Vai Nessa, Althusser, Que Eu Não Vou
Louis Althusser foi um filósofo francês que andou sendo muito discutido desde o final da década de 60 até meados dos anos 70. Vindo após a voga do existencialismo, o althusserianismo veio na esteira do modismo estruturalista. O que Althusser fez foi passar de um dogmatismo católico para um dogmatismo marxista-leninista. Fazendo fumaça retórica e malabarismos teóricos, pouco acrescentava ao marxismo; fazia mais um esforço por vestir as idéias de Marx num modelito mais na moda, sem renovar o marxismo de forma que ele pudesse analisar de forma dinâmica e combativa os fatos sociais. Althusser buscava a “cientificidade” e elogiava Lênin. Acabou por se aproximar do maoísmo, tido como a renovação do comunismo pelo próprio comunismo que os esquerdistas ocidentais tanto esperavam. Mal sabiam eles que o que Mao Tsé Tung fazia era colocar os jovens chineses contra os comunistas de velha guarda que haviam chegado ao poder junto com ele e estavam questionando os desvios do “Grande Timoneiro”.
Os althusserianos, sob influência de Lacan, acabaram se orientando para uma síntese da cientificidade com o Livro Vermelho de Mao. A sabedoria do livrinho vermelho era uma tentativa de passar da prática para a teoria, mas acabava no antiintelectualismo e na redução de um pensamento a um livro de receitas.
Passado o tumulto de maio de 68 e agora que proclamaram a absoluta vitória do neocapitalismo, agora que gente como Francis Fukuyama e José Guilherme Merquior atirou no lixo não só o leninismo mas também o marxismo, agora podemos reconsiderar Raymond Aron, que disse ainda em 68: “Os revolucionários de nossa juventude conhecem, também eles, a impaciência dos puros. Alguns sacam sua pistola quando escutam a palavra cultura, outros quando escutam as palavras liberdade ou democracia.” O que restou do ardor revolucionário dos jovens de 68 foi a dobradinha vale-tudo nas artes/conservadorismo político, já que os revolucionários de então só obtiveram a revolução cultural e não a política. A revolução dos costumes e valores foi corrompida pela indústria cultural. Os valores mudaram por volta de 1975, mas a situação política estagnou.
Raymond Aron, um liberal clássico que lera Marx atentamente, defendeu que o marxismo é um pensamento “equívoco e inesgotável”. Já o marxismo de Althusser ele definiu ironicamente em seu livro De Uma Sagrada Família a Outra: “Pensamento e escrita esotérica, ação violenta (...) Deve-se rir ou chorar? Honestamente, não sei.”
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