Julian Beck & Judith Malina
Reproduções da reportagem publicada na revista O CRUZEIRO - junho 971
Living Theather em Minas
Texto de Fernando Brandt
Fotos de Juvenal E. Pereira
Ouro Preto assistiu, no mês passado, à exibição de um grupo teatral de vanguarda, recriado por dois americanos fundadores do Living Theather. Julian Beck e Judith Malina, após atuarem, durante vinte anos, na Europa e Estados Unidos, tentam agora mostrar aos brasileiros a razão de sua peregrinação: levar o teatro ao povo, sem formalismo, num convívio direto, aplicando o seu binômio: vida e trabalho (amor e teatro) e a fila do casal (ao lado com o pai) participa da existência comunitária, em que as perspectivas artísticas conduzem a palcos como o de Saramenha
Ele sai pelas ruas com a filha Isha e faz as compras do dia. Ela – a mesma vaidade feminina – pinta o rosto, em frente à janela. O fotógrafo começa a segui-los. É importante mostrar a todos como eles vivem. Julian Beck e Judith Malina – remanescentes do Living Theather, movimento que fundaram e que, durante vinte anos, agitou e impulsionou o teatro na Europa e os estados Unidos – estão em Ouro Preto.
Seus novos companheiros de trabalho e vida: três brasileiros, um peruano, alguns americanos, europeus, australianos. Numa casa da Rua Pandiá Calógeras, a poucos metros da Estação da Central, vivem, comunitariamente, 24 horas, dedicados ao binômio que os liga e inspira – a vida (amor) e trabalho (teatro), dualidade que acaba não existindo, segundo dizem:
“O trabalho é algo que fazemos em todas as situações, enquanto comemos, dormimos, fazemos compras, viajamos ou fazemos amor.”
Além disso, se a gente se sensibiliza com o mundo e seus problemas, o trabalho torna-se, obrigatoriamente, parte da vida e os dois se confundem.
Sobre a vida em comunidade: não entendem como um grupo possa fazer um trabalho desalienante se os seus integrantes não vivem juntos , não participam de todos os problemas juntos, se o trabalho é produto de vários impulsos individuais alienados.
CONTATO POPULAR
Buscando o contato com as pessoas simples, “pois elas entendem tudo melhor”, fugindo do teatro de palco, público e tradições burguesas, de gravata e aplausos convencionais, eles procuram a praça pública, onde está o povo, “e é com ele que queremos falar”.
Não possuem a forma de chegar, integralmente, ao coração das pessoas da rua, sem concessões, mas a procuram, a todo momento, no trabalho diário. Em Ouro Preto pretendiam fazem um espetáculo durante o Festival de Inverno, mas os organizadores não quiseram, e eles não entenderam.
O CRUZEIRO esteve com o grupo em sua primeira apresentação em Minas Gerais. Um ritual de incrível beleza, de plasticidade e libertação, com a colaboração dos meninos do grupo escolar de Saramenha. No centro do imenso salão, dividido em seis partes, o teatro começa, cifrão, casa, relógio e coração são os símbolos e vão sendo percorridos e vencidos por 80 garotos, de 12 a 14 anos, e pelos 13 integrantes do Living Theather. Representavam os sonhos sobre a mãe. O espetáculo era em sua homenagem.
Os movimentos coletivos, a criação em conjunto, tornaram-se um jogo, belo e puro de que todos queriam participar. No final, derrotada a Big Mother, o encontro do amor e o desejo de respirar (adquirir força), viver, e a vontade de voar, voar, voar, como gritavam todos, e destruir os laços, os preconceitos. Lá fora, depois de tudo, os símbolos voltaram a se materializar.
PERSPECTIVAS
Agora, caminhando pela estrada, de volta a Ouro Preto, pedem carona e conseguem. Vão conversando com a gente simples, como gente simples. Os cabelos, as roupas, a língua estranha (de alguns, pois muitos já falam o português) não assustam ninguém. Estão à vontade.
Em casa irão discutir os resultados, as condições e perspectivas do trabalho. E, de manhã, estarão novamente circulando pelas ruas da cidade, mas não por muito tempo, pois suas horas se dividem entre o lar e um quarto no fundo do restaurante Calabouço, onde também trabalham. Como não poderão se apresentar no Festival de Inverno, fica-se esperando notícias de suas atividades futuras, olhando para eles, torcendo por eles...
Living Theather em Minas
Texto de Fernando Brandt
Fotos de Juvenal E. Pereira
Ouro Preto assistiu, no mês passado, à exibição de um grupo teatral de vanguarda, recriado por dois americanos fundadores do Living Theather. Julian Beck e Judith Malina, após atuarem, durante vinte anos, na Europa e Estados Unidos, tentam agora mostrar aos brasileiros a razão de sua peregrinação: levar o teatro ao povo, sem formalismo, num convívio direto, aplicando o seu binômio: vida e trabalho (amor e teatro) e a fila do casal (ao lado com o pai) participa da existência comunitária, em que as perspectivas artísticas conduzem a palcos como o de Saramenha
Ele sai pelas ruas com a filha Isha e faz as compras do dia. Ela – a mesma vaidade feminina – pinta o rosto, em frente à janela. O fotógrafo começa a segui-los. É importante mostrar a todos como eles vivem. Julian Beck e Judith Malina – remanescentes do Living Theather, movimento que fundaram e que, durante vinte anos, agitou e impulsionou o teatro na Europa e os estados Unidos – estão em Ouro Preto.
Seus novos companheiros de trabalho e vida: três brasileiros, um peruano, alguns americanos, europeus, australianos. Numa casa da Rua Pandiá Calógeras, a poucos metros da Estação da Central, vivem, comunitariamente, 24 horas, dedicados ao binômio que os liga e inspira – a vida (amor) e trabalho (teatro), dualidade que acaba não existindo, segundo dizem:
“O trabalho é algo que fazemos em todas as situações, enquanto comemos, dormimos, fazemos compras, viajamos ou fazemos amor.”
Além disso, se a gente se sensibiliza com o mundo e seus problemas, o trabalho torna-se, obrigatoriamente, parte da vida e os dois se confundem.
Sobre a vida em comunidade: não entendem como um grupo possa fazer um trabalho desalienante se os seus integrantes não vivem juntos , não participam de todos os problemas juntos, se o trabalho é produto de vários impulsos individuais alienados.
CONTATO POPULAR
Buscando o contato com as pessoas simples, “pois elas entendem tudo melhor”, fugindo do teatro de palco, público e tradições burguesas, de gravata e aplausos convencionais, eles procuram a praça pública, onde está o povo, “e é com ele que queremos falar”.
Não possuem a forma de chegar, integralmente, ao coração das pessoas da rua, sem concessões, mas a procuram, a todo momento, no trabalho diário. Em Ouro Preto pretendiam fazem um espetáculo durante o Festival de Inverno, mas os organizadores não quiseram, e eles não entenderam.
O CRUZEIRO esteve com o grupo em sua primeira apresentação em Minas Gerais. Um ritual de incrível beleza, de plasticidade e libertação, com a colaboração dos meninos do grupo escolar de Saramenha. No centro do imenso salão, dividido em seis partes, o teatro começa, cifrão, casa, relógio e coração são os símbolos e vão sendo percorridos e vencidos por 80 garotos, de 12 a 14 anos, e pelos 13 integrantes do Living Theather. Representavam os sonhos sobre a mãe. O espetáculo era em sua homenagem.
Os movimentos coletivos, a criação em conjunto, tornaram-se um jogo, belo e puro de que todos queriam participar. No final, derrotada a Big Mother, o encontro do amor e o desejo de respirar (adquirir força), viver, e a vontade de voar, voar, voar, como gritavam todos, e destruir os laços, os preconceitos. Lá fora, depois de tudo, os símbolos voltaram a se materializar.
PERSPECTIVAS
Agora, caminhando pela estrada, de volta a Ouro Preto, pedem carona e conseguem. Vão conversando com a gente simples, como gente simples. Os cabelos, as roupas, a língua estranha (de alguns, pois muitos já falam o português) não assustam ninguém. Estão à vontade.
Em casa irão discutir os resultados, as condições e perspectivas do trabalho. E, de manhã, estarão novamente circulando pelas ruas da cidade, mas não por muito tempo, pois suas horas se dividem entre o lar e um quarto no fundo do restaurante Calabouço, onde também trabalham. Como não poderão se apresentar no Festival de Inverno, fica-se esperando notícias de suas atividades futuras, olhando para eles, torcendo por eles...
Um comentário:
Tenho o livro "O Diario de Judith Malina", enviado por ela mesma para minha esposa, que na época da prisão dos integrantes do grupo, ela deixou sua filha de mais ou menos 7 anos na casa do meu sogro em companhia da filha que na época tinha 9 anos.
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