Há alguns anos, Carlos Heitor Cony escreveu: "a ópera está onde sempre esteve", parodiando a frase do governador de Minas Gerais em 1930, Antônio Carlos: "Minas está onde sempre esteve", frase enigmática politicamente. Já a de Cony sobre a ópera é óbvia: ela está entre as classes superiores da sociedade.
Na desciclopédia, o verbete de Paulo Francis é fraco, mas tem pelo menos uma frase gozada: Roberto Marinho descobriu Francis e pensou: este quatro olhos é porta-voz da elite brasileira! E ele virou importante jornalista. Quá quá quá! E Gerald Thomas não tem verbete inteiro lá, tem só uma linha: "intelectual que mostrou a bunda não sei onde". Vou falar para o pessoal do blog uma outra frase de Antônio Carlos, remixada: façam a revolução antes que o povo o faça ou um aventureiro lance mão. Leiam em voz alta na Biba Sagrada ao bispo Williamson, agora fazendo seu début em London, London: "no princípio era o verbete". Talvez a exportação mais bombástica da Argentina desde Eichmann. E ele pediu perdão, para Ratzinger não ter de pedir perdão, pois ele é infalível, desde que não haja primeira-ministra alemã no meio.
Eu sugeri a meu amigo amazonense Nivaldo que fizesse uma ópera sobre o Santo Daime. Ele riu. Mas acho boa idéia. Teria, por exemplo, a valsinha da união do vegetal, já pensaram que linda? Uma ária seria a rapsódia Serra do Sol. Outra: De Moema a Miami. Todos dançariam e cantariam e dariam o chá para a platéia. Seria o máximo! Só que o problema é que o chá costuma dar diarréia e vômitos em alguns. Bom, talvez pudéssemos chamar Juca Ferreira, Dilma e Lula para a primeira fila. Mas só um detalhe: bundalelê não vai ser aceito de jeito nenhum.
Na cena, digamos, "cume-nante" da Ópera do Santo Daime, uma mulher descabelada tentaria se auto-flagelar com uma faca de cozinha. Ela cai ao chão e se debate. Ela cantarola no chão, enquanto se golpeia: “Amooorim, oh, aaalll my booody paaaarts...” O cenário é de velas acesas em cabezitas de madeira de Hugo Chávez usadas na santería da Venezuela. O coro canta a Marcha Nupcial de Wagner. Ao fundo, um telão mostra imagens de desfiles nazistas, filmes de Leni Riefensthal e do neonazismo atual na Europa. Aparece então um personagem que parodia Jorge Haider, vestido com trajes verdes de noviça rebelde, mas com arco e flecha de Guilherme Tell. Ele canta o Poema do Cume e então, no fundo, aparecem imagens idílicas de Berchtesgaden:
No alto daquele cume
Plantei uma roseira
O vento no cume bate
A rosa no cume cheira.
Quando cai a chuva fina
Salpicos no cume caem
Formigas no cume entram
Abelhas do cume saem.
Quanto cai a chuva grossa
A água do cume desce
O barro do cume escorre
O mato no cume cresce.
Quando cessa a chuva
No cume volta a alegria
Pois torna a brilhar de novo
O sol que no cume ardia!
Mas, logo em seguida Haider cai fulminado. Aparece uma voz em off de Miguel Fallabella:
"Não existe nada mais desprezível que um viado de direita!"
Imagino as manchetes mundo afora: "alucinante" (New York Times). "Purgação alienada de direita arrasa Paris em chamas" (Teoria e Debate).
Conversando com esse casal amigo, a esposa do Nivaldo me falou, assim que eu comentei sobre a ópera do Roger Waters: "dizem que foi uma porcaria". Eu quis saber quem disse, mas ela não me respondeu. Teve má crítica? Não entendi.
É a tal da coisa: a ópera não entra nas leis de incentivo porque elementos elitistas dela são contra o governo ou elementos elitistas ligados à ópera combatem o governo porque ela não recebe incentivos? Perguntinha Tostines para vcs.
Reinaldo Azevedo costuma dizer que o PT usa a tática da luta de classes. Nos anos 80, quem sabe, se falava nisso lá, na corrente Convergência, por exemplo, que deu no PSTU. Mas hoje em dia? Marx mesmo criticava demais esse tipo de assistencialismo e um certo tipo de socialista cristão que existe no PT. Para ele, isso era a burguesia reformista e era descaminho. Que eu saiba, o pessoal do PT é gramsciano e fala em hegemonia. Mas agora eles estão com um projeto de poder em torno de Lula, ou melhor, o grupo de Lula tem um projeto de poder e nada de teoria, apenas projeto pessoal e pragmatismo.
E eu ri demais desse vídeo aí do lado: Rogério Jacques, querendo ser ator na blognovela, coloca uma peruca branca esquisita "de Gerald Thomas", lê o teatro do oprimido do Boal e fecha com a pergunta: "geeente, por que vocês mataram a traveca?"
kkkk
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