Um observatório da imprensa para a cidade de Bom Despacho e os arquivos do blog Penetrália
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Leitores: entrem na comunidade do livro Estranha Tribo
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=72963821
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Texto do Giba sobre Olho Gordo
Gilberto Vasconcellos é o maximo..
Aprecio sobremaneira os textos deste meu guru, ainda me tornarei limpo e enxuto como ele...
Síndrome do olho gordo e do mau-olhado
Um Olhar a Mais312 págs., R$ 33,00 de Antonio Quinet. Editora Jorge Zahar
O psicanalista Antonio Quinet dá um banho de conhecimento na assimilação crítica da vida e obra de Jacques Lacan (1901-81), o célebre francês continuador de Sigmund Freud. Outra vez ainda Lacan na cultura brasileira. Este livro, "Um Olhar a Mais", não é apenas destinado aos especialistas da área "psi". Trata-se de uma reflexão sobre o olho e o olhar desde a caverna de Platão até a "Casa dos Artistas" e o "Big Brother Brasil". O lugar do ver e do ser visto, tal qual concebido por Freud e Lacan, além de Michel Foucault e o cinema de Wim Wenders, com o foco no "video ergo sum", ou seja: vejo, logo existo. A visibilidade é o imperativo do espetáculo. A necessidade de ser visto pelo outro. O minuto de fama. Eis o mandamento do gozo contemporâneo: sorria, você está sendo filmado. O índice de audiência requer o olho. O cidadão é um "televoyeur". O exibicionismo converte o horror em algo excitante. Ratinho. "Linha Direta" . Talks shows.
A intimidade em clima pornô. Tudo deve sair do armário para ser visto. Não há intimidade nem segredo. Tudo escancarado conforme o "espetáculo obsceno da banalidade". O olho doente. Mas é o olho que elege os políticos. Este quadro cultural o autor denomina "sociedade escópica", da qual o Brasil não escapa. Padecemos do mal-olhar da civilização.
A sociedade escópica é aquela em que o olho videofinanceiro faz a lei e o Estado, de modo cada vez mais totalitário e panóptico: vigilância global.
É o olho policial -"algemas eletrônicas, escuta ambiental"-, o olho domiciliar e punitivo que toma conta de tudo e para o qual não há esconderijo. O ideal de "transparência", supostamente de esquerda, acaba por reforçar o vigiar e o punir, contribuindo para a despolitização da sociedade.
Escreve Antonio Quinet: "A transparência é o grande inimigo da política". Mostre-se. Seja uma celebridade. Exiba. A "vida se transforma numa novela. Filme ou novela, lá estão o olhar da câmera e do espectador fixado na tela, telinha ou telão". O ponto alto deste livro para o entendimento da sociedade brasileira é a reflexão sobre a síndrome do mau-olhado -o olho gordo, o olho seca-pimenteira-, vinculada à inveja e ao ciúme. Assim funciona a dialética do mau-olhado: "O bem-visto é olhado pelo mal e o que é bem olhado é vítima do mau-olhado". Como dispositivo defensivo, usa-se de amuletos e das plantas "comigo-ninguém-pode" e "espada-de-são-jorge". Embora em geral as mulheres sejam portadoras de mau-olhado, essa síndrome medra em sociedades dominadas pelo patronato personificado. Latifúndio. Máfia. Banditismo. É que em tais sociedades prolifera um sentimento generalizado da falta de ter ou de ser. Mesmo o sujeito bem situado socialmente não pode gozar de seus bens diante do "olhar ávido". O olhar pidão dos pobres e miseráveis. De olho na substância do prato de comida. Estranha simbiose da fome com o olho gordo. A paranóica sociedade brasileira não consegue gozar em nenhum de seus escalões sociais: tanto faz em cima quanto embaixo.O excelente livro de Antônio Quinet é a prova de que, por estas bandas, Lacan está sendo deglutido antropofagicamente, isto é, assimilado em razão do nosso espaço e do nosso tempo.
Gilberto Vasconcellos é sociólogo
Instituto de Saúde Mental
Agradeço a Constante Evolução.
“Obrigado por ligar para o Instituto de Saúde Mental,
sua mais saudável companhia em seus momentos de maior
loucura.
Se você é obsessivo e compulsivo pressione 1,
repetidamente.
Se você é dependente, peça a alguem que pressione o 2
por você.
Se tem múltiplas personalidades pressione o 3, 4, 5, e
o 6.
Se você é paranóico, sabemos quem é você, o que faz e
o que quer. Espere na linha enquanto rastreamos sua
chamada.
Se você sofre de alucinações, pressione o 7 e sua
chamada será transferida para o Departamento de
Elefantes Cor de Rosa.
Se você é esquizofrênico, escute cuidadosamente e uma
vozinha lhe dirá que número pressionar.
Se você é depressivo, não importa que número disque.
Ninguém vai responder.
Se você sofre de amnésia, pressione o 8 e diga em voz
alta seu nome, endereço, número da carteira de
identidade, data do nascimento, estado civil e o nome
de solteira de sua mãe.
Se você sofre de stress pós-traumático, pressione
lentamente a tecla # até que alguém tenha piedade de
você.
Se sofre de indecisão, deixe sua mensagem logo que
escute o bip… Ou antes do bip… Ou depois do bip…
Ou durante o bip… De qualquer modo, espere o bip…
Se sofre de perda de memória para fatos recentes,
pressione 9. Se sofre de perda de memória para fatos
recentes, pressione 9. Se sofre de perda de memória
para fatos recentes, pressione 9. Se sofre de perda de
memória para fatos recentes, pressione 9.
Se tem baixa auto-estima, por favor desligue. Nossos
operadores estão ocupados atendendo pessoas
importantes.”
Trabalhem Tags!!!
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Tags: alucinações, amnésia, auto-estima, dependente, depressivo, diverso, engraçado, esquizofrênico, Humor, indecisão, instituto de saúde, mental, obsessivo, outras coisas, paranóia, personalidades, saúde mental, stress, teleatendimento
Categorias : Diversos, Entre outras coisas..., Humor
domingo, 26 de outubro de 2008
NEGAR
A senhora nega as luzes. Na escuridão
o gesto desencontrado: adeus, desdito.
Ávida, a paixão não resulta. O instante
em brancas nuvens. O céu encoberto
em espaços negados ao juízo. A graça
da senhora em imagens espelhadas.
Confortar o enfermo. Fazer aceitar
o enigma da escolha. O sorriso
na negação das luzes. Desconforto.
(Pedro Du Bois, inédito)
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
NYT: Escritora narra a dor de ter sofrido três abortos espontâneos em um ano
Por N. West Moss
The New York Times
Não existem faixas rosa para usar se você sofreu um aborto espontâneo, nenhuma passeata ou camiseta para encorajar a conscientização e prevenção. E até onde temos uma linguagem para falar sobre ele, ela é repleta de frases superficiais: "Não se preocupe, eu também tive um," ou "Eu tive dois, e então - puf - o Davey nasceu, e nessa semana ele está se formando na faculdade."
Mas enquanto você pertence ao clube imaginário das Mulheres Sem Crianças, este é um planeta secreto de dor, praticamente invisível ao mundo externo.
The New York Times
As pessoas agem como se um aborto espontâneo fosse um evento localizável num calendário, com início, meio e fim, mas a realidade é bem diferente
Recentemente, sofri meu terceiro aborto espontâneo em um ano. Aconteceu cedo na gravidez, e foi descartado como nada grave - "gravidez química" parece ser o termo artístico. Não vamos reagir exageradamente, não há necessidade de histeria, bola pra frente. "Vamos tratar disso como se você estivesse simplesmente tendo seu ciclo menstrual," como disse meu médico.
Mas honestamente, não é como ter seu ciclo. Psicologicamente, claro, não tem nada em comum, mas fisicamente também é diferente. Tive espasmos durante horas que deixaram minhas costelas contundidas, e quatro dias depois eu estava de volta ao trabalho e exausta porque continuava sangrando muito - não uma quantidade alarmante, mas o suficiente para que eu agendasse as reuniões em salas próximas a um banheiro, e para me mandar para casa para cochilos de duas horas à tarde. Imagino como os homens lidariam com isso. Toda a dor, a confusão, as limpezas furtivas, a vergonha e as fugas do trabalho me parecem tão fundamentalmente femininas.
As pessoas agem como se um aborto espontâneo fosse um evento localizável num calendário, com início, meio e fim. Mas na verdade ele começa quando você sente aquela primeira pontada inconfundível dizendo que algo está totalmente errado. Ele continua através dos duros dias de sofrimento e espasmos profundos, e então serpenteia ao longo de cada dia do resto de sua estúpida vida. Provavelmente lamentarei esse aborto de alguma maneira visivelmente mediana até ter um bebê saudável ou morrer.
Falar sobre abortos espontâneos é tão pesado e patético e indesejado e repleto de significado sobre idade e utilidade. A sensação de sofrer três abortos em um ano é a de que eu devo ter feito algo errado, quando a realidade é que a maioria dos abortos acontece por motivos cromossômicos fora de nosso controle.
Ainda assim, uma mulher que sofre um aborto espontâneo provavelmente se perguntará por quê. "Deus não deve querer que eu tenha um filho," ela pode pensar, ou "Estou velha demais." Há momentos em que você sente que o aborto e as calamidades do mundo são seus próprios feitos e que você deveria, de alguma forma, saber melhor.
Talvez não falemos de nossos abortos porque não queremos as mulheres com filhos nos olhando com pena, ou adolescentes com seu jeito imortal pensando, "Isso nunca acontecerá comigo." Não queremos que famílias felizes sussurrem, "Graças a Deus não é com a gente." Não queremos imaginar que os homens possam estar pensando, "Se elas não podem ter filhos, por que estão aqui?"
Entretanto, não sei o que você deve dizer a uma mulher que teve abortos espontâneos. Ao mesmo tempo em que pode ser emocionante ouvir histórias de outras mulheres, pode também ser irritante: faz com que nosso momento de extraordinária tristeza se torne comum e dentro da média. Por que eu iria querer ouvir sobre seu aborto quando estou deitada no chão tentando erguer 250 quilos de fracasso, desilusão e hormônios despedaçados em meu peito?
O que posso dizer é: quero que as pessoas saibam. Não quero que seja um segredo ou uma sombra, ou algo carregado individualmente. Quero que as pessoas saibam que eu passei por algo, que estou cansada mas otimista, que fui derrubada mas não me ajude, pois posso levantar sozinha.
É justo, acho eu, querermos testemunhas para nosso sofrimento. Mas com o sofrimento também vem a esperança. E afinal de contas, somos criaturas flexíveis. Uma amiga minha disse-o muito bem, num e-mail enviado depois que soube de minhas novidades. "Espero que você não desista," ela escreveu. "Ainda quero tirar uma foto de seu filho ao lado do mais alto girassol."
*N. West Moss é escritora
Hemingway por Dante Gatto e num Poema
NO CAIS DE ESMIRNA [1]
Era estranho, disse ele, como gritavam todas as noites à meia-noite. Não sei porque gritavam àquela hora. Estávamos no porto, e elas se amontoavam no cais e à meia-noite começavam a gritar. Costumávamos ligar os refletores em cima delas para silenciá-las. Dava sempre resultado. Passávamos os refletores por elas duas ou três vezes, e elas paravam. Uma vez, eu era o oficial-de-dia no cais, e um oficial turco aproximou-se de mim danado da vida porque um de nossos marinheiros o havia insultado. Por isso, eu lhe disse que o camarada ficaria preso no navio e seria severamente punido. Pedi-lhe que o apontasse. E ele apontou para um ajudante de artilheiro, sujeito inteiramente inofensivo. Disse que o havia insultado muitas vezes e com ferocidade; falava comigo através de um intérprete. Não consegui imaginar como o ajudante de artilheiro aprendera suficiente turco para insultá-lo. Chamei-o e disse:
_ Isso é só porque você pode ter falado com qualquer oficial turco.
_ Não falei com oficial nenhum.
_ Não duvido disse eu mas é melhor que você vá para o navio e não volte à terra até o fim do dia.
Depois, falei ao turco que o homem estava preso a bordo e seria severamente punido. Sim, com o maior rigor. Ele ficou absolutamente encantado com a coisa. Éramos grandes amigos.
As piores, disse ele, eram as mulheres com filhinhos mortos. Ninguém conseguia que as mulheres largassem os filhinhos mortos. Algumas agarravam-se a criancinhas mortas há seis dias. Não as largavam. Nada havia a fazer. Por fim, era-se obrigado a arrancá-las à força. E havia também uma velha, um caso deverás extraordinário. Contei o caso a um médico, e ele disse que eu mentia. Tratávamos de tirá-las do caís, tínhamos de remover as mortas, e essa tal velha estava deitada numa espécie de maca. Elas disseram: “Quer dar uma olhada nela, seu moço?” Portanto, tive de olhar para ela, e justo nesse momento ela morreu e ficou logo toda dura. As pernas dobraram-se nos joelhos, e ela dobrou-se na cintura e ficou inteiramente rígida. Exatamente como se estivesse morta há muitas horas. Estava mortinha e absolutamente rígida. Falei a um médico a respeito do caso, e ele me disse que era impossível.
Estavam todas lá no cais, e não era como se tivesse havido um terremoto ou qualquer coisa do gênero, porque nunca se sabia o que os turcos iam fazer. Elas nunca sabiam o que o velho turco ia fazer. Lembra-se de quando nos proibiam de entrar para recolher mais gente? Nem sei o que eu esperava, quando entramos naquela manhã. Ele tinha baterias à beça e podia ter acabado com a gente ali mesmo na água. Nós íamos entrar, encostar no cais, soltar as âncoras da proa e da popa e depois bombardear a parte turca da cidade. Eles podiam ter acabado com a gente, mas nós também teríamos mandado a cidade pro beleléu. Pois eles só fizeram disparar uns tiros de pólvora seca enquanto nós íamos entrando. Kemal [2] desceu e demitiu o comandante turco. Por abuso de autoridade ou qualquer coisa parecida. Ele se excedeu. Teria sido uma mixórdia dos diabos.
Você se lembra do porto. Havia uma porção de coisas lindas a flutuar nele. Foi a única época da vida em que eu tive pesadelos. A gente nem ligava pras mulheres que pariam ali mesmo; ligava, mas era pras que se agarravam aos filhos mortos. Pariam ali mesmo. É incrível que tão poucas morressem. A gente se limitava a cobri-las com qualquer coisa e deixá-las pra lá. Escolhiam sempre o canto mais escuro do porão para parir. Nenhuma delas ligava mais pra nada depois que saía do cais.
Os gregos também eram boas praças. Quando realizaram a evacuação, tiveram de livrar-se de todos os animais de carga que não podiam levar em sua companhia, e por isso quebraram as pernas dianteiras dos bichos e jogaram todos na água rasa. Todos aqueles burros com as pernas dianteiras quebradas empurrados para a água rasa. Foi mesmo um negócio muito agradável. Palavra que foi um negócio agradabilíssimo.
Terminada a guerra, Ernest Hemingway transformou-se em corresponde estrangeiro, escrevendo sobre as turbulências que então ocorriam nos Balcãs e no Oriente Médio, envolvendo a Bulgária, Sérvia, Montenegro e Grécia, além dos turcos. Em termos de ficção, este período é representado por este pequeno e terrível conto. A presença americana no local dava-se não pelos conflitos bélicos, propriamente ditos, mas por outras razões deles resultantes: comerciais e assistenciais.[3]
Enredo psicológico, corresponde às lembranças tétricas de um personagem inominado, Narrador-protagonista (se se quiser utilizar a tipologia de Friedman) [4], que começa a narrar estimulado por um “ele”, que nos parece simplesmente uma estratégia desencadeadora ou motivo desequilibrador: “Era estranho, disse ele, como gritavam todas as noites à meia-noite.” Não discernimos uma situação inicial. Trata-se pois de um começo in-abrupto.
Apesar do enredo psicológico, temos o conflito, inerente ao gênero, e, a partir dele, podemos fazer a nossa análise, conforme a classificação de Henry James: apresentação, complicação, (ou desenvolvimento), clímax, e desenlace (desfecho). Mas qual é o conflito? Responderemos oportunamente está questão apesar da desnecessidade.
A apresentação se faz na estranheza proporcionada pelo interlocutor do nosso narrador: o porto, o cais, mulheres (inferimos que se tratam de mulheres) que gritam inexplicavelmente à meia-noite e só são silenciadas pelas luzes dos refletores.
Em função do enredo psicológico, há vários cenas que configuram complicação (ou desenvolvimento). Sabemos que há um cuidadoso trabalho de seleção do autor, que, no entanto, se apresentam como flashes do passado que vem à tona de uma maneira quase aleatória. Podemos enumerar os momentos de desenvolvimento do enredo:
Primeiro parágrafo: as mulheres que gritam, que já mencionamos;
a desavença com o oficial turco;
Terceiro parágrafo: as mulheres com filhinhos mortos;
a velha;
quarto parágrafo: novamente, a desavença com os turcos;
quinto parágrafo: as “coisas lindas” que havia no porto (ironia);
sexto parágrafo: os gregos (ironia).
O conjunto compõe um quadro horripilante. Para cada momento, um clímax, não é verdade? Poder-se-ia, no entanto, discernir um maior, que marca o tom do conto, digamos assim, o paroxismo, a catarse. Veja, no quinto parágrafo, quando o narrador fala de “uma porção de coisas lindas a flutuar nele (porto)”, em seguida apresenta a situação antitética na frase: “Foi a única época da vida em que eu tive pesadelos”. Segue-se uma sucessão de horrores, numa dolorosa ironia que, por paradoxal, perturba o leitor, configurando o clímax.
A ironia não acaba aí e, consequentemente, nem o clímax. Apresenta, nosso narrador, os gregos como “boas praças” para, em seguida bombardear-nos com suas atrocidades. E finaliza enfático: “Palavra que foi um negócio agradabilíssimo”. Quase que podemos caracterizar esta colocação como um desequilíbrio emocional de um neurótico de guerra. Poderíamos dizer que o desfecho está no próprio clímax maior, figurando o parágrafo anterior como um anti-clímax.
Deixamos em suspenso a questão do conflito. Por se tratar de um enredo psicológico, o conflito se configura na própria inquietação do Narrador-protagonista que não consegue adormecer suas lembranças, o que é plenamente justificável, diga-se de passagem.
Personagem complexa ou, se preferirem, redonda (utilizando a caracterização de E. M. Forster) o nosso protagonista. Assim concluímos pela multiplicidade que se afigura sua personalidade: a ironia coruscante, que já nos referimos, contrapõem-se, por uma lado à tentativa de indiferença ao horror; por outro, a uma preocupação com os bons relacionamentos profissionais, como demonstra na saída diplomática com o oficial turco. É claro, que uma personalidade é um todo. O personagem convive com suas contradições, fazendo do completo da sua personalidade um quadro da maior complexidade. A maneira como escamoteia o olhar direto para o que o atormenta é outra de suas características. Falamos do “ele” : “Era estranho, disse ele”, “As piores, disse ele”. Quase no final do conto a personagem fala de um “você”. O que podemos concluir? Veja se vocês concordam comigo: nosso personagem, por um lado, guardando consigo lembranças perturbadoras das quais não consegue se libertar, e, por outro, não as assume como preocupações diretas suas, cria um “ele” que desperta as trágicas reminiscências. Só no final do conto, rompida a barreira inicial de encarar sua dor, o personagem se dirige diretamente ao interlocutor “você”. Ora, isto é próprio de uma idiossincrasia do americano típico, mas aprofundaremos esta questão oportunamente.
Protagonista, sem dúvida. Resta a questão: herói ou anti-herói? Que maçada, não é? Não falemos aqui em fraqueza de caráter, ou características atávicas, ou inferioridade congênita ou coisas que as valham. Pensemos no fenômeno humano. No homem esmagado pelas adversidades, alienado pelas circunstâncias (reificado, como preferia Lukács), que busca trabalhar sua consciência e alcançar uma totalidade possível num mundo que já não abarca. Volto a perguntar: herói ou anti-herói? Herói problemático (mais uma vez lembrando Lukács), podemos configurá-lo como anti-herói. Mesmo porque, na nossa contemporaneidade não há mais lugar para heróis.
Os antagonistas estão por toda parte, nem vale a pena enumerá-los. O ambiente, principalmente, apresenta-se como o maior antagonista, mas discutiremos isto oportunamente.
O enredo psicológico no mais das vezes implica tempo psicológico. Temos, neste conto, a ordem natural dos acontecimentos alterada, por um lado, pela idiossincrasia emocional do personagem; por outro, pelo condensação do tempo que o gênero conto promove. Daí a fragmentação, o estilhaçamento dos acontecimentos, gerando a rapidez dos relatos e a banalização desses conflitos próprias aos momentos de guerra.
O tempo da enunciação? Como sabê-lo. Trata-se, sem dúvida, de um momento posterior aos acontecimentos já que o conto são lembranças: “Você se lembra”. O tempo do enunciado? Imediatamente depois da Primeira Guerra. Portanto, um flashback e, neste caso, o tempo do enunciado não “alcança” o tempo da enunciação.
Os fatos que correspondem ao conto referem-se às turbulências que então ocorriam nos Balcãs e no Oriente Médio. Como sabemos, a função do ambiente, como do tempo, é das mais esclarecedoras (verossimilhança). Mesmo sem nenhuma informação adicional sabemos que estamos diante de soldados, pessoas habituadas aos horrores da guerra.
Das funções do ambiente [5], podemos concluir que este se apresenta em conflito com os personagens. Ora, pelo simples fato de se tratar de uma guerra. Foi o ambiente responsável por tudo e que desencadeou o flashback, com as lembranças terríveis. É claro que são as personagens que fazem os ambientes, portanto, estas são as antagonistas no sentido último da questão. Mas neste pequeno organismo fechado (o conto) o que o transcende não nos interessa.
Narrador-protagonista, em primeira pessoa. Predomínio da Cena. Discurso indireto na maioria das vezes. Este último parece-nos uma opção das mais significativas. Veja que discurso direto só mereceu o ajudante de artilharia (americano também), sendo o único personagem, que por alguns momentos, divide a cena com o protagonista:
"Chamei-o e disse:
_ Isso é só porque você pode ter falado com qualquer oficial turco.
_ Não falei com oficial nenhum.
_ Não duvido - disse eu - mas é melhor que você vá para o navio e não volte à terra até o fim do dia".
E vejam o tom de credibilidade que ele recebe. O oficial turco, por sua vez, não merece voz. Quanto as mulheres do cais, também o tratamento é diferenciado:
“Elas disseram: ‘Quer dar uma olhada nela, seu moço?’ Portanto, tive de olhar para ela”.
Além do protagonista não se dignar a trocar palavras, elas não mereceram os expressivos travessões. É como se, figurativamente, as aspas as prendessem, isto é, prendessem suas lamentações e dores.
Deixamos uma questão em suspenso no decorrer desta pequena análise, a saber, “a idiossincrasia do americano típico”. É sabido do caráter patriótico e nacionalista deste povo em detrimento de uma certa impermeabilidade aos dissabores dos outros. Este conto, se, por um lado, demonstra isto, inclusive pela opção discursiva, como verificamos; por outro, mostra um ex-soldado atormentado, um homem que sofre e tal sofrimento fica configurado naquela ironia despropositada. Hemingway pretendeu, podemos concluir, um olhar crítico, alfinetando a alma de seus compatriotas, arrancando-lhes as máscaras e expondo-lhes as contradições. Não podia ter sido mais feliz, inclusive, pela conveniente escolha do foco narrativo.
Fevereiro de 1999.
BIBLIOGRAFIA E NOTAS
[1] HEMINGWAY, Ernest. Contos. 3.ª ed. Trad. A . Veiga Fialho. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1976. p.7-9.
[2] Mustafá Kemal, importante figura pública da Turquia.
[3] ARRUDA, José Jobson de A. História moderna e contemporânea. São Paulo: Ática, 1983. p. 271.
[4] LEITE, Lígia Chiappini Moraes. O foco narrativo. 3.ed. São Paulo: Ática, 1987. Série Princípio, 4.
[5] GANCHO Cândida Vilares. Como analisar narrativas. São Paulo: Ática, 1991. Série Princípios, 207.
Dante Gatto
Professor da UNEMAT (Universidade do Estado de Mato Grosso)
conto hiperbreve de Arthur Cravan jr
premio faroni de textos hiperbreves 2002
trad.: zpa
Hemingway Vs. Stevenson
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El club de los asesinos se enfrenta al club de los suicidas. Tan sólo un asesino es lo bastante rápido.
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O clube dos assassinos enfrenta o clube dos suicidas. Só um dos assassinos é rápido o bastante.
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[http://www.notodo.com/concursos/15lineas/obra.php?idescrito=64
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Obrigado, Rafael ! Baader Meinhof Blues!
http://opensadorselvagem.org/
Jorge Fernando dos Santos: Um grande escritor mineiro
http://www.jorgefernandosantos.com.br/blog/
domingo, 19 de outubro de 2008
Uma Macumba no Brasil na Drill Press
Oi, pessoal. Tem um conto meu chamado Uma Macumba no Brasil lá nessa excelente revista literária da Drill Press, vale conferir:
http://www.thedrillpress.com/broca/broca.shtml
Marta e o Manequim
Com político não tem problema, cumprimenta até manequim de loja!
Com 37% das intenções de voto no Datafolha, ela não teve dúvida, dirigiu-se e cumprimentou!
PQP
P Antes de imprimir, pense em sua responsabilidade e compromisso com o Meio Ambiente
------------
Alice: Podes me dizer, por favor, por que caminho devo ir?
Gato: Isto tem muito a ver com o lugar onde queres chegar.
Alice: Qualquer lugar.
Gato: Neste caso qualquer caminho serve.
(Alice no País das Maravilhas - Lewis Caroll)
P Antes de imprimir, pense em sua responsabilidade e compromisso com o Meio Ambiente
sábado, 18 de outubro de 2008
LA GRAN MANSIÓN DE LOS ASOMBROS
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
W, Filme de Oliver Stone Sobre Bush
http://br.youtube.com/watch?v=weELpc3pYMs&feature=related
Os comentários de pessoas no Youtube disseram que é propaganda. O filme estreou hoje (17/10) e o Gerald Thomas disse que gostou de umas coisas, outras não. Eu gosto da música dos Talking Heads. Em todo caso, é difícil ser isento nessa altura da história. Como disse o próprio Bush na entrevista:
--qual será seu lugar na história?
--na história estaremos mortos!
Nasce um Escritor
Ron Jeremy's Ron Jeremy: The Hardest (Working) Man in Showbiz, published by HarperCollins and co-written with Eric Spitznagel, is No. 32 on the new New York Times Hardcover Nonfiction Best-Seller List.
Poema de Pedro du Bois
Estive aqui. O início repleto em medos
e a mulher em olhos sobre o corpo.
Pássaros em sobrevôos. Garras
sobre o peixe. A mulher na praia
sofre areias. Na sujidade do instante
aves e arranjos desajustados. Apaguei
a luz e me desfiz em prantos.
Estive aqui. Fechei a janela e me fiz
na escuridão o fantasma presente
ao ato. O barulho do ônibus
transita paradas. O sobe e desce
desqualificado: na conquista fui do processo
o significado: ser desconsiderado.
Estive aqui em impenetráveis dizeres.
A quente água sufocou o corpo
inexistente. A exatidão arremedou o erro
e se espalhou em ondas: areias
ressecadas sobre os corpos.
(Pedro Du Bois, inédito)
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
O Terrorista Barack Obama
Published: October 11, 2008
IF you think way back to the start of this marathon campaign, back when it seemed preposterous that any black man could be a serious presidential contender, then you remember the biggest fear about Barack Obama: a crazy person might take a shot at him.
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Barry Blitt
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Times Topics: Presidential Election of 2008
Fred R. Conrad/The New York Times
Frank Rich
Readers' Comments
"Many of us who had looked to John McCain to restore some semblance of sensible conservatism to the Republican Party have been dismayed and disappointed... "
Jack, Portland, Ore.
* Read Full Comment »
Some voters told reporters that they didn’t want Obama to run, let alone win, should his very presence unleash the demons who have stalked America from Lincoln to King. After consultation with Congress, Michael Chertoff, the homeland security secretary, gave Obama a Secret Service detail earlier than any presidential candidate in our history — in May 2007, some eight months before the first Democratic primaries.
“I’ve got the best protection in the world, so stop worrying,” Obama reassured his supporters. Eventually the country got conditioned to his appearing in large arenas without incident (though I confess that the first loud burst of fireworks at the end of his convention stadium speech gave me a start). In America, nothing does succeed like success. The fear receded.
Until now. At McCain-Palin rallies, the raucous and insistent cries of “Treason!” and “Terrorist!” and “Kill him!” and “Off with his head!” as well as the uninhibited slinging of racial epithets, are actually something new in a campaign that has seen almost every conceivable twist. They are alarms. Doing nothing is not an option.
All’s fair in politics. John McCain and Sarah Palin have every right to bring up William Ayers, even if his connection to Obama is minor, even if Ayers’s Weather Underground history dates back to Obama’s childhood, even if establishment Republicans and Democrats alike have collaborated with the present-day Ayers in educational reform. But it’s not just the old Joe McCarthyesque guilt-by-association game, however spurious, that’s going on here. Don’t for an instant believe the many mindlessly “even-handed” journalists who keep saying that the McCain campaign’s use of Ayers is the moral or political equivalent of the Obama campaign’s hammering on Charles Keating.
What makes them different, and what has pumped up the Weimar-like rage at McCain-Palin rallies, is the violent escalation in rhetoric, especially (though not exclusively) by Palin. Obama “launched his political career in the living room of a domestic terrorist.” He is “palling around with terrorists” (note the plural noun). Obama is “not a man who sees America the way you and I see America.” Wielding a wildly out-of-context Obama quote, Palin slurs him as an enemy of American troops.
By the time McCain asks the crowd “Who is the real Barack Obama?” it’s no surprise that someone cries out “Terrorist!” The rhetorical conflation of Obama with terrorism is complete. It is stoked further by the repeated invocation of Obama’s middle name by surrogates introducing McCain and Palin at these rallies. This sleight of hand at once synchronizes with the poisonous Obama-is-a-Muslim e-mail blasts and shifts the brand of terrorism from Ayers’s Vietnam-era variety to the radical Islamic threats of today.
That’s a far cry from simply accusing Obama of being a guilty-by-association radical leftist. Obama is being branded as a potential killer and an accessory to past attempts at murder. “Barack Obama’s friend tried to kill my family” was how a McCain press release last week packaged the remembrance of a Weather Underground incident from 1970 — when Obama was 8.
We all know what punishment fits the crime of murder, or even potential murder, if the security of post-9/11 America is at stake. We all know how self-appointed “patriotic” martyrs always justify taking the law into their own hands.
Obama can hardly be held accountable for Ayers’s behavior 40 years ago, but at least McCain and Palin can try to take some responsibility for the behavior of their own supporters in 2008. What’s troubling here is not only the candidates’ loose inflammatory talk but also their refusal to step in promptly and strongly when someone responds to it with bloodthirsty threats in a crowded arena. Joe Biden had it exactly right when he expressed concern last week that “a leading American politician who might be vice president of the United States would not just stop midsentence and turn and condemn that.” To stay silent is to pour gas on the fires.
It wasn’t always thus with McCain. In February he loudly disassociated himself from a speaker who brayed “Barack Hussein Obama” when introducing him at a rally in Ohio. Now McCain either backpedals with tardy, pro forma expressions of respect for his opponent or lets second-tier campaign underlings release boilerplate disavowals after ugly incidents like the chilling Jim Crow-era flashback last week when a Florida sheriff ranted about “Barack Hussein Obama” at a Palin rally while in full uniform.
From the start, there have always been two separate but equal questions about race in this election. Is there still enough racism in America to prevent a black man from being elected president no matter what? And, will Republicans play the race card? The jury is out on the first question until Nov. 4. But we now have the unambiguous answer to the second: Yes.
McCain, who is no racist, turned to this desperate strategy only as Obama started to pull ahead. The tone was set at the Republican convention, with Rudy Giuliani’s mocking dismissal of Obama as an “only in America” affirmative-action baby. We also learned then that the McCain campaign had recruited as a Palin handler none other than Tucker Eskew, the South Carolina consultant who had worked for George W. Bush in the notorious 2000 G.O.P. primary battle where the McCains and their adopted Bangladeshi daughter were slimed by vicious racist rumors.
No less disconcerting was a still-unexplained passage of Palin’s convention speech: Her use of an unattributed quote praising small-town America (as opposed to, say, Chicago and its community organizers) from Westbrook Pegler, the mid-century Hearst columnist famous for his anti-Semitism, racism and violent rhetorical excess. After an assassin tried to kill F.D.R. at a Florida rally and murdered Chicago’s mayor instead in 1933, Pegler wrote that it was “regrettable that Giuseppe Zangara shot the wrong man.” In the ’60s, Pegler had a wish for Bobby Kennedy: “Some white patriot of the Southern tier will spatter his spoonful of brains in public premises before the snow falls.”
This is the writer who found his way into a speech by a potential vice president at a national political convention. It’s astonishing there’s been no demand for a public accounting from the McCain campaign. Imagine if Obama had quoted a Black Panther or Louis Farrakhan — or William Ayers — in Denver.
The operatives who would have Palin quote Pegler have been at it ever since. A key indicator came two weeks after the convention, when the McCain campaign ran its first ad tying Obama to the mortgage giant Fannie Mae. Rather than make its case by using a legitimate link between Fannie and Obama (or other Democratic leaders), the McCain forces chose a former Fannie executive who had no real tie to Obama or his campaign but did have a black face that could dominate the ad’s visuals.
There are no black faces high in the McCain hierarchy to object to these tactics. There hasn’t been a single black Republican governor, senator or House member in six years. This is a campaign where Palin can repeatedly declare that Alaska is “a microcosm of America” without anyone even wondering how that might be so for a state whose tiny black and Hispanic populations are each roughly one-third the national average. There are indeed so few people of color at McCain events that a black senior writer from The Tallahassee Democrat was mistakenly ejected by the Secret Service from a campaign rally in Panama City in August, even though he was standing with other reporters and showed his credentials. His only apparent infraction was to look glaringly out of place.
Could the old racial politics still be determinative? I’ve long been skeptical of the incessant press prognostications (and liberal panic) that this election will be decided by racist white men in the Rust Belt. Now even the dimmest bloviators have figured out that Americans are riveted by the color green, not black — as in money, not energy. Voters are looking for a leader who might help rescue them, not a reckless gambler whose lurching responses to the economic meltdown (a campaign “suspension,” a mortgage-buyout stunt that changes daily) are as unhinged as his wanderings around the debate stage.
To see how fast the tide is moving, just look at North Carolina. On July 4 this year — the day that the godfather of modern G.O.P. racial politics, Jesse Helms, died — The Charlotte Observer reported that strategists of both parties agreed Obama’s chances to win the state fell “between slim and none.” Today, as Charlotte reels from the implosion of Wachovia, the McCain-Obama race is a dead heat in North Carolina and Helms’s Republican successor in the Senate, Elizabeth Dole, is looking like a goner.
But we’re not at Election Day yet, and if voters are to have their final say, both America and Obama have to get there safely. The McCain campaign has crossed the line between tough negative campaigning and inciting vigilantism, and each day the mob howls louder. The onus is on the man who says he puts his country first to call off the dogs, pit bulls and otherwise.
More Articles in Opinion » A version of this article appeared in print on October 12, 2008, on page WK10 of the New York edition.
Cleópatra, de Júlio Bressane, Bresson, Besson
Não vi esse espírito de paródia, não; a idéia é a fruição, mostrar soluções criativas de um grande artista. Há ironia quando Cléopatra desnuda César e fala: "jamais alguay foi tratado pelos deuses com tanta singularidade". Eu vi o filme em DVD e repeti essa cena, a pedido de minha esposa. É alguay mesmo! É uma piada com Miguel Fallabela, que nessa cena tem dois dedos enfiados no ânus por parte de Cléopatra, que antes tira os anéis, claro. Curioso Coelho não comentar isso. A proposta de Bressane é, enfim, fazer filmes para uns poucos que podem fruí-los devidamente, como bem cantou a bola Ivan Lessa. É belo, mas é para paladares sofisticados. A narrativa é lenta, contemplativa, com recorrentes imagens de água límpida, corrente, além do mar (uma obsessão do diretor).
Há algo de teatral em Cleópatra, há um silêncio absoluto que, entrecortado de falas refinadas até o extremo, e que, por não existir na maioria dos filmes, nos espanta e inquieta: na maioria dos filmes, observem, há ruído ou música incidental o tempo todo. Em Bressane não; aqui se vai ouvir belos diálogos, contemplar longamente belas cenas, ouvindo o mar se arrebentando em ondas ao fundo. O início é propositalmente abrupto: sabe-se, de cara, que é um filme experimental refinado e que vai exigir muito do espectador: o recado está dado, Pompeu está morto e sua cabeça decapitada é contemplada longamente. Quase não há trilha sonora. Há um jogo entre falas e silêncio, luz e sombra, preto e branco e cores. A música, quando entra, é para ser ouvida, é personagem da trama: um lindíssimo trecho de ópera comenta a grandeza de Júlio César, um samba comenta o sofrimento da protagonista, enquanto vemos seu rosto moreno, altivo. Um belo filme, mas que exige algum entendimento de história, ao contrário dos filmes épicos norte-americanos.
Cleópatra, de Júlio Bressane
A atriz Alessandra Negrini seria passável no papel de uma normalista do Méier, mas imaginá-la como Cleópatra, como fez Júlio Bressane em seu mais recente filme, é no mínimo uma ousadia, e provavelmente um ato transgressivo. Só não é mais ousado e transgressivo do que colocar Miguel Falabella no papel de Júlio César.
Mas quando, entre os dois ou três senadores humilhados pelo conquistador da Gália, o espectador distingue um velho conhecido dos programas de Chico Anísio e Jô Soares –trata-se do excelente comediante Lúcio Mauro, coberto de toga, rímel e batom— está mais do que dado o sinal de que o filme “Cleópatra” repete o velho slogan da ditadura militar: ame-o ou deixe-o.
Não o amei, nem deixei de vê-lo. Sem dúvida, tudo no filme traz a aparência da paródia mais selvagem. Os palácios de Alexandria têm banheiras claramente inspiradas nos motéis da Barra da Tijuca. Alguns mármores sugerem a decoração do Palácio do Catete, e as palmeiras do Egito não gorjeiam como as de cá. Armam-se tendas e divãs entre as pedras da avenida Niemeyer, e tronos, piras, coxins, sofás e tapetes vieram com certeza de um saldão de móveis –só faltava aos cenógrafos terem levado o Brasilino de presente.
Dito assim, tudo poderia ser uma paródia das produções épicas de Cecil B. de Mille. Mas acontece que, se a aparência é paródica, o filme de Bressane não se apresenta como tal. Não há nenhum momento em que “pisque o olho” para o espectador, instando-o a não levar nada daquilo a sério. Tudo se desenrola com máxima seriedade.
Que concluir desse mistério? Vale a pena prestar atenção nos diálogos, soleníssimos, do filme, onde se misturam citações de Drummond, João Cabral, e não sei quantos poetas parnasianos.
Cleópatra foi acusada de “enfeitiçar” Marco Antônio (sei disso assistindo a série “Roma”), e sua história encena uma espécie de choque cultural. O conquistador romano é seduzido pelos prazeres e delírios de uma corte estranha, animalesca, refinada, irracional.
Não seria um caso de “antropofagia”, ou, se quisermos, de absorção do colonizador pelo colonizado? E, se se trata disso na interpretação que Bressane dá aos fatos da história romana, o seu filme dá um passo a mais nesse processo: toda a pretensão hollywoodiana de criar um Egito e uma Roma “reais” eram, no fundo, absurdos. E o absurdo de Miguel Falabella como César não é menor que o de Richard Burton no mesmo papel. Fazendo saltar aos olhos a brasileirice desses romanos e egípcios, Bressane não nos ridiculariza; ridiculariza, com solenidade ritual e egípcia, a nova Roma de George Bush.
Tudo isso não basta para recomendar o filme aos desavisados. Mas bastou para que eu não saísse uivando da sala nos primeiros minutos de projeção.
Um bom complemento para “Cleópatra” seria “Roma” , de Fellini, que finalmente saiu
Cleópatra: ame-o ou deixe-o
Escrito por Marcelo Coelho às 02h54
ComentáriosCaetano Veloso X Marcos Bagno? Perine!
CAETANAS BOBAGENS
por MARCOS BAGNO
Caetano Veloso é um dos mais brilhantes letristas, compositores e cantores da nossa música popular. Mas ele não se satisfaz com isso. Também quer ser sociólogo, antropólogo, filósofo, historiador, ensaísta, cineasta, teólogo, crítico literário...
Recentemente, decidiu falar de lingüística. Com a petulância dos mal-informados e a arrogância das celebridades, acredita que por ter lido Saussure em meados do século passado está autorizado a dissertar sobre e, principalmente, contra os lingüistas profissionais.
Vá estudar, Caetano: a ciência da linguagem já passou por muitas revoluções epistemológicas desde 1916. Ou não se meta a falar do que não sabe, dizendo que sabe. Não tenho como debater todas as bobagens que ele escreveu e que as caetanetes se apressaram, gotejantes, em elogiar. Me restrinjo à defesa que ele faz dos falsos gramáticos que invadiram a mídia brasileira na última década e meia.
LINGÜISTAS, POPULISTAS, PRECIOSISTAS
por CAETANO VELOSO
Nunca escrevi que lingüistas não amam a língua portuguesa – e que quando falei em demagogia eu me referia a determinados argumentos que vi publicados, não a todos os lingüistas.
Não preciso ser especialista na disciplina para me manifestar. O que escrevi foi: “Sou apaixonado pela língua portuguesa e por gramática (ao contrário de lingüistas e demagogos em geral, acho o sucesso público de figuras como o professor Pasquale um bom sintoma).”
Já li e ouvi de diversos demagogos (alguns eram lingüistas) reações enraivadas à presença pública de Pasquale e outros gramáticos que dão dicas em revistas ou na TV. Diferentemente deles, acho um bom sinal que tal fenômeno tenha surgido e crescido. Não há nenhum charme de falar sobre o que não sei. Sei muito bem de tudo isso.
Quanto à lingüística propriamente dita, li Saussure (aquelas aulas) no início dos anos 70. Li somente porque os poetas concretos falavam dele, Lévi-Strauss (cujo Tristes Trópicos me apaixonou em 1968) falava dele, todos falavam de Jacobson, que falava dele. Fiquei maravilhado com a afirmação de que a língua é viva e mutante na práxis dos falantes: a língua é falada, a escrita seria apenas uma notação convencionada a posteriori, como as pautas musicais.
Toda a fúria de MARCOS BAGNO e a reprodução completa do texto de CAETANO VELOSO estão na edição de Outubro da Caros Amigos. Já nas bancas!
O Aborto dos Outros
http://www.oabortodosoutros.com.br/index_pt.html
PASTAS, BOLSAS E BLUSAS
Laerte Braga
Lula perdeu a noção mínima da realidade. Aposta em qualquer coisa que seja imaginar que o leme do barco está em suas mãos. Há dias declarou que o País estava blindado contra a crise e não havia motivos para preocupação com o crédito. Hoje recomenda que se gaste apenas o que o salário permite. De uma ponta a outra em menos de uma semana.
Há um detalhe fundamental nessa conversa fiada de um presidente desgovernado. Quando afirma que se deve gastar apenas o que o salário permite está se referindo ao trabalhador, ao assalariado, ou seja, àquele que vai pagar a conta das especulações com dólar, por exemplo, do grupo Votorantim do “paladino do progresso” Ermírio de Moraes. Dois bilhões e duzentos milhões de perdas admitidas publicamente pelo grupo.
Ou a grana que a ARACRUZ buscou junto a agências brasileiras e no exterior para depredar, assassinar, roubar e “implantar progresso”, transformando o estado do Espírito Santo em refém da maior quadrilha do País. Parte da turma FIESP/DASLU. Entrou no item “observação negativa” segundo o Fitch Rating, um desses negócios que adoradores de bezerro de ouro adoram para explicar a cretinice do capitalismo.
Quem tiver curiosidade e for ouvir as declarações de d. Miriam Leitão nas rádios e tevês onde comenta economia, ou nos artigos que escreve vai ficar espantado. A vetusta senhora em questão defende hoje com a mesma veemência bem remunerada de sempre o que criticava antes.
Os patrões estão correndo risco, logo o pró-labore corre perigo.
Uma das conseqüências da crise é que nos vários tentáculos de polvo gigante o capitalismo vai emergir de tal forma concentrado em tão poucos que não vai ter corda para os enforcados. Vai ser de inanição mesmo. Modesty Blaise pedia champanhe no meio do deserto com charme e lindas pernas a mostra.
Ninguém quis comprar as carteiras de longo prazo dos bancos pequenos, que tubarão grande não é bobo. Aí o governo vai meter a mão no rico dinheirinho do contribuinte, no desgoverno deslumbrado de Lula que ora manda gastar, ora manda segurar, para amortizar o prejuízo de pobres coitados banqueiros, à míngua de champanhe.
Putz! Se ainda fosse Mônica Vitti. Mas pagar conta de Ermírio de Moraes?
Você pode assentar-se à frente do seu algoz e imaginar que o mundo é assim, que a realidade é essa. Não é não. Risos e soberba são mera hipocrisia diante de pastas pornográficas. Bolsas imensas e bem cuidadas ou blusas de cores variadas, rosa, preta, não significam vacina contra medo disfarçado em brincadeira de mundo real.
Os olhares que as pastas despejam são chispas de vulgaridade foto montada. Não sei como se consegue engolir a comida, dá ânsia de vômito.
As pastas despejam sobre as bolsas e blusas sorridentes o olhar do porco lambendo a pérola.
Há quem deixe e há quem faça.
O dinheiro da ARACRUZ é do BNDES. O dinheiro do BNDES vem de um negócio chamado FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).
Quem aos porcos se mistura...
Os prejuízos debitados na conta do trabalhador, do assalariado chegam a algo em torno de 40 bilhões de reais, isso neste primeiro momento. São maiores se atentarmos para o fato que permeiam as couraças iludidas dos que deixam e sorriem.
O futuro é a solidão da pérola despejada num canto onde as pastas costumam guardas as bolsas e blusas usadas e imprestáveis.
Neste momento o capitalismo lança como que olhares licenciosos por sobre a brincadeira de bolsa sobe, bolsa cai. Blusas desfiam. Interiores, como diz Woody Allen são corroídos. Pendura na cadeira.
O negócio é tão complicado que até a forma do planeta, redondo, soa como desastre. O Oriente dorme insone da desesperada tentativa de sair do pânico, ou esquecer o pânico enquanto o Ocidente acorda estremunhado pelo pânico que dormita no Oriente.
E aí vai.
E você pensa que está livre e que as coisas acontecem. É mero/a peão nessa engrenagem, não importa o tamanho. Pode ser de um hotel transformado em faustosa sede superfaturada. Pode ser de uma bola de sinuca pronta a ser encaçapada.
Em todo caso tem sexta, sábado e domingo para recuperar as energias e rir o riso falso do mundo real.
Sacuda três vezes antes de pendurar.
No meio da embrulhada toda Marcos Valério está na cadeia e pelo visto até a cerveja entra na dança.
Só Lula e um monte de gente não entende desse negócio de bolsas, pastas e blusas.
Aceite o chicote, mesmo que disfarçado de tudo acontece.
E não se esqueça do Faustão e do Fantástico.
Sorria e dê bom dia.
Arremedos de considerações sobre a Eleição em BH
Em entrevista concedida na 2ª feira, Márcio Lacerda diz que "Leonardo Quintão confundiu e enganou o eleitorado".
A conclusão óbvia que nos vem logo à mente seria: “se algum dos dois está enganando alguém, como saber se não é o Márcio Lacerda quem está mentindo?”
Mas, tentando entender o que diz esse homem, vamos fingir que acreditamos no que ele diz. Nesse caso, será que Márcio prepotentemente está chamando o eleitorado de incompetente, pois pensa que o eleitor é burro? Porque só ele é quem enxerga a mentira que centenas de milhares não enxergaram?
500 mil pessoas escolheram conscientemente o seu adversário, sem nenhuma forma de pressão, e agora ele inventa a desculpa de que os eleitores foram enganados?
Aliás, podíamos até mesmo falar em pressão, dada a diferença absurda de tempo na TV a favor de Lacerda.
Em que então gastou ele tanto tempo a mais que tinha de propaganda? Se podia perfeitamente se defender das acusações, porque não o fez? Será que ele não respeita então o resultado do voto popular?
Aprofundemos-nos brevemente nesse tema.. Se os eleitores foram realmente enganados pelo Leonardo Quintão como diz Lacerda, onde estão as provas disso? Márcio Lacerda acusa agora o adversário de mentir, quando teve todo o tempo pra se defender das acusações, mas não tem provas do que diz.
Provas...
No que diz respeito às acusações CONTRA LACERDA, aí a história é bem outra...
No primeiro turno, vieram à tona as PROVAS do envolvimento de Márcio Lacerda com escândalos do passado, entre eles o do Mensalão.
Desesperado, chegou inclusive a ofender a candidata Jô Morais quando num debate na TV esta o perguntou sobre as dívidas e as multas de centenas de milhares de reais de sua empresa com a Prefeitura de Belo Horizonte, que se encontram ainda pendentes.
E não teve como negar as mais de 1.500 ações trabalhistas que terminaram com o pagamento de várias dezenas de milhares de reais por parte de Lacerda aos seus ex-funcionários. Pra terminar, a poucos dias antes da eleição, uma ação contra o abuso de
poder político foi finalmente aceita contra o laranja e seus patrocinadores, Aécio e Pimentel. (veja a ação do MP contra Lacerda na íntegra em http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=15930 )
E calou. Depois disso não respondeu a mais nenhuma das acusações que lhe foram imputadas.
E agora...
Subitamente no 2º turno, Lacerda vem com o discurso ensaiado de que agora “faz questão de Responder a Todas as Acusações”...
Ele afirma que houve “erro estratégico” em sua campanha eleitoral. Que ele devia ter respondido às acusações falsas.
Nada disso! O fato é que ele não tem como se defender das acusações porque elas são VERDADEIRAS, e por isso se calou.
Ele foi magistralmente estratégico ao silenciar no 1º turno a respeito dessas acusações, porque seu grande erro é indefensável: o de ter se envolvido em corrupção ativa, participando do esquema do Mensalão, como comprova o processo da CPI dos Correios (http://www.cpmidoscorreios.org.br/relatorios/relatorio_parcial_movfin.htm).
Sejam as acusações dos adversários importantes ou não para julgar sua possível capacidade para atuar como Prefeito, e sua honestidade, como alegam seus novos amigos (para mim está claro que essas acusações são mais do que importantes para julgá-lo), todas as acusações lançadas são CRISTALINAMENTE VERDADEIRAS.
A começar por seu envolvimento no Mensalão, comprovado e confessado por ele em 2005, se deu quando recebeu quase 500 mil reais de Marcos Valério no ano de 2002. Na época da CPI dos Correios, depois de um murmurinho de que o dinheiro era pra pagar gastos da campanha de Ciro Gomes à Presidência, acabou confessando na CPI que este dinheiro ele usou pra saldar dívidas da campanha a Presidente de Lula em 2002. Mas o fato é que ele nunca participou da campanha de Lula.
No dia 02 de agosto do ano de 2005, quando seu nome veio à tona e ele foi convocado a depor na CPI dos Correios, Lacerda foi exonerado do cargo de secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, o que lhe rendeu citações em matérias na VEJA (http://veja.abril.com.br/100805/p_056.html)
(http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/corrupcao_cronologia/index_cronologia.html#020805 – dia 02 de agosto 2005: Secretário de Ciro cai)
e uma matéria na Folha de São Paulo, em 03/08/2005, que anexo a este texto.
Uma íntegra do Relatório da CPI do Senado pode ser obtida em:
http://www.cpmidoscorreios.org.br/relatorios/relatorio_parcial_movfin.htm .
Neste relatório pode-se ver o recebimento de uma transação de R$300.000,00 por Márcio Lacerda, sendo que outro depósito de 157 mil foi identificado com algumas semanas de diferença, o que consta da matéria de veja. O que ele realmente fez com o dinheiro?
Perguntamos também:
E agora, o que vai dizer Lacerda a esse respeito no 2º turno? Pergunta de difícil resposta.
Entre apreensivos e altamente decepcionados (um amigo meu, de longa data, assessor do Vírgilio Guimarães, não conseguia esconder a depressão enorme no domingo à noite, depois de apurados os resultados. Disse que o clima no núcleo estratégico da campanha era “de enterro”), agora afirmam que partem para uma “contra-ofensiva” do que não foi e nem devia ter sido. Após a investida de milhões de reais e toda a força que a comunicação de massas pôde permitir aos 02 Governos (municipal e estadual) atuando juntos, o que, isso sim, foi um (pegando um termo do futebol) comportamento altamente ofensivo, eles agora agem no desespero, pois a estratégia principal (que era: vencer no primeiro turno, com uma campanha milionária e de surpresa) deu com os burros n’água.
Esqueceram de perguntar antes pro eleitorado o que ele pensaria respeito de votar em um “poste” só porque aparece do lado do Governador e do Prefeito na foto do santinho.
E esqueceram que a história só se repete enquanto farsa, pois tentam emplacar aqui um sistema político que é um arremedo da República Velha:
Uma junta - o governador, o prefeito de BH e alguns escolhidos - se reúne e quer escolher as pessoas que vão ser eleitas... Tal como o PRM fazia no início do século passado.
Será que Pimentel e Aécio tem a pretensão de saber o que é melhor para o eleitorado mais do que o próprio eleitor?
O que derrubou a campanha de Márcio Lacerda, foi a falta de transparência dessa parceria que não foi solicitada pelo povo.
A era dos candidatos biônicos já acabou.
Queremos nós mesmos escolher os nossos candidatos.
Não vamos ser instrumentalizados para seus interesses particulares de chegar ao poder.
Não somos "Massa de manobra".
A esse respeito, um fato chamou minha atenção: a percepção que o eleitorado Belo Horizontino tem das diferenças entre os dois candidatos.
Pelo que tenho ouvido, acho difícil que quem não votou em Lacerda no primeiro turno venha a fazê-lo no 2º.. A sua rejeição cresce a passos largos, enquanto o Leonardo Quintão praticamente não tem rejeição, e o único ponto de crítica contra este, para alguns, seria o apoio do Ministro Hélio Costa. Pergunto aos navegantes: quem já disputou uma eleição e iria simplesmente dizer não a um apoio tão importante como o de um Ministro? Outra Pergunta: que provas de corrupção passiva ou ativa pairam contra o Ministro Hélio Costa? Zero. Nesse aspecto, quanto ao outro candidato... já não é preciso dizer mais nada.
E por fim lembro a todos que, diferente de Lacerda, Leonardo Quintão não foi “criado” pelo ministro. Ao contrário, é uma jovem liderança, deputado, e só depois do início da campanha é que veio a ser apoiado por Hélio Costa e outros políticos.
Uma outra diferença clara: Enquanto a campanha “Oficial” foi uma verdadeira Ópera Marketeira, trazendo um épico pessoal de um homem que não existe: o “bondoso” Lacerda, o puro, inocente, virgem Lacerda... o jovem e ousado Quintão optou por um tom com menos “gosto de McDonald”, menos plástico, menos maquiagem, menos artificial, o que aliado à forma como a sua candidatura nasceu dentro do seu partido (de forma natural, pois é uma liderança real em seu partido, deputado há 2 mandatos - enquanto que o Lacerda nem é natural e nem tem partido: filiou-se no PSB em 5 de outubro do ano passado a mando do Governador) deu muito mais TRANSPARÊNCIA às suas intenções e à sua imagem como pleiteante ao cargo de prefeito de nossa cidade.
E se parece deplorável a construção dessa candidatura de Lacerda – criada bionicamente pelo Governador e pelo Prefeito, deixo claro que não coaduno com críticas de caráter pessoal.
Em tal aspecto, quero evitar aqui compartilhar com a crítica que se tornou natural à pessoa do Governador quanto às acusações de passar todos os finais de semana em Angra dos Reis e outras coisas desse tipo (na juventude diziam que ele era gay, hoje afirmam que é viciado em cocaína, etc, todas essas, acusações que não tenho como provar), afinal de contas, mesmo sendo impossível separar por completo a pessoa do Sr. Aécio Neves da pessoa do Governador de Estado, na verdade não me incomodaria em absoluto que ele ficasse 6 dias por semana no Rio mas que conduzisse politicamente um Governo Democrático e Transparente.
Suas preferências sexuais ou vícios pra mim não têm qualquer relevância.
Mas o fato é que, ficando semanalmente 1 ou 2, ou 3, ou até 4 dias de folga e em outro estado, ele teve a prepotência de achar que iria “eleger um Poste no primeiro turno”.
Esqueceu que pra isso “tem que trabalhar, mostrar seus feitos e pedir votos”, como ensina o legado de seu falecido avô.
Não fazê-lo, e esperar que Deus lhe concedesse essa vitória assim tão fácil, além de mostrar prepotência, e arrogância, também mostra uma avaliação superestimada de sua influência na mente do eleitor de Belo Horizonte, cidade em que perdeu feio pra prefeito em 1992.
Ele subestimou a inteligência do povo de Belo Horizonte. Avaliou por baixo e errou por cima.
Aliás, uma análise ligeira e superficial dos resultados desses pleitos últimos pelo Estado afora, demonstra que houve um erro generalizado em termos de capacidade de avaliação por parte do núcleo estratégico do Governador (e queremos aqui nesse caso específico do interior do estado livrar a cara do núcleo Paulo Moura/MiguelCorrêa/Aloísio Marques/Roberto Carvalho/Pulica/Virgílio Guimarães/Fernando Pimentel, posto que um núcleo “de BH”) pois o governador foi derrotado em quase todos os municípios importantes (contagem, uberlândia, juiz de fora, betim, valadares, ipatinga, uberaba, montes claros, paracatu, teófilo otoni, varginha, ubá, bom despacho, formiga, etc.). Ao contrário do que o jornal Estado de Minas tem divulgado, não foi só em Belo Horizonte que a suposta “navegação em mar aberto” do Governador foi posta em cheque. Os sintomas são bem mais graves. O PSDB de Aécio encolheu de 170 para 159 prefeituras em Minas
Aliás, me pergunto que tipo de pensamento deve ter tomado conta do Governador ao tomar uma atitude tão temerária essa, a de escolher, ENTRE TANTOS DESCONHECIDOS, justamente um com passado tão comprovadamente manchado e tão difícil de se defender..., algo que tenho certeza que o avô dele, nosso Presidente Tancredo Neves jamais teria feito, tão astuto e inteligente como era, mestre da antiga arte política, numa época em que não havia televisão pra criar imagens fantasiosas e falsas impressões sobre os candidatos na mente do eleitor.
Concluo dizendo que o momento é MUITO especial.
É hora de todos nós, cada um à sua maneira, dizermos um sonoro NÃO a essa farsa em Belo Horizonte.
Pela sensibilidade pessoal, pelo merecimento político, e pela situação, vamos fazer valer a nossa vontade e manter a ascensão do candidato ousado, e contribuir decididamente pra manter a tendência de queda do candidato do esquema, da máfia, das soluções prontas que vem de cima.
Meus parabéns ao eleitor Belo Horizontino, que deu um show de maturidade neste primeiro turno.
Agora é não nos deixar confundir com o Marketing vazio feito em cima de supostas qualidades pessoais de Lacerda, que o Relatório da CPI dos Correios prova que não existem, e fazer uma opção racional e inteligente em cima das duas alternativas colocadas.
Vamos fazer valer a vitória da inteligência popular contra a arrogância tecnocrata que julgou ser possível eleger um desconhecido e de passado obscuro através de simples propaganda na televisão, e eleger para a Prefeitura de Belo Horizonte a pessoa certa: pela experiência em cargos públicos (que o outro não tem), pela liderança real dentro de seu partido (que o outro não tem) e pela integridade pessoal (que o outro não tem).
Votei em Jô Morais no 1º Turno. Leonardo Quintão, esse é o meu voto consciente.
Peço humildemente a quem for votar e ainda tenha alguma dúvida, que reflita honestamente nessas minhas simples palavras.
Assino: ILLYUSHIN ZAAK SARAIVA, 33, filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 1995, ex-membro do Diretório Municipal do Partido (1997-1999), ex-Secretário Estadual de Juventude do Partido (1998-2000), diretor do Diretório Acadêmico do ICEx-UFMG por dois mandatos(1994-1996), diretor do Diretório Acadêmico da Escola de Engenharia-UFMG por dois mandatos(1996-1998), Diretor do DCE-UFMG(1995-1996), vice-presidente da União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais(1999-2001, vice-presidente Conselho Estadual da Juventude de Minas Gerais (1999-2001).
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