Caro Carlos, tudo bem?
Eu quis fazer apenas uns apontamentos sobre o romance, de forma a sedimentar o que pode ser dito a respeito e abrir o campo para que se entenda melhor o romance Carne Viva. Não sei bem se Francis recuou diante da chegada das massas. Meu ponto de vista é que, se formalmente ele não inovou, inovou ao incluir um tipo, o neoconservador, na literatura brasileira. Ele viu uma oportunidade, engendrar um neoconservadorismo numa área que precisaria dele. E por isso ele é celebrado. A palhaçada fazia parte. Enchanter le burgeois...O Balzac tinha ideologia monarquista, mas há a questão do domínio da forma, que Francis deixava de lado para discutir a ideologia.
O papel dos intelectuais foi e é mais de Cassandra e nem tanto de palhaço.
E ele nem tem, em 1979, um ponto de vista brasileiro, conforme disse o Cláudio Abramo na orelha. Uma orelha que é um puxão de orelha. No mais, acho que é isso...Foi apenas curiosidade sua ou você leu Carne Viva?
Um comentário:
Pois é, Lúcio, eu estou _pensando_ em ler _Carne Viva_, mas para alguém que doou à biblioteca pública seu exemplar autografado de _Cabeça de Papel_ quando o Francis chamou o Lula de besta quadrada, fica difícil se decidir...
Eu tenho uma certa hesitação em atribuir a ambiguidade ideológica do "Cabeça" a uma intenção prévia do Francis, como você o faz; prefiro lembrar uma cena famosa de _Terra em Transe_, que o Francis certamente conhecia e que seu epigono-mor Jabor cita repetidas vezes: a do discurso tatibitate do sindicalista Jerônimo, que tem sua boca tampada pelo intelectual Paulo Martins, que olha para a câmara e diz: "viram o que é o povo? Um imbecil, analfabeto, despolitizado...Já imaginaram Jerônimo no poder?". Vi esta cena com o Lula já na Presidência e ela me pareceu uma tremenda profecia do Glauber quanto aos intelectuais dos anos 60 diante da redemocratização dos anos 80 e do seu caráter populista, muito mais abrangente do que o que existia no governo Jango, e que, por isso mesmo, colocou os intelectuais de classe média numa situação delicada, de apoiarem a entrada das massas na política nos seus próprios termos, e não nos deles...não a toa tantos acabaram finalmente caindo no reacionarismo neoliberal em suas várias versões (collorido, psdbista, etc.).
Quanto a incapacidade do Francis de ser nacional (o que aliás era um produto do seu trotskismo enviesado, coisa que o Claudio Abramo, cria da LCI do Mário Pedrosa / Lívio Xavier, percebeu bem na orelha), concordo plenamente.
ass.Carlos Rebello (crebello@antares.com.br)
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