Primeiro vi Pina Bausch na Nave de Fellini. Ela era linda e extraordinariamente expressiva, fazendo aquela bailarina cega. Ouvi muito sobre sus coreografias serem sombrias. Ao ver Sobre a Montanha Ouviu-se um Grito, no Municipal, fiquei surpreso com a abrangência e delicadeza de sua arte. Foi um alumbramento. Era a vida. Senti grande afinidade com a poesia do teatro de sua dança (...).
Quando vim a conhecê-la pessoalmente (depois da apresentação de Cravos aqui no Rio), eu já tinha convivido com ela em pensamento e em sonhos durante muito tempo. Pina não gostava de interpretações de seu trabalho. Eu, falante e opinioso como sou, me sentia importunando-a.
Mas ela comentou ao menos minha observação de que o uso da marcha brasileira Dama das Camélias -- com seu refrão "A minha vida se resume/Oh Dama das Camélias/Em suas flores sem perfume" -- parecia ter uma relação mágica com a cena do corpo de baile avançando por sobre aquele campo de cravos. "Eu escolhi a música sem saber o que a letra dizia: comprei esse disco aqui no Rio há anos".
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