sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Interlúdios

Que coisa mais triste. O cara estava morrendo mesmo. Ele nos avisou. E o James ainda tentou: você está é nascendo como grande poeta...Eu levei na brincadeira, disse que ele estava morre-EMO...


Domingo, 26 de Julho de 2009
INTERLÚDIOS
Não me dexem morrer, amigos, assim, tão solo
mas, por favor, deixem-me partir... Deixem
(não me venham com suas teorias)
porque sou também um vaso, uma árvore
e todas essas coisas têm sua estação
e seu tempo no espaço,
todas essas coisas passam
e meu tempo já passou da hora - há tanto tempo
flores já não circundam mais meus braços
musgos
se desejam mesmo me fazer um bem,
deem-me 7 golpes com um machado novo aqui
onde meu coração pulsa
Cortem o mal pela raiz
E se quiserem alguma cerimônia,
façam uma grande fogueira com meus restos
e lancem minhas cinzas ao mar.
Postado por Henrique Hemidio às 20:27 0 comentários
Sábado, 25 de Julho de 2009
INTERLÚDIOS
Nesse momento minha vida começa a terminar
como se ébrio de um veneno
meus órgãos se contraissem
e minha boca espumasse estes branquíssimos versos
Forças? Consumindo-se
Olhos crepitam e pululam,
não os vejo no abismo da lividez em que
minha outra face no espelho encara

Ai, se eu soubesse que o amor contido nesse frasco
fosse tão amargo
teria tomado tudo de um trago
e não estaria agora agonizando tanto... tanto.
Postado por Henrique Hemidio às 23:17 3 comentários
INTERLÚDIO
Celebro o grande poeta que fui, sou
e jamais serei enquanto ser
pois um poeta não deve existir de fato
como uma conjunção de ossos
senão na fantasia dos tempos
O poeta deve ser um mito
entre-linhas
Celebro, é com grande tristeza e enfado
o poeta que habitou meu corpo
como um corpo - estranho
o poeta que amou intransigível e desesperadamente
o farfalhar dos galhos no inverno
e o tresloucado murmúrio das orlas
e que por isso sucumbiu
no vazio
como as cinzas de um despedaçado tronco
Porque tudo é matéria e toda matéria sucumbe algum dia
até mesmo os espíritos mais sublimes.
Postado por Henrique Hemidio às 14:11 4 comentários
Quinta-feira, 23 de Julho de 2009

2 comentários:

Anitha disse...

Quando li o comentário no blog do Henrique tbm fiquei chocada, claro! Depois pensei que podia ser, sei la, um jeito de sair de cena, um jeito bem romantico por sinal.
Mas quando penso que pode ser verdade me sinto culpada por saber e não levar a sério, por não ter feito nada.
Só espero que ele esteja bem aonde quer que esteja.
Se você tiver noticias, por favor, me avise. Obrigada.
Um abraço.

Fernando Al-Bukowski disse...

Lúcio,
lamento informar que a história é mesmo verdadeira, ele está morto e enterrado.
o Henrique era meu companheiro de birita e de algumas viagens pelo país. fui o primeiro a conhecer muitos de seus poemas, quando ele mesmo os lia nos bares que frequentávamos. além disso não foram poucas as noites que viramos de cara cheia discutindo os problemas do mundo e da vida, literatura, música, arte em geral...
mas agora isto é passado, a poesia dele permanecerá e não há muito mais que eu possa dizer sobre isso, posto que nem na época eu quis comentar e, como deve ter percebido, sequer citei este fato em meus blogs - não é uma questão de falta de consideração, ainda mais de mim que não via como apenas um artista e sim como um amigo; apenas acho que a vida é assim, não posso ficar lamentando para sempre, meu trabalho não é este.
por enquanto, posso lhe dizer que em breve surgirá um e-book reunindo seus melhores poemas, os quais estou ajudando a selecionar - é o melhor que posso fazer.
infelizmente, neste país, as pessoas ganham mais reconhecimento quando mortas que quando vivas, isso nós devemos lamentar.

abraço,
F.A.