhinhos

e

os

derradeiros

antílopes

sem

alma

sobre

teus

mamilos

violeta





O CORO rasga as faixas, sujando todo o palco e se veste com jornais.

Metade 1 (A AMANTE DE AGULHA E LINHA, HOMEM COM ARAMES NOS DENTES, HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS e MULHER DE LENÇOL DE LEITE) varrendo o palco.

Metade 2 (O AMANTE DE AGULHA E LINHA, MENINA DE TORTA DE MORANGO, MULHER CADELA e HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA) rasgando jornais e espancando com jornais a metade 1.





Alternar:

METADE 1



Limpar, limpar, limpar, limpar...





METADE 1

(cantarolando)



...e o banheiro e o quarto, e a cozinha e a sala, e na louça, os pratos, os talheres e os copos, e o banheiro e o quarto, e a cozinha e a sala, e na louça, os pratos, os talheres e os copos, e o banheiro e o quarto, e a cozinha e a sala, e na louça, os pratos, os talheres e os copos ...





METADE 2



Você não está bem informado! Você não está bem informado!







HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA



Tive idéia para roteiro de poema de TV:

sem eventos até que se viu que

bem que podia se masturbar com bibelôs-torre Eiffel.

No quinto verso, havia

vinte e três mil genitálias secando no varal.

Depois,

nada com a,

nada com b,

nada com lantejoulas

se espalhando como nariz nunca deveria

numa família.

E,

quando trouxe meu casaco de penas de pomba,

ninguém se importou,

daí no próximo verso: arrancar pele, lamber ossos...

Porque somente poema programado

para ser lido em 2027 e

provocar outro que

teria 25 versos inaláveis

seria tão cheio de

meninas, árvores e lagos.





Entra MENINA RODAMOINHO equilibrando-se sobre uma imensa maçã verde rodando sobre si e descendo sobre o palco. Nela, várias imagens indiscerníveis são projetadas.





MENINA RODAMOINHO



cinema tela-maçã descascando maçãs: lençóis: pétalas: pele (corpo descascado de sol, eu tentando pegar a tua pele, mas a pele descascava): olho: fatias aquosas de pétalas do olho da imagem: no cinema tela-maçã, milhões de cascas de telas maçãs descascando um avião-geléia deformável pelo ar que a nuvem-máquina de cortar papel cortou um meu olho, ou um teu olho, ou um seu olho se descascando: despetalando: olho meu minha maçã flor! pra culminar num cinema tela-maçã.



CORO



Olho meu minha maçã flor!





Por vezes, como se por acaso, certas imagens se fixam, antes de descascar.



Exemplo 1: ADOLESCENTE ROMÂNTICA olhando pela janela.





ADOLESCENTE ROMÂNTICA



Havia (eu preciso de)

você,

ou, sobretudo,

a ópera

que argumenta pássaro, veias e terror

em você,

quando,

na tarde violeta de inverno,

as janelas dos meus olhos

se liquidificam,

pombinha celeste tranqüila tom

ba.



Eu quero um beijo





Exemplo 2: uma pipa, quebrada pelo vento, tombando, um pássaro, uma mulher se jogando da ponte, um homem andando na rua.





OFF



uma não pássaro pipa voando ou um pássaro com asas de galhos quando o vento apertou quebrou tombou era como ela morrendo ou ela morrendo era como uma pipa tombando ou eu era como ela morrendo ou como um pássaro com coleira voando





MENINA RODAMOINHO



Eu espanquei ondas!







CORO faz com que o BONECO DE GIGANTE COM BARRIGA DE SOL esmague o cinema tela-maçã num olho verde: ele levanta e vira a maçã, fazendo-a parecer com uma roda, um olho girando. A MENINA RODOINHO fica em cima, rodando a maçã / olho / roda, enquanto que por dentro ou, ao menos ao redor dela, o CORO entra correndo.





MENINA RODAMOINHO

(cantarolando)



Poema parque! Poema puteiro!

Poema parque! Poema puteiro!

Poema parque! Poema puteiro!

Poema parque! Poema puteiro!



CORO



mergulhamos nos teus olhos verdes

(como vacas transcendentes imersas

em campos verdejantes de verde pastamos)



mergulhamos nos teus olhos verdes

(enfiamos um vestido verde

pelos teus poros arrombados os ratos)



mergulhamos nos teus olhos verdes

(mastigamos os órgãos

dos alienígenas verdes mortos)



mergulhamos nos teus olhos verdes

(afogamos em vísceras gelatinosas

de limão de veias verdes com porcos)



Cinema tela maçã sai rodando para fora do palco. Pausa longa. Alguns membros do CORO fingem estar GOTEJADOS NAS ÁRVORES.



Alternar:



1

CORO / GOTEJADOS NAS ÁRVORES



Eu-árvore.

Tu-árvore.

Ele-árvore.

Nós-árvore.

Vós-árvore.

Eles-árvore.



2

CORO / GOTEJADOS NAS ÁRVORES

(cantarolando)



Coisar, coisar, coisar, coisar, coisar, coisar, coisar...



3

CORO / GOTEJADOS NAS ÁRVORES

(cantarolando)



Enquanto poema pra pausa não vem,

não vem, não vem.

Enquanto poema pra pausa não vem,

não vem, não vem.





HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA

(enquanto entram areia, barraca, duas cadeiras, onde ele e a MENINA DE TORTA DE MORANGO se sentam e se beijam)





Prefira superpor



"Veio um sopro de otimismo: agora sou contente.



Queria manter com álcool.



Queria manter com afeto.



Levo palavras e meu amor na praia,

pra ver se eles pegam uma cor.



Nesse verão, nós não morremos.



Somos felizes e o sol sustenta ser amarelo, alegre e leve",



quando disser:



"eu te amo como um golfinho!".





MENINA DE TORTA DE MORANGO



Eu te amo como um golfinho!







Entram MULHER DE LENÇOL DE LEITE e HOMEM COM ARAMES NA BOCA, abraçados.





MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Me beija.



(ele beija)



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Me beija!



(ele beija)



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Mais forte!



(ele beija)



HOMEM COM ARAMES NA BOCA



Passamos a noite toda fracassando uma metáfora de violeta ou de anjo.

Quero que você seja minha violeta.





MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Eu sou sua violeta.





HOMEM COM ARAMES NA BOCA



Quero que você seja meu anjo.





MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Eu sou seu anjo.





HOMEM COM ARAMES NA BOCA



Fracassando.



(Dizer (a) e / ou (b))



(a)

Até despedaçar metáforas numa literalidade de pele:

Pegue essa maçã e passe na buceta.



(b)

Até materialização da metáfora de anjo num rubor de rosto.

( ele diz algo no ouvido dela. Ela sorri. Eles se beijam.)





Em cima de um BRINQUEDO DE ÔNIBUS entra o HOMEM COM AS GENTITÁLIAS CORTADAS tomando a voz do BONECO DE EXECUTIVO. Ele tenta puxar uma imensa camisa azul / céu que balança e ocupa boa parte do palco.





HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS / BONECO DE EXECUTIVO



O céu é azul,

como uma camisa

que eu pudesse

puxar para dentro

pela janela

e enrolar

na cabeça

um céu,

como um mar

que eu pudesse

puxar para dentro

pela janela

e enrolar

na cabeça

um mar.

...





Pausa longa.





HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA



Vamos brincar de cristianismo agora.

Eu vou tentar ser bom.

Você vai ser bom?



Prefira pensar na perfeição do reino do senhor, quando cantarolar:

nós

anjinhos

gostosos

felpudos

dengosos

nós

os

leitões

leitosos

de

brancura

brancosos



(ele fica repetindo várias vezes, até todos decorarem)







CORO

(cantarolando, repetindo várias vezes)

nós

anjinhos

gostosos

felpudos

dengosos

nós

os

leitões

leitosos

de

brancura

brancosos



MENINA RODAMOINHO



Quero ser anjo.

Coloco asas de papel, e

vôo até voar.



CORO



Mais!





MENINA RODAMOINHO



Eu fico voando até voar...





CORO



Mais!





MENINA RODAMOINHO



Fico voando até voar

Voando até voar!





CORO



Mais!





MENINA RODAMOINHO



Súbito:

asas que se petrificam no vôo

me fazem tom

bar.

Eu sou teu anjo de pedra!

Peço:

amarele-me de amarelo,

faça de cabelos loiros

um tanque de amarelo surgir

nascer / renascer.



CORO



Mais!



MENINA RODAMOINHO



Humano humaniza-me.

Sou a estátua do anjo de pedra

tombando no tanque de amarelo

dos cabelos de uma menina

bem boba alegra

sofrendo:

quero mais vida



CORO



Mais!

...



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Agora vamos brincar de des-ser:

O primeiro que mexer...

(alguém mexe)

Perde!



Ou prefira não andar na cozinha sem passos andando,

não abrir a geladeira sem dedos abrindo,

não beber cerveja sem boca bebendo...





Todos tentam ficar parados por alguns instantes, até que a MENININA DE TORTA DE MORANGO interrompe.





MENINA DE TORTA DE MORANGO



Prefira...



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Não prefira!



MULHER CADELA



Prefira...



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Não prefira!



MENINA DE TORTA DE MORANGO



Prefi...



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Não!



MENINA DE TORTA DE MORANGO



Pre...



MULHER DE LENÇOL DE LEITE

Não!



MENINA DE TORTA DE MORANGO



P...



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Não! Não! Não! Não prefira! Não queira! Não goste! Não ame!



MENINA DE TORTA DE MORANGO



Prefi...



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Não!



MENINA DE TORTA DE MORANGO



Pre...



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Não!



MENINA DE TORTA DE MORANGO



P...



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Não! Não! Não! Não prefira! Não queira! Não goste! Não ame!





Entram os AMANTES DE AGULHA E LINHA costurados um ao outro.





AMANTES DE AGULHA E LINHA

(cantarolando, tentando se mexer)



beija minha boca, beija minha testa, beija minha bochecha, beija minha orelha, beija minha nuca, beija meu pescoço, beija meu ombro, beija meu peito, beija meu mamilo, beija minha barriga, beija meu umbigo, beija meus pêlos, beija minha buceta, beija meu piru, beija minha bunda, beija meu cu, beija minhas costelas, beija minhas costas, beija minhas coxas, beija minha perna, beija meu calcanhar, beija meu tornozelo, beija meu pé, beija meu dedo, beija minha unha, beija minha sola...





AMANTES DE AGULHA E LINHA



Nós — amantes de agulha e linha —

nos costuramos: "inefável",

"amor", "eterno"... Toda minha

língua, todo o meu / seu — "amável!",



"amável!": costurar por — corpo:

(não?) "sim". Sem rosas, ou elefantes,

ou violinos, surgem (transtorno)

notas — entre linhas — infantes:



"lindinha", "fadinha"... Queria

soprar um elefante rosa

de espuma: queria! Não consigo:

costuro: "pétala". Des-rosa:



a letra num "te amo", "te adoro"

costurando / des-costurando

até leitmotiv da metáfora

de vestido indo: eleeu!, quando



em resquícios de ego de pano,

corria, corria: "por que?" "você,

eu...". Amantes de agulha e linha,

queríamos um oceano plano.





HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS



Sobre erguer bem estar e catedrais.



(ele pega esses objetos e brinca)



Sentindo uma improvisação com vestido de princípio de gravidez e natimorto, uma improvisação com grama e aborto, uma improvisação...





MULHER CADELA



Ergues um bem estar assim?





HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS



Ó, tão difícil quanto catedrais.





MULHER CADELA



Por que não tenta erguer com sol, sorvete de limão e Ipanema?





HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS



Ó, tão difícil quanto catedrais.





MULHER CADELA



Por que não ergues com ventilador de teto, beijos e amor?





HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS



Ó, tão difícil quanto catedrais.

Mas nunca ninguém

uma

improvisação com avião e acidente

sentiu

como eu

agora

ninguém

nunca.





MENINA DE TORTA DE MORANGO



Abelha...



MULHER DE LENÇOL DE LEITE

Não abelha!



MENINA DE TORTA DE MORANGO



Abelha...



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Não abelha!



MENINA DE TORTA DE MORANGO



Abel...



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Não!



MENINA DE TORTA DE MORANGO



Ab...



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Não!



MENINA DE TORTA DE MORANGO



A...



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Não! Não! Não! Não abelha! Não quero! Não gosto! Não amo!





O AMANTE DE AGULHA E LINHA

(ainda costurado com A AMANTE DE AGULHA E LINHA, o que se mantém até o final da cena)



Nunca mais volto a chupar teu sol varizento,

porque nunca estás nua o bastante.



Mesmo liquidifiquei o último e-mail de amor

em cavalos marinhos, rosas, Educação sentimental e veias.



Pouca importa

— fio desencapado

em carne e viva da linguagem —,

"lindinha", "fadinha".



Quando de pássaro morto com gárgula encharca esgoto pano de prato seca coxas da menina gorda morta se desprende de flor da pele da corda estupro de garganta vermelha rosa inflamada

som

que poema para pausa não virá,

mas apenas mais cisnes e crianças incestuosas,

termina sempre dizendo:

"ai, como deve ser bom ser amado por uma italiana".





A AMANTE DE AGULHA E LINHA



Eu sou a sua bonequinha-robô.

Aperta a tecla "amor", eu amo.

Aperta a tecla "falar", eu falo.

Aperta a tecla "beijar", eu beijo...





A AMANTE DE AGULHA E LINHA



Você gosta de mim?



O AMANTE DE AGULHA E LINHA



Gosto.



A AMANTE DE AGULHA E LINHA



Muito ou pouco?



O AMANTE DE AGULHA E LINHA



Muito.



A AMANTE DE AGULHA E LINHA



Você gosta de mim?



O AMANTE DE AGULHA E LINHA



Gosto.



A AMANTE DE AGULHA E LINHA



Muito ou pouco?



O AMANTE DE AGULHA E LINHA



Pouco.



A AMANTE DE AGULHA E LINHA



Você gosta de mim?



...





HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA pega e toma a voz do BONECO DE BEBÊ DINOSSAURO.





HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA / BONECO DE BEBÊ DINOSSAURO





Se bebê dinossauro

não sabe dizer: "bom dia"

para sua namorada,

diz: "bomzia",

se não sabe,

diz: "bomlia"

se não sabe,

diz: "bombia",

se não sabe...





HOMEM COM ARAMES NA BOCA pega e toma a voz do BONECO DE PALHAÇO.





HOMEM COM ARAMES NA BOCA / BONECO DE PALHAÇO

(com bateria des-ritmada)



História do

era uma vez ninar do mais boneco horrendo querido meu mastigando vidro gratuito pra sangrar bochecha

(ah! e sempre tão nostálgico das meninas que fuzil deflorou vermelho quase não podia que lacrimejar)

termina em súbita corrente contínua suor maquiagem escorrendo donde em poça só tinta

pulgas

pululam

pulgas

pulgas

pululam

pulgas

pulgas

pululam

pulgas

pulgas

pululam

pulgas...





HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS monta na MULHER DE LENÇOL DE LEITE.





HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS



Prefira passear pelo jardim cheio de som e comida.



Agora coma sons.



Agora cante comida.



Rasteje por migalhas sonoras.



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Corpo, porco, polvo, nojo, louco, horto, rouco, roxo...



HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS



Diga: "por favor", senão não vai vir nada de bom.



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Por favor.



HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS



Diga: "por favor".



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Por favor.



HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS



Você ainda não está toda arrombada e escorre.



Você ainda não escorre.



Diga: "por favor". Diga: "por favor", vadia.





MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Por favor, por favor, por favor, por favor...







Improvisações para MENINA RODAMOINHO com pedaços do corpo: a cabeça no pé, sobre a cabeça, o coração, os pés dentro do estômago, o útero na boca, as orelhas nas mãos... : 1- eu sou a MENINA RODAMOINHO. 2- fatiei minha língua em carreirinhas de cocaína. 3- a pele da pele da pele da pele do útero do útero do útero do útero da letra da letra da letra da letra... 4- vísceras que eu chupei de mim morta culminam por vezes por acaso numa claridade de sexo de fadas azul transcendente brilhando... 5- Fui até a esquina de "fora de mim", não fui?Não sei se comprei, se não comprei pão. 6- ´Gora eu vou pegar um corpo pra mim / talvez de peixe e destroços de avião, / ou de folhas com migalhas de pão / de pele de atriz morta com jasmim. 7- flor, folha, fada até bolhas da língua, flor, folha, fada até bolhas na língua, flor, folha, fada até bolhas da língua, eu passei o dia todo, eu passei a noite toda...





Ao fundo, todos discutindo.





CORO



...eu sou Nietzsche, eu sou super-homem: nã, nã, não, eu sou Nietzsche, eu sou super-homem: eu sou Nietzsche, eu sou super-homem: nã, nã, não, eu sou Nietzsche, eu sou super-homem: eu sou Nietzsche, eu sou super-homem: nã, nã, não, eu sou Nietzsche, eu sou super-homem...





Até começarem a cair grandes bolas de tinta branca sobre toda a cena.





CORO



grossas gotas de silêncio e branco tombando feito um princípio de loucura grossas gotas de silêncio e branco tombando feito um princípio de loucura grossas gotas de silêncio e branco tombando feito um princípio de loucura...





Enquanto escuta-se uma mistura de trechos de óperas com som de trânsito, o CORO pega e toma as vozes de BONECOS de personagens de óperas (TANNHÄUSSER, SALOMÉ, CARMEN, DON GIOVANNI, MELISANDE, SIEGRIFIED, FIGARO...) para improvisações com av. Presidente Vargas até destruir os bonecos: engolindo miniaturas de carros, vans, táxis e ônibus, miniaturas de carros e ônibus, engolindo miniaturas... vomita, engasga, engole, estagna: engole de novo miniaturas: vomita, estagna, engole, vomita, estagna, engole...





MENINA RODAMOINHO

(tentando fazer as ações, descritas na fala)



Precisa de uma coreografia gratuita para abelhas:

abelhas furando um olho azul até a cegueira do mar morto.



Ou um engaiolar pombos e bebês, chacoalhar e libertar até bebês mortos com bicos e penas voarem.



Ou viver como vendedor de sapatos pelos próximos vinte anos:

"Quando o dia termina, eu coloco as sandálias e vou para casa.

Amanhã, eu acordo às 6:00

e chego na loja às 7:30".



Ou sou só um ator com formigamento na coxa estapeando-a:

"vou tentar estapear a falta simultaneamente",

(tem que fazer doer mais)

"vou tentar estapear a falta simultaneamente"

(tem que fazer doer mais),

"vou tentar estapear a falta simultaneamente"

(tem que fazer doer mais)...



Muito pouco. Muito osso.

Precisa escorrer pelos azulejos.



Muito muito. Muita carne.

Precisa esquematizar o vento.



Eu vi o anjo

e o anjo disse:

"siga os imperativos de prazer até o absoluto".





HOMEM COM ARAMES NA BOCA e MENINA DE TORTA DE MORANGO pegam e tomam as vozes de dois BONECOS DE TÉCNICOS.





HOMEM COM ARAMES NA BOCA / BONECO DE TÉCNICO 1

(fazendo a ação descrita na sua fala)



Estou cortando um fiapo dessa lâmpada.

Metaforicamente: estou roendo a unha dessa lâmpada.

Estou colando esse pedaço de unha de lâmpada sobre o meu dedo.

Essa será a minha consolação materialista.



MENINA DE TORTA DE MORANGO / BONECO DE TÉCNICO 2

(jogando as lâmpadas para o alto, estourando no corpo, estourando na cabeça, amassando com a mão, pisando em cima...)



eu sou

não sou

a

idéia

da garrafa

de cerveja

cacos

da gema

da lâmpada

do ovo

da bola da memória

de tênis

mais fosforescente

fosforescendo

agora súbito





O CORO constrói / destrói um corpo de homem de cidade de casa (estende-se um pano com miniaturas de prédios, casas, carros...; sofás, cozinhas, banheiros...; cabeças, pernas, braços... e fica-se montando / desmontado, arbitrariamente).





CORO



Entra homem de cidade de casa.



Ele diz: dos meus braços de prédios, suor de carros escorre até a sala.



Ele diz: minha boca, cansada de cuspir banheiros de azulejos com olhos, engoliu uma casa amarela.



Ele diz: eu sou um gigante surgindo da rua, erguendo uma onda de concreto para deformações, ou favelização da cidade do corpo da casa.



Ele diz: minhas pupilas angustiadas da casa se dilatavam se espalhando até a rua.



Ele diz: puxar minha pele de corpo da cidade da casa faz explodir carros nos olhos.



Ele diz: tomar banho faz encharcar a sala, alagar toda a cidade fica inundada.





Improvisações para CORO com casa, cidade, corpo: 1- esprema meus olhos até que eu chore um barraco. 2- vou chupar tua língua até que todas essas ruas estejam pálidas, como azulejos pálidos. 3- me explode um prédio sob as pálpebras, talvez dos escombros eu possa erguer uma casa cheia dedos. ...



Improvisações para MULHER DE LENÇOL DE LEITE passando no corpo de homem de cidade de casa, em cima de um brinquedo de ônibus com suicídio, Grécia, essência, intensidade, falta e amor...: 1- a falta de amor... 2- se eu me matasse... 3- se eu fosse grega... 4- a intensidade... 5- a experiência essencial... 6- o meu sofrimento sofrendo sofre, ó, o meu sofrimento sofrendo sofre...



Improvisações para o CORO comendo BONECOS e OBJETOS de comida (MULHER DE CABELOS DE RIOS DE SUCO DE LARANJA, MÃE DE SALADA DE BATATAS, MESAS DE CHOCOLATE BRANCO, ÁRVORES DE ALFACE, BALANÇO DE FARELO DE PÃO...): 1- teus — pastiches de Wagner — cabelos de rios suco de laranja escorrendo, quando tuas coxas de sorvete derretendo... 2- nós mastigamos as mesas de chocolate branco dos escritórios. 3- feijão de pele, arroz de pele, batata de pele: feijão, arroz, batata, feijão, batata, arroz, feijão, batata... 4- vidro com sol com cacos de vidro de sol mastigáveis, ou um sol de batatas coradas amassadas: luz: se cortar, escorre batatas coradas, escorre sangue, escorre cacos, pois estraçalhando as bochechas com cacos de sol escorrendo luz, entre dentes, entre pele... 5- (cantarolando) Ó, balanço de pão, / não se esfarele não, / eu não gosto de tombo, / nem de bumbum no chão. ...





HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA

(segurando a mão da MULHER CADELA)



Eu sou o homem obeso de bolo de laranja,

quando eu anda,

eu deixa cair migalhas que eram meus dedos.



(ele começa a voar, feito um balão)



Mas eu-redondo,

eu balão gigante rodando,

vou até a lua,

vou até Marte

te comprar

sorvete que dá

vontade de viver.





MENINA DE TORTA DE MORANGO

(falando para um BONECO DE MÃE DE SALADA DE BATATAS)



Mamãe, penso que o mundo hoje é como um arco íris podre escorrendo pelo esgoto!



Meu pai de chocolate me estuprou.

Isso não foi um estupro.

Ele é de chocolate.

Eu sou contente.





CORO começa a ler no cenário e nos seus próprios corpos, bilhetes de suicídio. Como se os bilhetes de suicídio se tornassem a substância da cena e estivessem impressos em todos os brinquedos e personagens.



Improvisações para CORO com bilhetes de suicídio: 1- Entediei-me. Desculpa. 2- Eu sou lixo. Eu me odeio. Eu quero morrer. 3- Me mato hoje, Angela. Imagino que você esteja contente. 4- Percebo que esse bilhete é também derrota: criativa, agora. Mas, ao menos, há algo de positivo, dessa vez: trata-se da última. 5- Fracassei. 6- Eu te desprezo. Mas eu me desprezo mais. 7- (...) Naquele dia, você estava usando aquele vestido azul, e eu até tive vontade de viver. Foi uma exceção. De resto, você sabe como eu tenho que ser sempre o mais detestável. Nossa vida conjugal foi... não sei... Ah, a sua vulgaridade dificultou tudo!... 8- Quando eu era criança, eu era uma menina alegre. Eu era talvez a mais alegre menina da escola. Sei lá, eu nunca vi uma criança se suicidando... 9- Suicido-me hoje e que vocês todos se fodam! 10- nunca amei, mas talvez tenha sido amado... Chamem todas minhas ex-amantes e ex-namoradas. E que elas sofram... 11- Vocês não encontrarão minha camisa havaiana no armário. Quando terminar essa carta, me jogo do prédio com ela. Sempre quis morrer de laranja. Acho que é uma coisa otimista. 12- Eu me mato, porque me acredito imortal, e porque eu espero. 13- Descobri a maneira mais fácil de não acordar: matar-me. 14- suicídio súbito de mim, ou esse poema termina agor. ...



Improvisações para CORO com peças de suicídio de brinquedo de borracha: mordendo, chupando, engolindo, sujando, jogando, quebrando, brigando por peças de suicídio de brinquedo de borracha até que MULHER DE LENÇOL DE LEITE engasga (silêncio): tosse 1, tosse 2, tosse 3. Volta. Revolta.





CORO

(cantarolando)



suicidando pra lam-bé

cu rosado da mor-té

de vestido de flo-rés



ama-relés

estu-pidé

mente-até

esto-magué

...





HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS



Eu escorreguei no "sofrimento" do pula-pula.



MULHER CADELA



Vê se não vai engolir o "tédio"

Vê se não vai engolir o "inerte"

Vê se não vai engolir o "te odeio"

do canteiro de areia agora.





Alternar:

1

CORO



Se eu me enforcasse.

Se tu te enforcasses.

Se ele se enforcasse.

Se nós nos enforcássemos.

Se vós vos enforcásseis.

Se eles se enforcassem.

2

CORO



...ou ler Descartes, ou me matar, ou "eu te amo", ou me matar, ou limpar janelas, ou me matar, ou "por há simplesmente o ente e não antes o nada?", ou me matar, ou andar de bicicleta, ou me matar, ou ir ao cinema, ou me matar, ou torta de limão, ou me matar, ou me drogar, ou me matar, ou sucesso, ou me matar, ou surfar em alto mar, ou me matar...





MENINA DE TORTA DE MORANGO se transforma numa espécie de babá, enquanto os demais personagens se tornam CRIANÇAS e formam um círculo para escutar uma história.





MENINA DE TORTA DE MORANGO



O HOMEM EM FORMA DE SOL pediu

um beijo para a

MULHER EM FORMA DE ILHA DESERTA.



Ela disse: "não!".



Desde então, eles sabiam: "nós somos humanos".



O HOMEM EM FORMA DE SOL disse:

agora eu serei a

CRIANÇA EM FORMA DE OVERDOSE.



A MULHER EM FORMA DE ILHA DESERTA

não se importou,

bebeu água de coco na chuva,

e rodou, rodou, rodou.





MENINA RODAMOINHO saltitando, cruzando o parque.





MENINA RODAMOINHO



O beijo-robô da língua-robô propôs:

"eu vou secar o sol

do bloco ainda borbulhante

da morte com cavalos marinhos".



Conseguiria eu

pôr em ato

uma (plena de passarinhos)

morte engraçada ?



Seca

(mais: anorexizada)

da sua gravidade

esterilizada

(queria)

a morte passível agora de pôr o pé

a ponta dos dedos

a passeio na beira do mar

morno na banheira

provar a (morte é uma) gota de leite

da mamadeira abobada abestalhada morte

engraçada.





MULHER CADELA pega e toma a voz de uma BONECA DE BABÁ, enquanto os demais personagens se tornam CRIANÇAS e formam um círculo para escutar uma história.





MULHER CADELA / BONECA DE BABÁ



Chegando no meio de um... lá

— metáfora da metáfora

da metáfora da... —,

vendo uns... lenços amassados

com pétalas (?), um passarinho

se lançou: "por que continuo?",

e continuou.



Um segundo passarinho

também ali passou.

Este se perguntava: "por que continuo?,

por que

continuo?, por que

continuo?,

por que continuo? ...".





A cena se enche de balões, de modo que parece que os personagens e as coisas se tornaram balões.





MENINA DE TORTA DE MORANGO

(infantilmente)



A tua bochecha é um balão!





MENINA RODAMOINHO e HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA pegam e tomam as vozes de dois balões.





MENINA RODAMOINHO / BALÃO 1



Eu era uma menina interessante.



HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA / BALÃO 2



Por que?



MENINA RODAMOINHO / BALÃO 1



É, eu não era uma menina interessante...





Entra o HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS sobre uma geladeira / carroça — na qual vê-se uma BONECA DE MULHER IDEAL congelada — puxada pela MULHER CADELA.





HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS

(para a BONECA DE MULHER IDEAL)

À você

que é mais perfeita

que a alma

não permitirei

nem mesmo

piscar.



MULHER CADELA



Já eu, cadela sendo, não me domestico: pulo em cima da mesa e jogo os pratos no chão. Daí ser preciso certa disciplina, como que para dizer: "não, isso você não pode fazer", ou "não, aí você não pode entrar", ou "o fogo queima"... Friso: "como que", porque às vezes é preciso — literalmente — me estapear e, por vezes, até mesmo mais... Ora, assim como um leão não entende, um tigre ou um macaco não entende, eu não entendo. Mas isso não quer dizer que eu não queira ser amada. Apenas acrescento: "me ame, mas como quem ama um animal". Ou seja, tenha certa prudência: não me deixe sozinha com as crianças, nem fique de costas e sempre mantenha o chicote próximo. Pois saiba que eu, tal como qualquer besta, a qualquer momento, posso te roubar um olho.



HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS



COISAR: PAISAGENS DE LETRAS: DEUS COM KARAMAZOV: ENTRE CAVALOS MARINHOS O SIGNIFICADO ENTRE CAVALOS MARINHOS ESCORRENDO PRA FORA: SE EU ME ENFORCO SE TU TE ENFORCAS SE ELE SE ENFORCA DA SIGNIFICÂNCIA NA TARDE VIOLETA NO VENTILADOR DE TETO DAS TUAS VEIAS: TUDO: SEQUÊNCIA: SINÔNIMICA: VIRA: PUTARIA: BANAL: LITERAL: MINHA BUCETINHA: COISAR: A PELE DA PELE DA PELE DA PELE DO ÚTERO DO ÚTERO DO ÚTERO DO ÚTERO DA LETRA A-DISSE FADAS FADAS FADAS: COISAR



Nos olhos do HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS começam a crescer dois balões, como se de Cartoon, aos quais ele próprio estoura com um alfinete.





HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS



Meio dia

nos meus olhos

vermelho

enchendo

voando fora

da minha cabeça.



BOOM!

(ele estoura um dos olhos com um alfinete)



É assim que se explode o sol!

BOOM!



(ele estoura o outro olho com um alfinete)



É assim que se explode o sol!

Eu tô cego.

Eu sô Pernalonga.





MULHER CADELA se liberta da coleira, corre ao redor do palco, latindo e abanando o rabo, alegremente, depois volta para perto do HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS, que re-coloca a coleira nela. Eles saem da cena, junto com a geladeira / carroça.





HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA



Precisa sonhar com mil modelos peladas numa sala.



Que diziam que:" nós somos suas mães-parque,

nós somos suas mães-parque...".



Quando elas eram muito magras,

elas eram muito fadas.



Eu brincava.



Eu pulava.



CORO

(fazendo um círculo ao redor dele)



Nós somos suas mães-parque.

Nós somos suas mães-parque.

Nós somos suas mães-parque.

Nós somos suas mães-parque.

...





HOMEM COM ARAMES NA BOCA



Vocês teriam melhores antiinflamatórios?

Vocês teriam melhores antibióticos?

Para a minha garganta.

Minha garganta está doendo.

Está doendo, quando eu falo.

Quando eu falo, está doendo.

Está doendo, quando eu falo.

Mas quando eu espirro é bem pior.

Antes, eu amava espirrar.

Era um maior prazer que eu tinha: espirrar.

Mas agora é como um raspão.

Preciso não espirrar.

Preciso não espirrar.



(ele espirra)



Preciso não espirrar.

Preciso não espirrar.



(ele espirra)





MULHER DE LENÇOL DE LEITE

(bebendo um copo de vodka)



Vou tombar como uma lágrima,

ou a lágrima vai tombar como eu.



Você nem vai sofrer.



Você está saudável como uma morte gorda.



Você se alimenta de mim.



Você costumava sempre vir fracassando seu caminho até aqui.



Você...



Que essa fosforescência de luz e azulejos se espalhe por mim

feito uma beatificação.



Gostaria de te fazer lamber todos os meus dedos do pé.



Gostaria de me tornar vodka ou o copo de.



Eu não vou ser a sua putinha.



CORO



Precisa inscrever nas mil e uma páginas das mil e uma noites das mil uma camadas de tinta das paredes da pele da língua do âmago do coração do ser da vida:



(eles fazem um círculo e dançam, ao redor da MULHER DE LENÇOL DE LEITE, cantarolando)



Ela é coisa diversa: diverte

Ela é coisa diversa: diverte

Ela é coisa diversa: diverte



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Eu ainda estou sofrendo

CORO



Ela é coisa diversa: diverte.

Ela é coisa diversa: diverte

Ela é coisa diversa: diverte



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Eu ainda estou sofrendo.



CORO



Ela é coisa diversa: diverte

Ela é coisa diversa: diverte.

Ela é coisa diversa: diverte.



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Eu ainda estou sofrendo

...





HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS

(junto com a MULHER DE LENÇOL DE LEITE, tentando fazer o que descreve na fala)



Você será minha Angústia.



Você será a minha Angustiazinha.



Eu te cubro e te beijo no pulso.



Nós somos os amantes ascéticos.



Estamos nus.



Eu não te toco.



Você não me toca.



Mas o mais próximo de.





O AMANTE DE AGULHA E LINHA

(para a AMANTE DE AGULHA E LINHA)



Meu anjo,

quando eu disse: "amar", você não entendeu: "amar", meu anjo.



Meu anjo,

então, eu despedacei a tua foto, eu embaralhei os pedacinhos, para te amar com todo um outro gosto, com todo um outro gosto desconhecido de novo, meu anjo.



Meu anjo,

quando eu disse: "meu", você não entendeu: "meu", quando eu disse: "anjo", você não entendeu: "anjo", meu anjo.



Meu anjo,

eu te amo, eu te amo, eu te amo muito, meu anjo, eu te amo.





Improvisações para CORO com verbos e "como os deuses": vamos brilhar, como os deuses, amar, como os deuses, destruir, como os deuses, pular, como os deuses, pensar, como os deuses, desejar, como os deuses, nascer como os deuses, criar como os deuses...





Improvisações para CORO com "feito os deuses brincando": 1- Liquidificar-te-ei em pó. 2- Voar, como quem dorme, voar. 3- Quero ser um monstro. Agora sou um monstro. Quero ser um mar. Agora sou um mar. Quero ser um cisne. Agora sou um cisne. 4- Não me faça ter que me evidenciar Deus. Direi: "eu te amo", como quem explode e explodirei. 5- Azul que me transborda céus e mares, te afoga céus e mares, azul que me transborda céus e mares, te afoga céus e mares... 6- Eu não tenho mais coração e não me importo. Você me ofendeu. Eu te enforco pelas tuas próprias mãos você morta. 7- Criei um mundo: fui irônico. 8- Eu sou supersônico! 9- Se eu fosse mortal... 10- Agora preciso que você seja inflamável para mim. 11- Arruinar você e os teus, como quem espirra. Porque vocês, mortais, fedem. Porque vocês, mortais, são vulgares e feios, como a comida que comem. 12- As suas vidas não são que um tatear inútil. Mas eu trago o necessário. 13- Tão deus agora sou que nem mais me agüento eu / de num surto súbito recriar tudo. Tuas cidades. Tuas cidades de sorvete. Tuas cidades de coxas de sorvete derretendo... 14- Te instaurei um de desejo. Por exemplo, o de ver borboletas o dia inteiro. Te instaurei um desejo. Por exemplo, o de correr até desfalecer. Te instaurei um desejo. Por exemplo, o de lamber, lamber, lamber. ...





Pausa longa.





MULHER CADELA



Conta uma piada engraçada pra rir.



HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA



Com a minha namorada,

ninguém fica parado,

ela é feita de melado

e adora bananada.



MULHER CADELA



Agora seja mesquinho, como quando você era criança.



HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA



Ó, não, por favor, não.



MULHER CADELA



Seja mesquinho, como quando você era criança.



HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA



Ó, não, por favor, não.



MULHER CADELA

Então, diga

(com mais gosto que às outras palavras)

uma única até dormir



HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA



(dizer: (a) ou improvisar)



(a)

Alumbramento, alumbramento, alumbramento, alumbramento...





HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS atira na cara do HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA.





HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS



Assassinei,

novamente.



Uma bala

que era um extraterrestre

tombando no mar e

que abrindo uma cratera

no corpo

revoltou um rodamoinho de vísceras

que fez talvez

pensar: "nuvens",

um instante antes

no depois corpo

morto

nada

ser.



Todos os peixes dali morreram verdes.



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Assassinei,

como uma criança afogaria gatos,

no tanque,

e corri:

eu, tensa, rio, tensa, eu, rio, tensa, eu...

quando a poeira tem olhos,

a poeira tem ouvidos?

Mas os adultos

só iriam chegar às sete horas,

e eu pude fracassar,

como se abortos,

enterrar,

como se pombos

no jardim,

os corpos

mortos.





HOMEM COM ARAMES NA BOCA amarra MENINA DE TORTA DE MORANGO numa cadeira. Ele fica batendo e jogando dardos nela.





HOMEM COM ARAMES NA BOCA



Passei a manhã toda atirando dardos em galinhas.



No teu corpo / sítio,

velhas como só galinhas velhas

podem ser tão velhas,

galinhas ciscaram

a manhã toda.



Havia flores no teu umbigo.



Havia milho no teu mamilo.



Uma galinha entrou pela tua boca.



MENINA DE TORTA DE MORANGO



Não, não entrou.



HOMEM COM ARAMES NA BOCA



Abre a boca!



MENINA DE TORTA DE MORANGO



Eu não quero mais brincar.



HOMEM COM ARAMES NA BOCA

Mas você vai brincar.



Se uma galinha descer pela tua goela abaixo,

eu vou ter que arrombar uma fenda na

tua garganta,

no teu estômago...



Mas se ela ainda estiver na boca,

eu posso acertar um dardo na tua língua.



Abre a boca.



(ela abre)





Improvisações para CORO com bonecas russas (desde bonecas pequenas até algumas do tamanho de um homem): 1-abri uma boneca, tinha outra boneca, abri outra boneca, tinha outra boneca, assim, sucessivamente, abri outra boneca, tinha outra boneca, abri outra boneca, tinha outra boneca, assim, sucessivamente... 2- fecha uma boneca dentro de outra boneca dentro de outra boneca dentro de outra boneca dentro de outra boneca... 3- (cantarolando) desmonta / remonta, desmonta / remonta... 4- a cabeça da boneca 32 no corpo da boneca 12, o corpo da boneca 76 na cabeça da boneca 9, a cabeça da boneca 97 no corpo da boneca 3.... 5- meu castelo de bonecas, meu exército de bonecas, minha escultura de bonecas... 6- quebrar bonecas, feito guitarras, quicar bonecas, feito bolas, beijar bonecas, feito bocas, queimar bonecas, feito versos, afogar bonecas, feito cisnes...





Centenas de ursos rosas tombam no palco.





CORO



mosquitinho

poetiquinho

pousando

no

pezinho

da

sua

lingüinha

e

chupando

todos

os

ursinhos

rosinhas

gordinhos

pulando

pulando

que

você

falou

...





HOMEM COM ARAMES NA BOCA estica os arames da sua boca, prendendo alguns no cenário e dando outros para os personagens.





HOMEM COM ARAMES NA BOCA



Comi horas repetitivas como comida:

estou triste,

quero ficar alegre,

estou triste,

quero ficar alegre,

estou triste,

quero ficar alegre,

estou triste,

quero ficar alegre...



Por favor, puxem todos os meus dentes fora.

Minhas gengivas querem sangrar som agora.



(Eles puxam)



Agora vou simplesmente engolir.





Improvisações pornográficas para HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA e MENINA DE TORTA DE MORANGO com BONECAS DE BEBÊS RECÉM NASCIDOS e GATINHAS: recém nascidas chupando bucetas de gatinhas de borracha até olhos azuis do cu do útero: de bucetas recém nascidas chupando gatinhas até cu do útero olhos de borracha azuis do: olhos do útero de borracha até gatinhas de recém nascidas chupando bucetas azuis do cu: do olhos borracha gatinhas até do de recém de útero chupando nascidas azuis bucetas cu...





HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS

(para o HOMEM OBESO DE BOLO DE LARANJA, enquanto come algodão doce)



Prefira superpor:

"eu tenho uma capacidade uma afetiva desumana",

quando disser:

"com minha boca,

cheia de algodão doce,

sufoco Angústia no rosa".



HOMEM COM AS GENITÁLIAS CORTADAS



Com minha boca,

cheia de algodão doce,

sufoco Angústia no rosa.





MULHER DE LENÇOL DE LEITE / MULHER CADELA

(abraçadas)



(Quis)

pétreas pétalas da pele

(fazer surgir): eu deverei não respirar viva!

Eu deverei...

Viva.

Petalar-me em pétalas.

Pedrar-me em pedras.

Pétalas ser.

Pedras ser.

Des-sujeitar-me de mim.

Objetar-me para ventos.

Para vôos?

Para pouso?



(falando para HOMEM COM ARAMES NA BOCA)



Ou você deveria escrever

a tua autobiografia do vento

improvisando com folhas e latas

sobre nossos corpos agora.



MULHER DE LENÇOL DE LEITE



Eu serei folhas!



MULHER CADELA



Eu serei latas!





MENINA DE TORTA DE MORANGO joga um balde d´água no HOMEM COM ARAMES NA BOCA. Ele corre atrás dela.





HOMEM COM ARAMES NA BOCA



Calmaria. Veio um balde d´água que sorria.

Eu tive que trocar a camisa do dia

— que ela não suportava mais tanta alegria.

Ela é! E me encharcou do excesso que vivia.





FIM


*


Felipe Moreira tem 23 anos, mora no Rio de Janeiro e é formado em Comunicação Social pela UFF. No momento, busca editora para publicação impressa. E-mail: felipegustavomoreira@yahoo.com.br.

*

*
escreva para ZUNÁI: revistazunai@hotmail.com



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[ ZUNÁI- 2003 - 2008 ]

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Capitu, Sereia dos Mares

Vi um episódio da série Capitu e gostei bastante. Nela, a luz e a música eram quase personagens da ópera-rock de Luiz Fernando Carvalho. Não estavam ali compondo o ambiente, dialogavam como o que acontecia, comentavam, citavam, etc.

Achei divina a passagem em que o narrador (Michel Melamed) recitava um trecho melancólico e a trilha citava, como música incidental, War Pigs, do Black Sabbath! Que ousadia! E a citação não poderia ser mais lírica.

Num outro momento, o diretor ganhou muitos pontos comigo ao perceber que o triângulo amoroso em Dom Casmurro é: Bentinho amava Capitu e Escobar que amava Bentinho. Ora, está mais para estrutura dos seminários do Lacan, isso aí...

Outro acerto é concentrar em Capitu: quando ela entrou dançando, o personagem do Bentinho jovem me emocionou ao dizer: de onde vinha a alegria de Capitu? De onde tanta intensidade, tanto desejo de viver? Existe uma canção linda de Luiz Tati que Ná Ozetti canta: Capitu. Ela, na música, é a sereia dos mares, é a ressaca dos mares, é o feminino com arte. Ainda estou sob o signo de Luiz Fernando Carvalho...

O Bond de Ópera: Fragmento da Postagem

Taí uma parte da postagem do Caetano: o restante está em www.caetanovilela.blogspot.com

Pois "Quantum of Solace" para mim já é um clássico de ação, guardarei na memória essa cena de "Tosca" assim como guardo as do 'shakespeariano' Francis Ford Coppola que popularizou a cavalgada das Valquírias (III ato da ópera "A Valquíria" de Wagner), em "Apocalipse Now" num coreográfico ataque de helicópteros ou do mesmo Coppola na já clássica 'homenagem' ao russo Sergei Eisenstein na cena da escadaria de Odessa em "O Poderoso Chefão 3", em que num tiroteio entre mafiosos nas escadarias de um teatro após assistirem "Cavalleria Rusticanna" de Mascagni, morre Maria a filha de Michael Corleone (onde Al Paccino reage com seu 'operístico grito mudo').
Menos 'profundo' e bem divertido é a versão pop do 'maneirista' Luc Besson para "Lucia de Lammermoor" (ópera de Donizetti) em "O Quinto Elemento" em que a cantora é uma 'coisa com tentáculos azuis' que gorgeia a ária da loucura de Lucia numa versão 'techno-dance', enquanto a pancadaria corre solta (os puristas líricos se arrepiaram quando o filme foi lançado!), no excelente "O Talentoso Ripley" o personagem Ripley, interpretado por Matt Damon, sente uma atração (sexual também) doentia pelo amigo Dickie (Jude Law) que acaba matando. Na minha interpretação esse plano ficou em sua cabeça depois de uma ida dos 'amigos' à ópera para assistir "Eugene Onegin" do russo Tchaikovsky sobre dois amigos que se amam (no sentido 'amigo' mas também homoerótico, lembrando também que o compositor era um dos mais enrustidos entre os seus pares, apaixonado pelo sobrinho compôs a ópera como uma 'saída do armário'!) e acabam duelando até que um mata o outro.

Tenho dezenas de exemplos e lembranças que posso falar depois numa mesa de bar, mas sobre o que eu estava falando mesmo? Ah, o novo filme do James Bond... hummm tem uma cena de ópera né?

Cenas de Ópera no Cinema

Há semanas estou com uma matéria sobre cenas de ópera na cabeça, a partir de uma postagem no blog do Caetano Vilela, o Viralata. Depois posto o endereço e a matéria que me chamou atenção aqui. A partir dela, consegui algumas cenas de ópera no Youtube, retiradas dos filmes citados:

Quantum of Solance: Tosca, em Bregenz, Áustria.
O Quinto Elemento (The Fifth Element): Lucia de Lamermoor (acho).
Não encontrei a cena de Talented Mr. Ripley, que adoro e em seu lugar coloquei My Funny Valentine, no filme quem canta é Chet Baker e não Matt Damon, é claro...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Capitu é Pop

Pessoal: adorei o sucesso da minissérie Capitu com Michel Melamed: Luiz Fernando Carvalho é um diretor muito interessante e que merece ser bem sucedido.

Melamed é um ator e teatrólogo que Gerald Thomas sempre apresenta como revelação da nova geração. E com razão. Gerald é profeta mais uma vez! Quem quiser saber mais sobre a adaptação deve ir ao endereço abaixo:


http://capitu.globo.com/

De agora em diante não vou postar nesse blog textos da imprensa independente. Ela algumas vezes simplesmente inverte o que se passa na mídia: Israel vira organização terrorista, Cuba não tem prisioneiros políticos, etc. Não. Minha posição é clara: Israel tem direito de existir, Cuba precisa melhorar em termos de democracia, abrindo-se a uma maior liberdade. Precisa deixar de ser ditadura do proletariado, ou de um grupo que representa o proletariado. Ou diz representá-lo.

Eu já vi Fidel falar lá no Mineirinho. E saí certo de que é uma velha esquerda oficial que deve ser combatida também. Não reconheço autoridade nenhuma nele para criticar nenhum blog.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Do Blog Vira-Lata Reloaded sobre a Pichação na Bienal

Estava esperando 'baixar a poeira' para escrever sobre o 'ataque' de um grupo de pixadores na inauguração da Bienal na semana passada, mas meu nível de irritação subiu quando soube de outro 'ataque' do mesmo grupo a uma série de graffitis espalhados pela cidade de São Paulo com o pretexto de que os grafiteiros foram 'vendidos para o sistema capitalista', ou seja: mercantilizaram a sua arte!
Gosh!!! Da Vinci, Goya, Michelangelo 'et caterva' devem estar dançando nos sarcófagos pensando que se vivo fossem teriam suas obras marcadas pelos hieroglifos da 'patrulha do pixo'.

A trégua chegou ao fim depois que um estudante (classe média e com bolsa de estudos!) de uma faculdade de arte foi expulso em junho deste ano ao apresentar como trabalho de conclusão de curso uma 'invasão bárbara' na própria faculdade, pixando e destruindo tudo o que via pela frente, já postei sobre isso aqui no "Viralata" e também sobre estes atos recentes o meu vizinho Vip Felipe já publicou o que pensa aqui.
Minha opinião não mudou em nada desde os primeiros 'ataques', e como são um bando de moleques (e algumas 'minas') mimados 'pseudo revolucionários' e ignorantes digo que o que eles fizeram não é de forma alguma ARTE!

O que vimos foi uma MANIFESTAÇÃO política, muito embora os próprios não saibam disso passando ao largo dos movimentos artísticos contemporâneos. Já aprendemos com os 'performers', que confundiam todos com a 'transitoriedade' de suas 'intervenções', que para se 'fazer' ARTE há que se ter a 'intenção de'. Não foi o caso, vimos um PROTESTO de um grupo de pixadores revoltados contra o sistema capitalista (zzzz) defendendo a 'arte bruta' nascida nos guetos e nas ruas e que hoje é comprada por playboys para decorar seus apartamentos (zzzzzzzz). Sinceramente, who cares?!

Se não fossem os 'playboys' comprando tudo o que vêem pela frente não teríamos Warhol e a Pop Art (Crítica e estética! Melhor nem falar das famílias de 'playboys' da Idade Média, os Medicis), muito menos poderíamos conhecer hoje o marginal, pixador e grafiteiro Basquiat, à quem essa molecada ignorante bem nascida deve muito e muito.
Mas é besteira falar sobre isso, eles "são burros e não sabem nada", como gritava meu xará Caetano Veloso para uma platéia que o vaiava num destes festivais nos anos 60 o xingando de "vendido para o sistema". Waalll, 40 anos depois e essa juventude não aprendeu nada!!!

Sobre o tal estudante que foi expulso da faculdade, e que iniciou esse movimento todo, escrevi em 13/06/08 "Cidadania x Arte", o post completo você lê aqui e abaixo destaco o trecho:
- "Se o objetivo era chamar a atenção do 'sistema corrompido' (ai, que preguiça!) que buscasse então formas mais civilizadas para tanto, ou melhor, trocasse de curso e fosse estudar ciências sociais, pois aposto o meu piercing como esse cara não leu o básico do básico sobre história, economia e sociologia. Sem contar que obviamente ele é um péssimo 'artista'"

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Branco Sobre Branco na Bienal

Há algum tempo, André Sant´Anna, escritor de vanguarda, me advertiu da antipatia de Afonso Romano contra as vanguardas. A crônica dele sobre o vazio da Bienal hoje me revelou algo que não ficou evidente nos telejornais: o segundo andar da Bienal era um "vazio" conceitual, um quadro branco, digamos assim. Penso que o debate deveria começar com o Branco sobre Branco do Malévitch.

A crônica de Afonso e outros artigos estão no site dele:

http://www.affonsoromano.com.br/index.php?titulo=128

A posição dele a respeito do Pedro Cardoso me dá a idéia, reforçada pela crítica a Damien Hirst, que no fundo Afonso quer limites, como agora também quer Ferreira Gullar. Mas achei o texto de Gullar sobre Guilherme Habacuc Vargas muito ligado ao influxo midiático sobre o Habacuc. Não fez jus ao artista. Gullar usou Vargas para chegar onde queria chegar; a obra foi mal analisada. Afonso me pareceu melhor crítico. Assim espero. Do que vi de Damien Hirst no site dele que postei aqui, gostei. Gostei de Habacuc também. Mas Afonso dirige esse acontecimento de agora para onde ele quer chegar, como faz com uma frase de Duchamp que usou no site aí acima, falando da baixeza da arte de nosso século. Uma boutade: ninguém mais que Duchamp para definir a arte de nosso século. André Sant´Anna me advertiu que, quando veio a exposição de Duchamp chegou aqui, Afonso atacou Duchamp na Cronópios. Para ele, a transgressão virou uma voz que o sistema fala na cabeça do esquizofrênico artista atual: transgrida! E ele, bobo, transgride.

O vazio dos curadores da Bienal é conceitual, um dar-se ao luxo na lógica cultural do capitalismo tardio. O vazio dos pichadores é o da exclusão e da falta do básico. Nessa contradição, ambos se estranharam e criaram o choque. Mas os curadores conseguiram: o andar em branco, conceitual, chocou. É difícil chocar, como diria a galinha vanguardista.

Cinema sim: narrativas e projeções

Vale a pena conferir essa mostra no Itaú Cultural em São Paulo, para quem estiver em São Paulo. O que vi no site é bem interessante:

http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2831

Peter Fischer, por exemplo, dialoga diretamente com Duchamp e o cinema.

Me fez lembrar a famosa frase: "Você já introduziu a medula da espada no aquecedor da amada?"

Novo filme do Kevin Smith

Zack and Miri Make a Porno

'Zack and Miri Make a Porno'
'Zack and Miri Make a Porno'

An MGM release (in U.S.) of a Weinstein Company presentation of a View Askew production. Produced by Scott Mosier. Executive producers, Harvey Weinstein, Bob Weinstein, Carla Gardini.
Directed, written by Kevin Smith.

Zack - Seth Rogen
Miri Linky - Elizabeth Banks
Delaney - Craig Robinson
Lester - Jason Mewes
Deacon - Jeff Anderson
Bubbles - Traci Lords
Stacey - Katie Morgan
Barry - Ricky Mabe
Bobby Long - Brandon Routh
Mr. Surya - Gerry Bednob
Brandon - Justin Long
The bluntly titled “Zack and Miri Make a Porno” is a cheerfully vulgar love story or a sweet-hearted sex farce, however you want to look at it. Very much of a piece with Kevin Smith’s previous down-and-dirty working-stiff comedies, the raucous humor here also neatly dovetails with the pants-down funny stuff recently popularized by Judd Apatow. That, and the presence of Seth Rogen doing what he does best, bodes well for this MGM/Weinstein offering, which looks to pocket some nice change in fall release and prove a very popular home-viewing title down the line.

If there were any doubt that anyone can make a movie now, “Zack and Miri” dispels it, as the lead characters do it -- and the nasty -- for the sole purpose of making money. Friends since first grade, Zack (Rogen) and Miri (Elizabeth Banks) have long lived together in a low-end Pittsburgh house but have never been an item, as that would somehow seem weird.

Smith opens the floodgates for the sex and potty humor at the outset. There’s scarcely a line of dialogue that doesn’t feature the F-word, A-word, one of the C- or P-words or some variant of them, and it isn’t long until you have to either decide that it’s all intolerably stupid or, more likely, succumb to the downright silliness of it and enjoy the overdose. It would be too much to say that what Smith has come up with here is inspired, but it is pretty funny and very energetic.

An unlikely night-before-Thanksgiving high school reunion sees Zack push for a bathroom quickie with a married former classmate, while Miri embarrasses herself by propositioning the handsomest guy in the room, Bobby Long (Brandon “Superman” Routh), before discovering he’s not only gay but also a big porn star, who’s in from L.A. with his b.f. (an amusing Justin Long).

Inadvertent celebrities when both their asses turn up on You Tube thanks to an opportunistic kid with a videophone, Zack and Miri, their rent overdue and the water and power cut off, have got to find a quick fix for their financial quandary. The title explains their solution, but the big discussion centers on whether or not they can bring themselves to do the deed on camera. Of course they can.

Still, Zack plans the scenario so Miri won’t be having sex with anyone else in the film, which initially takes shape as a sci-fi takeoff called “Star Whores” (wait, didn’t Mel Brooks long ago do “Spaceballs”?). Zack assembles a motley crew, consisting of “producer” and casting director Delaney (Craig Robinson), his longtime fellow coffee-shop workmate, who’s comically oversensitive to any perceived insult to his blackness; Lester (Jason Mewes), a young man who can be ready for action at the snap of the fingers; Bubbles (porn legend Traci Lords), who lives up to her name in more ways than one; Barry (Ricky Mabe), a pliable young fellow; Deacon (Jeff Anderson), who qualifies as d.p. by having photographed high school football, and Stacey (“Porn 101” star Katie Morgan), who will do specialty acts.

As lensing gets under way despite an initial setback, Zack can’t believe how much fun filmmaking is, and Miri tells him he actually seems ambitious for the first time in his life. When the time comes for their big scene, for which they never rehearsed at home, it goes differently than either of them would have expected, leading both to assess their relationship in a new way.

What the scene really is, however, is yet another fantasy, now explicit and familiar due to the Apatow stable’s output, of a chubby, geeky guy getting it on with a gorgeous young woman and her digging it. Naturally, chubby, geeky guys will dig the sight of it. Resolution shows there’s both a closet romantic and a good little Catholic boy still deep inside Smith somewhere.

Chemistry between Rogen and Banks is excellent; he bangs out the crude talk with well-practiced, nonchalant expertise, and she’s totally game, throwing it right back at him. Robinson’s deadpan outrage and acceptance of insanity see him neatly underplaying everyone else, and everyone else pitches in to create a nutty group portrait of try-anything common folk.

Dead-of-winter Pittsburgh locations create a sense of ever-present adversity that’s funny in itself; pacing is ultra-snappy, production values what they need to be. A post-fade-out faux promotional video is worth sticking around for.

Camera (Technicolor), Dave Klein; editor, Smith; music, James L. Venable; production designer, Robert Holtzman; art director, Elise Viola; set decorator, Diana Stoughton; costume designer, Salvador Perez; sound (Dolby Digital/DTS/SDDS), Whit Norris; sound designer, Tom Myers; re-recording mixers, Gary A. Rizzo, Myers; associate producer, Leslie Rodier; assistant director, Milos Milicevic; second unit camera, John "Buzz" Moyer;. Reviewed at Toronto Film Festival (Special Presentation), Sept. 7, 2008. MPAA Rating: R. Running time: 101 MIN.



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