Bernardo,
Cartas da Imprecisão e do Delírio
Eu acordei
naquela manhã de sonhos intranqüilos, liguei o computador e escrevi uma carta,
por e-mail, esculhambando o Bernardo,
escritor amigo meu:
Olá, seu escrevinhador infame que escreve
com tintas um painel de sangue e merda. Fico muito feliz em saber que você é o
sádico e eu o masoquista. Queria parodiar seus livros, fazer comédia na Globo
com eles, zorra total. Você é um resenhista de merda, um escrevinhador
reacionário, não é um escritor talentoso como eu. Morra de inveja! Queria pisar
em você pior do que o Mainardi pisa no Brasil, queria te esmagar como uma
barata. Você fica com essa bichice mal resolvida de cantarolar que de cada
pensador eu herdarei só o cinismo... Ah, vá caçar quem te jante! Não concordo
com seus gatafunhos! Não me ridicularize pelo fato de eu morar no interior, daí
eu não te ridicularizo por morar na Bahia e não ser zen, não ter nascido e sim
estreado, dentre outras cositas más. Não me mande mais suas cocadas, digo, seus
rabiscos mal escritos.
Atenciosamente,
Raimundo Periquito
Depois dessa
purgação, senti-me melhor, fiz café, abri outro e-mail, fui trabalhar, etc. Quando retornei à noite, criei coragem
para ouvir a resposta de Bernardo. Li o e-mail
que veio em resposta:
Raimundo, feio de cara e bom de bunda: isso
não foi uma rima nem uma solução nem eu me chamo Raimundo, meu poeta irmão, o
nome de que meu cu arde e faz alarde é Carlos Drummond de Andrade. Nome que
invejo a fundo. Espero que meus poemas telegráficos não te aborreçam. Você não
deveria ter casado. Sua mulher anoréxica é psicopata. Eu me recuso a ir visitar
vocês ou responder seus e-mails, ou deve dizer emelhos. Não, não gosto de vocês
gordos. Porque, afinal, ninguém tem culpa do seu sobrepeso. Nem da sua vida
ruim. Vá trabalhar, vagabundo, vai. E pare de mamar nas tetas do seu pai e da
sua mãe. Você já é adulto. Pare de me mandar correntes com anjos e boatos de
que Lula está para lançar o socialismo populista. Chega, chega, chega. Não se
esconda atrás da web e de pseudônimos. Não ataque o conceito de LPB, literatura
popular brasileira ou algo assim. Existe a literatura prá pular brasileira? Ou
seja: factóide ou não, esse conceito vende livros, abre portas abertas, etc,
etc. E não me venha com essa de copa da literatura brasileira que futebol e
literatura não tem nada a ver. Vendo futebol é que você engordou doze quilos
diante da televisão. E de tanto ver TV, você desanimou de votar em Dilma e
Lula. Mas foi a doutrinação da TV contra eles, coisa do PIG. Sacou? PIG. Partido
da Imprensa Golpista. Não temos culpa se o avião caiu. Não me importa também
que a mula manque, o que eu quero é rosetar. Não me importo com você e suas
neuroses, reacionário é a mãe, tá. Quem é Diogra Mainardi, sua sogra? Eu uso
aquela revista, sim, aqui tem dela, pois tá faltando Personal. Me deixe
resenhar. Sou feliz assim. A esperança venceu o medo e sou um escritor, enfim.
Abraços do Bernardo.
Baqueado,
lavei o rosto e fui tentar dormir. O Bernardo tinha me dado um soco verbal, uma
porrada no queixo. Adormeci de madrugada. No outro dia, de manhã, fui conferir
meus dois e-mails. Decidi nunca mais
utilizar o nickname de Raimundo
Periquito.
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