quinta-feira, 24 de abril de 2008

Renato Russo, Estrangeiro Para Si Mesmo


No Brasil, passamos muito rapidamente para a era do audiovisual, o que fez com que as massas passassem da oralidade direto para o coloquialismo da mídia massificada.
Renato Russo, nascido em 1960, letrista e compositor, era da nossa geração que viu o fim do regime militar entre 1978/84 e a viveu basicamente enquanto identificação com a indústria cultural e internacionalização. Renato tentou viver ao estilo do rock and roll como seus ídolos, querendo viver a vida do outro, sonhando ser um loiro Eric Russel em suas fantasias. Uma estrangeirice bem brasileira, como disse José Carlos Avellar.
Quando perguntado por suas influências, só citava modelos estrangeiros: The Smiths, The Cure, Gang of Four, Siouxsie and the Banshees, Public Image e outras bandas. A sonoridade da Legião Urbana tinha muito de folk, rock e pop, e nela a MPB era apenas música incidental, ficando em algum lugar entre a Jovem Guarda e uma tropicália bastarda. Bem que o músico Sérgio Ricardo afirmou que Brasília terá de ser reconquistada pela cultura brasileira, pois, desprovida de uma cultura local, agora é praticamente uma colônia americana; não é à toa que Renato Russo admirava os Menudos e criticou o autor de Quem Quebrou Meu Violão sem ousar citar o seu nome, no encarte do disco Dois. Os problemas de identidade eram patentes em suas letras, agravados pela inversão sexual e o comportamento extravagante, sob medida para chamar a atenção da mídia: “Eu sou igualzinho ao Axel Rose”, disse ao se referir aos hotéis que quebrava. Isso o tornava, inclusive, um americanófilo de plantão.
A Legião me marcou como o hino cantado na primeira pessoa do plural, Geração Coca-Cola. O termo se refere à geração dos filhos da geração 68, dita dos “filhos de Marx e da Coca-Cola”. Russo, adolescente profissional, ao falar costumava alternar graves e agudos, como se estivesse mudando de voz. E isso aos trinta e tantos anos! Gostava do cineasta Pier Paolo Pasolini, mas tampouco o compreendeu, aliás achava que os dialetos italianos e sotaques estaduais brasileiros eram a mesma coisa. Pasolini era basicamente um poeta marxista; já Renato Russo, um subproduto imperialista nos trópicos.

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