McCain, um herói de verdade.
Depois de assistir ao filme sobre a vida do candidato republicano John McCain, segunda à noite na TVA, perdi a esperança de ver os republicanos fora da Casa Branca.
Se a maioria silenciosa dos EUA também assistir a essa superprodução, ele já pode ser considerado eleito.
"A vida de John McCain" (Faith of My Fathers) conta a história dos cinco anos em que ele foi prisioneiro de guerra no Vietnã, após ter seu avião abatido em um ataque aéreo.
Ele é apresentado no filme como o verdadeiro herói americano. Suplanta em patriotismo, coragem e caráter qualquer personagem de Schwarzenegger, Stallone, ou Van Damme.
Confesso que desde o primeiro momento torci para Hillary Clinton ganhar de Obama nas prévias do Partido Democrata. Acho que ela tinha mais chances de vencer a eleição, como, aliás, estão demonstrando as últimas pesquisas.
Dos males o menor. Não morro de amores pela ex-primeira dama, acho-a até um pouco arrogante. Talvez tenha sido essa uma das razões de sua derrota.
Não é o caso de seu marido. Confesso não ter visto até hoje nenhum sorriso mais simpático e cativante do que o de Bill Clinton.
O ex-presidente é daqueles que parecem estar sempre sorrindo, seja qual for a situação. Faz parte do grupo dos que sorriem mais com os olhos do que com a boca. Nascem simpáticos.
Invejo essas pessoas, pois descobri que sou o contrário delas. Percebi isso ao tirar uma foto para um crachá. Esforcei-me para sair simpático, com um brilho nos olhos. Quando a foto foi revelada, surpeendi-me ao sair com a cara fechada, como se estivesse bravo.
Puxei meu pai. Entendi, depois dessa fotografia, que ele não era tão bravo como parecia. Por fora, estava carrancudo, mas - assim como eu - provavelmente, por dentro, estava sorrindo.
O pai de John McCain, almirante da Marinha dos EUA, não dá um sorriso no filme. Sempre sério, ensina ao filho a importância de ter caráter, retidão, integridade.
Leva-o com orgulho a se alistar nas Forças Armadas para combater como piloto no Vietnã, onde é capturado em uma de suas primeiras missões.
Resgatado no mar pelos inimigos, é imediatamente ferido por uma baioneta na perna. Daí em diante, é só tortura.
McCain é torturado durante os cinco anos em que ficou preso, maioria dos quais em uma solitária. Chegam a pendurá-lo com os braços amarrados para trás, o que, dizem, limita até hoje seus movimentos.
Ele resiste bravamente e, quase morrendo de dor, ainda zomba dos interrogadores: quando lhe pedem informações sobre seu esquadrão, dá o nome dos jogadores do time dos Giants que havia sido campeão anos antes.
Mais: não apenas resiste às torturas sem revelar nada, como não aceita ser repatriado antes dos seus colegas - privilégio oferecido depois de seu pai ter assumido o posto de comandante das forças americanas no Pacífico.
John McCain, meus poucos mas saudosos leitores, é um herói de verdade. Pelo menos é o que mostra o filme sobre sua vida.
Obviamente, este blogueiro-velho-de-guerra sabe que tudo ali é exagero, com muita ficção e licença poética.
Mas a maioria silenciosa americana, não.
Millôr
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Escrito por JLT em 16:24:35 | Link permanente | Comments (10) |
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