Laerte Braga
Lula perdeu a noção mínima da realidade. Aposta em qualquer coisa que seja imaginar que o leme do barco está em suas mãos. Há dias declarou que o País estava blindado contra a crise e não havia motivos para preocupação com o crédito. Hoje recomenda que se gaste apenas o que o salário permite. De uma ponta a outra em menos de uma semana.
Há um detalhe fundamental nessa conversa fiada de um presidente desgovernado. Quando afirma que se deve gastar apenas o que o salário permite está se referindo ao trabalhador, ao assalariado, ou seja, àquele que vai pagar a conta das especulações com dólar, por exemplo, do grupo Votorantim do “paladino do progresso” Ermírio de Moraes. Dois bilhões e duzentos milhões de perdas admitidas publicamente pelo grupo.
Ou a grana que a ARACRUZ buscou junto a agências brasileiras e no exterior para depredar, assassinar, roubar e “implantar progresso”, transformando o estado do Espírito Santo em refém da maior quadrilha do País. Parte da turma FIESP/DASLU. Entrou no item “observação negativa” segundo o Fitch Rating, um desses negócios que adoradores de bezerro de ouro adoram para explicar a cretinice do capitalismo.
Quem tiver curiosidade e for ouvir as declarações de d. Miriam Leitão nas rádios e tevês onde comenta economia, ou nos artigos que escreve vai ficar espantado. A vetusta senhora em questão defende hoje com a mesma veemência bem remunerada de sempre o que criticava antes.
Os patrões estão correndo risco, logo o pró-labore corre perigo.
Uma das conseqüências da crise é que nos vários tentáculos de polvo gigante o capitalismo vai emergir de tal forma concentrado em tão poucos que não vai ter corda para os enforcados. Vai ser de inanição mesmo. Modesty Blaise pedia champanhe no meio do deserto com charme e lindas pernas a mostra.
Ninguém quis comprar as carteiras de longo prazo dos bancos pequenos, que tubarão grande não é bobo. Aí o governo vai meter a mão no rico dinheirinho do contribuinte, no desgoverno deslumbrado de Lula que ora manda gastar, ora manda segurar, para amortizar o prejuízo de pobres coitados banqueiros, à míngua de champanhe.
Putz! Se ainda fosse Mônica Vitti. Mas pagar conta de Ermírio de Moraes?
Você pode assentar-se à frente do seu algoz e imaginar que o mundo é assim, que a realidade é essa. Não é não. Risos e soberba são mera hipocrisia diante de pastas pornográficas. Bolsas imensas e bem cuidadas ou blusas de cores variadas, rosa, preta, não significam vacina contra medo disfarçado em brincadeira de mundo real.
Os olhares que as pastas despejam são chispas de vulgaridade foto montada. Não sei como se consegue engolir a comida, dá ânsia de vômito.
As pastas despejam sobre as bolsas e blusas sorridentes o olhar do porco lambendo a pérola.
Há quem deixe e há quem faça.
O dinheiro da ARACRUZ é do BNDES. O dinheiro do BNDES vem de um negócio chamado FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).
Quem aos porcos se mistura...
Os prejuízos debitados na conta do trabalhador, do assalariado chegam a algo em torno de 40 bilhões de reais, isso neste primeiro momento. São maiores se atentarmos para o fato que permeiam as couraças iludidas dos que deixam e sorriem.
O futuro é a solidão da pérola despejada num canto onde as pastas costumam guardas as bolsas e blusas usadas e imprestáveis.
Neste momento o capitalismo lança como que olhares licenciosos por sobre a brincadeira de bolsa sobe, bolsa cai. Blusas desfiam. Interiores, como diz Woody Allen são corroídos. Pendura na cadeira.
O negócio é tão complicado que até a forma do planeta, redondo, soa como desastre. O Oriente dorme insone da desesperada tentativa de sair do pânico, ou esquecer o pânico enquanto o Ocidente acorda estremunhado pelo pânico que dormita no Oriente.
E aí vai.
E você pensa que está livre e que as coisas acontecem. É mero/a peão nessa engrenagem, não importa o tamanho. Pode ser de um hotel transformado em faustosa sede superfaturada. Pode ser de uma bola de sinuca pronta a ser encaçapada.
Em todo caso tem sexta, sábado e domingo para recuperar as energias e rir o riso falso do mundo real.
Sacuda três vezes antes de pendurar.
No meio da embrulhada toda Marcos Valério está na cadeia e pelo visto até a cerveja entra na dança.
Só Lula e um monte de gente não entende desse negócio de bolsas, pastas e blusas.
Aceite o chicote, mesmo que disfarçado de tudo acontece.
E não se esqueça do Faustão e do Fantástico.
Sorria e dê bom dia.
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