Um observatório da imprensa para a cidade de Bom Despacho e os arquivos do blog Penetrália
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Blognovela Penetrália: Os canibais estão na sala de jantar
Blognovela Penetrália, número...the torture never stops!
Episódio de réveillon: Os canibais estão na sala de jantar
(Sala de jantar. Os convidados estão a postos: Calígula está na cabeceira, de bata e coroa de louros; Vampiro Brasileiro é o garçon, enquanto Coffin Joe, Cintia Lennon Claude Diet Fábio Pipipi, Joseph Waltcheco, Divo da Eira são os convidados).
Coffin Joe: não são os mesmos velhos procedimentos, não. Hoje vamos comer algo unglauber.
Calígula: comer, fazer uma grande orgia e morrer?
Vampiro Brasileiro: o Serra, Vampiro Brasileiro, reich, putsch (faz sons ameaçando uma cuspida com desprezo).
Coffin Joe: vai passar uma minissérie sobre Dalva de Oliveira e Herivelto Martins de Maria Adelaide Amaral, sabe Calígula? Eu comprei a trilha sonora daquela da Maysa. Mautner e Maysa transaram? Eu vi uma minissérie da Maria Adelaide onde o personagem ia à Semana de Arte Moderna, era sobre um sopro no coração sabe, mas não tinha nada a ver com Clarice Lispector não, sabe, dizem que a mãe dela foi estuprada num pogrom na Ucrânia. Mas, falando da minissérie. O personagem via quadros da Semana e dizia que tinha visto, em Paris, exposições bem mais avançadas. Isso em 1922. Achei que foi como se Gerald Thomas tive saído num túnel do tempo e falasse pela boca daquele personagem. Aliás, hoje vamos comer torresmo, feijoada, tutu com torresmo, comida mineirinha, tá...
Calígula: Cocô não, já te disse Joe, porco come cocô.
Coffin Joe: Pois é. Pois é. Mas vamos agora para algo totalmente diferente, né? Você quer comer as receitas do Joseph Waltcheco?
Joseph Waltcheco: eu tive de engolir meus personagens, quero comer o crítico de teatro, o doido varrido, o Pato Donald no tucupi, sabe? Rabada, rabada com Lula e creme de limão, misturas instigantes, nouvelle cuisine.
Divo da Eira: eu li O Sexo do Crepúsculo do Jorge Mautner e ao ler aqueles dois soldados fazendo sexo no crepúsculo, eu me lembrei do meu pai na Wehrmacht e no partido comunista alemão e ao mesmo tempo eu quis assar um polvo imbecil; é como a frase de Hitler: ou é o escudo dourado dos germanos ou a escuridão do bolchevismo asiático e Mautner mostrou nesse livro que assim foi na Europa Oriental. Mautner transou com Maysa, foi mais um na multidão de amores.
Vampiro Brasileiro: assar polvo não, imbecil! Qualquer lugar para você é melhor do que o Brasil. Você tá se a-Sean-do? Isso é confusão mental! Vou pedir indenização de um milhão de dólares por propaganda desse software sempre livre nazi-stalinux aqui. Nazi-stali-heitorista-reinaldista-dilmista.
Fábio Pipipi: PI..pi...pi...agora Benazir Buto e Odete Roitman, as duas bichas, viraram Vampiro Brasileiro e Calígula! Voltem para o reduto, me enganem que eu gosto. Você viram o filme Bruno, do Sacha Baron Cohen? Aquilo é humor judeu? Vocês vieram da Áustria para serem popstars mais famosas que Hitler?
Coffin Joe: que tal uma Lula ao creme marinado? Marinado com maionese de marienne.
Cintia Lennon: isso de Lula para lá, Lula para cá, tou enjoada de Lula. Prefiro Lennon ou até mesmo Lênin.
Claude Diet: Eca! Eca com Creta! Comam pouco, mas não comam porco!
Coffin Joe: tem uma história que queria contar. Eu tinha um colega que fazia, diziam, loucuras bissexuais e ouvia Philip Glass. Ele montou Nietzsche, o Louco Poeta da Punheta. Começavam com Nietzsche se masturbando. Depois, teve um dia que um espetáculo meio maluco no Centro Cultural da UFMG e o diretor se parecia com Gerald Thomas, mas não era e...
Calígula: você já me cocô...digo, já me contou essa história. Mas nós viemos aqui para jantar nossos mortos. Somos os canibais na sala de jantar. Essa imagem de Gerald Thomas que você repete é horrível, essa imagem está morta, entendeu? É pura imagem, entendeu? UNGLAUBER?
Coffin Joe: Glauber. Ghost Writer. Suicide Notes. Beckett speaks. Einmalisch!
(Pano rápido. Trevas).
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Zabriskie Point: cena final
Cena comentadíssima e estudada, na UFMG, pelo professor César Guimarães, por exemplo. Muito poética! Adoro!
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El Topo, Jodorowsky
Encontrei essa dica de filme lendo Verdes Vales do Fim do Mundo, do Antônio Bivar, diretor de teatro que passou um ano em Londres entre 1970 e 71 e escreveu esse livrinho encantador, depois de ter convivido com Caetano Veloso, Jorge Mautner, Julinho Bressane, Sganzerla e visto shows de Grateful Dead e outros conjuntos daquele tempo. Ele não gostou desse filme. Eu adorei, é, digamos, um faroeste metafísico, farsesco e psicodélico, por essas imagens aí:
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Verdes Vales do Fim do Mundo
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Fernando Arrabal Bêbado dá Vexame
Já tinha ouvido falar nesse, mas o vídeo é engraçado mesmo...
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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Sou um Homem Morto
Muito bem: como é um homem morto?
Quem é que vê e prefere ver um homem morto?
Sou um homem morto.
Um poeta aniquilado.
Um poeta esfumado (bela conquista de Da Vinci - sfumato)
Muito bem: tenho poucas horas. Me procuram.
Sou uma espiral galáctica que se encerra e busca o núcleo, que se desfaz sobre si mesma, que se contém e logo explode.
Sou um homem morto e todos esperam a notícia. Apenas feito menor pela pobreza dos detalhes, a pobreza do obituário...me arde a pouca beleza do meu epitáfio.
Não mandarei cartas e revisarão de maneira póstuma o que agora escrevo.
Pouca profundidade deu o tempo ao fóssil e assim, os ossos foram pasto de museus, estudo para os sábios, folclore para os humanóides.
Levanto cedo e simulo ser cidadão. Mostro a todos a cicatriz dos cravos. Santo Tomás toma de novo sua lança, escava e apenas crê que a morte é o final de uma ilusão.
Sou um homem morto.
E ninguém acredita.
Fabrício Estrada (fabricioestrada.blogspot.com)
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Um Comentário do Cláudio: 3 cenas
mais uma fugida aqui pela lentox , e o domingo acabando , acabando meu tempo .
comi banana frita com chicabom derretido agora . prozac perde ...
bem só para me atualizar sobre o " 3-way on becket " :
cena 1 .
gostei de ler o texto do gerald e assistir ao video de beckett que o lucio publicou no seu site . uma opção de situação .
além da viagem artística , o video é revigorante . faz bem à saude . quer dizer , quem pode negar que jeremy irons é um verdadeiro complexo vitamínico para todos os sentidos ?
cena 2 .
do targino : " ... gorilas ... Existe um filme muito bom que trata desse assunto."
esperei alguém se manifestar sobre o filme " nas montanhas dos gorilas " , estrelado pela gigante sigorney weaver no papel da antropóloga que vai salvar os bichos das garras dos humanos malvados , e se dá mal .
" A notável aventura da primatologista Dian Fossey dentro habitat dos gorilas das montanhas de Ruanda. Em uma perfomance pela qual ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz dramática, Sigourney Weaver vive a carismática e imponente cientista, dona de uma determinação desmedida - que ao longo de sua vida foi sua força, mas que talvez tenha sido um dos elementos que culminaram em seu trágico assassinato . "
pois é : a cena mais comovente do filme é quando Dian recebe uma surpresa . ela não sabe ainda , mas foi enviado pelos traficantes de peles e etceteras de gorilas como ameaça .
é uma caixa de presente com as mãos decepadas da mamãe-gorila do bando que ela estudava . não lembro se estavam embrulhadas na " seda azul do papel que envolve a maçã " do caetano veloso .
mas da cena e da música , o GV lembrou , e eu também .
cena 3 .
" ashes to ashes , dust to dust ... "
comi banana frita com chicabom derretido agora . prozac perde ...
bem só para me atualizar sobre o " 3-way on becket " :
cena 1 .
gostei de ler o texto do gerald e assistir ao video de beckett que o lucio publicou no seu site . uma opção de situação .
além da viagem artística , o video é revigorante . faz bem à saude . quer dizer , quem pode negar que jeremy irons é um verdadeiro complexo vitamínico para todos os sentidos ?
cena 2 .
do targino : " ... gorilas ... Existe um filme muito bom que trata desse assunto."
esperei alguém se manifestar sobre o filme " nas montanhas dos gorilas " , estrelado pela gigante sigorney weaver no papel da antropóloga que vai salvar os bichos das garras dos humanos malvados , e se dá mal .
" A notável aventura da primatologista Dian Fossey dentro habitat dos gorilas das montanhas de Ruanda. Em uma perfomance pela qual ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz dramática, Sigourney Weaver vive a carismática e imponente cientista, dona de uma determinação desmedida - que ao longo de sua vida foi sua força, mas que talvez tenha sido um dos elementos que culminaram em seu trágico assassinato . "
pois é : a cena mais comovente do filme é quando Dian recebe uma surpresa . ela não sabe ainda , mas foi enviado pelos traficantes de peles e etceteras de gorilas como ameaça .
é uma caixa de presente com as mãos decepadas da mamãe-gorila do bando que ela estudava . não lembro se estavam embrulhadas na " seda azul do papel que envolve a maçã " do caetano veloso .
mas da cena e da música , o GV lembrou , e eu também .
cena 3 .
" ashes to ashes , dust to dust ... "
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domingo, 27 de dezembro de 2009
A "Mongalisa"
Mana Lisa
Por um anônimo
12" x 16"
Doado A. Schmidt, Vancouver, Canada
Uma interpretação transgêneros do clássico de Da Vinci.
O nariz de "Mongalisa" nos impacta, nebuloso, fornecendo um diálogo entre o primeiro plano e o evanescente fundo da tela.
Posteriormente, decifrando o título do trabalho, talvez possamos contribuir com um anagrama para enriquecer o corpo do trabalho do Leonardo:
MAN ALIAS,
I AM NASAL,
A SAIL MAN,
AS ANIMAL,
AM A SNAIL,
MAIL NASA...
Fonte: Museum of Bad Arts, Boston
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Uma Carta de Ezyr (II)
Meu caro AMIGO INTERLOCUTOR E COLEGA DE "CRÍTICA CONSTRUTIVA!" E "CULTUAÇÃO APAIXONADA" pela OBRA E PRESENÇA-IMAGEM de nosso MESTRE TEATRAL COSMOPOLITA Sr. GERALD THOMAS SIEVERS!!!
O SR. Gerald THOMAS , na PEÇA , faz UMA METÁFORA do CHOCOLATE com O "GELO" dos icebergs DOS PÓLOS de nosso PLANETA TERRA MAMÃE que ESTÃOOOOO DERRRETENDO...e daqui 07 ANOOOOO...07 = SETE anos segundo RELATÓRICO GLOBAL, tudo vai FICAR + CRÍTICO se OS PÁISES EMISSORES DE GÁS CARBÔNICO E GASES NOCIVOS não "entraram NUM ACORDO MÚTUO DE CONSCIÊNCIA DA PRESERVAÇÃO DE TUDO DA VIDA nesse nosso PLANETA TERRA-MAMAÃE, entende??????
p.s OKEY, entendi sUA "HIPERBOLICE---kikikikikiahaahaaaaahhh".BYEEEE AND SAUDAÇÕES my DEAR PHILOSOPHER AND TRANSLATOR AND WRITER LUCIO JR.!!! Ezir MIRIAM de PAIVA
P.S 2. VOU ESCREVER SOBRE A PEÇA LOGO LOGO. TE ENVIO, OKEY???? KINDEST GREEETINGS...MERRY X-MASSSS AND HAPPY NEW YEAR 2010, YEAH!!!!
Minha resposta: Ezyr, seu estilo original apontou CAMINHOS para mim, para essa nova forma de expressão que são os BLOGS! VC é intersemiótica E ultrasensível, admiro-te como Bridget, Astronauta de Júpiter e tudo! Abs e feliz ano novo!
Eu gostaria também de pedir: fale sobre o Ohio Impromptu. Como disse, estou ainda aprendendo sobre Beckett!
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sábado, 26 de dezembro de 2009
Vampirotheutis Infernalis
O meu ex-professor Rodrigo Duarte está lendo um livro de Vilém Flusser intitulado Vampirotheutis Infernalis, texto inspirado nessa Lula de olhos azuis aí da foto, que na natureza atinge grandes tamanhos.
Rodrigo comenta que Vilém parte da descrição taxonômica dessa espécie que habita as profundezas abissais para atribuir-lhe características semelhantes àquilo que, em sua filosofia da comunicação, aparece com o nome de "tecnoimagem". A principal diferença seria que espécie humana demorou milênios para produzir culturalmente o que Vampirotheutis tem impresso em sua própria natureza.
(Baseado na nota "o que eu estou lendo", da revista Cult número 142).
Salmo a la muerte ojos azules - Alberto Destephen, Honduras
La muerte está en su regazo,
ojos claros, cabello blanco,en cadena de televisión
entonando el nombre de dios.
Vitupera el sacrificio,los corderos están en la listadel general.
Magia negra, anticristo.
La Democracia llora lágrimas negras,
sangra en un puñal
en nombre de la rosa.
Mientras, la muerte esculpe su diadema.
Cadena nacional, loros en alambres,máquinas en las calles color verde.
Cadena nacional,
se condecora al hombre ojos azules,
cabello blanco.
Dios , Oh Dios , Oh Jehová,
Yave.
Dime tu nombre verdadero. El circo esta montado;
llora Pilatos y se lava las manos con agua tibia y jabón,
y pin pon es un muñeco de trapo y de cartón.
La muerte ojos azules
se arrodilla
al perdón del carde mal, al aplauso del rebaño;
todos los intrusos de vidrio cantan al unisonó:“Dios es ojos azules, cabello blanco”.
Es cadena nacional
Las escenas están listas, el director suena su trompeta,
el general conduce los destinos.
Indefensión, la muerte de la justicia, de la paz y la libertad.
Cadena nacional
Televisores a diez por uno…Se ofrece un canal,
todas las películas de terror,con el mismo director,
ojos azules, cabello blanco y actores consumados,
dobles y asesinos.
Y de las cinco en adelante no se moverá de su asiento,
hombres verdes vigilarán las calles y escenarios.
La Muerte en su escritorio
enumera a sus analistas,
presupuesta la planilla.
Pero es el sur que tiene mar,
Progresa la conciencia en tierra inmensa;
David vence a Goliat. Dios ven a nosotros,
Libra de todo mal a las almas puras;
líbranos de todos los que nos quieren silenciar
por amar la verdad, la justicia y la democracia.
Auxílianos;
es el juicio del fin, el círculo de los nueve y la bestia de las 128 cabezas.
Venga tu Reino Señor.
Danos a todos el pan de cada día,
aquello por lo que luchamos,
por los que resistimos;
porque ahora es la hora
Recemos , es la vigilia por Patria ,
pequeña niña….
por los siglos de los siglos. Amen.
Fonte: fabricioestrada.blogspot.com
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Vampirotheutis Infernalis
Ohio/Denmark Improptu
DENMARK IMPROMPTU
Uma peça imaginária
CENA 1
Por Gerald Thomas
(A e B, dois filósofos "verdes", irlandeses, sentados numa conferência mundial, dispostos a salvar o mundo. Líderes mundiais discursam inutilidades. O diálogo abaixo acontece enquanto Tony Blair justifica, sorrindo, sua "invasão" do Iraque, com ou sem "weapons of mass destruction".
A- A imaginação não dava quando dava, quilos de queijo, quilos de porcos, quilos de manteiga, e eu caminhava e rastejava uns bons bocejos quando....
(B bate mão na mesa, interrompe)
B- Quando uma face na multidão surgiu e deu-lhe um Berluscão na boca e no nariz.
A- Sangrou?
B- Pouco.
A- Hmm.
A- Não o quanto deveria.
B- Hmmm.
A- Deveria ter escorrido rios. Já que Lindsay Kemp, na Toscana dos céus divinos, via atentamente, sentado, meditando sobre a palavra ausente... a mente ausente e o gesto presente... Berluscar! O ato de Berluscar. Mão direita no nariz e na boca PUM, e PIM e PAM, e a "g-o-t-a" de s-a-n-g-u-e!
B- Nada sabem sobre o balé das gerações ou sobre o triste fim das interpretações do fim ou o FIM.
A- Nada sabem de mais nada. Agora só sabem de tudo.
B- O chocolate derretendo aqui em Copenhague dois centímetros a cada década.
A- Para ser preciso, dois centímetros e três milímetros de chocolate derretendo a cada década em Copenhague, digo, as barras do mundo e a supremacia dos países e a imaginação morta imaginando-se capaz de incubar icebergs, e cubos imaginando-se ao quadrado.
B- Em Fermanagh, até ainda...
A- Chocolate?
B- Sim, mas rouba-se da Páscoa até o Natal, quando nasci/ morri e me imaginei na faixa de pedestre em Hampstead, onde o Alan foi morto por um ciclista. Cinza esse dia.
A- Foxrock nada tem e nada foi, a não ser a mão de meu pai, mesmo que o...
B- ...O "socoBerlusco" faça com que Pozzo segure a corda de todos os escravos do mundo.
A- "Taramosalata" que foi só o que os gregos nos deram e foi somente isso mesmo, somente só, nesse mundo só, onde somente estamos sós, uma breve passagem só, passando pelos hema-Thomas e outras feridas e furúnculos da pus ao pós, até o fim, só.
A- Aquela alemã hoje não sabe mais distinguir o pão de um tijolo ou tijolo da areia, ou a areia de um montinho de terra. Cinza.
B- Nada como ver essa tragédia de derretimento como a camada de choco-ozônio de CO2. Caminhando como estamos, sós, rastejando como vamos, iremos para o Dante escuro, nenhuma luz, nenhuma única luz, nem em diâmetro, nem em largura, somente a espessura do soco Berlusco poderá nos dizer no futuro o quão grotesco fomos aqui neste, durante este...
A- (bate, interrompe)
CENA 2
Por Gabriel Villela
(A e B agora juntam-se a C, D, E, F, G, H, I e J. Observam a entrada do Sr. KdeKing. Ele representa a entidade CongoOng. Coloca uma caixa de ébano sobre a mesa. Os conferencistas observam. De dentro dela, da caixa preta, e embrulhadas em papel de seda, destes que embrulham maçãs, saem duas mãos de gorila, que iniciam uma percussão. Ponto de Iansã.)
Cai a luz.
A videoconferência
No telão gigante, imagens ao vivo de um gorila agonizante amarrado a uma maca da Cruz Vermelha (close em seus olhos lacrimosos, depois somente a imagem de sua boca). Nota-se que faltam-lhe alguns dentes. Ele fala muito baixo, com dificuldade respiratória. De vez em quando, ele tenta erguer os braços de onde foram decepadas suas mãos.
Gorila (sussurrando)-IKÚUUUUUUUUUUUUUU-UUUUUUUUUUUUUUUUU-UUUUUUUUUUUUUUUUUU-
urrrrrrrmahhhh,rooooouhuuuuummmurrrrrrrrr-
rrrrrrrrrrrimahhhhharrrrrrkrafuuuuurhrrrrrrhuuuuuuu-
uuAiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiqhee-doorrrrrrr!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!ahahahahaahaha-
hahaahahahahahahahah,uhrhuruhrrhurmm-
mmmmmmmOLOROGUMOGUMO GUMMMMMMMM
Tradutora cor de rosa- Ele está dizendo que dói muito e pergunta se alguém aqui tem morfina para lhe dar. (quebrando a educação e gritando com as mãos do gorila) Dá pra parar um pouco? (as mãos continuam o ponto de Iansã. Homens verdes, involuntariamente, começam uma percussão com a boca, batendo e rangendo os dentes)
A morte do gorila
Gorila (fazendo termo)-ARÚMMMMMMMMMMMM-MARÚMMMMMMMMMM-MMMARÚMMMM MMMM-MMMMM-YEWÁ!!!!!!!vmphlufannnnnnhhhhhhhhhhhhrossssss,
ahhhhahhhhhhhaaiahhhhahahahahhhohrrohoooooohhhhorrrrrrrooo
-ô-ooodooor!!!!!!!!!!!!!!.Uuuuu!
Tradutora (em voz já mais controlada)- Senhor macaco, de acordo com as regras da conferência, o senhor tem mais 28 segundos para encerrar seu discurso. (atacada do sistema nervoso, ela berra) Alguém aí da organização pode controlar estas patas?! CARRRRALHO!!!!!!!
(o gorila agora tampa os olhos com seus braços cortados, abre a boca, tenta pronunciar um nome... um silêncio de morte)
Gorila-Ikúúú.................. ...................................
Hans Christian...an-an-nder-sen! (morre)
(O par de mãos aplaude freneticamente durante os sete segundos restantes. Muita luz sobre os homens verdes.)
CENA 3
Por Rubens Rusche
(Forte explosão. Escuridão. Longuíssima pausa. Silêncio absoluto. Gradualmente, a luz retorna, mas muito fraca. Poeira e ruínas. Tudo cinza. Ninguém. Longa pausa. Voz em "off" de um homem muito velho, moribundo. Ritmo sempre lento, voz muito baixa, no limite do inaudível.)
Voz
Loucura.
(Pausa)
Tudo isso.
(Pausa)
Loucura.
(Pausa)
Tudo isso aqui.
(Pausa)
Ter visto tudo isso aqui.
(Pausa)
E ouvido.
(Pausa)
Ter ouvido tudo isso aqui.
(Pausa)
Loucura.
(Pausa)
Visto, não. Entrevisto. Toda essa loucura. Mal visto e mal ouvido.
(Longa pausa)
Tudo acabado agora.
(Pausa)
Explodido.
(Pausa)
Só restaram ruínas.
(Pausa)
Cinzas.
(Pausa)
Mas o sol -
(Pausa)
Não tendo outra alternativa, o sol brilhou sobre o nada de novo.
(Longa pausa)
Loucura.
(Aos poucos, nas ruínas e no meio da poeira, surge um crânio. Gradualmente, a luz vai se extinguindo, até restar apenas um foco no crânio. Longa pausa. Silêncio. Foco se extinguindo ao som de uma longa expiração. Cinco segundos. Escuridão e silêncio absolutos.)
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terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Beckett is Back: Reencarnando Beckett!
Board to Death, Museum of Bad Arts, Boston
(Cenário: terreiro de umbanda. Música: Cancro Molly, de Satanique Samba Trio. Personagens: Pózzon de Higgs, Cacilda Beckett e Preto Velho).
Preto Velho: É, Mizifi, vô vê se vai dá prá baixá o Samuer para você, tá? (Toma um gole de cachaça e dá um trago em um beck).
Pozzón: Metateatro.
Preto Velho (baixando o santo): Não.
Pózzon: intrateatro?
Preto Velho: sim.
Pózzon: O tempo...voraz monstro janusiano...o hábito e a rotina...coleiras que atam os sujeitos a seu vômito...o indivíduo como acúmulo de eus mortos...superpostos como as camadas de uma cebola...
Preto Velho: Nada é mais engraçado do que a felicidade.
Cacilda Beckett: Estamos sobre um platô. Me segura que vou dar um troço!
Pózzon(imitando o trapalhão Mussum): colisão de hádris, Cacilds!
Cacilda: Estou acabada. A bota. Não entra. Não sei se ela diminuiu ou se foi o pé que cresceu.
Preto Velho: a fornalha de luz infernal! A santa luz! Alguém está olhando para mim ainda. Olhos nos olhos.
Pózzon: eu quero a partícula Deus! Particularmente.
Cacilda: quem está no palco? O que está acontecendo?
Preto Velho: Então voltei para casa, e escrevi. É meia-noite. A chuva está batendo nas janelas. Não era meia noite. Não estava chovendo.
(Um som ao fundo: Ping! Surge uma TV sem imagem, desintonizada)
Pózzon: Vamos ao que interessa. Beckett, você morreu há vinte anos, tem algo a acrescentar? Por que você escreve?
Preto Velho: (Olha o outro em silêncio e responde lentamente): só sirvo para isso.
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terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Poema de Fernando Pessoa citado por César Benjamin
O artigo de César Benjamin virou um "trenzinho" repugnante: César enraba Lula que enraba o Menino do MEP que nega ter sido enrabado por Lula e que acha que é tudo uma coisa da Folha e do PSDB para enrabar o PT que enrabou Cezinha que é enrabado por Paulo Henrique Amorim onde Manoel denuncia que na Suécia fofocavam que Cezinha tinha sido enrabado na prisão e que não quer assumir que foi enrabado e por isso tenta enrabar Lula que é enrabado por Calligaris enquanto o Observatório da Imprensa de Alberto Dines enraba a Folha e por aí vai...
Ufa! Aí vai O poema citado pelo César Benjamin no polêmico artigo:
Aniversário
Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)
[473]
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
15/10/1929
Ufa! Aí vai O poema citado pelo César Benjamin no polêmico artigo:
Aniversário
Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)
[473]
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
15/10/1929
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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
A Importância do Caminho Torto de Hemingway
GERALD THOMAS
É perturbador ler Estranha Tribo de John Hemingway. Mas eu digo isso com a melhor das intenções. Muito da literatura em nossa história não é objeto confortável de contemplação. Strange Tribe é uma estranha trip, ou talvez, uma odisséia; uma mistura disfuncional de fracassos familiares de um homem contra sua imagem ao avesso. John, ao contrário de seu pai e avô, é um contador de histórias “normal”, sobrevivente e capaz de contar essa fascinante história de família num jeito simples e quase irônico, depois de ter vivido e visto dias e noites a si mesmo e ao pai através do espelho quebrado de um circo de horror.
É um forma irônica de explicar o que parece inexplicável. Esse livro pode até não ter o impacto conceitual no leitor que possui a vida e obra de Oscar Wilde, mas é provavelmente a primeira coisa que vem à mente, assim como os trocadilhos. Ernest Hemingway era o ideal de masculinidade para seu filho, e depois de muitas falhas em ser bem sucedido como o pai (obcecado como era com o paizão, um escritor famoso), fracassou no sentido lato da palavra. Kafka vem à mente. Sua famosa Carta ao Pai, quero dizer.
Mas Strange Tribe não é certamente escrita para ser interpretada como uma tragédia ou um melodrama. Existem tantas passagens engraçadas. Eu disse engraçado? Sim, engraçado, emocionante, quente, são espantosas imagens da condição humana e, é claro, instantes das vidas (são tantas) que encontraram pela frente esse touro que era Ernest Hemingway. É difícil não notar o estresse com que John faz a descrição de seu pai Greg, sua luta contra a depressão e o próprio fato de que nascera na Grande Depressão. Culpado do suicídio de Ernest em 1961, Greg acabou trocando de sexo: outro movimento que parece fictício, uma curta história curta para uma vida tão curta. Greg Hemingway morreu como mulher.
A importância de ser doidão
Tanto desentendimento aqui em sua família, tanta natureza aqui que eu às vezes me vejo imerso no mundo de outro irlandês: mundo de Samuel Beckett e seu texto “Primeiro Amor”, que é um texto sobre o momento quando uma mão de criança toca a mão do pai, mas sem qualquer outro significado que possa ser tirado. Pai e filho apertando as mãos, claro e simples. Mas não é justifável somente pelo amor. Antes de ler o livro, eu pensava em Hemingway como um lutador de boxe, um toureiro. Um homem que tinha um relação de amor e ódio com América e amava Cuba, tendo trabalhado de repórter na Guerra Civil Espanhola. Depois de Strange Tribe, eu penso que em Greg em um trocadilho com Guernica, de Picasso: Greg-nica, com sua claustrofobia e uma solitária lâmpada pendurada através das sombras, assim como é duro perder a guerra contra seu pai. Talvez eu tenha lido o livro de cabeça para baixo. Talvez o livro seja um acerto de contas com uma luta familiar, talvez eu o tenha tomado como uma obra-prima de construção/desconstrução, assim como do desconforto que as melhores obras literárias em nossa história precisam ter.
Gerald Thomas é diretor teatral
É perturbador ler Estranha Tribo de John Hemingway. Mas eu digo isso com a melhor das intenções. Muito da literatura em nossa história não é objeto confortável de contemplação. Strange Tribe é uma estranha trip, ou talvez, uma odisséia; uma mistura disfuncional de fracassos familiares de um homem contra sua imagem ao avesso. John, ao contrário de seu pai e avô, é um contador de histórias “normal”, sobrevivente e capaz de contar essa fascinante história de família num jeito simples e quase irônico, depois de ter vivido e visto dias e noites a si mesmo e ao pai através do espelho quebrado de um circo de horror.
É um forma irônica de explicar o que parece inexplicável. Esse livro pode até não ter o impacto conceitual no leitor que possui a vida e obra de Oscar Wilde, mas é provavelmente a primeira coisa que vem à mente, assim como os trocadilhos. Ernest Hemingway era o ideal de masculinidade para seu filho, e depois de muitas falhas em ser bem sucedido como o pai (obcecado como era com o paizão, um escritor famoso), fracassou no sentido lato da palavra. Kafka vem à mente. Sua famosa Carta ao Pai, quero dizer.
Mas Strange Tribe não é certamente escrita para ser interpretada como uma tragédia ou um melodrama. Existem tantas passagens engraçadas. Eu disse engraçado? Sim, engraçado, emocionante, quente, são espantosas imagens da condição humana e, é claro, instantes das vidas (são tantas) que encontraram pela frente esse touro que era Ernest Hemingway. É difícil não notar o estresse com que John faz a descrição de seu pai Greg, sua luta contra a depressão e o próprio fato de que nascera na Grande Depressão. Culpado do suicídio de Ernest em 1961, Greg acabou trocando de sexo: outro movimento que parece fictício, uma curta história curta para uma vida tão curta. Greg Hemingway morreu como mulher.
A importância de ser doidão
Tanto desentendimento aqui em sua família, tanta natureza aqui que eu às vezes me vejo imerso no mundo de outro irlandês: mundo de Samuel Beckett e seu texto “Primeiro Amor”, que é um texto sobre o momento quando uma mão de criança toca a mão do pai, mas sem qualquer outro significado que possa ser tirado. Pai e filho apertando as mãos, claro e simples. Mas não é justifável somente pelo amor. Antes de ler o livro, eu pensava em Hemingway como um lutador de boxe, um toureiro. Um homem que tinha um relação de amor e ódio com América e amava Cuba, tendo trabalhado de repórter na Guerra Civil Espanhola. Depois de Strange Tribe, eu penso que em Greg em um trocadilho com Guernica, de Picasso: Greg-nica, com sua claustrofobia e uma solitária lâmpada pendurada através das sombras, assim como é duro perder a guerra contra seu pai. Talvez eu tenha lido o livro de cabeça para baixo. Talvez o livro seja um acerto de contas com uma luta familiar, talvez eu o tenha tomado como uma obra-prima de construção/desconstrução, assim como do desconforto que as melhores obras literárias em nossa história precisam ter.
Gerald Thomas é diretor teatral
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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Fragmentos de um Discurso Horroroso: Lula, Benjamin, Calligaris, Pasolini, Gramsci
Contardo Calligaris, em artigo a respeito da sórdida polêmica César Benjamin/Lula, citou hoje Pier Paolo Pasolini em artigo na Folha de São Paulo. O artigo é para fundamentar o argumento "a boçalidade não é prerrogativa de classe", compartilhado até por um Reinaldo Azevedo, ou melhor, desculpa para um Reinaldo Azevedo rebater críticas a Lula que seriam dirigidas a toda uma classe social.
Calligaris queria dizer que não só a burguesia é boçal, mas o operário também pode ser, ou a classe operária; Lula, apesar da origem operária, pode agir como um boçal, dizendo numa piada que, em carência sexual, traçaria qualquer um, mesmo à força, esse é o argumento de Calligaris, utilizado em diálogo com os leitores. Uma tentativa rasa de psicanalisar o episódio e ajudar a Folha a não ser "enrabada" junto aos leitores. Ao tentar tirar o seu reto da reta, Calligaris faz com que a baixaria renda ainda mais; o assunto fede. Mas precisamos enfiar a mão na merda, mas depois tem recompensa, tem poesia. Vejamos.
Aliás, o que diria Pasolini de um episódio assim? Ele poderia psicanalisar Lula. Lula queria "enrabar" simbolicamente Benjamin com essa piada, pois Benjamin é bonito e Lula não é, mas acabou, agora, muitos anos depois, "enrabado" politicamente por ele, de surpresa, em seu momento mais feliz, aquele em que ele está construindo uma estátua de si.
Para mim, o escândalo não está no fato em si, na tentativa de estupro em si, que, pesquisada, não rendeu, não se confirmou, mas no episódio particular tornado arma política. Lula merece essa "enrabada" simbólica? Talvez ele sinta agora, como um personagem de Jabor em seus filmes, "um macho canalha morrendo dentro de mim". Ou não!
Pasolini talvez dissesse que a boçalidade do burguês é algo muito mais profundo, estrutural e sistêmico do que a estupidez ou a grosseria do proletário. Lula é um espetáculo repugnante aos olhos de um olhar que tome o ponto de vista da classe operária: um ex-operário que é tão irresponsável com os interesses da classe trabalhadora quanto a crítica infeliz de César Benjamin, que só tem o mérito de abrir o debate sobre O Filme Filho do Pai dos Pobres do Brasil, mais nada.
Depois de debater esses "fragmentos de um discurso horroroso", passemos para um poema do livro citado por Calligaris:
03 Novembro 2008
pier paolo pasolini / as cinzas de gramsci
IV
O escândalo de me contradizer, de estar
contigo e contra ti; contigo no coração,
à luz do dia, contra ti na noite das entranhas;
traidor da condição paterrna
- em pensamento, numa sombra de acção –
a ela me liguei no ardor
dos instintos, da paixão estética;
fascinado por uma vida proletária
muito anterior a ti, a minha religião
é a sua alegria, não a sua luta
de milénios: a sua natureza, não a sua
consciência; só a força originária
do homem, que na acção se perdeu,
lhe dá a embriaguez da nostalgia
e um halo poético e mais nada
sei dizer, a não ser o que seria
justo, mas não sincero, amor abstracto,
e não dolorida simpatia…
Pobre como os pobres, agarro-me
como eles a esperanças humilhantes,
como eles, para viver me bato
dia a dia. Mas na minha desoladora
condição de deserdado,
possuo a mais exaltante
das poses burguesas, o bem mais absoluto.
Todavia, se possuo a história,
também a história me possui e me ilumina:
mas de que serve a luz?
Calligaris queria dizer que não só a burguesia é boçal, mas o operário também pode ser, ou a classe operária; Lula, apesar da origem operária, pode agir como um boçal, dizendo numa piada que, em carência sexual, traçaria qualquer um, mesmo à força, esse é o argumento de Calligaris, utilizado em diálogo com os leitores. Uma tentativa rasa de psicanalisar o episódio e ajudar a Folha a não ser "enrabada" junto aos leitores. Ao tentar tirar o seu reto da reta, Calligaris faz com que a baixaria renda ainda mais; o assunto fede. Mas precisamos enfiar a mão na merda, mas depois tem recompensa, tem poesia. Vejamos.
Aliás, o que diria Pasolini de um episódio assim? Ele poderia psicanalisar Lula. Lula queria "enrabar" simbolicamente Benjamin com essa piada, pois Benjamin é bonito e Lula não é, mas acabou, agora, muitos anos depois, "enrabado" politicamente por ele, de surpresa, em seu momento mais feliz, aquele em que ele está construindo uma estátua de si.
Para mim, o escândalo não está no fato em si, na tentativa de estupro em si, que, pesquisada, não rendeu, não se confirmou, mas no episódio particular tornado arma política. Lula merece essa "enrabada" simbólica? Talvez ele sinta agora, como um personagem de Jabor em seus filmes, "um macho canalha morrendo dentro de mim". Ou não!
Pasolini talvez dissesse que a boçalidade do burguês é algo muito mais profundo, estrutural e sistêmico do que a estupidez ou a grosseria do proletário. Lula é um espetáculo repugnante aos olhos de um olhar que tome o ponto de vista da classe operária: um ex-operário que é tão irresponsável com os interesses da classe trabalhadora quanto a crítica infeliz de César Benjamin, que só tem o mérito de abrir o debate sobre O Filme Filho do Pai dos Pobres do Brasil, mais nada.
Depois de debater esses "fragmentos de um discurso horroroso", passemos para um poema do livro citado por Calligaris:
03 Novembro 2008
pier paolo pasolini / as cinzas de gramsci
IV
O escândalo de me contradizer, de estar
contigo e contra ti; contigo no coração,
à luz do dia, contra ti na noite das entranhas;
traidor da condição paterrna
- em pensamento, numa sombra de acção –
a ela me liguei no ardor
dos instintos, da paixão estética;
fascinado por uma vida proletária
muito anterior a ti, a minha religião
é a sua alegria, não a sua luta
de milénios: a sua natureza, não a sua
consciência; só a força originária
do homem, que na acção se perdeu,
lhe dá a embriaguez da nostalgia
e um halo poético e mais nada
sei dizer, a não ser o que seria
justo, mas não sincero, amor abstracto,
e não dolorida simpatia…
Pobre como os pobres, agarro-me
como eles a esperanças humilhantes,
como eles, para viver me bato
dia a dia. Mas na minha desoladora
condição de deserdado,
possuo a mais exaltante
das poses burguesas, o bem mais absoluto.
Todavia, se possuo a história,
também a história me possui e me ilumina:
mas de que serve a luz?
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domingo, 6 de dezembro de 2009
Cesar Benjamin, Lula, Caetano, Filhos da Pátria que os Pariu
Algumas observações sobre esses assuntos recentes. A polêmica César Benjamin versus Lula: a pior posição é a esquerda independente, dizia o Glauber Rocha: apanha da esquerda oficial e da direita.
Benjamin é esquerda independente. Há muito vem criticando o governo Lula com bons argumentos, mas agora que fez uma observação pessoal na Folha, levantando a hipótese de Lula ter tentando forçar um garoto do Movimento da Esquerda Proletária na prisão em 1979, é que ele obtém repercussão. A mídia vende é com o escândalo, a baixaria é que é comentada. Triste, mas Benjamin vai continuar como importante crítico da esquerda pela esquerda. Lula já disse absurdos sobre a luta armada, dizendo que os guerrilheiros não deram conta nem de umas muriçocas. Ninguém se importou. Agora, Cezinha fez um ataque particular que pôs em polvorosa a militância petista e a base governista; ele fez despertar o fantasma da ex-mulher de Míriam em 1989, que com seu ataque pessoal devastou a campanha de Lula, assim como arrasou Lula psicologicamente, a olhos vistos.
Pena que ele não criticou a estética do filme do Lula, totalmente devedora da Globo e de suas telenovelas. Fora o anacronismo de colocar Zezé Di Camargo e Luciano como trilha sonora de acontecimentos dos anos 70. E isso, por sugestão política de gente do PT. Enquanto Dilma bate na Globo em seu blog, chamando os jornalistas da grande rede de tucanos, o filme de Lula transmite a mensagem contrária: produto audiovisual só dá certo com o melodrama sem distanciamento crítico algum da telenovela, filme nacional só dá certo copiando a estética subroliúde da Globo. É, Lula, as imagens falam por si!
Deve-se criticar Lula e seu filme: qual o legado teórico de Lula? Existe um certo obreirismo no PT, como subsequente mitificação da figura do operário? Que valores ou antivalores Lula representa? O filme ensina ao povo o quê, objetivamente, que ensinamento ele dá às massas? Ele simplesmente apela para que se mitifique um político, mostrando-o como um super-homem, dando a entender que se deve segui-lo e eleger a Mulher Maravilha que o Superman apontar?
Para fazer essa crítica tão necessária, deve-se evitar tanto o ataque particular de Cezinha (que, pelo menos, abre o debate sobre o filme de Lula) quanto o ataque boboca e confuso de Caetano Veloso, que insiste em dizer besteiras, agora dizendo que Lula não sabe conjugar "substantivos e artigos" (deveria falar em concordância nominal, conjugação é para verbos) e o pior, em Portugal. Caetano: não são os linguistas brasileiros que idealizam a fala de Lula, é você que idealiza, com a cabeça colonizada, o português de Portugal, desejando impô-lo aos brasleiros como o mais bonito, o mais chique, o mais elegante...
Benjamin é esquerda independente. Há muito vem criticando o governo Lula com bons argumentos, mas agora que fez uma observação pessoal na Folha, levantando a hipótese de Lula ter tentando forçar um garoto do Movimento da Esquerda Proletária na prisão em 1979, é que ele obtém repercussão. A mídia vende é com o escândalo, a baixaria é que é comentada. Triste, mas Benjamin vai continuar como importante crítico da esquerda pela esquerda. Lula já disse absurdos sobre a luta armada, dizendo que os guerrilheiros não deram conta nem de umas muriçocas. Ninguém se importou. Agora, Cezinha fez um ataque particular que pôs em polvorosa a militância petista e a base governista; ele fez despertar o fantasma da ex-mulher de Míriam em 1989, que com seu ataque pessoal devastou a campanha de Lula, assim como arrasou Lula psicologicamente, a olhos vistos.
Pena que ele não criticou a estética do filme do Lula, totalmente devedora da Globo e de suas telenovelas. Fora o anacronismo de colocar Zezé Di Camargo e Luciano como trilha sonora de acontecimentos dos anos 70. E isso, por sugestão política de gente do PT. Enquanto Dilma bate na Globo em seu blog, chamando os jornalistas da grande rede de tucanos, o filme de Lula transmite a mensagem contrária: produto audiovisual só dá certo com o melodrama sem distanciamento crítico algum da telenovela, filme nacional só dá certo copiando a estética subroliúde da Globo. É, Lula, as imagens falam por si!
Deve-se criticar Lula e seu filme: qual o legado teórico de Lula? Existe um certo obreirismo no PT, como subsequente mitificação da figura do operário? Que valores ou antivalores Lula representa? O filme ensina ao povo o quê, objetivamente, que ensinamento ele dá às massas? Ele simplesmente apela para que se mitifique um político, mostrando-o como um super-homem, dando a entender que se deve segui-lo e eleger a Mulher Maravilha que o Superman apontar?
Para fazer essa crítica tão necessária, deve-se evitar tanto o ataque particular de Cezinha (que, pelo menos, abre o debate sobre o filme de Lula) quanto o ataque boboca e confuso de Caetano Veloso, que insiste em dizer besteiras, agora dizendo que Lula não sabe conjugar "substantivos e artigos" (deveria falar em concordância nominal, conjugação é para verbos) e o pior, em Portugal. Caetano: não são os linguistas brasileiros que idealizam a fala de Lula, é você que idealiza, com a cabeça colonizada, o português de Portugal, desejando impô-lo aos brasleiros como o mais bonito, o mais chique, o mais elegante...
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domingo, 29 de novembro de 2009
Comunidade da Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe de Estado
Comunicado No. 38 Frente Naciona de Resistencia contra el Golpe de Estado
Al pueblo hondureño y la comunidad internacional:
1. Denunciamos que horas antes de la farsa electoral de la dictadura militar, sus cuerpos represivos han emprendido una feroz persecución contra organizaciones populares que se han manifestado opuestas al Golpe de Estado.
Ejemplos de ello son el allanamiento y destrozo de la sede de la Red Comal en Siguatepeque; el cerco militar y el amedrentamiento con armas de fuego contra la sede del STIBYS en Tegucigalpa; el cerco militar contra la comunidad Guadalupe Carney en Silín, Colón, y contra la Colonia La Paz, en La Lima, Cortés; y la militarización del centro INESCO del padre Fausto Milla en Copán. De igual manera, nos llama a preocupación el atentado que sufrió el Centro de Derechos de Mujeres de San Pedro Sula, con una bomba.
Asimismo, la acción represiva ha recaído sobre miembros(as) activos(as) de la Resistencia Popular en la víspera de las votaciones, como sucede con la persecución que se ha desatado contra dirigentes de la Resistencia en la Colonia Kennedy y El Reparto, de Tegucigalpa; en Gualala, Santa Barbara; en San Pedro Sula, Cortés; y la captura de la dirigente feminista Merlyn Eguigure, en Tegucigalpa, liberada tras la presión hecha por sus compañeras del Movimiento Visitación Padilla.
También han sido allanados el centro de trabajo del dirigente del Partido Unificación Democrática, Gregorio Baca, de donde se llevaron detenido a su vigilante Humberto Castillo (discapacitado), y el allanamiento de la casa de la hermana de la periodista Percy Durón, de Radio América. Para rematar, el señor Fabricio Salgado Hernández, de la colonia Tiloarque, está en estado crítico tras ser baleado por militares que custodian el Edificio del Estado Mayor, pues el herido tuvo un accidente por los obstáculos que los militares han colocado.
2. Esta violencia muestra el estado de indefensión en que se encuentra el Pueblo Hondureño ante las huestes represivas del gobierno de facto. Retrata también el clima de persecución en que se realiza el circo electoral que inicia el día de hoy. Por ello, el Frente Nacional de Resistencia contra el Golpe de Estado reitera que no existen condiciones para la realización de elecciones limpias y seguras, y que el empecinamiento de este desgobierno en realizarlas solo obedece a su urgencia “lavarle” la cara al relevo de golpistas que surgirá de las mismas.
3. Alertamos al Pueblo Hondureño y a la comunidad internacional, sobre la eventualidad de que esta escalada represiva se incremente en las próximas horas teniendo como marco justificativo la ola de atentados que en forma sospechosa se realizan contra buses, escuelas y edificios públicos, cuya autoría la Policía Nacional atribuye en forma casi automática, irresponsable y tendenciosa a la Resistencia Popular.
4. Por tal motivo el Frente Nacional de Resistencia contra el Golpe de Estado reiteramos que nuestra lucha es PACIFICA y ratificamos nuestro llamado al Pueblo Hondureño para que no participe de la farsa electoral montada por la oligarquía el dia de hoy. A la vez que desmentimos cualquier mensaje con el cual se pretenda crear confusión, diciéndole al Pueblo que la Resistencia llama a votar.
¡RESISTIMOS Y VENCEREMOS!
Dado en la ciudad de Tegucigalpa, M.D.C. 28 de noviembre de 2009
Al pueblo hondureño y la comunidad internacional:
1. Denunciamos que horas antes de la farsa electoral de la dictadura militar, sus cuerpos represivos han emprendido una feroz persecución contra organizaciones populares que se han manifestado opuestas al Golpe de Estado.
Ejemplos de ello son el allanamiento y destrozo de la sede de la Red Comal en Siguatepeque; el cerco militar y el amedrentamiento con armas de fuego contra la sede del STIBYS en Tegucigalpa; el cerco militar contra la comunidad Guadalupe Carney en Silín, Colón, y contra la Colonia La Paz, en La Lima, Cortés; y la militarización del centro INESCO del padre Fausto Milla en Copán. De igual manera, nos llama a preocupación el atentado que sufrió el Centro de Derechos de Mujeres de San Pedro Sula, con una bomba.
Asimismo, la acción represiva ha recaído sobre miembros(as) activos(as) de la Resistencia Popular en la víspera de las votaciones, como sucede con la persecución que se ha desatado contra dirigentes de la Resistencia en la Colonia Kennedy y El Reparto, de Tegucigalpa; en Gualala, Santa Barbara; en San Pedro Sula, Cortés; y la captura de la dirigente feminista Merlyn Eguigure, en Tegucigalpa, liberada tras la presión hecha por sus compañeras del Movimiento Visitación Padilla.
También han sido allanados el centro de trabajo del dirigente del Partido Unificación Democrática, Gregorio Baca, de donde se llevaron detenido a su vigilante Humberto Castillo (discapacitado), y el allanamiento de la casa de la hermana de la periodista Percy Durón, de Radio América. Para rematar, el señor Fabricio Salgado Hernández, de la colonia Tiloarque, está en estado crítico tras ser baleado por militares que custodian el Edificio del Estado Mayor, pues el herido tuvo un accidente por los obstáculos que los militares han colocado.
2. Esta violencia muestra el estado de indefensión en que se encuentra el Pueblo Hondureño ante las huestes represivas del gobierno de facto. Retrata también el clima de persecución en que se realiza el circo electoral que inicia el día de hoy. Por ello, el Frente Nacional de Resistencia contra el Golpe de Estado reitera que no existen condiciones para la realización de elecciones limpias y seguras, y que el empecinamiento de este desgobierno en realizarlas solo obedece a su urgencia “lavarle” la cara al relevo de golpistas que surgirá de las mismas.
3. Alertamos al Pueblo Hondureño y a la comunidad internacional, sobre la eventualidad de que esta escalada represiva se incremente en las próximas horas teniendo como marco justificativo la ola de atentados que en forma sospechosa se realizan contra buses, escuelas y edificios públicos, cuya autoría la Policía Nacional atribuye en forma casi automática, irresponsable y tendenciosa a la Resistencia Popular.
4. Por tal motivo el Frente Nacional de Resistencia contra el Golpe de Estado reiteramos que nuestra lucha es PACIFICA y ratificamos nuestro llamado al Pueblo Hondureño para que no participe de la farsa electoral montada por la oligarquía el dia de hoy. A la vez que desmentimos cualquier mensaje con el cual se pretenda crear confusión, diciéndole al Pueblo que la Resistencia llama a votar.
¡RESISTIMOS Y VENCEREMOS!
Dado en la ciudad de Tegucigalpa, M.D.C. 28 de noviembre de 2009
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sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Caetano X Lula
A luta continua.
Vejam o vídeo explicando parte da polêmica:
Depois disso, Lula disse que esse tipo de crítica é burrice, Caetano mandou carta explicativa ao Estado de São Paulo e disse que a manchete é que foi provocativa e os linguistas gostam da fala de Lula e aplaudem. "Linguistas" virou quase que sinônimo de "petistas". Lula falou que pode falar sine qua non, ou seja, domina latim. A "família Caetano" quis pedir desculpas, Dona Canô mas pois teme a repercussão na política local de Santo Amaro; Lula ligou e perdoou. Reinaldo Azevedo foi ao Jô e protestou contra o perdão. Soube que está circulando um cordel a respeito do caso. Vejamos os novos desdobramentos. Vou se posto o cordel aqui.
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quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Reinaldo Azedo no Jô: Show de Bobagens!
Reinaldo Azevedo deu um show de bobagens ontem no Jô. Protestou em nome das mulheres, minorias religiosas e sexuais, sr. anti-politicamente correto e carola que nunca nada fez de efetivo pelas minorias.
O apresentador tentou resistir, mas a ré estava forte. Jô tentou injetar humor num jornalista político que produz textos onde ele é escasso, raso ou de acintoso mau gosto. Desafiador, propõe a Lula estatizar o sistema telefônico, no que Jô reage, amenizando a provocação, temeroso das consequências...Ai que meda, hein?
Ele deu vivas ao preconceito de Caetano Veloso ao chamar Lula de analfabeto, invertendo tudo e dizendo que foi Lula quem ligou para coagir a pobre Dona Canô a pedir desculpas. Oh, Lula maldoso, molusco molestador de velhinhas!
Tio Rei, o jornalismo do Samuel Wainer apoiado pelo Getúlio era muito melhor do que sua militância tucana pseudo-profissional! Tem gente que, por mais que estude, não melhora!
Ele chega a dizer que operaram seu cérebro e só deixaram o tumor, que ele é tão reacionário que é até contra a reforma ortográfica. Repetir como mantra argumentos contrários não os anula, pelo contrário. O rei de coroa de lata está traumatizado pelas verdades que ficam girando em torno de sua cachola oca.
Reinaldo é de direita e reacionário, sim; Ahmadinejad é o governante de um povo que vive uma revolução, ainda que uma revolução islâmica.
Aliás, o ataque de Jô e Azevedo à "reforma" foi o ápice do circo de horror, com a gramática no papel de Mulher Monga. Jô, Reinaldo, não avacalhem nosso trabalho de professores, o acordo é para unificar a GRAFIA, não a língua! Parem de repetir isso (a falácia de que o acordo unifica a fala), pois a gente acaba tendo que explicar isso aos alunos umas MIL VEZES devido às besteiras que vocês, com incrível credibilidade junto aos ingênuos, repetem na televisão!
Ô mídia demo-tucana, Globo e Veja, ô trem que emburrece e deseduca!
O apresentador tentou resistir, mas a ré estava forte. Jô tentou injetar humor num jornalista político que produz textos onde ele é escasso, raso ou de acintoso mau gosto. Desafiador, propõe a Lula estatizar o sistema telefônico, no que Jô reage, amenizando a provocação, temeroso das consequências...Ai que meda, hein?
Ele deu vivas ao preconceito de Caetano Veloso ao chamar Lula de analfabeto, invertendo tudo e dizendo que foi Lula quem ligou para coagir a pobre Dona Canô a pedir desculpas. Oh, Lula maldoso, molusco molestador de velhinhas!
Tio Rei, o jornalismo do Samuel Wainer apoiado pelo Getúlio era muito melhor do que sua militância tucana pseudo-profissional! Tem gente que, por mais que estude, não melhora!
Ele chega a dizer que operaram seu cérebro e só deixaram o tumor, que ele é tão reacionário que é até contra a reforma ortográfica. Repetir como mantra argumentos contrários não os anula, pelo contrário. O rei de coroa de lata está traumatizado pelas verdades que ficam girando em torno de sua cachola oca.
Reinaldo é de direita e reacionário, sim; Ahmadinejad é o governante de um povo que vive uma revolução, ainda que uma revolução islâmica.
Aliás, o ataque de Jô e Azevedo à "reforma" foi o ápice do circo de horror, com a gramática no papel de Mulher Monga. Jô, Reinaldo, não avacalhem nosso trabalho de professores, o acordo é para unificar a GRAFIA, não a língua! Parem de repetir isso (a falácia de que o acordo unifica a fala), pois a gente acaba tendo que explicar isso aos alunos umas MIL VEZES devido às besteiras que vocês, com incrível credibilidade junto aos ingênuos, repetem na televisão!
Ô mídia demo-tucana, Globo e Veja, ô trem que emburrece e deseduca!
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Reinaldo Azevedo
terça-feira, 24 de novembro de 2009
José Serra X Ahmadinejad
A função desse blog é falar das polêmicas culturais e, se possível, provocá-las. José Serra, político do PSDB e "disseminador do bem", criticou em um artigo na Folha de São Paulo o líder do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, acusando-o de banalizar o mal, estando Serra claramente inspirado em Hannah Arendt (especificamente, no livro Eichmann em Jerusalém).
A posição de Ahmadinejad foi turbinada pela imprensa, embora penso que desejasse mesmo bater de frente com o Ocidente nesse ponto, uma vez que ele defende os palestinos (e, por isso mesmo, não jogará uma bomba em Isral, pois prejudicaria os palestinos).
Inicialmente, ele dizia que o holocausto um mito. Um mito não representa necessariamente uma mentira. A rigor, todas as nações constroem-se com base em mitos, narrativas, fatos históricos interpretados dentro de um determinado prisma.
Depois, afirmou que existiriam historiadores contra o holocausto, mas que eles foram presos. Estou apenas traduzindo a wikipedia em inglês. Agora, para William Waack da Globo, ele apenas questionou porque o povo palestino precisa pagar por crimes cometidos na Europa (aí a questão fica melhor colocada).
Serra aproveita a chegada (com repercussões negativas) de Ahmadinejad para fazer uma crítica a seus inimigos do governo Lula. Suas estratégias discursivas são: 1) comparar Ahmadinejad e o Irã com o nacionalismo nazista. No entanto, desde sempre quem teve apoio dos colonizadores europeus foram os judeus nacionalistas de direita que fundaram o estado de Israel, os chamados sionistas. 2) Criticar em bloco a política externa de Lula a partir do episódio da visita de Ahmadinejad. Pelo que pude observar, essa estratégia do artigo era, como se fosse combinada, repetida por toda a imprensa ligada indiretamente aos demo-tucanos, ou seja, toda a grande imprensa.
A partir da chegada de Ahmadinejad, Serra prega a aproximação com o governo golpista de Honduras, pois Ahmadinejad seria tão ditador quanto Micheletti. No entanto, embora as eleições que deram o poder a Ahmadinejad possam ser questionadas, Micheletti não enfrentou as urnas e sim tomou o poder juntamente com os militares, expulsando o presidente democraticamente eleito. Ahmadinejad é fruto da revolução islâmica, rebelião popular de fundo nacionalista e religioso que reafirmou a cultura iraniana no final dos anos 70, expulsando o Xá imposto em 1953 pelo Ocidente com a deposição do nacionalista laico Mossadegh. A revolução islâmica derrubou um ditador e possui, sim, mais legitimidade popular do que o regime golpista de Micheletti. O discurso de Serra é estratégia política. Aliás, Ahmadinejad não pode ser acusado de "burocrata dobrado pelo desejo de obedecer" como foi a argumentação de Arendt com relação a Eichmann. Ele é um nacionalista religioso leigo que diz besteiras no que diz respeito aos homossexuais, sim, mas um discurso não-científico que praticamente todas as religiões fazem.
Sou a favor da separação Igreja/Estado, mas não aplico esse princípio ao Irã sem tentar entender o que se passou lá. O estado era monstruosamente corrupto antes da revolução islâmica, assim como antinacional. Ahmadinejad, fruto dessa revolução, não irá atirar uma bomba nos palestinos. Seu discurso foi no sentido de que a política de Israel, de anexar e colonizar novos territórios, não tem futuro a longo prazo. Segundo a Wikipedia, a melhor tradução para a frase que ele disse não seria "varrer Israel do mapa" e sim "o governo de Jerusalém vai ser varrido pelo tempo". Há razões para duvidar do futuro de uma nação muito dependente de uma superpotência como Israel depende dos USA, e com uma relação muito inamistosa com todos os vizinhos mais populosos.
O artigo de Serra, por flertar com os golpistas de Honduras, levanta a mesma dúvida que levantou o artigo de Fernando Henrique Cardoso: diante das péssimas perspectivas de poder para o PSDB nas próximas eleições, será que os pensamentos a respeito de golpe estão ressurgindo nesse partido?
A posição de Ahmadinejad foi turbinada pela imprensa, embora penso que desejasse mesmo bater de frente com o Ocidente nesse ponto, uma vez que ele defende os palestinos (e, por isso mesmo, não jogará uma bomba em Isral, pois prejudicaria os palestinos).
Inicialmente, ele dizia que o holocausto um mito. Um mito não representa necessariamente uma mentira. A rigor, todas as nações constroem-se com base em mitos, narrativas, fatos históricos interpretados dentro de um determinado prisma.
Depois, afirmou que existiriam historiadores contra o holocausto, mas que eles foram presos. Estou apenas traduzindo a wikipedia em inglês. Agora, para William Waack da Globo, ele apenas questionou porque o povo palestino precisa pagar por crimes cometidos na Europa (aí a questão fica melhor colocada).
Serra aproveita a chegada (com repercussões negativas) de Ahmadinejad para fazer uma crítica a seus inimigos do governo Lula. Suas estratégias discursivas são: 1) comparar Ahmadinejad e o Irã com o nacionalismo nazista. No entanto, desde sempre quem teve apoio dos colonizadores europeus foram os judeus nacionalistas de direita que fundaram o estado de Israel, os chamados sionistas. 2) Criticar em bloco a política externa de Lula a partir do episódio da visita de Ahmadinejad. Pelo que pude observar, essa estratégia do artigo era, como se fosse combinada, repetida por toda a imprensa ligada indiretamente aos demo-tucanos, ou seja, toda a grande imprensa.
A partir da chegada de Ahmadinejad, Serra prega a aproximação com o governo golpista de Honduras, pois Ahmadinejad seria tão ditador quanto Micheletti. No entanto, embora as eleições que deram o poder a Ahmadinejad possam ser questionadas, Micheletti não enfrentou as urnas e sim tomou o poder juntamente com os militares, expulsando o presidente democraticamente eleito. Ahmadinejad é fruto da revolução islâmica, rebelião popular de fundo nacionalista e religioso que reafirmou a cultura iraniana no final dos anos 70, expulsando o Xá imposto em 1953 pelo Ocidente com a deposição do nacionalista laico Mossadegh. A revolução islâmica derrubou um ditador e possui, sim, mais legitimidade popular do que o regime golpista de Micheletti. O discurso de Serra é estratégia política. Aliás, Ahmadinejad não pode ser acusado de "burocrata dobrado pelo desejo de obedecer" como foi a argumentação de Arendt com relação a Eichmann. Ele é um nacionalista religioso leigo que diz besteiras no que diz respeito aos homossexuais, sim, mas um discurso não-científico que praticamente todas as religiões fazem.
Sou a favor da separação Igreja/Estado, mas não aplico esse princípio ao Irã sem tentar entender o que se passou lá. O estado era monstruosamente corrupto antes da revolução islâmica, assim como antinacional. Ahmadinejad, fruto dessa revolução, não irá atirar uma bomba nos palestinos. Seu discurso foi no sentido de que a política de Israel, de anexar e colonizar novos territórios, não tem futuro a longo prazo. Segundo a Wikipedia, a melhor tradução para a frase que ele disse não seria "varrer Israel do mapa" e sim "o governo de Jerusalém vai ser varrido pelo tempo". Há razões para duvidar do futuro de uma nação muito dependente de uma superpotência como Israel depende dos USA, e com uma relação muito inamistosa com todos os vizinhos mais populosos.
O artigo de Serra, por flertar com os golpistas de Honduras, levanta a mesma dúvida que levantou o artigo de Fernando Henrique Cardoso: diante das péssimas perspectivas de poder para o PSDB nas próximas eleições, será que os pensamentos a respeito de golpe estão ressurgindo nesse partido?
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sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Reflexões Filosóficas Motivadas Pela Vinda de Ahmadinejad
Não vejo problema algum na presença de Ahmadinejad no Brasil. Se ele não vier, não poderemos apresentar a ele nossas críticas ao tratamento dos gays e outras minorias no Irã.
O governo Lula e a nossa diplomacia são bastante pragmáticos e penso que, se fosse apenas provocação aos USA, ele não viria, não. A questão que move essa visita é que existem negócios a fazer com o Irã. Quem pode com o pragmatismo econômico, não é mesmo?
Penso que, se ele tiver mesmo a bomba atômica, isso equilibra o cenário internacional e fará com que o Irã não seja invadido a partir do Iraque, Israel ou do Afeganistão. Parece especulação, mas o complexo industrial-militar não se prende a um liberal como Obama. Age quase que por moto contínuo. Se for interessante que invadam o Irã, o complexo mobilizará seus recursos para invadi-lo; se a escassez de petróleo forçar, ocorrerá uma invasão.
Esse tipo de questão poderia ser pensado com a filosofia política; no entanto, a filosofia política de nosso tempo está viciada, absolutamente alienada ao repetir clichês de Hannah Arendt tais como o conceito de totalitarismo. Meu professor, José Chasin, escreveu um artigo revendo esse conceito, mas sem sucesso. Trata-se de uma praga: a última Veja tachou até mesmo Robespierre de "inventor do totalitarismo". Esse conceito confuso faz com que seja necessário atacar a obra de Hannah Arendt em bloco: detratadora sofisticada do marxismo, tal como provei em um artigo chamado Observações sobre a crítica de Marx em Hannah Arendt, Arendt também me parece equivocada ao ver banalidade em Eichmann. Ela parece ter tolamente acreditado que Eichmann era um burocrata dobrado pelo desejo de obedecer e que qualquer um de nós, cidadão comum, pode de repente tornar-se "MAL". Ora, Eichmann era um nacionalista absolutamente fanático! Como pode Arendt ter acredito em sua defesa naquele tribunal? Até mesmo Eli Wiesenthal não concorda com ela. Aliás, que negócio é esse de mal em si? Deve-se tentar ir para além do bem e do mal!
Outra enorme confusão: desde então, usa-se os conceitos de Arent assim: a Espanha de Franco era autoritária, a Inglaterra é democrática, a URSS era totalitária. Imperialismo, para Arendt, foi só no século XIX. Para Edward Said, Arendt foi teórica comprometida com o imperialismo, pois ela eximia as democracias imperialistas de hoje em dia de qualquer continuidade daquilo que fizeram no século XIX; para ela, imperialismo não era "etapa superior (e parece, insuperável) do capitalismo"...
Em primeiro, façamos um desvio nietzschiano. O que Nietzsche diria desse contexto? Devemos abstrair Heidegger, para quem Hannah Arendt tornou-se morada do ser, na acepção ginecológica do termo. Nietzsche diria que os judeus deixaram a moral dos escravos e de vítimas do imperialismo alemão hitlerista e adquiriram a moral dos senhores, bebendo o leite de loba dos USA e da Inglaterra, aprendendo que o bom é ser amigo do imperador. E Israel fez-se base americana e inglesa no Oriente Médio. O difícil será cair se o império cair. O que é horrível mesmo é que as ex-vítimas, ao desejarem proximidade com o império, viram verdugos: os israelenses construíram muros para cercar as regiões habitadas pelos palestinos, muros que deram a essas regiões aspectos de...guetos! Os próprios palestinos escrevem nesses muros: bem-vindos ao GUETO!
Aliás, hoje se pergunta para quê o julgamento de Eichmann. Nos anos 90, os multiculturalistas afirmaram que toda nação é comunidade imaginária, construída com base em mitos e ficções, entre as quais as respectivas literaturas nacionais. E se aplicássemos essa teorização a Israel, quais seriam seus mitos fundadores? Um deles seria a narrativa bíblica. O outro seria o fato histórico da Shoah interpretado de uma determinada maneira, daí a necessidade do julgamento de Eichmann, praticamente um dos atos fundadores.
Mas vamos refletindo. Enquanto isso, bem-vindo Ahmadinejad, viva a revolução islâmica!
O governo Lula e a nossa diplomacia são bastante pragmáticos e penso que, se fosse apenas provocação aos USA, ele não viria, não. A questão que move essa visita é que existem negócios a fazer com o Irã. Quem pode com o pragmatismo econômico, não é mesmo?
Penso que, se ele tiver mesmo a bomba atômica, isso equilibra o cenário internacional e fará com que o Irã não seja invadido a partir do Iraque, Israel ou do Afeganistão. Parece especulação, mas o complexo industrial-militar não se prende a um liberal como Obama. Age quase que por moto contínuo. Se for interessante que invadam o Irã, o complexo mobilizará seus recursos para invadi-lo; se a escassez de petróleo forçar, ocorrerá uma invasão.
Esse tipo de questão poderia ser pensado com a filosofia política; no entanto, a filosofia política de nosso tempo está viciada, absolutamente alienada ao repetir clichês de Hannah Arendt tais como o conceito de totalitarismo. Meu professor, José Chasin, escreveu um artigo revendo esse conceito, mas sem sucesso. Trata-se de uma praga: a última Veja tachou até mesmo Robespierre de "inventor do totalitarismo". Esse conceito confuso faz com que seja necessário atacar a obra de Hannah Arendt em bloco: detratadora sofisticada do marxismo, tal como provei em um artigo chamado Observações sobre a crítica de Marx em Hannah Arendt, Arendt também me parece equivocada ao ver banalidade em Eichmann. Ela parece ter tolamente acreditado que Eichmann era um burocrata dobrado pelo desejo de obedecer e que qualquer um de nós, cidadão comum, pode de repente tornar-se "MAL". Ora, Eichmann era um nacionalista absolutamente fanático! Como pode Arendt ter acredito em sua defesa naquele tribunal? Até mesmo Eli Wiesenthal não concorda com ela. Aliás, que negócio é esse de mal em si? Deve-se tentar ir para além do bem e do mal!
Outra enorme confusão: desde então, usa-se os conceitos de Arent assim: a Espanha de Franco era autoritária, a Inglaterra é democrática, a URSS era totalitária. Imperialismo, para Arendt, foi só no século XIX. Para Edward Said, Arendt foi teórica comprometida com o imperialismo, pois ela eximia as democracias imperialistas de hoje em dia de qualquer continuidade daquilo que fizeram no século XIX; para ela, imperialismo não era "etapa superior (e parece, insuperável) do capitalismo"...
Em primeiro, façamos um desvio nietzschiano. O que Nietzsche diria desse contexto? Devemos abstrair Heidegger, para quem Hannah Arendt tornou-se morada do ser, na acepção ginecológica do termo. Nietzsche diria que os judeus deixaram a moral dos escravos e de vítimas do imperialismo alemão hitlerista e adquiriram a moral dos senhores, bebendo o leite de loba dos USA e da Inglaterra, aprendendo que o bom é ser amigo do imperador. E Israel fez-se base americana e inglesa no Oriente Médio. O difícil será cair se o império cair. O que é horrível mesmo é que as ex-vítimas, ao desejarem proximidade com o império, viram verdugos: os israelenses construíram muros para cercar as regiões habitadas pelos palestinos, muros que deram a essas regiões aspectos de...guetos! Os próprios palestinos escrevem nesses muros: bem-vindos ao GUETO!
Aliás, hoje se pergunta para quê o julgamento de Eichmann. Nos anos 90, os multiculturalistas afirmaram que toda nação é comunidade imaginária, construída com base em mitos e ficções, entre as quais as respectivas literaturas nacionais. E se aplicássemos essa teorização a Israel, quais seriam seus mitos fundadores? Um deles seria a narrativa bíblica. O outro seria o fato histórico da Shoah interpretado de uma determinada maneira, daí a necessidade do julgamento de Eichmann, praticamente um dos atos fundadores.
Mas vamos refletindo. Enquanto isso, bem-vindo Ahmadinejad, viva a revolução islâmica!
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Carta ao povo brasileiro, por Cesare Battisti
Carta ao povo brasileiro, por Cesare Battisti*
Data: 19/11/2009 - 20/11/2009
AO EXCELENTÍSSIMO SENHOR LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA
PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL SUPREMO MAGISTRADO DA NAÇÃO BRASILEIRA
"Trinta anos mudam muitas coisas na vida dos homens, e às vezes fazem uma vida toda". (O homem em revolta - Albert Camus)
Se olharmos um pouco nosso passado a partir de um ponto de vista histórico, quantos entre nós, podem sinceramente dizer que nunca desejou afirmar a própria humanidade, de desenvolvê-la em todos os seus aspectos em uma ampla liberdade. Poucos. Pouquíssimos são os homens e mulheres de minha geração que não sonharam com um mundo diferente, mais justo.
Entretanto, frequentemente, por pura curiosidade ou circunstâncias, somente alguns decidiram lançar-se na luta, sacrificando a própria vida.
Minha história pessoal é notoriamente bastante conhecida para voltar de novo sobre as relações da escolha que me levou à luta armada. Apenas sei que éramos milhares, e que alguns morreram, outros estão presos, e muito exilados.
Sabíamos que podia acabar assim. Quantos foram os exemplos de revolução que faliram e que a história já nos havia revelado? Ainda assim, recomeçamos, erramos e até perdemos. Não tudo! Os sonhos continuam!
Muitas conquistas sociais que hoje os italianos estão usufruindo foram conquistadas graças ao sangue derramado por esses companheiros da utopia. Eu sou fruto desses anos 70, assim como muitos outros aqui no Brasil, inclusive muitos companheiros que hoje são responsáveis pelos destinos do povo brasileiro. Eu na verdade não perdi nada, porque não lutei por algo que podia levar comigo. Mas agora, detido aqui no Brasil não posso aceitar a humilhação de ser tratado de criminoso comum.
Por isso, frente à surpreendente obstinação de alguns ministros do STF que não querem ver o que era realmente a Itália dos anos 70, que me negam a intenção de meus atos; que fecharam os olhos frente à total falta de provas técnicas de minha culpabilidade referente aos quatro homicídios a mim atribuídos; não reconhecem a revelia do meu julgamento; a prescrição e quem sabe qual outro impedimento à extradição.
Além de tudo, é surpreendente e absurdo, que a Itália tenha me condenado por ativismo político e no Brasil alguns poucos teimam em me extraditar com base em envolvimento em crime comum. É um absurdo, principalmente por ter recebido do Governo Brasileiro a condição de refugiado, decisão à qual serei eternamente grato.
E frente ao fato das enormes dificuldades de ganhar essa batalha contra o poderoso governo italiano, o qual usou de todos os argumentos, ferramentas e armas, não me resta outra alternativa a não ser desde agora entrar em "GREVE DE FOME TOTAL", com o objetivo de que me sejam concedidos os direitos estabelecidos no estatuto do refugiado e preso político. Espero com isso impedir, num último ato de desespero, esta extradição, que para mim equivale a uma pena de morte.
Sempre lutei pela vida, mas se é para morrer, eu estou pronto, mas, nunca pela mão dos meus carrascos. Aqui neste país, no Brasil, continuarei minha luta até o fim, e, embora cansado, jamais vou desistir de lutar pela verdade. A verdade que alguns insistem em não querer ver, e este é o pior dos cegos, aquele que não quer ver.
Findo esta carta, agradecendo aos companheiros que desde o início da minha luta jamais me abandonaram e da mesma forma agradeço àqueles que chegaram de última hora, mas, que têm a mesma importância daqueles que estão ao meu lado desde o princípio de tudo. A vocês os meus sinceros agradecimentos. E como última sugestão eu recomendo que vocês continuem lutando pelos seus ideais, pelas suas convicções. Vale a pena!
Espero que o legado daqueles que tombaram no front da batalha não fique em vão. Podemos até perder uma batalha, mas tenho convicção de que a vitória nesta guerra está reservada aos que lutam pela generosa causa da justiça e da liberdade.
*Cesar Battisti é escritor e ativista político italiano
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quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Reinaldianas Bobagens: vá estudar, Reinaldo Azevedo!
Que linda imagem! Diz tudo...
Recentemente, Reinaldo Azevedo escreveu todo cheio de si em seu blog:
Ô, Gerald Thomas! Volte logo com seu blog para que possa escrever sobre processos de construção de personagem; como é que os atores são convidados, em abordagens digamos, convencionais, a recorrer à memória afetiva para compor os seus papéis.
Mal sabe ele, no entanto, que Gerald Thomas não gosta de Stanislavski, que é o teórico do teatro que propõe o recurso à memória afetiva para compor os seus papéis, como disse num Café Filosófico recente com Contardo Calligaris. Vá estudar Reinaldo! Do Gerald Thomas ele finge que é amigo, mas não entende nada da obra. Tudo o que ele sabe do Gerald é que ele não gosta de Lula, e basta.
Reinaldo Azevedo, dizem, é bom com números. Mas a resposta de Gerald Thomas a ele foi impagável e deu num post chamado Os Idiotas:
Pera ai, Sr. Blogueiro, trocadilheiro nada engraçadinho! Com Fidel ou sem Fidel, com Hitler ou Pol Pot, com ou sem Milosovec, ou Stalin, com ou sem Robert Mugabe ou Idi Amin Dada, não vou aqui comecar a criar um incesto entre blogs. O que seria isso? Um "clogg", um "in-lock"? Enfim, se quizermos comparar crimes humanitários não precisamos de máquinas calculadoras, mas o blogueiro aí da Veja, apesar de querer colocar muitos números e estatisticas em seu blog, acho que falta sexo em sua vida. Você pratica isso por acaso? Está com a vida sexual em dia? Precisa de umas dicas? Esse blogueiro está com os ponteiros no mesmo lugar que Nader: nele próprio!!!!
Os militares brasileiros mataram, toruraram, desapareceram com um monte de gente. Os argentinos, os uruguayos e os chilenos também. Não me venha o senhor aqui com maquinazinha de merda fazer a apologia disso ou daquilo. Isso é tentar reescrever a História de uma das piores maneiras e destruir a dignidade das famílias que sofrem, até hoje, a perda da vida de milhares, digo, milhares de vidas inocentes (muitos estudantes) sacrificadas em nome de nada. Eu disse nada. Em nome da brutalidade pura, do capital estrangeiro, do investimento obscuro, do totalitarismo sem forma, sem idealismo, do regimento militar de ultra direita, financiado e orientado pela CIA. Não acredita ainda? Leia o livro de Philip Agee! Não acredita ainda, vá aos inúmeros livros lançados, na época pela isenta e excelente Amnesty International. E ainda tem gente que defende os militares? Quanta gente imbecil ! Caramba!
Estamos entrando numa nova era ideológica, digamos assim, estamos entrando numa nova era com fome ideológica. Essa fome não tem paladar, devora qualquer coisa que vier, portanto cuidado com a gastrite!. Vivemos numa era cega, sem parâmetros. Qualquer blog pode dizer qualquer coisa, ja que a garotada não tem realmente noção de quem foi Ben Gurion, Malcolm X, James Baldwin, Truman, quem foi Lord Mountbatten ou a porra de Ben Johnson. Não adianta aqui ficar 'name dropping'.
Mas essa nova fome ou era pede um novo tribunal de Nuremberg , como se pudesse haver outro. Não seriam julgados criminosos nazistas. Seriam julgados os Idiotas que escrevem em Blogs. Quem sabe eu mesmo não seria o primeiro réu?
O primeiro réu não sei, mas continuo achando que Reinaldo Azevedo merece esse lugar aí que a imagem (tirada do blog da Dilma) mostrou.
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terça-feira, 17 de novembro de 2009
Glauber 70 anos e o último poema dele
Dia 14 passado, Glauber Rocha faria setenta anos.
O último poema de Glauber, lido de joelhos no palco por sua amiga Norma Bengell:
Não morri na cruz na Sexta-feira da Paixão
e depois do terremoto segui minha volta pelo mundo
Esta é a terceira e definitiva.
Do Palácio Rio Branco raiará a luz do mundo antes do século 3.
O rei da morte será o rei da vida
e o povo pobre será o povo rico
a cruz desaparecerá e os símbolos serão infinitos.
Se o homem continuar a comer os bichos
Os bichos comerão os homens.
A mulher é a terra. O homem, o cosmos.
O homem fecunda o ventre da mulher.
Nove meses depois nascem as flores do mais sagrado fruto
da natureza.
O povo estará unido em torno do grande pajé,
espelho de Deus.
E os signos conjugados criarão o horóscopo
sem destino.
Querer é poder
e assim guiarei as dozes tribos
em direção ao inferno
E das cinzas do Inferno renascerá o Paraíso.
Do livro Glauber, Esse Vulcão, João Carlos Teixera Gomes, p.519, 1997
O último poema de Glauber, lido de joelhos no palco por sua amiga Norma Bengell:
Não morri na cruz na Sexta-feira da Paixão
e depois do terremoto segui minha volta pelo mundo
Esta é a terceira e definitiva.
Do Palácio Rio Branco raiará a luz do mundo antes do século 3.
O rei da morte será o rei da vida
e o povo pobre será o povo rico
a cruz desaparecerá e os símbolos serão infinitos.
Se o homem continuar a comer os bichos
Os bichos comerão os homens.
A mulher é a terra. O homem, o cosmos.
O homem fecunda o ventre da mulher.
Nove meses depois nascem as flores do mais sagrado fruto
da natureza.
O povo estará unido em torno do grande pajé,
espelho de Deus.
E os signos conjugados criarão o horóscopo
sem destino.
Querer é poder
e assim guiarei as dozes tribos
em direção ao inferno
E das cinzas do Inferno renascerá o Paraíso.
Do livro Glauber, Esse Vulcão, João Carlos Teixera Gomes, p.519, 1997
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segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Um poema na revista Tiplov
A revista Tiplov, de Portugal, é associada à revista Agulha. Eles reproduziram recentemente um texto meu, as Notas sobre o Teatro de Gerald Thomas.
http://www.triplov.org/
Vale a visita. Olhem que poema maravilhoso que retirei de lá:
CALA-TE!
Maria Estela Guedes
Filo-café «Silêncio ou morte», Incomunidade. Petín, 07.11.09
A vida, esse livro do ser
Lê-se em silêncio.
Mestre, oficia o rito
Que eu apenas respondo ao salmo,
E no resto
Nem respiro.
O silêncio é uma arma de três gumes
Que usamos diariamente
Para calar amarguras
Ou saltando como pumas:
Cala-te! Porque não te calas?
A vida, esse livro do ser
Lê-se em silêncio.
E a outros, se falam, um punhal
Corta sem hesitar a garganta:
Ou silêncio ou morte!
Não o sabias? Então de que te espantas?
Nada incomoda mais que as ciciantes
Preces, as dos que querem ser lidos
Como revistas de moda,
As dos que sabem tudo, tudo censuram,
A todos desautorizam, em altos gritos de arara.
Cala-te! Porque não te calas, charlatão?
Silêncio, que estou a cantar o fado…
Muito barulho fazeis por coisa de nada
E nada em boa justiça se aplica
Aos que bem mereciam a cadeia.
Nem é a autoridade dos que governam impérios
Com a pressão das armas e do dinheiro
A que mais nos ofende com censura
Sim o seu miniatural espelho
De quem nenhuma obra ousou,
Além de poluir o silêncio com mentira.
À luz da nossa vida pessoal, quem mais nos cala
É quem está mais próximo
Mas esse, porque proclama sem cadeira,
Feitos nem actos,
Por excessiva frioleira, mandemo-lo calar
Pois pouco existe, é só fala-barato.
Abençoados os que se calam
A ouvir.
É preciso sabedoria para reconhecer
Que ignoramos
E que outros no seu dizer
Revelam alguma mestria.
Falem-me em silêncio, na língua da erva
Ou na mais cantarolante dos regatos
E das aves que fazem estrugir as folhas secas
Quando as fêmeas se enamoram
Ao ver as danças dos machos.
A vida, esse livro tremendo,
Representa-se devagar,
Em cenário nocturno
Cortado pelo brilho da lua e pelo
Visionar da coruja.
Mais nada é preciso para tocar o astro
Excepto silêncio e cordura.
http://www.triplov.org/
Vale a visita. Olhem que poema maravilhoso que retirei de lá:
CALA-TE!
Maria Estela Guedes
Filo-café «Silêncio ou morte», Incomunidade. Petín, 07.11.09
A vida, esse livro do ser
Lê-se em silêncio.
Mestre, oficia o rito
Que eu apenas respondo ao salmo,
E no resto
Nem respiro.
O silêncio é uma arma de três gumes
Que usamos diariamente
Para calar amarguras
Ou saltando como pumas:
Cala-te! Porque não te calas?
A vida, esse livro do ser
Lê-se em silêncio.
E a outros, se falam, um punhal
Corta sem hesitar a garganta:
Ou silêncio ou morte!
Não o sabias? Então de que te espantas?
Nada incomoda mais que as ciciantes
Preces, as dos que querem ser lidos
Como revistas de moda,
As dos que sabem tudo, tudo censuram,
A todos desautorizam, em altos gritos de arara.
Cala-te! Porque não te calas, charlatão?
Silêncio, que estou a cantar o fado…
Muito barulho fazeis por coisa de nada
E nada em boa justiça se aplica
Aos que bem mereciam a cadeia.
Nem é a autoridade dos que governam impérios
Com a pressão das armas e do dinheiro
A que mais nos ofende com censura
Sim o seu miniatural espelho
De quem nenhuma obra ousou,
Além de poluir o silêncio com mentira.
À luz da nossa vida pessoal, quem mais nos cala
É quem está mais próximo
Mas esse, porque proclama sem cadeira,
Feitos nem actos,
Por excessiva frioleira, mandemo-lo calar
Pois pouco existe, é só fala-barato.
Abençoados os que se calam
A ouvir.
É preciso sabedoria para reconhecer
Que ignoramos
E que outros no seu dizer
Revelam alguma mestria.
Falem-me em silêncio, na língua da erva
Ou na mais cantarolante dos regatos
E das aves que fazem estrugir as folhas secas
Quando as fêmeas se enamoram
Ao ver as danças dos machos.
A vida, esse livro tremendo,
Representa-se devagar,
Em cenário nocturno
Cortado pelo brilho da lua e pelo
Visionar da coruja.
Mais nada é preciso para tocar o astro
Excepto silêncio e cordura.
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quarta-feira, 11 de novembro de 2009
FHC: Um liberal impopular
Leio o artigo de FHC no Estadão e comento aqui. Já li vários livros dele. Diferente de discos antigos de Caetano, livros antigos de FHC não são lidos com prazer: é um tudo um linguajar soporífero, irritante, ora acadêmico, ora bacharelesco. Não é estudado mais na área de Ciências Humanas. A campanha de Geraldo Alckmin não contou com sua pessoinha impopular: conselho de marqueteiros...
Já esse artigo ("Para Onde Vamos") não é sociologia propriamente; é um panfleto de agitação e propaganda a favor de seu partido, o PSDB. Lula não pode escrever artigos assim; os que ele escrevia no Zero Hora me pareciam ser escritos com ajuda de um ghost writer.
FHC fica, então, numa posição de superioridade. O artigo enfeixa inúmeras críticas e palpites, sempre dizendo como "deveria ser", sempre professoral. FHC foi o professor de Lula, e não Brizola. No entanto, o artigo não tem uma teoria geral sobre o governo Lula tal como FHC apresentara em 2002, dizendo que seria parcialmente a volta do "nacional-estatismo", conceito que ele usou e abusou nos anos 70. Ele não acusa Lula de nacional-estatismo, talvez porque tema maus fluidos geiselistas. Para ele, o imperialismo é um tigre de papel: piratas, só na Somália.
Nas queixas dele, genéricas, me espanta a queixa a respeito das compras de aviões para o exército. Todo mundo que eu encontro e que é do exército queixa-se do armamento sucateado, ultrapassado, dos riscos grandes, etc. FHC irritou-se especialmente com isso, por questões freudianas, quem sabe: o pai dele era o general Lêonidas e era ligado a Getúlio Vargas. Esse artigo gorduroso só pode ser entendido à luz de informações de bastidores encontráveis na web: a IV frota americana voltou à ativa, por isso a compra de armamentos no Brasil, fora as bases e a tensão entre Colômbia, Equador e Venezuela, que já valeu a invasão do Equador; isso pode perfeitamente ocorrer na nossa fronteira, por que não?
O autoritarismo, em si, estaria ligado à excessiva proximidade entre governo e Vale do Rio do Doce, governo e MST, e por aí vai. Ele elenca vários exemplos sem nexo.
Quando fala em Dilma, sempre sem citar seu nome, aí é que se sente a alma tinhosa, invejosa e venenosa desse artigo: Dilma é chamada de "claudicante". Só faltou chamar de "câncer no palanque". Impopular, FHC odeia a ideia de ter de negociar com o PT uma nova derrota. FHC teve apoio da máquina em 94, em 98, em seu governo também ocorreu promiscuidade entre o público e privado, corrupção, etc. Vide Daniel Dantas e Eduardo Azeredo. Esse é um artigo que se perde em um narcisismo de pequenas diferenças. FFHH tem uma obsessão com o dedo faltante de Lula. Ele fez campanha com cinco dedos e agora chamou a indicação de Dilma de "dedaço".
FFHH quer uma competição fálica com Lula, quem sabe na suposição de que, assim como não tem um dedo, Lula talvez não tenha pênis...
Existe uma questão de estilo dele que me irrita sobremaneira. Fora imaginar, ao ler esse texto, ele falando essas coisas com aquela boca mole, "de gamela", como dizem seus adversários. Ele usa aspas a torto e a direito: "entreguista", "privatizadas", como se isso não existisse.
A maior preocupação, obsessão mesmo, nesse artigo, é a possível reversão das privatizações via fundos de pensão, sindicatos e governo, a reestatização; no fundo, ele não se preocupa tanto com a sucessão e sim com seu "legado", sua "herança maldita", que é uma possibilidade que, felizmente, surge no horizonte, vide governo Obama.
O pior é quando chega o final do artigo e essa qualificação neoboba de "subperonismo". Perón foi um estadista destacado entre os únicos dessa estirpe da América Latina e ombreia com Bolívar, Vargas, Fidel Castro e outros. Historicamente será sempre mais importante do que Fernando Henrique Cardoso, que desaparecerá e comerá poeira da História. Se Lula é subperonista, Cristina Kirchner, então, é super-peronista, hiper-peronista, Nestor Kirchner, super-hiper-peronista?
Isso me faz lembrar a frase que finaliza a monografia (péssima de se ler) dele em 1964, que contava com o pai do Xyco Buark na banca: subcapitalismo ou socialismo?
Subcapitalismo, né, FHC, subcapitalismo...
E o pior é ele cobrar prévias no PT, sendo que no PSDB elas também não existem e a indicação é, também, através do bico de alguns tucanos da cúpula.
Fica a cobrança: FHC, aqui em Minas queremos prévias no PSDB entre Aécio e Serra!
Já esse artigo ("Para Onde Vamos") não é sociologia propriamente; é um panfleto de agitação e propaganda a favor de seu partido, o PSDB. Lula não pode escrever artigos assim; os que ele escrevia no Zero Hora me pareciam ser escritos com ajuda de um ghost writer.
FHC fica, então, numa posição de superioridade. O artigo enfeixa inúmeras críticas e palpites, sempre dizendo como "deveria ser", sempre professoral. FHC foi o professor de Lula, e não Brizola. No entanto, o artigo não tem uma teoria geral sobre o governo Lula tal como FHC apresentara em 2002, dizendo que seria parcialmente a volta do "nacional-estatismo", conceito que ele usou e abusou nos anos 70. Ele não acusa Lula de nacional-estatismo, talvez porque tema maus fluidos geiselistas. Para ele, o imperialismo é um tigre de papel: piratas, só na Somália.
Nas queixas dele, genéricas, me espanta a queixa a respeito das compras de aviões para o exército. Todo mundo que eu encontro e que é do exército queixa-se do armamento sucateado, ultrapassado, dos riscos grandes, etc. FHC irritou-se especialmente com isso, por questões freudianas, quem sabe: o pai dele era o general Lêonidas e era ligado a Getúlio Vargas. Esse artigo gorduroso só pode ser entendido à luz de informações de bastidores encontráveis na web: a IV frota americana voltou à ativa, por isso a compra de armamentos no Brasil, fora as bases e a tensão entre Colômbia, Equador e Venezuela, que já valeu a invasão do Equador; isso pode perfeitamente ocorrer na nossa fronteira, por que não?
O autoritarismo, em si, estaria ligado à excessiva proximidade entre governo e Vale do Rio do Doce, governo e MST, e por aí vai. Ele elenca vários exemplos sem nexo.
Quando fala em Dilma, sempre sem citar seu nome, aí é que se sente a alma tinhosa, invejosa e venenosa desse artigo: Dilma é chamada de "claudicante". Só faltou chamar de "câncer no palanque". Impopular, FHC odeia a ideia de ter de negociar com o PT uma nova derrota. FHC teve apoio da máquina em 94, em 98, em seu governo também ocorreu promiscuidade entre o público e privado, corrupção, etc. Vide Daniel Dantas e Eduardo Azeredo. Esse é um artigo que se perde em um narcisismo de pequenas diferenças. FFHH tem uma obsessão com o dedo faltante de Lula. Ele fez campanha com cinco dedos e agora chamou a indicação de Dilma de "dedaço".
FFHH quer uma competição fálica com Lula, quem sabe na suposição de que, assim como não tem um dedo, Lula talvez não tenha pênis...
Existe uma questão de estilo dele que me irrita sobremaneira. Fora imaginar, ao ler esse texto, ele falando essas coisas com aquela boca mole, "de gamela", como dizem seus adversários. Ele usa aspas a torto e a direito: "entreguista", "privatizadas", como se isso não existisse.
A maior preocupação, obsessão mesmo, nesse artigo, é a possível reversão das privatizações via fundos de pensão, sindicatos e governo, a reestatização; no fundo, ele não se preocupa tanto com a sucessão e sim com seu "legado", sua "herança maldita", que é uma possibilidade que, felizmente, surge no horizonte, vide governo Obama.
O pior é quando chega o final do artigo e essa qualificação neoboba de "subperonismo". Perón foi um estadista destacado entre os únicos dessa estirpe da América Latina e ombreia com Bolívar, Vargas, Fidel Castro e outros. Historicamente será sempre mais importante do que Fernando Henrique Cardoso, que desaparecerá e comerá poeira da História. Se Lula é subperonista, Cristina Kirchner, então, é super-peronista, hiper-peronista, Nestor Kirchner, super-hiper-peronista?
Isso me faz lembrar a frase que finaliza a monografia (péssima de se ler) dele em 1964, que contava com o pai do Xyco Buark na banca: subcapitalismo ou socialismo?
Subcapitalismo, né, FHC, subcapitalismo...
E o pior é ele cobrar prévias no PT, sendo que no PSDB elas também não existem e a indicação é, também, através do bico de alguns tucanos da cúpula.
Fica a cobrança: FHC, aqui em Minas queremos prévias no PSDB entre Aécio e Serra!
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segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Blog de Yoani Sánchez em português: divirtam-se
Pessoal: verifico, hoje, que embora os posts de Yoani Sánchez sejam traduzidos e embora o tradutor frequente o blog do Reinaldo Azevedo, ele aparentemente teme divulgar que os textos dela estão disponíveis também em português, porque o debate em português não está favorável à corrente ideológica deles, que só sabe xingar. Então, aí vai:
http://desdecuba.com/generaciony_pt/
Como o que mais existe lá são difamadores do PT e da esquerda em geral, sugiro que todos os meus leitores dessa orientação e de outras passem lá para fazerem um belo debate. É um blog chat, sem moderação, situado num país pária da comunidade internacional, onde aparentemente vale tudo para insultar o regime cubano. Parece ter um nick do Reinaldo, um tal "Dirceu". Já pensaram que divertido um blog chat com Reinaldo Azevedo, que é o que ele mais teme e proíbe no blog dele? kkk! Então, "petralhas", criem nicks, enfim, entrem lá, DIVIRTAM-SE! Um bom substituto do blog do Gerald, que fechou.
http://desdecuba.com/generaciony_pt/
Como o que mais existe lá são difamadores do PT e da esquerda em geral, sugiro que todos os meus leitores dessa orientação e de outras passem lá para fazerem um belo debate. É um blog chat, sem moderação, situado num país pária da comunidade internacional, onde aparentemente vale tudo para insultar o regime cubano. Parece ter um nick do Reinaldo, um tal "Dirceu". Já pensaram que divertido um blog chat com Reinaldo Azevedo, que é o que ele mais teme e proíbe no blog dele? kkk! Então, "petralhas", criem nicks, enfim, entrem lá, DIVIRTAM-SE! Um bom substituto do blog do Gerald, que fechou.
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Para entender a queda do Muro
PARA (REALMENTE) ENTENDER A QUEDA DO MURO DE BERLIM
Celso Lungaretti
A queda do muro de Berlim, há 20 anos, marcou o fim do chamado socialismo real - a tentativa de construção do socialismo com o descarte de algumas das premissas básicas fixadas por Karl Marx e Friedrich Engels em meados do século 19.
No princípio, os profetas apregoavam uma maré revolucionária que uniria e imantaria os proletários de todos os países, varrendo o planeta. É o que lemos no mais inspirado panfleto político que a humanidade já produziu, o Manifesto do Partido Comunista de 1848.
Levando em conta não só que os trabalhadores do mundo inteiro estavam irmanados pela sina de terem uma substancial parcela da riqueza que geravam (a mais-valia) expropriada pelo patronato, como também que a exploração capitalista havia subjugado países e culturas, submetendo proletários de todos os quadrantes a uma mesma lógica de dominação, os papas do marxismo profetizaram que o socialismo seria igualmente implantado em escala global, começando pelas nações de economias mais avançadas e se estendendo a todas as outras.
O movimento revolucionário foi, pouco a pouco, conquistado pela premissa teórica do internacionalismo, ainda mais depois que a heróica Comuna de Paris foi esmagada em 1871 pela ação conjunta de tropas reacionárias francesas com o invasor alemão. Se as nações capitalistas conjugariam suas forças para sufocar qualquer governo operário que fosse instalado, então os movimentos revolucionários precisariam também transpor fronteiras, para terem alguma chance de êxito – foi a conclusão que se impôs.
A Internacional Socialista, que havia sido fundada sete anos antes, soçobrou principalmente devido ao impacto da derrota da Comuna de Paris sobre o conjunto do movimento operário europeu, mas a semente plantada frutificou na poderosa 2ª Internacional, que aglutinou em 1889 os grandes partidos socialistas consolidados nesse ínterim.
A bonança, entretanto, não fez bem a esses partidos. Muitos dirigentes, deslumbrados com os aparelhos conquistados, passaram a querer mantê-los a qualquer preço, lutando por melhoras para a classe operária do seu próprio país, em detrimento da solidariedade internacional. E teorizaram que o socialismo poderia surgir a partir das reformas realizadas pacificamente e do crescimento numérico da classe média, sem necessidade de uma revolução.
A deflagração da 1ª Guerra Mundial cindiu definitivamente o movimento revolucionário: os reformistas acabaram alinhados com os governos de seus respectivos países no esforço guerreiro, enquanto os marxistas conclamaram os proletários a não dispararem contra seus irmãos de outras nações.
Lênin, Trotsky e Rosa Luxemburgo encabeçaram a reação contra os (por eles designados pejorativamente como) sociais-patriotas e os trâmites para a fundação da 3ª Internacional, contraponto àquela que perdera sua razão de ser.
O socialismo num só país – Em 1917, surgiu a primeira oportunidade de tomada de poder pelos revolucionários desde a Comuna de Paris. E os bolcheviques discutiram apaixonadamente se seria válida uma revolução em país tão atrasado como a Rússia – uma verdadeira heresia à luz dos ensinamentos marxistas.
Para Marx, o socialismo viria distribuir de forma equânime as riquezas geradas sob o capitalismo, de forma que beneficiassem o conjunto da população e não apenas uma minoria privilegiada. Então, ele sempre augurara que a revolução mundial começaria nos países capitalistas mais avançados, como a Inglaterra, a França e a Alemanha.
Um governo revolucionário na Rússia seria obrigado a cumprir tarefas características da fase da acumulação primitiva do capital, como a criação de infra-estrutura básica e a industrialização do país. O justificado temor de alguns dirigentes bolcheviques era de que, assumindo tais encargos, a revolução acabasse se desvirtuando irremediavelmente.
Prevaleceu, entretanto, a posição de que a revolução russa seria o estopim da revolução mundial, começando pela tomada de poder na Alemanha. Então, alavancada e apoiada pelos países socialistas mais prósperos, a construção do socialismo na Rússia se tornaria viável.
Os bolcheviques venceram, mas seus congêneres alemães foram derrotados em 1918. A maré revolucionária acabou sendo contida no mundo inteiro e, como se previa, várias nações capitalistas se coligaram para combater pelas armas o nascente governo revolucionário. Mesmo assim, o gênio militar de Trotsky acabou garantindo, apesar da enorme disparidade de forças, a sobrevivência da URSS.
Quando ficou evidente que a revolução mundial não ocorreria tão cedo, a União Soviética tratou de sair sozinha da armadilha em que se colocara. Devastada e isolada, precisou criar uma economia moderna a partir do nada.
Nenhum ardor revolucionário seria capaz de levar as massas a empreenderem esforços titânicos e a suportarem privações dia após dia, indefinidamente. Só mesmo a força bruta garantiria essa mobilização permanente, sobre-humana, de energias para o desenvolvimento econômico. A tirania stalinista cumpriu esse papel.
A revolução nunca mais voltou aos trilhos marxistas. Como único país dito socialista, a URSS passou a projetar mundialmente seu modelo despótico, que encontrou viva rejeição nas nações avançadas. Nestas, as únicas adesões não se deveram à atuação política dos trabalhadores, mas sim às baionetas do Exército Vermelho, quando da vitória sobre o nazismo.
Tomada autêntica de poder houve em outros países pobres e atrasados, como a China, Cuba, Vietnã e Camboja. E todos repetiram a trajetória para o modelo autoritário do socialismo num só país stalinista.
O grande feito da URSS: derrotar Hitler - Este conseguiu, é verdade, fazer com que a economia da URSS avançasse praticamente um século em duas décadas (as de 1920 e 1930), o que foi fundamental para o país conseguir a proeza praticamente impossível de quebrar a espinha do nazismo.
Pois, é preciso que se diga: Hitler foi vencido na União Soviética, quando comprometeu o melhor da sua máquina de guerra numa derrota contundente.
Ao se retirar, já estava irremediavelmente derrotado. As forças aliadas apenas completaram o serviço.
Mas, a arregimentação autoritária da mão-de-obra só funcionou a contento na etapa da industrialização pesada.
Na segunda metade do século 20, a economia capitalista avançou noutra direção, a da sofisticação tecnológica, da miniaturização, da gestação sôfrega de novas manias consumistas. Informática, biotecnologia, novos materiais, novos processos.
O avanço movido a ganância, com base no talento individual, na pesquisa e na tecnologia, derrotou a economia letárgica da URSS, tornada jurássica da noite para o dia, e sua nomenklatura arrogante que se reservava todos os privilégios.
Comprovava-se a máxima marxista segundo a qual são os países com forças produtivas mais desenvolvidas que determinam os rumos da humanidade.
O bloco soviético desabou como uma fruta apodrecida. Seus países voltaram ao capitalismo e à democracia burguesa.
A China conseguiu manter o sistema político autoritário, à custa de mesclar a economia estatizada com a iniciativa privada. Criou o pior dos mundos possíveis: algo assim como o milagre brasileiro, com a falta de liberdade sendo aceita em função das melhoras materiais proporcionadas pelo regime (e do espírito tradicionalmente submisso dos asiáticos).
Sobrou para os idealistas do século 21 a missão de recolocar a revolução nos trilhos, para que ainda seja cumprindo o sonho original de Marx: não apenas regimes híbridos em países isolados, mas sim o planeta inteiro transformado no “reino da liberdade, para além da necessidade”, em que:
* cada cidadão contribua no limite de suas possibilidades para que todos os cidadãos tenham o suficiente para suprirem as suas necessidades e desenvolverem plenamente as suas potencialidades; e
* o estado desapareça, com os cidadãos assumindo a administração das coisas como parte de sua rotina e a ninguém ocorra administrar os homens, já que eles serão, para sempre, sujeitos da sua própria História.
Engendrarmos uma onda revolucionária capaz de varrer o planeta é tarefa gigantesca? É.
Mas, em relação ao século 19, há uma mudança importante: ela se tornou muito mais necessária, como alternativa à regressão -- talvez, até, à própria aniquilação -- da humanidade.
Pois, salta aos olhos que, mantida a prioridade dos interesses individuais sobre os coletivos, a exaustão de recursos naturais e as catástrofes ecológicas reduzirão drasticamente os contingentes humanos, ou os exterminarão de vez.
A opção a fazermos, como disse Norman O. Brown, agora é entre a vida numa sociedade solidária e harmoniosa, ou a morte sob o capitalismo excludente e predatório.
Postado por Celso Lungaretti às 8:50 AM
Marcadores: capitalismo, Friedrich Engeles, Herbert Marcuse, Joseph Stalin, Karl Marx, Leon Trotsky, Lênin, Norman O. Brown, reformismo, revolução, Rosa Luxemburgo
Celso Lungaretti
A queda do muro de Berlim, há 20 anos, marcou o fim do chamado socialismo real - a tentativa de construção do socialismo com o descarte de algumas das premissas básicas fixadas por Karl Marx e Friedrich Engels em meados do século 19.
No princípio, os profetas apregoavam uma maré revolucionária que uniria e imantaria os proletários de todos os países, varrendo o planeta. É o que lemos no mais inspirado panfleto político que a humanidade já produziu, o Manifesto do Partido Comunista de 1848.
Levando em conta não só que os trabalhadores do mundo inteiro estavam irmanados pela sina de terem uma substancial parcela da riqueza que geravam (a mais-valia) expropriada pelo patronato, como também que a exploração capitalista havia subjugado países e culturas, submetendo proletários de todos os quadrantes a uma mesma lógica de dominação, os papas do marxismo profetizaram que o socialismo seria igualmente implantado em escala global, começando pelas nações de economias mais avançadas e se estendendo a todas as outras.
O movimento revolucionário foi, pouco a pouco, conquistado pela premissa teórica do internacionalismo, ainda mais depois que a heróica Comuna de Paris foi esmagada em 1871 pela ação conjunta de tropas reacionárias francesas com o invasor alemão. Se as nações capitalistas conjugariam suas forças para sufocar qualquer governo operário que fosse instalado, então os movimentos revolucionários precisariam também transpor fronteiras, para terem alguma chance de êxito – foi a conclusão que se impôs.
A Internacional Socialista, que havia sido fundada sete anos antes, soçobrou principalmente devido ao impacto da derrota da Comuna de Paris sobre o conjunto do movimento operário europeu, mas a semente plantada frutificou na poderosa 2ª Internacional, que aglutinou em 1889 os grandes partidos socialistas consolidados nesse ínterim.
A bonança, entretanto, não fez bem a esses partidos. Muitos dirigentes, deslumbrados com os aparelhos conquistados, passaram a querer mantê-los a qualquer preço, lutando por melhoras para a classe operária do seu próprio país, em detrimento da solidariedade internacional. E teorizaram que o socialismo poderia surgir a partir das reformas realizadas pacificamente e do crescimento numérico da classe média, sem necessidade de uma revolução.
A deflagração da 1ª Guerra Mundial cindiu definitivamente o movimento revolucionário: os reformistas acabaram alinhados com os governos de seus respectivos países no esforço guerreiro, enquanto os marxistas conclamaram os proletários a não dispararem contra seus irmãos de outras nações.
Lênin, Trotsky e Rosa Luxemburgo encabeçaram a reação contra os (por eles designados pejorativamente como) sociais-patriotas e os trâmites para a fundação da 3ª Internacional, contraponto àquela que perdera sua razão de ser.
O socialismo num só país – Em 1917, surgiu a primeira oportunidade de tomada de poder pelos revolucionários desde a Comuna de Paris. E os bolcheviques discutiram apaixonadamente se seria válida uma revolução em país tão atrasado como a Rússia – uma verdadeira heresia à luz dos ensinamentos marxistas.
Para Marx, o socialismo viria distribuir de forma equânime as riquezas geradas sob o capitalismo, de forma que beneficiassem o conjunto da população e não apenas uma minoria privilegiada. Então, ele sempre augurara que a revolução mundial começaria nos países capitalistas mais avançados, como a Inglaterra, a França e a Alemanha.
Um governo revolucionário na Rússia seria obrigado a cumprir tarefas características da fase da acumulação primitiva do capital, como a criação de infra-estrutura básica e a industrialização do país. O justificado temor de alguns dirigentes bolcheviques era de que, assumindo tais encargos, a revolução acabasse se desvirtuando irremediavelmente.
Prevaleceu, entretanto, a posição de que a revolução russa seria o estopim da revolução mundial, começando pela tomada de poder na Alemanha. Então, alavancada e apoiada pelos países socialistas mais prósperos, a construção do socialismo na Rússia se tornaria viável.
Os bolcheviques venceram, mas seus congêneres alemães foram derrotados em 1918. A maré revolucionária acabou sendo contida no mundo inteiro e, como se previa, várias nações capitalistas se coligaram para combater pelas armas o nascente governo revolucionário. Mesmo assim, o gênio militar de Trotsky acabou garantindo, apesar da enorme disparidade de forças, a sobrevivência da URSS.
Quando ficou evidente que a revolução mundial não ocorreria tão cedo, a União Soviética tratou de sair sozinha da armadilha em que se colocara. Devastada e isolada, precisou criar uma economia moderna a partir do nada.
Nenhum ardor revolucionário seria capaz de levar as massas a empreenderem esforços titânicos e a suportarem privações dia após dia, indefinidamente. Só mesmo a força bruta garantiria essa mobilização permanente, sobre-humana, de energias para o desenvolvimento econômico. A tirania stalinista cumpriu esse papel.
A revolução nunca mais voltou aos trilhos marxistas. Como único país dito socialista, a URSS passou a projetar mundialmente seu modelo despótico, que encontrou viva rejeição nas nações avançadas. Nestas, as únicas adesões não se deveram à atuação política dos trabalhadores, mas sim às baionetas do Exército Vermelho, quando da vitória sobre o nazismo.
Tomada autêntica de poder houve em outros países pobres e atrasados, como a China, Cuba, Vietnã e Camboja. E todos repetiram a trajetória para o modelo autoritário do socialismo num só país stalinista.
O grande feito da URSS: derrotar Hitler - Este conseguiu, é verdade, fazer com que a economia da URSS avançasse praticamente um século em duas décadas (as de 1920 e 1930), o que foi fundamental para o país conseguir a proeza praticamente impossível de quebrar a espinha do nazismo.
Pois, é preciso que se diga: Hitler foi vencido na União Soviética, quando comprometeu o melhor da sua máquina de guerra numa derrota contundente.
Ao se retirar, já estava irremediavelmente derrotado. As forças aliadas apenas completaram o serviço.
Mas, a arregimentação autoritária da mão-de-obra só funcionou a contento na etapa da industrialização pesada.
Na segunda metade do século 20, a economia capitalista avançou noutra direção, a da sofisticação tecnológica, da miniaturização, da gestação sôfrega de novas manias consumistas. Informática, biotecnologia, novos materiais, novos processos.
O avanço movido a ganância, com base no talento individual, na pesquisa e na tecnologia, derrotou a economia letárgica da URSS, tornada jurássica da noite para o dia, e sua nomenklatura arrogante que se reservava todos os privilégios.
Comprovava-se a máxima marxista segundo a qual são os países com forças produtivas mais desenvolvidas que determinam os rumos da humanidade.
O bloco soviético desabou como uma fruta apodrecida. Seus países voltaram ao capitalismo e à democracia burguesa.
A China conseguiu manter o sistema político autoritário, à custa de mesclar a economia estatizada com a iniciativa privada. Criou o pior dos mundos possíveis: algo assim como o milagre brasileiro, com a falta de liberdade sendo aceita em função das melhoras materiais proporcionadas pelo regime (e do espírito tradicionalmente submisso dos asiáticos).
Sobrou para os idealistas do século 21 a missão de recolocar a revolução nos trilhos, para que ainda seja cumprindo o sonho original de Marx: não apenas regimes híbridos em países isolados, mas sim o planeta inteiro transformado no “reino da liberdade, para além da necessidade”, em que:
* cada cidadão contribua no limite de suas possibilidades para que todos os cidadãos tenham o suficiente para suprirem as suas necessidades e desenvolverem plenamente as suas potencialidades; e
* o estado desapareça, com os cidadãos assumindo a administração das coisas como parte de sua rotina e a ninguém ocorra administrar os homens, já que eles serão, para sempre, sujeitos da sua própria História.
Engendrarmos uma onda revolucionária capaz de varrer o planeta é tarefa gigantesca? É.
Mas, em relação ao século 19, há uma mudança importante: ela se tornou muito mais necessária, como alternativa à regressão -- talvez, até, à própria aniquilação -- da humanidade.
Pois, salta aos olhos que, mantida a prioridade dos interesses individuais sobre os coletivos, a exaustão de recursos naturais e as catástrofes ecológicas reduzirão drasticamente os contingentes humanos, ou os exterminarão de vez.
A opção a fazermos, como disse Norman O. Brown, agora é entre a vida numa sociedade solidária e harmoniosa, ou a morte sob o capitalismo excludente e predatório.
Postado por Celso Lungaretti às 8:50 AM
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sábado, 7 de novembro de 2009
Blogagem coletiva de Reinaldo Azevedo e Yoani
Pessoal, estou participando do movimentado blog geração y, da Yoani Sánchez. Não há como imaginar que esse blog seja sustentando só por uma pessoa. Uma equipe traduz os posts em vários idiomas e existem comentadores fixos, por exemplo, em português do Brasil, que se ocupam, no tom de Reinaldo Azevedo e Olavo de Carvalho, em denegrir Lula, Chávez, Raul e outros e qualquer coisa que de longe cheire a socialismo. Uma equipe ou organização parece estar por trás do blog. Quem será? Pelo anticomunismo furibundo, fiquei temendo ser a CIA. Vejam só a classe do comentador "Dirceu":
Para um esquerdopata, que trata um assassino da família castro ruz de maneira íntima em seu blog, eu (Yoani também) só poderia ser financiado, não posso ter opinião própria fundada em fatos, tenho que estar a serviço dos “yankees imperialista”.
Isto demonstra claramente a mente doentia que eles possuem, junto com a inveja, mesmo porque você sinistro não precisava indicar o blog da Yoani, vez que seu blog é inexpressivo. O fez para chamar atenção à sua insignificância e a de seu blog, citando no post o porco assassino fedido che em filme de Roliude, porque aí sim tem valor os “yankees” do tipo abestalhado Oliver Stone, Seann Penn, Sodenbergh, et caterva.
Continua o conselho:
Vai se roçar nas ostras admirador do fedido fundador da rolha socialista na ilha prisão.
E pior é que, para mim, Lula é neoliberalismo com cesta básica para o povão; FHC era o neoliberalismo puro. Só isso...
Para um esquerdopata, que trata um assassino da família castro ruz de maneira íntima em seu blog, eu (Yoani também) só poderia ser financiado, não posso ter opinião própria fundada em fatos, tenho que estar a serviço dos “yankees imperialista”.
Isto demonstra claramente a mente doentia que eles possuem, junto com a inveja, mesmo porque você sinistro não precisava indicar o blog da Yoani, vez que seu blog é inexpressivo. O fez para chamar atenção à sua insignificância e a de seu blog, citando no post o porco assassino fedido che em filme de Roliude, porque aí sim tem valor os “yankees” do tipo abestalhado Oliver Stone, Seann Penn, Sodenbergh, et caterva.
Continua o conselho:
Vai se roçar nas ostras admirador do fedido fundador da rolha socialista na ilha prisão.
E pior é que, para mim, Lula é neoliberalismo com cesta básica para o povão; FHC era o neoliberalismo puro. Só isso...
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Comentário sobre o último livro de Costa Lima
EXTRA! EXTRA!
Pessoal: esse blog do Ronald Augusto, poesia-pau.blogspot.com, é excelente. Não percam lá o texto Decadência do Império Caetano, que mereceu de Caetano até mesmo uma resposta (sem citar o nome, sempre, pois Caets nunca cita seus adversários intelectuais, assim como Pasquale faz com Marcos Bagno e Sírio Possenti).
sábado, 8 de agosto de 2009
O controle e a afirmação do traidor dilacerado
Sem que isso seja mencionado em seu prejuízo, O controle do imaginário & a afirmação do romance é em princípio um livro voltado para uma audiência acadêmica, já que até certo ponto, para a sua compreensão, se requer o conhecimento de obras anteriores do autor mais afeitas aos cânones da instituição. Mesmo no design da capa se denuncia essa medida de livro — com suas quase quatrocentas páginas — ofertado à cobiça professoral e científica. Os motivos mondrianescos ajustados aos quadrículos coloridos, alguns cortados diagonalmente; a alusão ao concretismo publicitário enquanto estilema gráfico-visual, presente no lirismo de diagrama a evocar as “bandeirinhas” de Volpi, e que, agora, na prateleira das livrarias, exposto ao olhar do leitor compenetrado, dir-se-ia tratar-se de um livro de lógica, de análise das estruturas do discurso, enfim, dessas coisas que demandam anos de dedicação, e que só podem ser levadas a cabo pelo pathos meticuloso de secretários do castelo. Vale dizer, ainda, que a obra aqui resenhada é um prolongamento de análises publicadas — quer em âmbito universitário, quer em comercial — e de cursos que Luis Costa Lima vem apresentando desde a década de 1980. Na “Nota introdutória” (pág. 13), o crítico e professor, refere que José Mário Pereira tomou a iniciativa de patrocinar a reedição de um conjunto de estudos, a Trilogia do controle (2007), que na década de 1980, ele, Costa Lima, escreveu sobre a questão do controle do imaginário.
Por outro lado, O controle do imaginário & a afirmação do romance é de interesse para outros leitores não restritos àquelas instituições de ensino. É uma obra bem escrita, seu refinamento de linguagem não provoca o sono. Agora, se o livro é dedicado à memória de alguns escritores consagrados, e, ao que tudo indica, amigos e interlocutores de Luis Costa Lima, a presente resenha, escrita por alguém que não leu as obras anteriores do autor de que se ocupa, é dedicada à memória do leitor interessado, ou do leitor “malandro” naquela acepção cunhada pelas análises de Antônio Candido acerca de uma determinada forma de romance. O leitor motivado pelo desejo, cujo tempo dedicado à leitura de estudos críticos ou hermenêuticos é o mesmo que dedica à leitura de textos artísticos, isto é, o tempo que dura o prazer textual.
Mas, mesmo num livro em que é patente seu escopo de gosto enciclopédico e seu apetite de scholar, há lugar para a confissão e para a solidariedade corporativa. Fique esclarecido que tais inconfidências aparecem na mencionada “Nota introdutória”, o lugar correto para isso, situado aquém do ponto onde o rigor da análise tenta cancelar o contingente. Assim, Costa Lima admite que este talvez seja o seu último livro apoiado em uma longa pesquisa, pois se encontra em estação provecta, isto é, já não tem idade para essas coisas. E, mais adiante, menciona sua opção por não fazer parte da tribo dos especialistas por constatar a tortura que seria batalhar por manter-se “atualizado em um país em que bibliotecas permanecem um artigo de luxo”, mostrando-se, por sua vez, atento às vicissitudes dos seus colegas universitários.
Mas, continuando, O controle do imaginário & a afirmação do romance se divide em duas partes. Na primeira, Costa Lima situa o leitor no ambiente teórico-contextual do controle, sua proposta é apresentar o “Renascimento italiano como o tempo de que parte não só a hostilidade contra o romance como a motivação para ele”; na segunda e última parte, o autor se dedica ao estudo hermenêutico de romances que são paradigmáticos a propósito do tema eleito, pois é sobre as obras desse período (dos séculos XV e XVI para cá) que por excelência o controle do imaginário é exercido de modo mais severo. Estamos mais ou menos dentro dos limites da Reforma e da Contrarreforma.
Luis Costa Lima não faz uma investigação puramente textual, isolada das condições da sociedade, e tampouco se restringe a questionamentos historicizantes. O estatuto que emerge de sua argumentação e que aponta para a “teoria geral do controle” não é depositário de uma análise meramente sociopolítica. O grande excurso histórico da primeira parte parece contradizer a afirmação anterior, inclusive porque um pouco a contragosto do próprio autor essa primeira parte resultou maior do que o imaginado. Com efeito, o autor procura demonstrar que o controle se plasma sob duas situações. Em primeiro lugar, não é difícil constatar que sempre está implícito alguma forma de controle na estrutura das sociedades, pois estas se assentam sobre regras, “e onde há regras há controle. Mas, Luis Costa Lima anota uma coisa importante: o controle “não assume um aspecto visível e marcante se a instituição ou a sociedade que o ativa não está em crise, ou sob sua iminente ameaça”. O controle do imaginário... investiga então em sua primeira parte como o controle do romance é dependente da crise que afetara tanto a Igreja “enquanto matriz dos valores institucionalizados” como o poder configurado nas cidades-Estados italianas. O ponto de partida da crise que irriga o controle é, portanto, o Renascimento, onde se reitera o mundo antigo como norma, e que se intensifica “com a Reforma e a reação católica, a Contrarreforma e o Concílio de Trento”.
Mas, eu gostaria de voltar à questão quase óbvia que diz respeito à afirmação: “onde há regras há controle”. O estudo de Luis Costa Lima nos permite uma reflexão em perspectiva e em outras direções. O controle está implicado em todas as estruturas sociopolíticas que representam a forma consagrada para normatizar as relações de poder entre os cidadãos. Estas relações se definem por meio de uma ordem que objetiva assegurar as necessidades e os desejos do grupo em detrimento dos do indivíduo. O controle do imaginário se beneficia das relações de força e dominação que estão em jogo quando se estabelece o teatro conflituoso e/ou conciliatório na cena social. Mas o controle, ao contrário da censura, quase nunca é explícito. Para Luis Costa Lima a censura “é de imediato visível e localizável”. Já o controle do imaginário, como foi dito mais acima, não só lhe é gentilmente hostil, mas como que também o motiva.
Essa condição por assim dizer multifária do controle torna-o maleável e capaz de naturalizar-se, e de neutralizar, por exemplo, hoje, as tensões estéticas atinentes ao ficcional. Romances fundamentais, até então criadores de caso e de fervorosos debates como Ulisses, Finnegans Wake, Grande Sertão: Veredas tornaram-se agora obras a respeito das quais não se diz se não o rotineiramente tolerável, e com muita boa-vontade. Elas são escassamente referidas por meio de um discurso em estado de lápide, isto é, as afirmações e/ou negações se prestam, quando muito, a inscrições tumulares e controvérsias de fachada. O resultado é que tanto os que as repudiam quanto os que as incensam, em fim de contas, acabam se encontrando numa zona de intransigência anódina ou de indiferença estética que não gera movimento nenhum. Essas obras que alargaram os limites do romance clássico, segundo a atual dinâmica do controle do imaginário, já estão catalogadas e fartamente interpretadas; não servem mais de insumo ao tacanho realismo desses prosadores para quem a simples menção a um “público refinado” lhes provoca uma cusparada de clichês antidecadentistas. Como diz Luis Costa Lima em entrevista, o controle, — que, em sua análise se refere a jogos de poder dos grupos dominantes ao longo da História — se associa também à lógica de mercado. Com efeito, o mercado busca moldar menos este ou aquele autor em particular do que um modo de escrita que não entre em atrito com o repertório de um hipotético público leitor. O crítico literário Frank Kermode menciona ainda a presença nefasta de um “controle institucional da interpretação”, instância de poder de cuja função se espera a classificação do que é e do que não é canônico, fazendo, assim, em versão secular as vezes da figura do Concílio da Igreja que tinha como atribuição decidir quais os santos passíveis de canonização. Ora, sob esse aspecto a ideia de cânone se funda num modelo de controle que mais aprendemos a apreciar e respirar do que prestar-lhe uma atenção crítica. Cito alguns dos representantes do controle da interpretação: a universidade, a crítica especializada, os grupelhos de beletristas bem relacionados, os ocupantes de órgãos públicos e/ou privados ligados à cultura, etc.
É também na primeira parte de O controle do imaginário & a afirmação do romance que vamos encontrar a interessante análise a respeito da dialética da simulação e da dissimulação como forma de convivência ou de conciliação com o controle. O olhar de Luis Costa Lima procura desvelar “o que se ocultava sob a alegre docilidade dos cortesãos e a resignação dos modestos escribas”. A legitimação dos condottieri assentava-se sobre bases ilegítimas. E porque ilegítimos “tais senhores precisavam compensar traições e crueldades com gestos e requintes de chefes finos. Por exemplo com o estímulo à cortesania”. Baldassare Castiglione, de acordo com o autor, é quem decodifica a gramática e a conduta do cortesão no seu Il Corteggiano (1528), obra escrita entre o humanismo e a Contrarreforma. O cortesão encarna a figura do intelectual e do artista que esposa o compromisso de fazer a mediação entre culturas diversas e disputas palacianas. Seu jogo não se faz num espaço público. Seu jogo dramático assume a forma de um “drama da contenção, contudo não mais a contenção da paixão ou da loucura, e sim a contenção da perspicácia”. Esse personagem apóia o seu discurso em afirmações e contraditas que se fazem acompanhar da marcação de um ridendo, senha de uma metalinguagem a assinalar que suas palavras não devem ser levadas a sério.
Luis Costa Lima define o cortesão como uma ficção externa (isto é, realizada fora do âmbito de uma obra de arte); um esteta, uma ficção ambulante. Um entertainer que dominasse a arte da esgrima. Os condottieri, com sua proverbial obstinação em deixar-se enganar e cobiçosos de ver menos vacilantes as bases de sua legitimação se aproveitavam indiscriminadamente dos serviços dos cortesãos. Com isso também eram chamuscados pelas chamas de sua cortesania cheia de charme. E às vezes acabavam favorecendo aqueles que talvez só merecessem seus desfavores. O cortesão como ficção externa, no entanto, não faz uso de normas preestabelecidas. Segundo Costa Lima, “em vez de normas, por éticas que pareçam” a prática cortesã se decide pela cautela. Esse artista alcoviteiro, se podemos assim dizer, compósito de escritor, secretário do castelo, e conselheiro, situa-se na entrelinha, no intervalo, e cumpre com tamanho virtuosismo os seus vagos afazeres que a impressão causada é a de que faz bem o que faz, mas sem demonstrar o menor esforço; ele se refugia na displicência. Metáfora da arte que sobrevive ao controle, que se aproveita de um cochilo ou outro do sistema e dissimula aquilo que é. No exercício divino e malévolo de sua bouffonerie o artista-cortesão nos demonstra que a dissimulação supõe a “habilidade de não fazer ver as coisas como são”. Reduzir e dissimular são termos dessa estratégia de sacrifício a que se dedica cotidianamente, com o propósito mais secreto de confrontar-se com a ordem social. De acordo com Luis Costa Lima, o cortesão, condenado a fazer falar lateralmente o silêncio da supressão e da autossupressão, presume em perspectiva que o “estilo da perda converte-se em estilo da revanche”. Metáfora do escritor como um traidor dilacerado: “simula-se aquilo que não é, dissimula-se aquilo que é”. A ficção externa como dissimulação na tentativa de convivência e conciliação com o controle acaba por fortificar o centro deste, porquanto as armas de que se serve aquela (astúcia, ambigüidade, embromação e alguma falsidade) são as mesmas de que se aparelham os mecanismos de controle.
Na segunda parte de O controle do imaginário & a afirmação do romance, Luis Costa Lima se detém em alguns romances paradigmáticos que começam a travar uma relação de outra ordem com os processos de controle da imaginação atuantes nas sociedades de corte católicas. Trata-se agora de enfrentar os primeiros lances de uma ficção interna — em oposição ao ridendo da ficção externa do cortesão — que se constitui num como se assumido. O autor detecta neste conjunto de romances (Dom Quixote, As relações perigosas, Moll Flanders e Tristram Shandy) o índice do ficcional como alternativa discursiva — a máscara que se declara máscara —, e não mero jogo de cena e dissimulação. Mas aqui minha fabulação manca, pois das quatro obras investigadas por Luis Costa Lima só pude ler o Dom Quixote. E eu diria apenas o seguinte: a obra máxima de Miguel de Cervantes ajuda a fundar a categoria moderna da “ficção”, que se constitui como um tipo de linguagem que não é nem “verdade” nem “mentira”, senão que tem um estatuto próprio. Em Dom Quixote lemos menos a dissimulação que a simulação da loucura. De outra parte, devo dizer que não tenho tempo nem paciência para a longa leitura que os outros romances exigiriam de mim. Como não costumo ler comentários ou análises de textos que ainda não li, resolvo parar por aqui mesmo. Mas pelo que consegui ver em minha leitura mais curiosa da primeira parte de O controle do imaginário & a afirmação do romance, tenho certeza de que Luis Costa Lima se houve muito bem na interpretação dessas obras clássicas, e na afirmação, por meio delas, da capacidade de o romance bom propor novos esquemas críticos e inventivos na sua relação com o controle.
Postado por ronald augusto às 15:39 0 comentários
Pessoal: esse blog do Ronald Augusto, poesia-pau.blogspot.com, é excelente. Não percam lá o texto Decadência do Império Caetano, que mereceu de Caetano até mesmo uma resposta (sem citar o nome, sempre, pois Caets nunca cita seus adversários intelectuais, assim como Pasquale faz com Marcos Bagno e Sírio Possenti).
sábado, 8 de agosto de 2009
O controle e a afirmação do traidor dilacerado
Sem que isso seja mencionado em seu prejuízo, O controle do imaginário & a afirmação do romance é em princípio um livro voltado para uma audiência acadêmica, já que até certo ponto, para a sua compreensão, se requer o conhecimento de obras anteriores do autor mais afeitas aos cânones da instituição. Mesmo no design da capa se denuncia essa medida de livro — com suas quase quatrocentas páginas — ofertado à cobiça professoral e científica. Os motivos mondrianescos ajustados aos quadrículos coloridos, alguns cortados diagonalmente; a alusão ao concretismo publicitário enquanto estilema gráfico-visual, presente no lirismo de diagrama a evocar as “bandeirinhas” de Volpi, e que, agora, na prateleira das livrarias, exposto ao olhar do leitor compenetrado, dir-se-ia tratar-se de um livro de lógica, de análise das estruturas do discurso, enfim, dessas coisas que demandam anos de dedicação, e que só podem ser levadas a cabo pelo pathos meticuloso de secretários do castelo. Vale dizer, ainda, que a obra aqui resenhada é um prolongamento de análises publicadas — quer em âmbito universitário, quer em comercial — e de cursos que Luis Costa Lima vem apresentando desde a década de 1980. Na “Nota introdutória” (pág. 13), o crítico e professor, refere que José Mário Pereira tomou a iniciativa de patrocinar a reedição de um conjunto de estudos, a Trilogia do controle (2007), que na década de 1980, ele, Costa Lima, escreveu sobre a questão do controle do imaginário.
Por outro lado, O controle do imaginário & a afirmação do romance é de interesse para outros leitores não restritos àquelas instituições de ensino. É uma obra bem escrita, seu refinamento de linguagem não provoca o sono. Agora, se o livro é dedicado à memória de alguns escritores consagrados, e, ao que tudo indica, amigos e interlocutores de Luis Costa Lima, a presente resenha, escrita por alguém que não leu as obras anteriores do autor de que se ocupa, é dedicada à memória do leitor interessado, ou do leitor “malandro” naquela acepção cunhada pelas análises de Antônio Candido acerca de uma determinada forma de romance. O leitor motivado pelo desejo, cujo tempo dedicado à leitura de estudos críticos ou hermenêuticos é o mesmo que dedica à leitura de textos artísticos, isto é, o tempo que dura o prazer textual.
Mas, mesmo num livro em que é patente seu escopo de gosto enciclopédico e seu apetite de scholar, há lugar para a confissão e para a solidariedade corporativa. Fique esclarecido que tais inconfidências aparecem na mencionada “Nota introdutória”, o lugar correto para isso, situado aquém do ponto onde o rigor da análise tenta cancelar o contingente. Assim, Costa Lima admite que este talvez seja o seu último livro apoiado em uma longa pesquisa, pois se encontra em estação provecta, isto é, já não tem idade para essas coisas. E, mais adiante, menciona sua opção por não fazer parte da tribo dos especialistas por constatar a tortura que seria batalhar por manter-se “atualizado em um país em que bibliotecas permanecem um artigo de luxo”, mostrando-se, por sua vez, atento às vicissitudes dos seus colegas universitários.
Mas, continuando, O controle do imaginário & a afirmação do romance se divide em duas partes. Na primeira, Costa Lima situa o leitor no ambiente teórico-contextual do controle, sua proposta é apresentar o “Renascimento italiano como o tempo de que parte não só a hostilidade contra o romance como a motivação para ele”; na segunda e última parte, o autor se dedica ao estudo hermenêutico de romances que são paradigmáticos a propósito do tema eleito, pois é sobre as obras desse período (dos séculos XV e XVI para cá) que por excelência o controle do imaginário é exercido de modo mais severo. Estamos mais ou menos dentro dos limites da Reforma e da Contrarreforma.
Luis Costa Lima não faz uma investigação puramente textual, isolada das condições da sociedade, e tampouco se restringe a questionamentos historicizantes. O estatuto que emerge de sua argumentação e que aponta para a “teoria geral do controle” não é depositário de uma análise meramente sociopolítica. O grande excurso histórico da primeira parte parece contradizer a afirmação anterior, inclusive porque um pouco a contragosto do próprio autor essa primeira parte resultou maior do que o imaginado. Com efeito, o autor procura demonstrar que o controle se plasma sob duas situações. Em primeiro lugar, não é difícil constatar que sempre está implícito alguma forma de controle na estrutura das sociedades, pois estas se assentam sobre regras, “e onde há regras há controle. Mas, Luis Costa Lima anota uma coisa importante: o controle “não assume um aspecto visível e marcante se a instituição ou a sociedade que o ativa não está em crise, ou sob sua iminente ameaça”. O controle do imaginário... investiga então em sua primeira parte como o controle do romance é dependente da crise que afetara tanto a Igreja “enquanto matriz dos valores institucionalizados” como o poder configurado nas cidades-Estados italianas. O ponto de partida da crise que irriga o controle é, portanto, o Renascimento, onde se reitera o mundo antigo como norma, e que se intensifica “com a Reforma e a reação católica, a Contrarreforma e o Concílio de Trento”.
Mas, eu gostaria de voltar à questão quase óbvia que diz respeito à afirmação: “onde há regras há controle”. O estudo de Luis Costa Lima nos permite uma reflexão em perspectiva e em outras direções. O controle está implicado em todas as estruturas sociopolíticas que representam a forma consagrada para normatizar as relações de poder entre os cidadãos. Estas relações se definem por meio de uma ordem que objetiva assegurar as necessidades e os desejos do grupo em detrimento dos do indivíduo. O controle do imaginário se beneficia das relações de força e dominação que estão em jogo quando se estabelece o teatro conflituoso e/ou conciliatório na cena social. Mas o controle, ao contrário da censura, quase nunca é explícito. Para Luis Costa Lima a censura “é de imediato visível e localizável”. Já o controle do imaginário, como foi dito mais acima, não só lhe é gentilmente hostil, mas como que também o motiva.
Essa condição por assim dizer multifária do controle torna-o maleável e capaz de naturalizar-se, e de neutralizar, por exemplo, hoje, as tensões estéticas atinentes ao ficcional. Romances fundamentais, até então criadores de caso e de fervorosos debates como Ulisses, Finnegans Wake, Grande Sertão: Veredas tornaram-se agora obras a respeito das quais não se diz se não o rotineiramente tolerável, e com muita boa-vontade. Elas são escassamente referidas por meio de um discurso em estado de lápide, isto é, as afirmações e/ou negações se prestam, quando muito, a inscrições tumulares e controvérsias de fachada. O resultado é que tanto os que as repudiam quanto os que as incensam, em fim de contas, acabam se encontrando numa zona de intransigência anódina ou de indiferença estética que não gera movimento nenhum. Essas obras que alargaram os limites do romance clássico, segundo a atual dinâmica do controle do imaginário, já estão catalogadas e fartamente interpretadas; não servem mais de insumo ao tacanho realismo desses prosadores para quem a simples menção a um “público refinado” lhes provoca uma cusparada de clichês antidecadentistas. Como diz Luis Costa Lima em entrevista, o controle, — que, em sua análise se refere a jogos de poder dos grupos dominantes ao longo da História — se associa também à lógica de mercado. Com efeito, o mercado busca moldar menos este ou aquele autor em particular do que um modo de escrita que não entre em atrito com o repertório de um hipotético público leitor. O crítico literário Frank Kermode menciona ainda a presença nefasta de um “controle institucional da interpretação”, instância de poder de cuja função se espera a classificação do que é e do que não é canônico, fazendo, assim, em versão secular as vezes da figura do Concílio da Igreja que tinha como atribuição decidir quais os santos passíveis de canonização. Ora, sob esse aspecto a ideia de cânone se funda num modelo de controle que mais aprendemos a apreciar e respirar do que prestar-lhe uma atenção crítica. Cito alguns dos representantes do controle da interpretação: a universidade, a crítica especializada, os grupelhos de beletristas bem relacionados, os ocupantes de órgãos públicos e/ou privados ligados à cultura, etc.
É também na primeira parte de O controle do imaginário & a afirmação do romance que vamos encontrar a interessante análise a respeito da dialética da simulação e da dissimulação como forma de convivência ou de conciliação com o controle. O olhar de Luis Costa Lima procura desvelar “o que se ocultava sob a alegre docilidade dos cortesãos e a resignação dos modestos escribas”. A legitimação dos condottieri assentava-se sobre bases ilegítimas. E porque ilegítimos “tais senhores precisavam compensar traições e crueldades com gestos e requintes de chefes finos. Por exemplo com o estímulo à cortesania”. Baldassare Castiglione, de acordo com o autor, é quem decodifica a gramática e a conduta do cortesão no seu Il Corteggiano (1528), obra escrita entre o humanismo e a Contrarreforma. O cortesão encarna a figura do intelectual e do artista que esposa o compromisso de fazer a mediação entre culturas diversas e disputas palacianas. Seu jogo não se faz num espaço público. Seu jogo dramático assume a forma de um “drama da contenção, contudo não mais a contenção da paixão ou da loucura, e sim a contenção da perspicácia”. Esse personagem apóia o seu discurso em afirmações e contraditas que se fazem acompanhar da marcação de um ridendo, senha de uma metalinguagem a assinalar que suas palavras não devem ser levadas a sério.
Luis Costa Lima define o cortesão como uma ficção externa (isto é, realizada fora do âmbito de uma obra de arte); um esteta, uma ficção ambulante. Um entertainer que dominasse a arte da esgrima. Os condottieri, com sua proverbial obstinação em deixar-se enganar e cobiçosos de ver menos vacilantes as bases de sua legitimação se aproveitavam indiscriminadamente dos serviços dos cortesãos. Com isso também eram chamuscados pelas chamas de sua cortesania cheia de charme. E às vezes acabavam favorecendo aqueles que talvez só merecessem seus desfavores. O cortesão como ficção externa, no entanto, não faz uso de normas preestabelecidas. Segundo Costa Lima, “em vez de normas, por éticas que pareçam” a prática cortesã se decide pela cautela. Esse artista alcoviteiro, se podemos assim dizer, compósito de escritor, secretário do castelo, e conselheiro, situa-se na entrelinha, no intervalo, e cumpre com tamanho virtuosismo os seus vagos afazeres que a impressão causada é a de que faz bem o que faz, mas sem demonstrar o menor esforço; ele se refugia na displicência. Metáfora da arte que sobrevive ao controle, que se aproveita de um cochilo ou outro do sistema e dissimula aquilo que é. No exercício divino e malévolo de sua bouffonerie o artista-cortesão nos demonstra que a dissimulação supõe a “habilidade de não fazer ver as coisas como são”. Reduzir e dissimular são termos dessa estratégia de sacrifício a que se dedica cotidianamente, com o propósito mais secreto de confrontar-se com a ordem social. De acordo com Luis Costa Lima, o cortesão, condenado a fazer falar lateralmente o silêncio da supressão e da autossupressão, presume em perspectiva que o “estilo da perda converte-se em estilo da revanche”. Metáfora do escritor como um traidor dilacerado: “simula-se aquilo que não é, dissimula-se aquilo que é”. A ficção externa como dissimulação na tentativa de convivência e conciliação com o controle acaba por fortificar o centro deste, porquanto as armas de que se serve aquela (astúcia, ambigüidade, embromação e alguma falsidade) são as mesmas de que se aparelham os mecanismos de controle.
Na segunda parte de O controle do imaginário & a afirmação do romance, Luis Costa Lima se detém em alguns romances paradigmáticos que começam a travar uma relação de outra ordem com os processos de controle da imaginação atuantes nas sociedades de corte católicas. Trata-se agora de enfrentar os primeiros lances de uma ficção interna — em oposição ao ridendo da ficção externa do cortesão — que se constitui num como se assumido. O autor detecta neste conjunto de romances (Dom Quixote, As relações perigosas, Moll Flanders e Tristram Shandy) o índice do ficcional como alternativa discursiva — a máscara que se declara máscara —, e não mero jogo de cena e dissimulação. Mas aqui minha fabulação manca, pois das quatro obras investigadas por Luis Costa Lima só pude ler o Dom Quixote. E eu diria apenas o seguinte: a obra máxima de Miguel de Cervantes ajuda a fundar a categoria moderna da “ficção”, que se constitui como um tipo de linguagem que não é nem “verdade” nem “mentira”, senão que tem um estatuto próprio. Em Dom Quixote lemos menos a dissimulação que a simulação da loucura. De outra parte, devo dizer que não tenho tempo nem paciência para a longa leitura que os outros romances exigiriam de mim. Como não costumo ler comentários ou análises de textos que ainda não li, resolvo parar por aqui mesmo. Mas pelo que consegui ver em minha leitura mais curiosa da primeira parte de O controle do imaginário & a afirmação do romance, tenho certeza de que Luis Costa Lima se houve muito bem na interpretação dessas obras clássicas, e na afirmação, por meio delas, da capacidade de o romance bom propor novos esquemas críticos e inventivos na sua relação com o controle.
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sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Caetano: a burrice desse cara tem me consumido...
Adoro Caetano. Acho um grande músico, ícone de geração, gosto dele sólido, gasoso, líquido, etc.
Só que, de vez em quando, acho ele burro. No blog dele, Obra em Progresso, cansamos de dizer para ele que não se deve dizer que o Lula é analfabeto, que ele é perfeitamente um falante, coisa e tal. Eu, Eduardo Luedy, uma linguista, o Sírio Possenti, todos explicamos que falar isso é preconceito, é ideologia, não uma observação científica, coisa e tal.
Mas agora, em plena época de eleição, lá vem o bonitão repetir a mesma coisa que disse antes no blog, numa formulação ainda mais agressiva. Lula seria analfabeto, grosseiro e cafona em comparação com Marina. Não seria melhor ele explicitar que acha FHC sexy, fino, chique, muito elegante? Aécio também é? É aquela coisa. Um leitura pós-moderna, meio Zelberto Zel, de Casa Grande & Senzala: o mestiço pernóstico da varanda gritando:
Bate! Mas bate de cinto Pierre Cardin que é mais chique! O bonito é borrar tudo com nossa mestiçagem, não é, Demétrio Magnoli?
Tava pensando.
Dizer que Lula é "analfabeto" é como dizer que Caetano é "bicha". Não é verdade, mas é um contágio com um universo do qual se está próximo ou com o qual sua imagem pública apresenta pontos de contato.
Só que, de vez em quando, acho ele burro. No blog dele, Obra em Progresso, cansamos de dizer para ele que não se deve dizer que o Lula é analfabeto, que ele é perfeitamente um falante, coisa e tal. Eu, Eduardo Luedy, uma linguista, o Sírio Possenti, todos explicamos que falar isso é preconceito, é ideologia, não uma observação científica, coisa e tal.
Mas agora, em plena época de eleição, lá vem o bonitão repetir a mesma coisa que disse antes no blog, numa formulação ainda mais agressiva. Lula seria analfabeto, grosseiro e cafona em comparação com Marina. Não seria melhor ele explicitar que acha FHC sexy, fino, chique, muito elegante? Aécio também é? É aquela coisa. Um leitura pós-moderna, meio Zelberto Zel, de Casa Grande & Senzala: o mestiço pernóstico da varanda gritando:
Bate! Mas bate de cinto Pierre Cardin que é mais chique! O bonito é borrar tudo com nossa mestiçagem, não é, Demétrio Magnoli?
Tava pensando.
Dizer que Lula é "analfabeto" é como dizer que Caetano é "bicha". Não é verdade, mas é um contágio com um universo do qual se está próximo ou com o qual sua imagem pública apresenta pontos de contato.
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