Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Sobre Cabeça de Dinossauro": Pois é, Lúcio, eu estou _pensando_ em ler _Carne Viva_, mas para alguém que doou à biblioteca pública seu exemplar autografado de _Cabeça de Papel_ quando o Francis chamou o Lula de besta quadrada, fica difícil se decidir...Eu tenho uma certa hesitação em atribuir a ambiguidade ideológica do "Cabeça" a uma intenção prévia do Francis, como você o faz; prefiro lembrar uma cena famosa de _Terra em Transe_, que o Francis certamente conhecia e que seu epigono-mor Jabor cita repetidas vezes: a do discurso tatibitate do sindicalista Jerônimo, que tem sua boca tampada pelo intelectual Paulo Martins, que olha para a câmara e diz: "viram o que é o povo? Um imbecil, analfabeto, despolitizado...Já imaginaram Jerônimo no poder?". Vi esta cena com o Lula já na Presidência e ela me pareceu uma tremenda profecia do Glauber quanto aos intelectuais dos anos 60 diante da redemocratização dos anos 80 e do seu caráter populista, muito mais abrangente do que o que existia no governo Jango, e que, por isso mesmo, colocou os intelectuais de classe média numa situação delicada, de apoiarem a entrada das massas na política nos seus próprios termos, e não nos deles...não a toa tantos acabaram finalmente caindo no reacionarismo neoliberal em suas várias versões (collorido, psdbista, etc.).Quanto a incapacidade do Francis de ser nacional (o que aliás era um produto do seu trotskismo enviesado, coisa que o Claudio Abramo, cria da LCI do Mário Pedrosa / Lívio Xavier, percebeu bem na orelha), concordo plenamente. ass.Carlos Rebello (crebello@antares.com.br)
Carlos:
Claro que eu me lembro dessa cena. Mas ela tem um sentido interno ao filme: ela é uma crítica à forma idealizada através da qual certos setores idealizaram o povo no pré-64. Augusto Boal reagiu a essa cena, diz a lenda, distribuindo panfletos contra. Vianinha também reagiu contra esse filme, dizendo que o Brasil não era assim tão ruim.
E ela já foi comentada também pelo professor Gilberto Vasconcellos nesse sentido que você vê, de profecia do que seria o Lula, o Jerônimo no poder. O sindicalista no filme fala, balbucia algo como: "estaremos do lado do governador, estaremos aí na luta das classe". Naquele momento, é a posição dita ingenuamente, ou seja, ele não sabe o que diz. Mas o único, no filme, que poderia resistir ao Diaz era o governador Vieira. Estava certo apoiá-lo, seria uma determinada interpretação da luta de classes, de que os trabalhadores precisam apoiar a facção da burguesia que se mostrar mais progressista.
E isso não é trotsquismo, evidentemente. Para eles até Chávez é burguês e conciliador de classe.
A intenção de Glauber, no filme, era outra, mas o lance ficou valendo para o futuro, mas em parte. Se Lula resguardasse e ainda utilizasse pelo menos o termo "luta de classe" já era alguma coisa.
Mas o problema, com Lula, é o inverso do Jerônimo do filme, manipulado por intelectuais e líderes políticos. Lula é excessivamente pragmático, é inteligente. É ele que tem jogado com os intelectuais, com forças políticas e, com base ora num certo obreirismo, ora fazendo concessões aos liberais, consegue chegar ao poder e manter-se nele.
Lula é o Jerônimo pragmático. Jerônimo com Richard Rorty instintivo. Não tem cultura política marxista e nem conhece em detalhes a história do Brasil, mas sabe articular aliados, gerenciar o orçamento e entende o poder, fazendo o que pede cada momento e remodelando-se, reiventando-se sem grandes viradas. Se não liga para a luta de classe, sabe suficientemente politicamente sinalizar que concilia e alia capital e trabalho e colocou como vice um empresário.
Por fim, Jardel/Jabor teriam uma surpresa com esse nosso anão Jerônimo, menos letrado que outro anão, Vargas, mas bem mais treinado para o poder. Lula não entendia de marxismo como Francis, mas pode derrotar o partido comunista brasileiro, como o fez.
Um comentário:
sobre a profecia contida no filme "terra em transe", acredito que , numa "jogada" política, a elite dirigente permitiria que o tal JERÔNIMO entrasse no poder, a fim de simbolizar o "povo" no poder; isto, por ser um sindicalista. Com isso, o povo ficaria feliz, pensando que ... "finalmente teria conseguido conquistar um lugar no espaço"! entretanto, isto não passaria de uma "jogada" a fim de iludir o povo, porque na verdade o poder continuaria sendo da mesma elite dirigente. é óbvio que o JERÔNIMO não era povo, mas um boneco nas mãos da elite. no filme,o povo, propriamente dito, apanhou de todos, sem exceção! e, nunca lhe foi permitido falar... muito menos chegar ao poder! assim sendo, penso ser esta a verdadeira PROFECIA contida na mesnagem do filme !!! o povo não tem vez, é iludido por manobras políticas. mas a elite dirigente continua sendo sempre a mesma, muda apenas de maquiagem!!!!!! ASS: CRIS
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