O
Príncipe e o Ventríloquo
Numa festa
chique em Petrópolis, o príncipe João de Orleans e Bragança estava rodeado do que
lhe restava de sua corte. A imprensa presente buscava avidamente obter alguma
notícia que pudesse gerar uma manchete ligada à realeza luso-brasileira.
A namorada do
príncipe João, Priscila, no último janeiro, partiu sozinha numa turnê pelo
Nordeste. Um repórter resolveu interpelar o príncipe João mais diretamente:
--Quando Vossa Majestade pretende
casar-se com Priscila? Quais são suas intenções para com ela?
O príncipe, entediado, respondeu:
--Depois de minha viagem ao
Iraque, respondeu com ênfase.
Flashes espoucaram, exclamações de
admiração, rostos estupefatos. Finalmente os herdeiros da monarquia brasileira
produziam uma notícia polêmica, um gesto voluntariamente ousado. A notícia do
alinhamento do rapaz no esforço de guerra norte-americano, de forma independente,
varreria o País como um rastilho de pólvora, comentavam em todas as mesas da
festa. Vários convidados tomavam porres, repórteres e políticos presentes
ligavam frenéticos para o embaixador norte-americano, que alegou não estar
sabendo de nada.
Alheio à
polêmica, o príncipe continuava bebendo à larga e comendo fartamente. Lá pelas
tantas, um outro repórter, invejoso do furo obtido pelo colega, lembrou-se de
perguntar:
--Mas, Sr. João, quando é sua
viagem ao Iraque?
--Não pretendo ir ao Iraque, disparou
o rapaz, num esgar de tédio.
Percebendo-se
logrados, os jornalistas presentes deram urros de fúria. Vituperaram contra o
príncipe, chamando-o fraco, mentiroso, galhofeiro, ridículo. Ao ouvir, em meio
ao generalizado ranger de dentes, a exclamação do nome de Maria Antonieta, o
príncipe levantou a voz indignado:
--Não vou tolerar esse tipo de
agressão, ainda mais levando em conta que meu tio é ventríloquo.
Nova onda de
indignação entre os presentes. A coisa toda teria sido obra do tio do príncipe,
Barão de Itaguaí, presente à festa e iniciado nas artes do ventriloquismo!
Seria ele o responsável pela frase que, segundo o príncipe, não passou de uma
brincadeira.
A coisa toda
ficou afinal reduzida a uma nota no Correio
da Cidadania, de autoria do meu amigo Laerte Braga. No contexto em que
estava inserida, era um ataque à futilidade dos políticos presentes na tal
festa, entre os quais o controverso e “malufístico” prefeito Alberto Bejani, de
Juiz de Fora, além de Martius das Chagas, representante daquilo que, nas
irônicas palavras de Laerte, chamou de “ala monarquista do PT”.
Diário
de um Ghost Writer
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