segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Os Guerrilheiros contra os herdeiros de Mussolini na Itália

Releio um artigo de José Antonio Pinheiro Machado sobre sua estadia na Itália de 1979 onde ocorreram os crimes pelos quais Battisti agora é perseguido. O contexto agora é obscuro e a tendência é de até mesmo intelectuais e jornalistas respeitáveis tais como Afonso Romano de Sant´Anna fazem discursos iguais aos de integralistas de extrema-direita a respeito desse assunto, reclamando toscamente de "irracionalismo ideológico"... Portanto, nesse momento grave é preciso algum esclarecimento.
Nos anos 70 italianos, com o PC italiano relativamente burocratizado, acomodado e participando da legalidade política, e, quem sabe, fazendo como o PC brasileiro de um Ferreira Gullar fazia nos anos 70, segundo as cartas ao mundo de Glauber Rocha: um partido arcaico que ficava negociando os dissídios da classe trabalhadora. Pasolini, por exemplo, prosseguiu naquele antro de “jogadores de bocha” insistindo para que os jovens o renovassem, daí o sentido do poema O PCI aos jovens!
O eixo do artigo de Pinheiro Machado “ a nova barbárie que invadiu a Itália” é a identificação da extrema-esquerda à extrema direita. Os atos da extrema-esquerda eram parte de uma “estratégia de tensão” que acabavam por favorecer a direita. Ele não entra em detalhes, mas a extrema-direita italiana também cometeu atos de terrorismo na Itália dos anos 70. Os principais grupos que estavam em luta armada eram as Brigadas Vermelhas e a Autonomia Operária. Os brigadistas seqüestraram o primeiro-ministro da democracia cristã Aldo Moro em 1978 e o assassinaram, o que funcionou a favor da direita. A estratégia, segundo Pinheiro Machado, seria levar o poderoso PCI de volta para os trilhos revolucionários através do fortalecimento da direita no poder. O lema dos brigadistas era “transformar a farsa eleitoral em luta de classe”, frase escrita pelos brigadistas ao destruírem com bombas a sede da DC em Roma. Num momento mais compreensivo onde deixa de simplesmente fazer invectivas contra os “novos bárbaros” e “terroristas”, Pinheiro Machado escreveu:

Os partidos de esquerda repetem sempre que há anos vem exigindo, sem resultado, a reforma e o reaparelhamento da polícia para proteção do estado democrático, e que a DC, desde o pós-guerra, tem tido o monopólio absoluto do Poder (inclusive na época em que compôs o governo de centro-esquerda, com os socialistas em situação subalterna), controlando a polícia e os serviços secretos. São mais de trinta anos de desgoverno DC, que se refletem também na polícia, opinava antes das eleições um senador comunista.

Pinheiro Machado não tratou do minúsculo grupo Proletários Armados pelo Comunismo, de Cesare Battisti, mas registrou a origem comum dos grupos mais importantes:

A Autonomia Operaria é a evolução da antiga organização, Potere Operário, surgida das lutas estudantis de 68 na Itália. Desta, teriam saído dois troncos distintos: a Autonomia e as Brigadas Vermelhas (...). O líder dos autômonos é o professor Antonio (Toni) Negri, da Universidade de Padova, autor de vários livros onde teoriza a violência das massas. Ele foi preso em abril e continuava até julho organizando a formalização do processo, por suspeita não só de ter teorizado, como também dirigido pessoalmente a operação de seqüestro e assassinato do deputado Aldo Moro.

Pinheiro Machado citou acima outro caso duvidoso, o de Antonio Negri, que é grande teórico e crítico social e também teve de seguir para o exílio numa época posterior a essa citada aí em cima (1979). Pessoalmente, penso que a luta armada em tempos de democracia liberal é algo fadado ao fracasso, mas o contexto em que a DC monopolizava o poder e a situação dos jovens levou a essa situação. Deve se levar em conta o contexto, portanto hoje a gente fica pensando como gente tão inteligente entrou numa fria daquelas. O artigo do Pinheiro que citei acima, na já finada revista Oitenta, foi especialmente moderado e identificado com as vítimas da DC, mas devemos levar em conta que em 79 o Brasil acabava de sair de experiência semelhante e igualmente traumática.

Um comentário:

Henrique Hemidio disse...

Desculpe o atraso

http://cesarelivre.org/node/13

Abraço!