segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Colóquios sobre a morte da arte e arte da morte

O escritor Dênis Reis, cujo livro de contos O Vendedor de Batatas é objeto de uma resenha que estou fazendo, escreveu em um conto sobre os colóquios da morte da arte e perguntou sobre os da arte da morte. Morrer pode ser uma arte e o assassinato, uma das belas-artes? Não sei.

Minha professora de origem genebrina, Jeanne Marie Gagnebin de Bons, lá da UNICAMP, disse a alguém, que perguntava muito sobre a Suíça, após a aula: "eles são devagar demais..." Não sei a que se referia, mas talvez ao fato da Suíça ter sido um dos últimos países a conceder o voto às mulheres (teve cantão que foi só em 1972. No Brasil, para que seja feita uma comparação, foi em 1934!)

O fato é que, quem ama, mata. Quem está tomado de paixão, das fúrias e das erínias é realmente capaz de matar. Ele (Denis) tem provocações ótimas. Reis cita James Joyce em Finícius Revém (Finnegans Wake), numa citação bem escolhida e hilária:

Sua visão pode ser reta e romana
Mas sua bunda é que é uma dis-grécia

Já a morte da arte...Nunca vi um colóquio sobre a morte da filosofia, mas os artistas precisam urgentemente fazer, para o Rodrigo Duarte e seus seguidores na UFMG, adornianos, debaterem, o que seria sumamente interessante --mesmo se não houvesse tradução simultânea em alemão. Hegel deseja uma filosofia que pense a totalidade, mas, segundo li em Iser, não acredita que a arte seja capaz de apreender a totalidade. Já a teoria serviu perfeitamente para Adorno: a crítica dele substituiria a arte, arte essa já morta: por mais que a arte buscasse estratégias para fugir, cairia sempre no abismo da indústria cultural.

Eu, por mim, quero mais é ver Moses and Aron do Gerald Thomas (vimeo Patrick Grant no blog dele) e debater Kandinsky, Koons, Pollock, Hirst, Habacuc Vargas e outros grandes artistas. Em BH tem uma exposição refazendo a primeira exposição modernista na cidade em 1943, quando estávamos enfim nos emancipando e inventando a Pampulha & Brasília com JK. Oswald narrou essa exposição em crônicas. Disse que os paulistas chegavam a BH depois de dois dias de trem, davam palestra e voltavam para a Paulicéia no dia seguinte, para desvairarem. Não podiam perder tempo! Ele concluiu que os paulistas querem mesmo trabalhar duro, respirar poluição, gripar. Reclamam, reclamam, mas não largam a cidade.

Quem sabe um dia o Aécio Neves, nesse ímpeto modernizador, traz também a Cosmococa do Hélio Oiticica e os Travestis de Stoppard da Ópera Seca? Pelo menos gosto para atores o Aécio tem: já colocou o Nanini para fazer propaganda do governo dele. Aécio seria uma boa para quebrar a hegemonia paulista na política e que traduz a hegemonia econômica. Precisamos quebrar o determinismo da estrutura sobre a superestrutura no Brasil.

Se o marxismo levou Gullar a escrever o "extremamente populista" Violão de Rua, que agora ele renega como bobagem, a vanguarda tem culpa disso? O fato é que esse conceito de populismo está mal empregado e Gullar anda jogando para a assistência. Não deveria ridicularizar as próprias obras, deveria deixar isso para a crítica, para nós, para mim...E outra: na época em que ele escreveu Violão de Rua, em 1963, Paulo Francis era cronista do jornal varguista Última Hora e os irmãos Campos faziam poemas rimando Coca-cola e cloaca, em ritmo de salto participante. Só para contextualizar, ele não estava numa de ultra-populismo e sim estava acompanhando a vanguarda de seu tempo, até mesmo de seu grupo neoconcreto.

No fim das contas, acho que os filósofos querem provocar os artistas e essa é a finalidade principal dessa teoria (da morte da arte).

Um comentário:

Henrique Hemidio disse...

E aí Lucio!
É verdade cara, ando preguiçoso sim... hehe
Entrei agora no blog do GT e li um posto do Vamp bem "imparcial" a respeito daquele caso da brasileira na Suiça, enfim, Celso Amorim chamou mesmo alguém de xenófobo? Lula pediu que a Suiça tratasse os brasileiros como iguais?
Desconfio dessas informações.
Abraço!