2º turno em BH.
Em entrevista concedida na 2ª feira, Márcio Lacerda diz que "Leonardo Quintão confundiu e enganou o eleitorado".
A conclusão óbvia que nos vem logo à mente seria: “se algum dos dois está enganando alguém, como saber se não é o Márcio Lacerda quem está mentindo?”
Mas, tentando entender o que diz esse homem, vamos fingir que acreditamos no que ele diz. Nesse caso, será que Márcio prepotentemente está chamando o eleitorado de incompetente, pois pensa que o eleitor é burro? Porque só ele é quem enxerga a mentira que centenas de milhares não enxergaram?
500 mil pessoas escolheram conscientemente o seu adversário, sem nenhuma forma de pressão, e agora ele inventa a desculpa de que os eleitores foram enganados?
Aliás, podíamos até mesmo falar em pressão, dada a diferença absurda de tempo na TV a favor de Lacerda.
Em que então gastou ele tanto tempo a mais que tinha de propaganda? Se podia perfeitamente se defender das acusações, porque não o fez? Será que ele não respeita então o resultado do voto popular?
Aprofundemos-nos brevemente nesse tema.. Se os eleitores foram realmente enganados pelo Leonardo Quintão como diz Lacerda, onde estão as provas disso? Márcio Lacerda acusa agora o adversário de mentir, quando teve todo o tempo pra se defender das acusações, mas não tem provas do que diz.
Provas...
No que diz respeito às acusações CONTRA LACERDA, aí a história é bem outra...
No primeiro turno, vieram à tona as PROVAS do envolvimento de Márcio Lacerda com escândalos do passado, entre eles o do Mensalão.
Desesperado, chegou inclusive a ofender a candidata Jô Morais quando num debate na TV esta o perguntou sobre as dívidas e as multas de centenas de milhares de reais de sua empresa com a Prefeitura de Belo Horizonte, que se encontram ainda pendentes.
E não teve como negar as mais de 1.500 ações trabalhistas que terminaram com o pagamento de várias dezenas de milhares de reais por parte de Lacerda aos seus ex-funcionários. Pra terminar, a poucos dias antes da eleição, uma ação contra o abuso de
poder político foi finalmente aceita contra o laranja e seus patrocinadores, Aécio e Pimentel. (veja a ação do MP contra Lacerda na íntegra em http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=15930 )
E calou. Depois disso não respondeu a mais nenhuma das acusações que lhe foram imputadas.
E agora...
Subitamente no 2º turno, Lacerda vem com o discurso ensaiado de que agora “faz questão de Responder a Todas as Acusações”...
Ele afirma que houve “erro estratégico” em sua campanha eleitoral. Que ele devia ter respondido às acusações falsas.
Nada disso! O fato é que ele não tem como se defender das acusações porque elas são VERDADEIRAS, e por isso se calou.
Ele foi magistralmente estratégico ao silenciar no 1º turno a respeito dessas acusações, porque seu grande erro é indefensável: o de ter se envolvido em corrupção ativa, participando do esquema do Mensalão, como comprova o processo da CPI dos Correios (http://www.cpmidoscorreios.org.br/relatorios/relatorio_parcial_movfin.htm).
Sejam as acusações dos adversários importantes ou não para julgar sua possível capacidade para atuar como Prefeito, e sua honestidade, como alegam seus novos amigos (para mim está claro que essas acusações são mais do que importantes para julgá-lo), todas as acusações lançadas são CRISTALINAMENTE VERDADEIRAS.
A começar por seu envolvimento no Mensalão, comprovado e confessado por ele em 2005, se deu quando recebeu quase 500 mil reais de Marcos Valério no ano de 2002. Na época da CPI dos Correios, depois de um murmurinho de que o dinheiro era pra pagar gastos da campanha de Ciro Gomes à Presidência, acabou confessando na CPI que este dinheiro ele usou pra saldar dívidas da campanha a Presidente de Lula em 2002. Mas o fato é que ele nunca participou da campanha de Lula.
No dia 02 de agosto do ano de 2005, quando seu nome veio à tona e ele foi convocado a depor na CPI dos Correios, Lacerda foi exonerado do cargo de secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, o que lhe rendeu citações em matérias na VEJA (http://veja.abril.com.br/100805/p_056.html)
(http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/corrupcao_cronologia/index_cronologia.html#020805 – dia 02 de agosto 2005: Secretário de Ciro cai)
e uma matéria na Folha de São Paulo, em 03/08/2005, que anexo a este texto.
Uma íntegra do Relatório da CPI do Senado pode ser obtida em:
http://www.cpmidoscorreios.org.br/relatorios/relatorio_parcial_movfin.htm .
Neste relatório pode-se ver o recebimento de uma transação de R$300.000,00 por Márcio Lacerda, sendo que outro depósito de 157 mil foi identificado com algumas semanas de diferença, o que consta da matéria de veja. O que ele realmente fez com o dinheiro?
Perguntamos também:
E agora, o que vai dizer Lacerda a esse respeito no 2º turno? Pergunta de difícil resposta.
Entre apreensivos e altamente decepcionados (um amigo meu, de longa data, assessor do Vírgilio Guimarães, não conseguia esconder a depressão enorme no domingo à noite, depois de apurados os resultados. Disse que o clima no núcleo estratégico da campanha era “de enterro”), agora afirmam que partem para uma “contra-ofensiva” do que não foi e nem devia ter sido. Após a investida de milhões de reais e toda a força que a comunicação de massas pôde permitir aos 02 Governos (municipal e estadual) atuando juntos, o que, isso sim, foi um (pegando um termo do futebol) comportamento altamente ofensivo, eles agora agem no desespero, pois a estratégia principal (que era: vencer no primeiro turno, com uma campanha milionária e de surpresa) deu com os burros n’água.
Esqueceram de perguntar antes pro eleitorado o que ele pensaria respeito de votar em um “poste” só porque aparece do lado do Governador e do Prefeito na foto do santinho.
E esqueceram que a história só se repete enquanto farsa, pois tentam emplacar aqui um sistema político que é um arremedo da República Velha:
Uma junta - o governador, o prefeito de BH e alguns escolhidos - se reúne e quer escolher as pessoas que vão ser eleitas... Tal como o PRM fazia no início do século passado.
Será que Pimentel e Aécio tem a pretensão de saber o que é melhor para o eleitorado mais do que o próprio eleitor?
O que derrubou a campanha de Márcio Lacerda, foi a falta de transparência dessa parceria que não foi solicitada pelo povo.
A era dos candidatos biônicos já acabou.
Queremos nós mesmos escolher os nossos candidatos.
Não vamos ser instrumentalizados para seus interesses particulares de chegar ao poder.
Não somos "Massa de manobra".
A esse respeito, um fato chamou minha atenção: a percepção que o eleitorado Belo Horizontino tem das diferenças entre os dois candidatos.
Pelo que tenho ouvido, acho difícil que quem não votou em Lacerda no primeiro turno venha a fazê-lo no 2º.. A sua rejeição cresce a passos largos, enquanto o Leonardo Quintão praticamente não tem rejeição, e o único ponto de crítica contra este, para alguns, seria o apoio do Ministro Hélio Costa. Pergunto aos navegantes: quem já disputou uma eleição e iria simplesmente dizer não a um apoio tão importante como o de um Ministro? Outra Pergunta: que provas de corrupção passiva ou ativa pairam contra o Ministro Hélio Costa? Zero. Nesse aspecto, quanto ao outro candidato... já não é preciso dizer mais nada.
E por fim lembro a todos que, diferente de Lacerda, Leonardo Quintão não foi “criado” pelo ministro. Ao contrário, é uma jovem liderança, deputado, e só depois do início da campanha é que veio a ser apoiado por Hélio Costa e outros políticos.
Uma outra diferença clara: Enquanto a campanha “Oficial” foi uma verdadeira Ópera Marketeira, trazendo um épico pessoal de um homem que não existe: o “bondoso” Lacerda, o puro, inocente, virgem Lacerda... o jovem e ousado Quintão optou por um tom com menos “gosto de McDonald”, menos plástico, menos maquiagem, menos artificial, o que aliado à forma como a sua candidatura nasceu dentro do seu partido (de forma natural, pois é uma liderança real em seu partido, deputado há 2 mandatos - enquanto que o Lacerda nem é natural e nem tem partido: filiou-se no PSB em 5 de outubro do ano passado a mando do Governador) deu muito mais TRANSPARÊNCIA às suas intenções e à sua imagem como pleiteante ao cargo de prefeito de nossa cidade.
E se parece deplorável a construção dessa candidatura de Lacerda – criada bionicamente pelo Governador e pelo Prefeito, deixo claro que não coaduno com críticas de caráter pessoal.
Em tal aspecto, quero evitar aqui compartilhar com a crítica que se tornou natural à pessoa do Governador quanto às acusações de passar todos os finais de semana em Angra dos Reis e outras coisas desse tipo (na juventude diziam que ele era gay, hoje afirmam que é viciado em cocaína, etc, todas essas, acusações que não tenho como provar), afinal de contas, mesmo sendo impossível separar por completo a pessoa do Sr. Aécio Neves da pessoa do Governador de Estado, na verdade não me incomodaria em absoluto que ele ficasse 6 dias por semana no Rio mas que conduzisse politicamente um Governo Democrático e Transparente.
Suas preferências sexuais ou vícios pra mim não têm qualquer relevância.
Mas o fato é que, ficando semanalmente 1 ou 2, ou 3, ou até 4 dias de folga e em outro estado, ele teve a prepotência de achar que iria “eleger um Poste no primeiro turno”.
Esqueceu que pra isso “tem que trabalhar, mostrar seus feitos e pedir votos”, como ensina o legado de seu falecido avô.
Não fazê-lo, e esperar que Deus lhe concedesse essa vitória assim tão fácil, além de mostrar prepotência, e arrogância, também mostra uma avaliação superestimada de sua influência na mente do eleitor de Belo Horizonte, cidade em que perdeu feio pra prefeito em 1992.
Ele subestimou a inteligência do povo de Belo Horizonte. Avaliou por baixo e errou por cima.
Aliás, uma análise ligeira e superficial dos resultados desses pleitos últimos pelo Estado afora, demonstra que houve um erro generalizado em termos de capacidade de avaliação por parte do núcleo estratégico do Governador (e queremos aqui nesse caso específico do interior do estado livrar a cara do núcleo Paulo Moura/MiguelCorrêa/Aloísio Marques/Roberto Carvalho/Pulica/Virgílio Guimarães/Fernando Pimentel, posto que um núcleo “de BH”) pois o governador foi derrotado em quase todos os municípios importantes (contagem, uberlândia, juiz de fora, betim, valadares, ipatinga, uberaba, montes claros, paracatu, teófilo otoni, varginha, ubá, bom despacho, formiga, etc.). Ao contrário do que o jornal Estado de Minas tem divulgado, não foi só em Belo Horizonte que a suposta “navegação em mar aberto” do Governador foi posta em cheque. Os sintomas são bem mais graves. O PSDB de Aécio encolheu de 170 para 159 prefeituras em Minas
Aliás, me pergunto que tipo de pensamento deve ter tomado conta do Governador ao tomar uma atitude tão temerária essa, a de escolher, ENTRE TANTOS DESCONHECIDOS, justamente um com passado tão comprovadamente manchado e tão difícil de se defender..., algo que tenho certeza que o avô dele, nosso Presidente Tancredo Neves jamais teria feito, tão astuto e inteligente como era, mestre da antiga arte política, numa época em que não havia televisão pra criar imagens fantasiosas e falsas impressões sobre os candidatos na mente do eleitor.
Concluo dizendo que o momento é MUITO especial.
É hora de todos nós, cada um à sua maneira, dizermos um sonoro NÃO a essa farsa em Belo Horizonte.
Pela sensibilidade pessoal, pelo merecimento político, e pela situação, vamos fazer valer a nossa vontade e manter a ascensão do candidato ousado, e contribuir decididamente pra manter a tendência de queda do candidato do esquema, da máfia, das soluções prontas que vem de cima.
Meus parabéns ao eleitor Belo Horizontino, que deu um show de maturidade neste primeiro turno.
Agora é não nos deixar confundir com o Marketing vazio feito em cima de supostas qualidades pessoais de Lacerda, que o Relatório da CPI dos Correios prova que não existem, e fazer uma opção racional e inteligente em cima das duas alternativas colocadas.
Vamos fazer valer a vitória da inteligência popular contra a arrogância tecnocrata que julgou ser possível eleger um desconhecido e de passado obscuro através de simples propaganda na televisão, e eleger para a Prefeitura de Belo Horizonte a pessoa certa: pela experiência em cargos públicos (que o outro não tem), pela liderança real dentro de seu partido (que o outro não tem) e pela integridade pessoal (que o outro não tem).
Votei em Jô Morais no 1º Turno. Leonardo Quintão, esse é o meu voto consciente.
Peço humildemente a quem for votar e ainda tenha alguma dúvida, que reflita honestamente nessas minhas simples palavras.
Assino: ILLYUSHIN ZAAK SARAIVA, 33, filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 1995, ex-membro do Diretório Municipal do Partido (1997-1999), ex-Secretário Estadual de Juventude do Partido (1998-2000), diretor do Diretório Acadêmico do ICEx-UFMG por dois mandatos(1994-1996), diretor do Diretório Acadêmico da Escola de Engenharia-UFMG por dois mandatos(1996-1998), Diretor do DCE-UFMG(1995-1996), vice-presidente da União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais(1999-2001, vice-presidente Conselho Estadual da Juventude de Minas Gerais (1999-2001).
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