quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Coluna Norma Oculta

Coluna norma oculta: uma questão ortográfica bom-despachense ou jacintense?
Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior


Inicio essa coluna com o objetivo de debater algumas questões de língua portuguesa aqui no jornal Fique Sabendo. Mas ressalto que não pretendo aqui corrigir a fala de ninguém, dando aulinhas chatas como o faz o retrógrado professor Pasquale. O português padrão advogado por Pasquale está, no entanto, muito defasado em relação até mesmo em relação ao português falado pela elite letrada, imagine em relação ao português falado pelo povo. Como essa norma ninguém conhece e fala, é uma “norma oculta”. Daí o nome dessa minha coluna. Aqui, inclusive, estou na postura de mero colunista e não de revisor.
Então, vamos ao que interessa: li recentemente um artigo de Jacinto Guerra abrindo uma interessante questão ortográfica em Bom Despacho, por ocasião da “reforma” ortográfica, pedindo para que o “adjetivo pátrio” “bondespachense” seja aceito no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e investigado pela Academia Brasileira de Letras. Pergunto: aceito ou imposto como correto no lugar da forma “bom-despachense”? A mim parece que as duas formas de grafar o gentílico (prefiro esse termo, embora também seja correto escrever “adjetivo pátrio”) devem ser aceitas como corretas pelo português padrão, a chamada “norma culta”. Segundo o Acordo, prosseguiram com hífen as formas adjetivas ou substantivas compostas, reduzidas, pátrias ou não, desde que os elementos sejam todos da mesma classe: ínfero-anteriores, ântero-dorsais, súpero-posteriores, póstero-palatais, político-econômicos, médico-clínico-cirúrgico, histórico-geográficos, greco-romanos, anglo-germânicos, afro-descendente etc.
Jacinto está equivocado quando trata de uma “reforma”. Trata-se apenas de um acordo para unificar as duas ortografias outrora vigentes em Portugal e Brasil. A reforma, se viesse, deveria ser muito mais radical. Ela deveria, por exemplo, abolir todos os acentos da língua portuguesa escrita, de maneira a deixá-la competitiva em relação à língua inglesa. Além disso, formas como “para mim fazer” deveriam também entrar para o português padrão. Infelizmente, os gramáticos conservadores não permitirão que isso ocorra tão cedo. Afinal, aqui no Brasil nós não fizemos nem a reforma agrária ainda...
Enfim, sugiro que o nobre colega escreva para a ABL e vá além, sugerindo também mudança do nome da cidade de Bom Despacho para Jacinto Guerra. Aí, sim, teríamos um debate apaixonado entre as duas formas do gentílico: “jacintense” ou “bom-despachense”?

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