segunda-feira, 19 de julho de 2021

O Príncipe e o Ventríloquo

 

 

O Príncipe e o Ventríloquo

 

Numa festa chique em Petrópolis, o príncipe João de Orleans e Bragança estava rodeado do que lhe restava de sua corte. A imprensa presente buscava avidamente obter alguma notícia que pudesse gerar uma manchete ligada à realeza luso-brasileira.

A namorada do príncipe João, Priscila, no último janeiro, partiu sozinha numa turnê pelo Nordeste. Um repórter resolveu interpelar o príncipe João mais diretamente:

--Quando Vossa Majestade pretende casar-se com Priscila? Quais são suas intenções para com ela?

O príncipe, entediado, respondeu:

--Depois de minha viagem ao Iraque, respondeu com ênfase.

Flashes espoucaram, exclamações de admiração, rostos estupefatos. Finalmente os herdeiros da monarquia brasileira produziam uma notícia polêmica, um gesto voluntariamente ousado. A notícia do alinhamento do rapaz no esforço de guerra norte-americano, de forma independente, varreria o País como um rastilho de pólvora, comentavam em todas as mesas da festa. Vários convidados tomavam porres, repórteres e políticos presentes ligavam frenéticos para o embaixador norte-americano, que alegou não estar sabendo de nada.

Alheio à polêmica, o príncipe continuava bebendo à larga e comendo fartamente. Lá pelas tantas, um outro repórter, invejoso do furo obtido pelo colega, lembrou-se de perguntar:

--Mas, Sr. João, quando é sua viagem ao Iraque?

--Não pretendo ir ao Iraque, disparou o rapaz, num esgar de tédio.

Percebendo-se logrados, os jornalistas presentes deram urros de fúria. Vituperaram contra o príncipe, chamando-o fraco, mentiroso, galhofeiro, ridículo. Ao ouvir, em meio ao generalizado ranger de dentes, a exclamação do nome de Maria Antonieta, o príncipe levantou a voz indignado:

--Não vou tolerar esse tipo de agressão, ainda mais levando em conta que meu tio é ventríloquo.

Nova onda de indignação entre os presentes. A coisa toda teria sido obra do tio do príncipe, Barão de Itaguaí, presente à festa e iniciado nas artes do ventriloquismo! Seria ele o responsável pela frase que, segundo o príncipe, não passou de uma brincadeira.

A coisa toda ficou afinal reduzida a uma nota no Correio da Cidadania, de autoria do meu amigo Laerte Braga. No contexto em que estava inserida, era um ataque à futilidade dos políticos presentes na tal festa, entre os quais o controverso e “malufístico” prefeito Alberto Bejani, de Juiz de Fora, além de Martius das Chagas, representante daquilo que, nas irônicas palavras de Laerte, chamou de “ala monarquista do PT”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Diário de um Ghost Writer

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