Laerte Braga
Há cerca de sessenta anos atrás, no desespero da eficiência rápida, imediata, os principais institutos de pesquisa dos Estados Unidos saíram em busca de uma cidade síntese da opinião dos norte-americanos. Valeu inclusive um filme protagonizado pelo ator James Stewart.
A preocupação se devia a uma soma de fatores. O primeiro deles a possibilidade de numa só pesquisa, num só universo, determinar a opinião média do cidadão do país sobre um determinado produto, medir suas ansiedades e desejos em relação ao consumo e por último evitar erros que por pouco não liquidam a credibilidade de um dos mais respeitados jornais dos EUA, o THE NEW YORK TIMES, que anunciou a vitória de Delaway sobre Harry Truman, nas eleições presidenciais de 1948 em manchete de primeira página e Truman ganhou.
E lógico, o principal deles, reduzir os custos de uma pesquisa de âmbito nacional, ou estadual, realizando-a num só município, o tal município síntese.
No Brasil, Sílvio Santos denunciou a “ditadura do IBOPE” sobre os números da audiência de emissoras de televisão no País e mostrou o modus faciendi do instituto para determinar quem lidera o que, horário, programa, o que seja.
O IBOPE, até hoje, tem na grande São Paulo (capital e entorno) pouco mais de 600 domicílios contratados e pagos onde instala um aparelho que registra, instantaneamente, o canal de tevê sintonizado. Ao final de cada dia faz um relatório mostrando nos índices de audiência. Se tomarmos por base que cada domicílio tem em média quatro pessoas, temos 2400 pessoas determinando quem é líder de audiência na tevê brasileira. Por horário, por programa, por dia, na média de cada mês.
O trabalho do IBOPE é feito para a REDE GLOBO.
Em 1998, no segundo turno das eleições para o governo de Brasília, o diretor presidente do IBOPE, Augusto Montenegro, declarou a jornalistas que se Cristóvam Buarque de Holanda, governador e que disputava a reeleição, não fosse o vencedor, rasgaria seu diploma e fecharia o instituto. Cristóvam perdeu e Montenegro nem rasgou o diploma e nem fechou o instituto.
Pesquisas eleitorais deixaram de ser um instrumento para se medir intenção de votos num determinado momento nos períodos pré-eleitorais e passaram a ser parte de campanhas políticas no processo de indução e consolidação de intenções de voto. Cria-se a sensação que determinado candidato é o mais forte, tem um número maior de intenção de votos e isso, muitas vezes, na maioria das vezes aliás, funciona. O passo seguinte é consolidar esse voto criado nesse processo de indução, ou vir em socorro do candidato quando alguma coisa começa a dar errado.
O candidato/produto, desenhado, moldado e fabricado como resultado da soma de interesses de projeto pessoal (candidato), o que se presta ser transformado nisso, produto e interesses de grupos dominantes num determinado úniverso (município, estado ou país), ou ainda, no entrelaçamento, no caso do candidato/produto, de interesses vários convergindo para um determinado ponto ou grupo..
Institutos/empresas, lato senso, trabalham para quem paga. No caso específico o IBOPE funciona como rolo compressor tanto no campo de pesquisas de mercado, como no que gostam de chamar de segmento eleições.
O IBOPE é contratado da REDE GLOBO e do governo federal. Cumpre à risca o que os patrões determinam. Executa seu papel com fidelidade absoluta a quem paga.
Nas últimas semanas o País assistiu ao show explícito da cumplicidade entre os poderes públicos (Executivo, Legislativo e Judiciário), em defesa de Daniel Dantas, uma síntese dos interesses das elites que compraram o País no governo de FHV (Fernando Henrique Vende) e mantêm o controle no governo de Lula no que Ivan Pinheiro com propriedade absoluta chama de “capitalismo brasileiro”.
Se em anos atrás, 2006 por exemplo, a GLOBO não noticiou o acidente com o avião da GOL para não atrapalhar o apoio a Alckmin e a necessidade de montar um dossiê para forçar o segundo turno nas eleições presidenciais (O IBOPE havia sinalizado que Lula seria reeleito no primeiro turno), Daniel Dantas conseguiu o prodígio de unir todos os supostamente diferentes no campo político partidário e um grande acordo para manter intocado o principal acionista do estado brasileiro, ou face visível dos verdadeiros donos (latifúndio, empresas e bancos).
Isso explica extraordinária ascensão dos números favoráveis ao presidente Lula nas duas últimas semanas. GLOBO e, pasmem-se, VEJA chegaram a grande acordo com o governo federal, leia-se Lula, para viabilizar a candidatura da ministra Dilma Roussef em 2010.
Daniel Dantas é parceiro de um dos filhos do presidente (envolveu é lógico, mas envolveu, comprou, fez e faz negócios), tem empregados em funções ministeriais, no exercício de mandatos de deputado, senador, alguns governadores como Aécio e Serra, é um grande anunciante e tem negócios diretamente ligados à GLOBO, controla como ele próprio disse o poder judiciário (inclusive o presidente do stf gilmar mendes). Enfim, é uma espécie de rei num trono acima do Estado brasileiro e seus poderes ditos institucionais (de fato são, instituíram e mantêm faz séculos o domínio das elites).
Tem o poder de mexer as cordinhas.
Vai daí que o IBOPE é parte disso e parte importante no processo eleitoral (no Brasil temos eleições de dois em dois anos). Cumpre o papel de vender o que o eleitor deve pensar e o voto que o eleitor deve dar em função desses interesses. O candidato, como disse, é produto.
Na cidade mineira de Juiz de Fora, varrida por um tsunâmi que ocupou o noticiário do País, o governo do ex-prefeito Alberto Bejani, corrupto de quatro costados, o IBOPE vende o peixe da candidata Margarida Salomão, do PM (Partido da Margarida), agregada ao PT, uma versão PhD de Bejani, capaz de recitar versos de Shakespeare de cor.
Os marqueteiros da cidade síntese, claro já têm uma, caso dos domicílios na grande São Paulo para medir índices de audiência de televisão, fabricaram um clone da ministra Dilma (Margarida Salomão), venderam a imagem em programas eleitorais sem a menor consistência, só o palavrório vazio da imagem show, espetáculo e montaram o circo para a candidata. Agora o IBOPE “consolida” a liderança nas intenções de voto e joga em condições de igualdade, para que se estraçalhem os dois candidatos que disputam a segunda vaga para o segundo turno.
Aí a soma dos números dá noventa e nove, mesmo que pela lógica, pelo elementar tenha que ser cem. Isso antes de ser o que vem depois da vírgula como dizem e é desprezado, é o esquema para justificar eventuais desarranjos na orquestra, tipo margem de erro, tudo armadinho, certinho, o que não significa que a candidata não esteja à frente nas intenções de voto. Montou-se um boneco de vento e o boneco inflou, no caso Margarida. Mas é só um pesadelo para a cidade se aterrissar na sede da Prefeitura e na cadeira de prefeito.
Um dos candidatos a prefeito, empresário e com ligações com a GLOBO, aproveitou o ensejo e supostamente fez propaganda para si, mesmo sabendo-se fora da disputa. Omar Peres. Criou “Omar/garida no segundo turno”. Não é nada disso. É acordo para vender a mercadoria Margarida.
Ao consumidor eleitor.
Em Gloucester, na Grã Bretanha, um instituto de pesquisa quis medir a possível aceitação de um produto apontado como exótico e criou como parte do processo, da campanha, a moda de calças compridas com uma perna só, a outra exposta. Vendeu como água, como se diz. O público consumidor/eleitor bombardeado pelas “informações/desinformações” do mundo do instantâneo, mas que se dissolve ao bater, estava no ponto de comprar o que queriam vender e imaginar que ele público/eleitor decidia alguma coisa.
É o caso de eleições no Brasil. Estão lançando a moda de calças compridas com uma perna só. No caso que citei, Margarida Salomão, candidata do PM (Partido da Margarida), ela aluga uma das mais fortes marcas dos tempos atuais no Brasil. A marca PT, mesmo porque, em outros tempos, já alugou outras. Mas pode ser o contrário, Kassab em São Paulo, o que melhor convém a parte dos sócios do Brasil. São os muitos universos, aparentemente diferentes.
E a marca é tão boa e está tão escorada que como lembrou o jornalista Celso Lungaretti, em 5 563 municípios brasileiros, a marca PT está coligada com o PSDB em 1 095, o que vale dizer, 19,7% e ao DEM em 957 cidades, ou seja, 17,2%, ou ainda em 20,3% ao PPS de Roberto Freire, que considera Lula um presidente corrupto e ocupa, ele Roberto Freire, com sua honestidade de fachada, um cargo numa estatal do governo de São Paulo. Mais. como assinala Lungaretti, em 3 181 municípios brasileiros, a marca PT fez alianças com 57,2% dos partidos de oposição ao governo federal, os principais e seus satélites.
E também como define o próprio Celso Lungaretti são “partidos gelatinosos”.
Não têm nada a ver com democracia, com luta popular. São “farinha do mesmo saco” num mundo que começou a despencar em Wall Street, se espalha por todo o entorno, todo o resto e vai deixar uma baita conta para o eleitor/consumidor.
Margaridas são muitas. Márcio Lacerda, Kassab, Eduardo Paes, Crivella, cada qual busca um lugar no palco ou no centro de decisões, menor ou maior, mas um lugar onde possam jogar o jogo do poder em favor de si próprios e dos interesses que representam e aos quais se submetem.
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