domingo, 31 de agosto de 2008

Blognovela Penetrália, Capítulo 6

Capítulo 6: “Círculos” & “Sapateado”

(Entra em cena Lúcio, sapateando. A platéia aplaude. É o início de uma carreira de dançarino de sapateado. Mariana entra em seguida, fica no escritório calada, andando em círculos. A platéia, constituída por participantes do blog do Gerald Thomas, aplaude de pé e depois vai saindo. Fica somente Lúcio sozinho, no escritório escuro, com uma luz sobre ele).

Lúcio: Alguém perguntou pela peça, pelo diretor, não foi? Eu sou um autor implícito aqui, mas essa é obra de acaso total. Não é a obra de arte total do Wagner. Eu arranquei peças e frases de textos esquecidos de um grupo de amigos meus, os sarapatetas. Eles nem ligaram e eu os transformei em bonecos inanimados. Schweitzer me escreveu perguntando de onde é que eu tirei aquela frase que postei aqui no começo da blognovela. Ele ficou um pouco assustado, perguntando se tinha dito aquela asneira. Claro que não falou, eu achei ele simpático e bem informado na entrevista que ele fez com vc no Táxi em Movimento e que está no Youtube. Só acho que o humor não pode estar imposto na pergunta, tem que rolar naturalmente na entrevista, pois assim é melhor.

A frase era algo como “Nietzsche é amigo do Otávio de Carvalho, é viado ou garanhão”? Pedi desculpas ao Schweitzer por ter inventado essa frase e “psicografado” ele aqui no blog. O fato é que do Olavo de Carvalho eu não gosto. Quanto à blognovela: vale Lenin sim, desde que seja uma referência à peça dele (Stoppard) que tinha o Lenin com o Tzara na Suíça, não sei se era Jumpers.Eu quero morrer na blognovela gritando: meu nome é o mesmo do Nero: Lúcio Domício Enobardo. Mate-me Gerald. Onde você estava quando caiu o Muro de Berlim?

Clown de Oswald: bati uma punheta.

Eu: e quando ocorreu a crise argentina e russa nos anos 90?

Clown: cat´s craddle.

Eu: e quando soube que Sontag montou Esperando Godot em Sarajevo?

Clown: mas-tur-ba-ción

Eu (gritando): e no 11 eleven, 2001?

Clown: quis montar a peça de Roberto Schwarz, A Lata de Lixo da História…Ou senão….bronha!

Lúcio: Talvez o Jango tenha sido assassinado. Allende. Ambos, se lutassem, seria para fazerem do Brasil e do Chile um, dois, três Vietnãs, nada menos. Essa barra não aguentaram segurar. Não acho que seja questão de cojones. Era questão de ir contra a própria natureza, a própria índole mesmo. Mesmo assim, prefiro a atitude final de Allende, afundando com o barco. Dizem que Jango se arrependeu de ter deixado o barco sem luta. Desapareceu na memória popular. Como a peça de Glauber: Jango, o Presidente que o Povo Comeu. Glauber se comparava com Jango: "todo mundo me traiu!" Realmente, Jango foi traído por Deus e mundo. Mas uma frase me chamou a atenção ontem: duas gêmeas estão atuando em A Serpente, de Nelson Rodrigues. Numa cena importante uma irmã “viúva de marido vivo” diz para a outra, happy histérica: “ontem quase me deflorei com um lápis ao ver você com seu marido”!

O Jô achou essa frase “Nelson Rodrigues puro”. Eu prefiro on the rocks. Por que não a mais clean: “ontem quase me deflorei com o desentupidor de pia!” Ou, quem sabe, uma versão gastronômica: “Amanhã de manhã você vai acordar outro pepino na feira…” Quem sabe eu dirija/transcrie uma peça teatral de Machado de Assis, que tal? Qualquer coisa que você colocar vai deixar a crítica perdidinha, pois ninguém conhece o teatro do Machadão, rá-rá-rá!

Francinny: Vc pergunta quem e o diretor,não temos diretor nossas historias são dirigidas por nós, nada de diretores, somos livres mesmo não que não vivemos em um país livre, mas temos a alma livre de tudo e todos,não quero ser um boneco grotesco que toma Prozac, quero ser livre não quero sapatear, ou falar o que todo mundo quer, eu queria vomitar na hipocresia do mundo mas não posso. Na verdade não fui procurar um livro fui procurar ser livre, Lucio tudo e uma loucura a vida e uma loucura, mas eu queria viver em um conto como os de Poe, vamos escrever um conto louco, para os loucos da vida moderna que tenha eu , vc Rodrigo Contrera, Corvo e mais outros loucos Ola para Corvo eu mandaria o retrato Oval eu achei, e a historia de um pintor que com o seu perfeccionismo, para com o retrato da esposa aos poucos em que ele coloria a tela, tirava a cor de sua esposa, e ao fim o retrato ficou perfeita, mas ele nem notou que ela morreu diante dos seus olhos, e isso está acontecendo diante de nós, estou vendo o diretor G.T. morrer diante de nós pois está impondo seu modo de vida, está trepudiando e sapateando diante das nossas criticas mediocres, achando que a razão e só dele como o Pintor diante da sua obra

Lúcio: Parte da minha família mora em Goldensbridge, são três tios que trabalham com um milionário, Mr. Max. Inclusive mamãe já foi lá: avisei-a para procurar algo off-broadway. Vou dar o toque do La Mama. Quando eu disse que converso com vc, mamãe comentou, alegre: “aquele moço que foi casado com aquela atriz bonita? Ele parece o John Lennon!” Em que consiste a estética em Thomas? (…) Trata-se de uma estética constantemente aberta, em processo de criação, em mestiçagem permanente. (…) A identidade de Thomas é múltipla e totalmente indefinível. Ele se definie em alemão, parafraseando Wagner, como “der fliegende Jude”, o judeu voador, ao invés de “der fliegende Hollender” . E essa fórmula caracteriza bem o senso inato de uma certa ubiqüidade de Thomas. (…) O gesto teatral de Thomas é ao mesmo tempo paródico e respeitoso de uma certa tradição teatral. É, antes de tudo lúdico e se fundamenta numa intenção de reteatralizar o teatro segundo os princípios instáveis da mistura de elementos aleatórios. Tocamos aqui na sua filosofia do acaso, que constitui a base principal de sua atividade teatral.. Para Thomas o acaso é um lance. Cada lance é imprevisível. Se para Mallarmé nenhum lance de dados jamais abolirá o acaso, para Gerald Thomas cada acaso desloca e perturba a sistemática e a lógica mímética do teatro. (…) Mulplicar os lances é fazer do teatro um campo de jogo onde tudo pode acontecer. (…) O que Wagner postulava como obra de arte total, torna-se ou deve tornar-se para Thomas uma “obra de arte de acasos reunidos”. (…) Mas o que é então o acaso para Thomas? (..) A obra teatral do acaso total é um discurso cênico onde nenhuma estabilidade, nenhuma identidade, nenhuma tradição resiste à força e à imprevisibilidade dos lances. O jogo, ou melhor, o panludismo, transtorna absoutamente tudo.(…) O teatro fica em estado de equilíbrio instável, em estado de tensão dialógica e provocadora que ironiza as estruturas estabelecidas. (…) Mas é, creio, uma interpretação parcial e não objetiva. É preciso compreender o sentido profundo do acaso em Thomas para explicar a originalidade e a dimensão vanguardista de seu processo. Parece-me que o acaso entendido como uma infinidade de lances é um postualdo estético original, mas não permite explicar o sentido de algumas constantes nas encenaçoes de Thomas. Não permite também comprender como seu estilo teatral se formou pela retradução em termos filosóficos e cênicos de certas tradições teatrais tomadas como pontos de rerfeência. O acaso seria então repetitivo e impaciente. Antes de desenrolar seu infinito, seria mais sensível a certos lances, sempre os mesmos, do que à multiçlicação de novos golpes. A estética cênica de Thomas se explica melhor e mais dialeticamnte quando tentamos comprender que sua teatralidade acontece entre os lances do acaso e processo estocástico. Ao programa da multiplicação dos lances aleatóreos é preciso acrescentar a necessidade de calcular as probabilidades de repetição, de previsão e de extrapolação de certas variáveis inseridas na criação cênica. Esta se compara a um processo estocástico, “função aleatória cujo argumento é o tempo, com desenrolar irreversível e inevitável. Devemos nos voltar para a evolução de um elemento cênico sobre o qual o “acaso” intervém a cada instante… ” (Wladimir Krisinky).

Fantasma de Maura Lopes Cançado: Eu nao frequentava obrigatoriamente o pátio. Á tarde, quando eu ia lá, pedia-lhe para cantar a ária da Bohéme, Valsa da Museta. Dona Georgiana recortada no meio do pátio, cantava — e era de doer o coração. As dementes, descalças e rasgadas, paravam em surpresa, rindo bonito em silêncio, os rostos transformados. Outras, sentadas no chão úmido, avançavam as faces inundadas de presença –elas que eram tão distantes. Os rostos fulgiam, por instantes, irisados e indestrutíveis. Me deixava imóvel, as lágrimas cegando-me. Dona Georgiana cantava: chia de graça, os olhos azuis sorrindo, aquele passado tão presente, ela que fora, ela que era, se elevando na limpidez das notas, minhas lágrimas descendo caladas, o pátio de mulheres existindo em dor e beleza. A beleza terríffica que Puccini não alcançou: uma mulher descalça, suja, gasta, louca, e as notas saindo-lhe em tragicidade difícil e bela demais — para existir fora de um hospício.

Rússia (tem a cara da Flora, Cláudia Raia): eu fingi de mortinha, de boazinha. A Ossétia é MINHA!

Ossétia (Lara, Mariana Ximenes, dividida): MAAAAE!

Geórgia (tem a cara da Patrícia Pillar, digo, da Flora): Você não é filha dela, Ossétia! Vocé é minha, filha! MINHA FILHA!

(Cai o pano. Trevas).

Nenhum comentário: