Temporada natalina, tempo de reflexão – mas isso, quando muito, na “Good Old Germany”. Para festejar, nos States se fez barulho daqueles. O Papai-Noel celebrou orgias, e o presidente – George W. Bush – empapuçou-se de Coca e, goela abaixo, mandou cheeseburger.
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Por Martin Kilian (Kilians Kolumne: SPIEGEL online, 03/01/2002)
Trad.: zé pedro antunes (ZPA)
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Temporada natalina, tempo de reflexão – mas isso, quando muito, na “Good Old Germany”. Para festejar, nos States se fez barulho daqueles. O Papai-Noel celebrou orgias, e o presidente – George W. Bush – empapuçou-se de Coca e, goela abaixo, mandou cheeseburger.
Mais uma vez o Natal foi festejado na América. Nos “pulôveres de Natal” que as pessoas usaram: renas, flocos de neve e manchas de ketchup. Da frente dos automóveis, românticas tiras vermelhas acenavam.
E as casas, como sempre, foram drapejadas com fieiras de luzinhas coloridas. Razão para que as pessoas passassem de carro pelos quiosques deslumbrantemente iluminados e, durante a noite, despertassem empapadas de suor.
Natal com Timothy Leary! Flashback dos grandes! Mas, justamente, funky. Não como naquela chatice que é a Alemanha. Lá, onde o Papai-Noel vive em celibato.
O Papai-Noel americano (“Mr. Claus”), ao contrário, é casado. Com Mrs. Claus. E, na noite da véspera, formidavelmente se fornica na mansão dos Claus. Jubilosos gritos de alegria (“Ooohhh Baby”) se propagam pela noite feliz.
Curiosas, as renas pressionam seus focinhos úmidos contra as janelas do quarto de dormir do casal, para, à farta, se regalarem com o ímpeto sexual do bom velhinho. Isso o leitor não teria pensado, pois não?
Na oficina atrás da casa da família Claus, os elfos, por isso mesmo, dão os últimos retoques nos badulaques de plástico de origem chinesa, antes que a tradicional orgia dos de sua espécie venha a atingir picos elevados no termômetro. Com cheeseburgers e Coke. Rock n Roll, Baby! E, depois da meia-noite, fazem-se as entregas. Em toda a extensão da América!
No dia seguinte ao Natal, os trastes imediatamente vão ser trocados. Só que não em casa de Mr. e Mrs. Claus, mas sim nas respectivas lojas – um negócio totalmente ruim para o comércio varejista americano: Papais-Noéis importados da China são aceitos na troca e seus preços inflacionados; novos produtos chineses são dados de graça – isso mesmo, d-e--g-r-á-t-i-s. Uma insanidade no mercado econômico da classe extra! Mas ninguém ousa criticar o procedimento.
George W. Bush tampouco pode ser criticado. Há pouco, no Miller s, o bar mais bonito do mundo, estava eu sentado ao balcão com o meu amigo Tom, e deplorava a esganação de Mr. Bush com os hambúrgeres. Um freguês ouviu e ficou louco. Por que eu não me mandava então “pro outro lado”, ele dizia. À minha observação de que a DDR, afinal, tinha deixado de existir, me botaram pra fora e me xingaram de “fuckhead”. No caso, tratava-se apenas de cheeseburger, coisa de que Mr. Bush decididamente se enche.
Sobre seus propósitos para o Ano Novo, Mr. Bush respondeu: “Comer menos cheeseburgers”. Por que ele pode dizer isso e eu não? Justamente, por ser universalmente amado. Até mesmo por Erica Jong!
De acordo com as pesquisas, Mr. Bush é “o homem mais admirado da América”. Minhas amigas americanas estão totalmente taradas pelo homem. Com certeza, Doris Day também o deseja. Para não falar de Raquel Welch (que já foi “groupie” do velho Bush!). É claro que Britney Spears também ama Mr. Bush. O mesmo se diga de Christina Aguilera. E, por enquanto, Mariah Carey! Por ele, ela certamente se consome. Em definitivo, Mr. Bush transtorna a cabeça de Julia Roberts, recostado a uma árvore, como o faz por ocasião das férias de Natal em seu rancho perto de Crawford, ousada jaqueta de couro e jeans, a mastigar um talo de grama. Uau! O MAIS SEXY DENTRE OS HOMENS VIVOS!
Será que Susan Sontag o ama? Ou mesmo Hillary? Joyce Carol Oates? Toni Morrison? Rita Mae Brown? Courtney Love? Será que Mr. Bush quer mesmo o amor de todas elas?
E o que dizer de Gore Vidal? Por que razão Vidal não ama Mr. Busch, ainda quando este, ousada jaqueta de couro e jeans, recostado a uma árvore a mastigar um talo de grama, exibe um look absolutamente arrasador?
No caso de Vidal, sua rude e de todo excessiva repulsa por Mr. Bush é puro ciúme. Depois de, na Eslovênia, Mr. Bush ter perscrutado o imo d’alma de Wladimir, Vidal achou que estava perdido. Ora, sejamos sinceros: seduzir Wladimir é útil ao plano do escudo antimísseis de Mr. Bush, mas de que serviria, a este, bajular Gore? Por se sentir (atenção: Freud!) repelido, Vidal fala mal de Mr. Bush – muito embora este dele seja o chefe!
Para Mr. Bush, ao contrário, são indiferentes os descarrilamentos de Vidal (uma condensação de melindres sem igual!). Na noite do Ano Novo, mesmo sem ter lido as últimas tiradas de Vidal, às 22 horas Mr. Bush já estava debixo das cobertas. Na cama, permaneceu provavelmente um bom tempo acordado e, por fim, sonhou que se encontrava no ponto de ônibus Binz
Na cozinha, ele rapidamente tratou de meter um hamburguer no microondas. Era pouco depois da meia-noite, quando lentamente então se pôs a devorá-lo. Para trás ficavam os bons propósitos. Mas Erica, e todos quantos o amavam, com ele se preocupavam.
Só a mim, mais uma vez, Mr. Bush relegou ao esquecimento. Verdade que suas taxas de colesterol me preocupam bem menos do que à Erica Jong.
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